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Regular uma Atividade

Lei do Financiamento das AHB

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5- Regular uma Atividade

Sem que tenhamos a ousadia de entrar nos conceitos de direito económico, podemos referir que regulação consiste no processo de estabelecimento de um equilíbrio. Para (Cardona, 2014) as entidades independentes garantem o denominado “equilíbrio tripilar”: i) é pública; ii) assegura o interesse público, e; iii) assegura os interesses dos utentes.

Regulação constitui-se: i) no estabelecimento de regras jurídicas provenientes do poder legislativo (tem origem pública: poder público de soberania e de natureza legislativa); ii) “um conjunto de técnicas articuladas entre si para organizar e manter equilíbrios económicos nos sectores que não o têm”; iii) – ainda “acção intermédia entre a determinação das políticas e a gestão de um sector ou área económica, financeira e social”164.

Escusamo-nos de repetir o enquadramento feito em sede da análise da Lei-Quadro das Entidades Reguladoras e, do papel do Estado enquanto administração.

Conforme refere (Lobo, Vol. II, 2019) “existirão três situações tipicamente elegíveis para efeitos de acção pública reguladora lato sensu: i) situações de mercado em que se torna claro que a eficiência não é alcançada através da simples acção da iniciativa privada; ii) situações de mercado em que o resultado socialmente desejável não é aquele que resulta de uma estrita perspectiva de eficiência mercantil; iii) situações de mercado em que os custos e benefícios privados e os custos benefícios sociais são claramente distintos”165.

Na proteção civil, nomeadamente com o objetivo de evitar sinistros ou catástrofes há que resolver o que deu origem à ocorrência, para que esta não se repita, princípio da correção. Conforme nos diz (Lobo, Vol. I, 2019) “se a questão se baseia em custos externos indesejados, a melhor forma de resolver sustentadamente o problema passará pela sua eliminação.

E a melhor forma de o fazer passa por corrigir o mercado no sentido preventivo, ou seja, criando as condições para esses custos não voltarem a verificar-se.

Ao invés, ao subsidiar-se os prejudicados no sentido da sua compensação pelos

164Cardona, Maria Celeste Ferreira Lopes, Op. Cit., com referências ao longo da tese, com destaque para as pp. 813 ss.

prejuízos sofridos, a lógica subjacente seria meramente reconstitutiva, num modelo não sustentado, já que, não se resolvendo o problema na fonte, a compensação seria tendencialmente permanente”166.

Evitar a repetição dos «custos indesejados» ou do «problema» é uma das funções da atividade da regulação. Outra das funções passa pelo equilíbrio entre valor de mercado e serviço público. Para (Gonçalves, 2016) “um dos eixos fundamentais do novo regime reside na procura da conciliação entre os valores do mercado, por um lado, e da protecção dos direitos dos cidadãos e da manutenção de um certo nível de solidariedade social, por outro. Esse objectivo é essencial sobretudo na Europa continental, dada a forte tradição da intervenção pública e um clima ideológico de tensão entre os valores do mercado e os valores do serviço público”167.

Se a proteção civil passa cada vez mais por prevenir ao invés de socorrer, temos assim uma nova tarefa da administração que necessita de meios para a sua efetivação. É nesse sentido que introduzimos se no âmbito de um novo direito da proteção civil.

Para (Ferreira, 2009) “a regulação visa: a) - regulação dirigida a assegurar e consolidar a criação de novos mercados e a sua abertura à concorrência; b) - domínio da regulação através da qual se visa promover determinados equilíbrios entre valores de mercado e outros tipos de valores”168.

Conforme (Ferreira, 2009) “trata-se, em súmula, de regulação jurídica da economia que visa directamente abrir determinados sectores económicos à concorrência e criar condições duradouras para o efectivo funcionamento aberto desses novos mercados, assegurando, em paralelo, que tal funcionamento concorrencial dos mercados é compatível com a disponibilização de um conjunto essencial de serviços de interesse económico geral”169.

Para (Gonçalves, 2016) “as fontes específicas do direito administrativo da regulação são, em primeiro lugar, as leis que instituem os vários sistemas de regulação e, naturalmente, os regulamentos editados pelas entidades reguladoras. Não se apresentando

166Lobo, Carlos Baptista, 2019, Vol. I, Op. Cit.p. 211

167 Gonçalves, Pedro – Direito Administrativo da Regulação. Coimbra in Miranda, Jorge - Estudos de Homenagem ao Professor Doutor Marcello Caetano no Centenário do seu Nascimento: Coimbra Editora, 2016, Vol. II p. 538 in PRosSER, "Competition law and public ser- vices: from single market to citizenship rights?", European public law

168 Ferreira, Eduardo Paz; Morais, Luís Silva; Anastácio, Gonçalo – Regulação em Portugal: Novos Tempos, Novo Modelo?. Coimbra: Almedina, 2009 pp. 10 e 11

como as suas únicas fontes específicas, as leis interessam-nos muito especialmente no presente contexto, pois são as soluções nelas consagradas que permitem registar as particularidades mais marcantes do direito administrativo da regulação”170.

A sustentabilidade, a necessidade de proteger as futuras gerações, a proteção do ambiente, a escassez de recursos, nomeadamente a falta de água potável, novas técnicas mais eficientes, a necessidade do recurso às novas tecnologias, os «velhos» e «novos» riscos, mas acima de tudo a nova realidade, carecem de uma nova abordagem do setor. Por isso não poderíamos estar mais de acordo com (Marques, et al., 2008) quando nos dizem “Às autoridades públicas cabe igualmente a difícil tarefa de regular a partilha do risco e garantir a segurança. Como o deverão fazer em cada um dos domínios referidos e em muitos outros semelhantes -, isso constitui indubitavelmente um dos maiores desafios para a regulação pública do século XXI”171.

Pela temática atrás enunciada, a proteção civil não está por si e em si fechada. Pelo contrário, abarca um conjunto de ciências e saberes que carecem de ser trabalhados num todo, fazendo muito sentido a afirmação de (Silva, 2012), quando refere “o carácter heterogéneo da regulação, a ampla liberdade que a actividade desenvolvida pelos “agentes da regulação” conhece relativamente à lei enquanto expressão do poder democrático nacional, mas fundamentalmente o facto de esta actividade consubstanciar hoje o cerne da actividade do Estado garantidor de bem-estar social através da promoção da eficiência dos operadores de mercado leva-nos a concluir que estamos perante um conjunto de actuações originadoras de profundas alterações metodológicas reconduzíveis ao domínio que a doutrina vem designando como manifestações da «nova ciência do direito administrativo»”172.

É nesta afirmação que se enquadram as palavras de (Lobo, Vol. I, 2019) em questões que para o futuro (referentes aos capítulos I e II da Parte IV), no seu ponto iv) “poderão algum dia os instrumentos administrativos ser suficientemente dinâmicos tendo em vista a resolução eficiente da questão ambiental e territorial?”, nós deixamos aqui a mesma questão para a especificidade do sector da proteção civil, «Poderão algum dia os instrumentos administrativos ser suficientemente dinâmicos tendo em vista a resolução eficiente do setor da proteção civil»173?

170Gonçalves, Pedro, 2016, Vol. II, Op. Cit. p. 547

171Marques, Maria Manuel Leitão; Moreira, Vital, Op. Cit. p. 78 172Silva, Suzana Tavares, Op. Cit. p. 829

B. Entidade Reguladora no Setor da Proteção civil