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4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.4 BLOCO 3 – HABILIDADES FONOLÓGICAS, MORFOLÓGICAS

4.4.2 Discussão dos resultados – Bloco 3 – Habilidades fonológicas,

O Bloco 3 foi elaborado com o objetivo de verificar se, na opinião das formadoras, a proposta de formação do PNAIC contempla atividades para o desenvolvimento das habilidades fonológicas, morfológicas (morfologia derivacional) e lexicais, bem como o desenvolvimento do vocabulário dos alfabetizandos. Para a discussão dos resultados, primeiramente procura-se relacionar os dados coletados nas questões, considerando o objetivo do bloco em questão.

Primeiramente, com relação ao desenvolvimento de habilidades (meta)

fonológicas, as respostas indicaram que existem orientações explícitas referentes a

um trabalho sobre as palavras em atividades de separar, contar e comparar os segmentos das palavras. As orientações foram consideradas relevantes para que o professor compreenda a importância do trabalho com a consciência fonológica para a aprendizagem do SEA e planeje atividades que desenvolvam essa habilidade.

Entretanto, uma das formadoras – ao defender a necessidade de uma

complementação no material do PNAIC com relação ao desenvolvimento

metalinguístico como um todo – enfatiza que “a apropriação do SEA exige o

desenvolvimento de habilidades de reflexão fonológica”. Salienta-se que, embora a formadora não tenha mencionado diretamente a importância do desenvolvimento da consciência fonêmica, é possível inferir que ela tenha sentido falta de maior explicitação dessa habilidade no material, tendo em vista os resultados de pesquisas recentes, como, por exemplo, Siccherino (2013), e a sua importância para

compreensão do princípio alfabético. (BYRNE, FIELDING-BARNSLEY23, 1989, citados por GUIMARÃES, 2003).

Contudo, é importante salientar que as respondentes relataram a necessidade de as formações ofertadas complementarem o material, teórica e metodologicamente, no que se refere às atividades para o desenvolvimento de todas as habilidades metalinguísticas.

Além disso, não se pode deixar de mencionar que existem divergências

entre pesquisadores que estudam a relação entre a consciência fonológica e a aprendizagem da leitura e da escrita, na medida em que alguns defendem o trabalho com as unidades maiores da língua, como Morais (2012), e outros defendem o ensino explícito da consciência fonêmica já no início da alfabetização, como Morais (2014).

No caso do material do PNAIC, pode-se observar um trabalho que dá ênfase às unidades fonológicas suprafonêmicas (rimas, aliterações, sílabas), com algumas indicações de um trabalho implícito com os segmentos fonêmicos da fala em atividades com a letra inicial, por exemplo. Para Morais (2012), o trabalho com a notação escrita por si só facilitaria o desenvolvimento da consciência fonológica e fonêmica, não sendo necessário um retorno aos antigos métodos fônicos. Segundo o autor, um trabalho de alfabetização que utilize textos poéticos, entre outros, que contêm rimas, aliterações e outros recursos, possibilitando a reflexão sonora, acompanhado do trabalho com a reflexão sobre as palavras em jogos e atividades lúdicas, é mais indicado para a alfabetização.

A segunda pergunta inclui a consciência fonológica como um dos três tipos de processamento fonológico mais relacionado à aprendizagem da leitura e da escrita, procurando investigar se os outros dois tipos de processamento (acesso ao léxico mental e memória de trabalho fonológica) recebem referências nos Cadernos. Nesse caso, as respostas também indicaram o trabalho mais voltado para a consciência fonológica, não havendo orientações explícitas para o desenvolvimento dos outros tipos de processamento fonológico. Houve indicativos da possibilidade de desenvolvimento dos outros dois tipos de processamento citados por meio das atividades propostas, mesmo que sem intencionalidade explícita. Contudo, infere-se que esses dois tipos de processamento fonológico ainda não são um conteúdo

23BYRNE, B.; FIELDING-BARNSLEY, R. Phonemic awareness and letter knowledge in the child’s acquisition of the alphabetic principle. Journal of Educational Psychology, 81 (3), 313-321, 1989.

familiar aos alfabetizadores, mesmo que eles entendam que a compreensão a partir da leitura de textos é garantida por recursos atencionais e de memória e por estratégias de organização e realização de raciocínios. Salientando a importância de um maior domínio do processamento fonológico por parte dos alfabetizadores,

pode-se citar Corso et al. (2013, p. 27), para quem “compreender essas capacidades

mentais, descritas tanto pela Psicologia Cognitiva, como pela Neuropsicologia, é indispensável à prática escolar e aos profissionais que se ocupam do aprender [...]”.

Já a questão três buscou investigar se há um equilíbrio entre o trabalho com a consciência fonológica e as demais habilidades metalinguísticas. As respostas a essa questão foram divergentes, na medida em que seis formadoras consideraram um desequilíbrio referente à ênfase no material relacionada ao trabalho com a consciência fonológica em detrimento das demais habilidades, que receberiam um tratamento mais implícito, e duas formadoras consideraram que a abordagem e proporção de atividades envolvendo as habilidades metalinguísticas são adequadas. O que se depreende de suas respostas é que existe uma diferenciação gradativa no trabalho com os estudantes do 1.º, 2.º e 3.º anos.

Em síntese, as respostas às primeiras questões do Bloco 3 corroboram os resultados de Barbosa (2008), que pesquisou a atuação de professores durante o processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita, verificando a grande importância dada ao aspecto fonológico da linguagem em detrimento das demais habilidades metalinguísticas. Esse resultado parece encontrar explicação nos dados do estudo de Maluf, Zanella e Pagnez (2006), que verificaram ser a consciência fonológica a habilidade metalinguística mais estudada no País (70,8% das teses/dissertações e 77,3% dos artigos), enquanto a morfologia, que vem sendo estudada em outros países, não encontra a mesma atenção no Brasil (4,4% das dissertações e teses e 4,5% dos artigos publicados). Dessa forma, na presente pesquisa ficou evidente a incorporação dos estudos acerca da consciência fonológica e de algumas referências à consciência morfológica, que é a segunda mais citada no terceiro bloco de questões.

Ademais, a ênfase à consciência fonológica apresentada no material também pode ser explicada como consequência dos resultados de pesquisas empíricas (BERTELSON et al., 1985; PERFETTI et al., 1987; CARDOSO-MARTINS, 1995; DEMONT, 1997; MALUF; BARRERA, 1997; GUIMARÃES, 2003; SANTOS;

práticas em sala de aula que demonstram uma relação estreita entre a consciência fonológica e a alfabetização em diversas ortografias alfabéticas. Dessa forma, um equilíbrio referente ao desenvolvimento das habilidades metalinguísticas para a alfabetização poderia estar ligado a uma sistematização maior com relação à consciência fonológica no início da alfabetização, sendo considerada a mais diretamente relacionada à aprendizagem inicial da leitura e da escrita, porém sem desconsiderar o trabalho progressivo com as demais habilidades metalinguísticas para o avanço e aperfeiçoamento dos conhecimentos linguísticos dos aprendizes, preocupação observada nos relatos das formadoras.

As demais questões do Bloco 3 investigam com mais ênfase a consciência morfológica e lexical (desenvolvimento do vocabulário e segmentação na escrita). Com relação à quarta questão, as respostas indicaram que o material do PNAIC não contempla orientações explícitas acerca do trabalho com a morfologia derivacional e o desenvolvimento do vocabulário receptivo e expressivo. Houve indicativos da necessidade de complementação do material com orientações para o desenvolvimento da consciência morfológica. Entretanto, algumas respostas sugerem que existe proposta de atividades que trabalham com afixos e vocabulário receptivo e expressivo de forma implícita.

Verificou-se que algumas formadoras deram ênfase ao trabalho com a consciência morfológica já no início da alfabetização. Essa postura está de acordo com Correa (2009, p. 57-58) quando diz que a sensibilização à morfologia pode contribuir para a habilidade de decodificação e promover a compreensão leitora, permitindo a expansão do vocabulário pela derivação de novas palavras a partir das já conhecidas, bem como a definição de novas palavras a partir do significado das partes constituintes. Porém, considera-se que as respostas relativas ao desenvolvimento do vocabulário receptivo e expressivo foram vagas, mais relacionadas ao desenvolvimento de um léxico mental.

As respostas à quinta questão, relacionada mais explicitamente à consciência lexical, indicaram referências explícitas no material para o trabalho com a segmentação da escrita em palavras gráficas, cujos limites e significado são dados pelo contexto da frase. Foi relatado também que, visando ao desenvolvimento da noção de palavra, o material propõe o uso de jogos e outras atividades lúdicas, envolvendo as propriedades do SEA.

As respostas à questão seis foram muito semelhantes às apresentadas à questão quatro. As formadoras relataram que o trabalho proposto pelo material visa ao desenvolvimento progressivo do vocabulário dos estudantes, por meio do trabalho com textos de diferentes gêneros. Porém, em alguns relatos, houve indicativos da necessidade de uma ampliação no trabalho referente ao vocabulário receptivo (habilidade de compreender o que se ouve ou lê), por meio de atividades envolvendo diferentes habilidades metalinguísticas.

4.5 BLOCO 4 – RELAÇÃO ENTRE A ORALIDADE E A ESCRITA E TRABALHO