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Discussão dos resultados – De acordo com os autores, esta etapa pode tanto ater-se a

METHODOLOGIES TO MAP THE GRAPHIC HISTORY OF THE DIÁRIO POPULAR DE PELOTAS-RS NEWSPAPER

7) Discussão dos resultados – De acordo com os autores, esta etapa pode tanto ater-se a

discutir “a configuração formal do impresso, observando as decisões em design, suas transformações ao longo do tempo e sua relação com questões tecnológicas, sociais, políticas, culturais que caracterizam o contexto no qual o artefato está inserido” (FONSECA et. al., 2016, p. 150), como também a relacionar dados por meio de análises comparativas entre diferentes produções. No caso dos projetos de pesquisa a configuração gráfica e editorial do Diário Popular de Pelotas tem sido observada sob a ótica da história da imprensa e colocada em diálogo com as noções de jornalismo local regional e do contrato de leitura, além de também serem aproximadas da Publicidade e Propaganda, contextualizadas socioculturalmente. A intenção é fazer emergir histórias sobre o uso do design pelo povo pelotense ao longo dos séculos XIX, XX e XXI como, por exemplo, ao investigar o uso da ilustração na publicidade.

A estratégia utilizada nessa segunda abordagem mencionada – tendo em vista a grande quantidade de edições a serem pesquisadas – tem sido a de analisar uma amostra intencional (GIL, 2008) formada por edições elencadas como relevantes. O método adotado, conjuntamente com a reprodução fotográfica das edições, tem sido o de procurar os anúncios de instituições pelotenses que tenham publicado propagandas com ilustrações para a posterior análise documental. Com a reprodução do anúncio, de maneira fotográfica, as propagandas impressas

que contêm ilustrações foram recortadas e tratadas para que as análises se tornassem viáveis.

Assim estabelecemos investigar primeiramente os anúncios da The Rio Grandense Light & Power Syndicate Limited12 que se justifica, pois a intenção geral é acompanhar uma empresa que perdure na cidade, buscando investigar as mudanças gráficas e discursivas do uso da ilustração ao longo do tempo em anúncios veiculados no DP. Nossa intenção é, ainda, observar se essas alterações ocorriam e se acompanhavam as mudanças gráficas empreendidas pelo jornal.

Para um melhor desenvolvimento e percepção do estudo, foi criado um registro online de consulta e inserção de dados, contendo o título do anúncio e a página em que se encontra no jornal, bem como a data de publicação. Tal medida serviu como auxílio para a visão geral dos dados coletados e também para fatos específicos. Em amplitude geral, foi constatada a presença de 447 anúncios publicados apenas entre os anos de 1936 e 193713 – perfazendo um total entre as propagandas inéditas e as suas devidas repetições de publicação. Dentre as inéditas, encontramos um total de 41 anúncios. Em relação aos resultados obtidos, os reclames obtiveram uma média de 11 repetições no periódico e um tempo de veiculação de 21 dias até que um novo anúncio fosse divulgado ou, como muitas vezes acontecia, mais de um modelo de propaganda era divulgado ao mesmo tempo (MATHEUS; NEVES, 2017).

A seguir apresentamos um exemplo da frequência dos anúncios nas páginas do periódico, neste recorte em específico, demonstrando os locais/seções nas quais a Light and Power priorizava seus anúncios. Observamos, com isso, que a maior recorrência se dava na página 6,

12A empresa selecionada foi distribuidora de energia

elétrica em Pelotas por mais de 50 anos no século XX. Registrada em Londres em 1912, foi responsável pela iluminação pública pelotense a partir de 1914 e pelo fornecimento de energia aos bondes da cidade no ano seguinte (DE LEÓN, 2012). Foi adquirida pela American & Foreign Power Company em 1930 e

costumeiramente destinada à publicidade nesse período histórico. Contudo, por vezes, ocupava outras seções – o que dava ainda mais destaque para a peça anunciada. Essas e outras questões têm sido foco de nosso interesse.

Gráfico 2: Frequência dos anúncios da Light and

Power nas páginas do DP (1936-1937) Fonte: Matheus; Neves (2017, p. 14).

Cabe destacar, ainda, que nesse momento os esforços estão concentrados em encontrar outras propagandas dessa empresa dando continuidade à busca longitudinal. Com isso pretendemos relacionar a estética dos anúncios com o período em que foram publicados. Além disso, a intenção é a de observarmos os aspectos gráficos do próprio Diário Popular analisando de que forma essas características interferiram (e se afetaram) a composição das propagandas impressas ou se o contrário aconteceu. O que observamos com esse mapeamento inicial acerca das propagandas da referida empresa é que torna-se perceptível o alto grau de preocupação no detalhamento dos anúncios – que continham ilustrações com teor técnico avançado, especialmente se comparadas a outros reclames da época. No conjunto das análises verificamos, ainda, um uso de linguagens específicas – tanto visual quanto verbal, além do fato de constatarmos que as técnicas de impressão e de produção gráfica do Diário possibilitaram a divulgação desses cuidadosos e destacados anúncios. Nesse contexto observamos que o uso da ilustração se somou aos argumentos textuais, apresentando diferentes cenários nas propagandas em busca de uma identificação

revertida à União em 1964. Porém, apenas em 1966 encerrou suas atividades e a Companhia Pelotense de Eletricidade, uma subsidiária da Eletrobrás, assumiu as instalações (AXT, 1995).

13 Estes são os anos em que atualmente se encontra o

por parte do público e, muitas vezes, fazendo com que o leitor quisesse fazer parte daquela narrativa apresentada. Além disso, acreditamos que o próprio desenvolvimento técnico do DP como um produto gráfico, associado ao desenvolvimento da propaganda como técnica de persuasão, ajudaram a construir um cenário moderno para o consumidor pelotense. Tudo isso fazia com que a Light and Power se destacasse dos demais anunciantes, buscando atingir o público com um marcante discurso de modernidade.

Ainda em termos de design, levando em consideração a diagramação e o layout, é possível, nesta etapa da investigação, defender que existia um padrão gráfico nas peças da empresa já analisadas. Com relação ao espaço negativo, por exemplo, há valorização da área de respiro, tornando a leitura mais agradável e auxiliando no balanceamento de elementos. Já a preocupação com a hierarquia informacional é constatada a partir da existência de chamadas maiores no topo do anúncio (MATHEUS; NEVES, 2017). Outro aspecto muito importante a ser destacado é que ao compararmos os anúncios dessa empresa com outros da mesma época – divulgados no Diário Popular, fica evidente a qualidade e a riqueza da composição dessas peças. Acreditamos que isso acontecia, pois verificamos que tais propagandas também eram divulgadas em outras partes do Brasil e, portanto, esses anúncios e clichês não deveriam ser criados na cidade de Pelotas. Tal aspecto merece uma melhor investigação e discussão, mas se trata de uma hipótese que vem sendo construída a partir desses primeiros anúncios encontrados. Essa sensação é reforçada quando verificamos que muitos deles são construídos no formato de histórias em quadrinhos – muito recorrentes nesse período nos EUA, país de origem de tal empresa. Outro aspecto a se considerar, por fim, é que as composições nesse período em Pelotas tinham muito influência da França, como nos estilos Art Nouveau e Art Déco. Nessa empresa, contudo, esse estilo figurativo era completamente diferente – como

14 O artigo está no prelo.

pretendemos analisar com mais profundidade (MATHEUS; NEVES, s/a, s/d14).

No que se refere ao DP como objeto de estudo destacamos alguns exemplos da sistematização dos dados já empreendida, especialmente a partir da tese desenvolvida por uma das autoras (BANDEIRA, 2018) que podem ser visualizados a seguir. Uma delas diz respeito às pequenas variações sofridas pela marca/nome do jornal entre 1931 e 1980 (ver Fig. 1), o que demonstra que, no mínimo, por mais de 50 anos, o jornal manteve uma identidade visual consistente e perene, uma medida que pode ser considerada pertinente na manutenção da relação do jornal com seu público.

Figura 1:Leves alterações da marca entre 1931 e

1980

Fonte: Bandeira (2018)

Já na edição de 27/08/2000 (Fig. 2), percebemos uma ampliação nas famílias tipográficas utilizadas na diagramação do jornal o que denotava uma certa inconsistência visual do periódico. Considerando que tal proliferação tipográfica destoa dos esforços anteriores empreendidos especialmente a partir do projeto gráfico de 1989, cabe um aprofundamento da identificação dos momentos e motivos que levaram a tais alterações. Provavelmente de ordem prática nas conduções da diagramação das páginas e de pequenas mudanças editoriais empreendidas ao longo do tempo, tal observação e sistematização pode ampliar o entendimento das rotinas jornalísticas adotadas pelo jornal.

Figura 2: Variações tipográficas encontradas ao longo

da edição de 2000. Fonte: Bandeira (2018)

No que tange ao uso de imagens, destaca-se de maneira exemplar na edição de 1931 um grande anúncio de página inteira, ilustrado, da Tabacaria “A Melindrosa” (Fig. 3), algo inusitado para os padrões do jornal à época, quando o uso de imagens de grande proporção ainda não era algo corriqueiro na montagem das páginas e muito menos nos anúncios comerciais de então.

Figura 3: Aplicação de ilustração em anúncio de

página inteira de 1931Fonte: Bandeira (2018)

De forma bastante resumida, esses foram os procedimentos metodológicos adotados até

este momento que proporcionaram, além da digitalização e preservação do acervo, as primeiras produções científicas que contemplam o DP como um objeto de estudo e como uma fonte de consulta para investigar o perfil editorial e gráfico do impresso, bem como a memória gráfica de Pelotas-RS.

Conclusões

É importante destacar que as metodologias de trabalho aqui apresentadas foram pautadas em socializar o conhecimento que estava sendo produzido. Foi então a partir da sistematização do trabalho exposto aqui, e por meio da organização da equipe, dos documentos digitalizados e posteriormente de muitas horas de coleta de dados – ocorridas diretamente no acervo da BPP – que os primeiros frutos começaram a ser colhidos. Em especial com a conclusão da tese de uma das autoras deste artigo, já mencionada e intitulada “Diário Popular de Pelotas-RS: a forma gráfica de um projeto editorial (1890-2016)”. Além disso, os bolsistas e acadêmicos voluntários produziram até agora, sob orientação das coordenadoras dos projetos, um total de 19 artigos apresentados em eventos de pesquisa e também publicados em livros. Em linhas gerais, até este momento, esses foram os passos para mapear e investigar a história gráfica do jornal Diário Popular.

Por fim, no que se refere à digitalização do impresso, cabe destacar que a BPP vem empreendendo esforços para equipar seu acervo com máquinário mais adequados para a digitalização do jornal e para o resguardo do acervo digital. Já com relação a utilizar o DP como uma fonte de consulta e como um objeto de pesquisa as investigações estão longe de serem concluídas, uma vez que variados e potentes enfoques e objetos de estudo vinculados ao campo do Design serão ainda fruto de distintas investigações.

Em relação às investigações que tomam o DP como uma fonte de consulta para investigar a história gráfica em Pelotas, nas etapas futuras, pretendemos ainda:

- Propiciar a busca por informações acerca da memória e da identidade visual local,

incluindo os processos de produção, execução e circulação do design gráfico em Pelotas; - Identificar experiências na área da historiografia do design investigando seus atores e suas produções;

- Permitir aos pesquisadores envolvidos fazer investigações longitudinais, incluindo, assim, um longo período de investigação que viabiliza uma comparação das técnicas utilizadas em diferentes momentos desse jornal - que se mistura à história pelotense;

- Investigar empresas e/ou profissionais da área do design que já atuaram em Pelotas identificando como se caracterizam as produções criadas e divulgadas por esses na imprensa;

- Investigar como as diferentes instituições pelotenses se utilizaram, ao longo dos anos, dos variados processos gráficos ofertados pelo Diário Popular;

- Pesquisar quais técnicas e que referências de comunicação visual foram utilizadas ao longo dos anos, tipificando essas experiências gráficas e buscando compreender como se deu o desenvolvimento dessas composições visuais;

- Identificar; inventariar; classificar e analisar as marcas; os logotipos, as mascotes e demais ilustrações criadas para as mais diversas empresas e instituições pelotenses – e que foram divulgadas nas páginas desse periódico.

Nesse escopo, perceber até que ponto o design pode servir como ferramenta na manutenção da relação do veículo com seu público, diante do novo contexto comunicacional que se apresenta, parece ser um desdobramento possível para os estudos que utilizam o jornal enquanto objeto de pesquisa. Outras reverberações já passam a ser vislumbradas, como, por exemplo, a relevância de se articular a dimensão comercial do jornal às dimensões institucional e editorial, até então foco deste trabalho. Além disso, aprofundar a análise gráfica de cada uma das categorias levantadas (em uma amostra que permita vislumbrar ainda mais peculiaridades), ou ainda aprofundar as pesquisas acerca dos personagens responsáveis por dar forma ao

DP, também passam a figurar dentre os aprofundamentos da temática.

REFERÊNCIAS

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[3] BANDEIRA, Ana da Rosa. Diário Popular de Pelotas-RS: a forma gráfica de um projeto editorial (1890-2016). 2018. 272f. Tese (Doutorado em Comunicação e Informação) - Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.

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[8] DE LEÓN, Zênia. Os bondes em Pelotas - a novidade no Rio Grande do Sul, 2012.

http://www.vivaocharque.com.br/interativo/ar tigo22 > Acesso em: 27 fev. 2017.

[9] DIÁRIO POPULAR. Pelotas, RS: 27 ago. 1980.

[10] DIÁRIO POPULAR. Pelotas, RS: 15 e 16 nov. 1980.

[11] DIÁRIO POPULAR. Pelotas, RS: 27 ago. 1989.

[12] DIÁRIO POPULAR. Pelotas, RS: 25 ago. 1990.

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[15] FONSECA, Letícia Pedruzzi. A construção visual do Jornal do Brasil na primeira metade do século XX. 2008. 214 f. Dissertação (Mestrado em Design) - Departamento de Artes & Design, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.

[16] FONSECA, Letícia Pedruzzi, Gomes, Daniel D.; Campos, Adriana P. Conjunto metodológico para pesquisa em história do

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[17] GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008.

[18] GOLDENBERG, Miriam. A arte de pesquisar. Como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais. Rio de Janeiro: Record, 2007. [19] INSTITUTO METHODUS. Pesquisa e inteligência política. Pesquisa com leitores de jornal, Pelotas. Março de 2014. s/ed.

[20] LESSARD-HÉBERT, Michelle (et all). Investigação qualitativa. Fundamentos e práticas. Lisboa: Instituto Piaget, 2005.

[21] População no último censo: IBGE, Censo Demográfico 2010.

[22] MATHEUS, Pedro; NEVES, Helena de Araujo. Artes Gráficas em Pelotas-RS: a energia elétrica e a ilustração como discursos da modernidade (1936 a 1937). XVI Seminário de História da Arte. n.6, p.1- 16, 2017.

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