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LAS LENGUAS MATERNA E OFICIAL DE CABO VERDE:CAMINOS RECORRIDOS PARA EL ANÁLISIS DOCUMENTAL

Kelly de Aguiar Arruda

Secretaria de Município da Educação do Rio Grande – SMED, kellyaguiararruda@gmail.com

RESUMO

Este trabalho é o recorte de uma pesquisa realizada entre 2016 e 2018, sobre a coexistência das Línguas Crioula cabo-verdiana e Portuguesa em uma escola de Ensino Básico em Cabo Verde e tem por objetivo apresentar e discutir sobre os aspectos metodológicos realizados ao longo da investigação. Para tanto, apresento e discuto pressupostos da pesquisa qualitativa e pesquisa documental, problematizando a questão de objeto e fonte de pesquisa, destacando os documentos coletados na escola investigada em Cabo Verde, sendo eles: cadernos escolares dos alunos dos 1os e 2os anos do início da escolarização; livros didáticos, documentos digitais e impressos, como documentos oficiais de Cabo Verde, teses, dissertações, livros, jornais, revistas online, e-books e livros. Dentre os documentos produzidos, destacamos um diário de campo; 360 fotografias, 560 minutos de filmagem das práticas desenvolvidas em sala de aula e no pátio; 4 entrevistas, individuais, com as professoras das respectivas turmas observadas e com a gestora da escola. Além desses, documentos produzidos no Brasil, como a entrevista coletiva realizada com três estudantes cabo- verdianos da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. A abordagem metodológica adotada nessa pesquisa, permitiu o cruzamento de dados e demonstrou que a língua materna exerce um papel secundário no ensino da escola observada e que a língua valorizada, oficializada e que possibilita a alfabetização das crianças é a Língua Portuguesa.

Palavras chave: Metodologia, Fontes de investigação, Cabo Verde, Línguas materna e oficial.

RESUMEN

Este trabajo es el recorte de una investigación realizada entre 2016 y 2018, sobre la coexistencia de las lenguas criolla cabo-verdiana y portuguesa en una escuela de educación básica en Cabo Verde. Tiene por objetivo presentar y discutir los aspectos metodológicos desarrollados a lo largo de la misma. Para eso presento y discuto los presupuestos de la investigación cualitativa y de la investigación documental, problematizando la cuestión de los objetivos y las fuentes. Destacamos los documentos recolectados en la escuela estudiada, como cuadernos de clase de alumnos en el 1° y 2° año de escolarización; libros didácticos; documentos digitales e impresos; textos oficiales; teses de maestría y doctorado; libros y publicaciones periódicas físicas y virtuales. Entre los documentos producidos destacamos un diario de campo con 360 fotografías; 560 minutos de filmación de las prácticas pedagógicas en los salones de clase y el patio de recreo; 4 entrevistas individuales con maestras de los grupos observados y con la directora de la institución. Además de otros documentos producidos en Brasil como una entrevista colectiva realizada con tres estudiantes originarios de Cabo Verde y alumnos de la Universidade Federal do Rio Grande – FURG. El abordaje metodológico adoptado en este trabajo, permite el entrecruzamiento de datos y demostró que la lengua materna, criolla cabo-verdiana, ejerce un papel secundario en la escuela y que la única lengua valorada es el portugués, idioma oficial del país y único utilizado para alfabetizar a los alumnos.

Este artigo tem como objetivo apresentar e discutir os aspectos metodológicos realizados ao longo de uma pesquisa no âmbito de Mestrado realizada entre 2016 e 2018, pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande–FURG e que teve como temática a coexistência das Línguas Crioula cabo-verdiana e Portuguesa em uma escola de Ensino Básico em Cabo Verde.

Para tal, apresento, na primeira seção, o contexto em que a pesquisa surgiu e como os dados foram coletados e produzidos. Em seguida, problematizo pesquisa qualitativa e documental, como perspectiva metodológica que nortearam a investigação.

A partir dos aspectos mencionados acima, discuto, na segunda seção, a produção dos dados e a forma como foram operados, tendo em vista a diversidade de fontes utilizada na pesquisa.

Na terceira seção, teço as considerações finais.

Contextualização da pesquisa: surgimento, aproximações e coleta e produção de dados

Descrever o modo como entro em contato com as fontes da pesquisa e o caminho que percorro até sua análise é necessário para que se percebam as escolhas assumidas na pesquisa a qual esse artigo se propôs contextualizar e que teve início em Cabo Verde que segundo Amaral (1991), é constituído por dez ilhas e algumas ilhotas de origem vulcânica, em sua maioria montanhosas. Está situada na zona tropical do Atlântico Norte, a uma distância aproximada de 450 a 500 km da costa ocidental africana, como é possível observar a seguir:

Figura 1: Cabo Verde

do “Projeto de cooperação internacional Brasil-Cabo Verde para formação de profissionais em ciências, matemáticas e tecnologias”, coordenado pela Professora Dra. Gionara Tauchen, no qual participei como bolsista durante a graduação.

Assim, parte desse projeto foi desenvolvido na Universidade de Cabo Verde, modalidade de Graduação Sanduíche, no âmbito do Programa Pró-Mobilidade Internacional – CAPES/AULP. Como bolsista, permaneci em Cabo Verde nos meses de março e abril de 2015, mais especificamente na cidade de Praia, capital do país, situada na Ilha de Santiago. Nesse período, além das ações que fizeram parte do plano de trabalho previsto pelo projeto, como, por exemplo, a participação em disciplinas ofertadas pela Universidade de Cabo Verde, tive a possibilidade de conhecer algumas práticas escolares voltadas para a alfabetização, que eram desenvolvidas nos 1os e nos 2os anos de uma escola pública

denominada Escola de Ensino Básico Integrado Nova Assembleia. A seguir disponho as imagens da escola observada.

Figura 2:Imagem externa da Escola de Ensino Básico Integrado Nova Assembleia

Figura 3: Imagem interna da Escola de Ensino Básico

CABO VERDE ÁFRICA

Na primeira visita à escola, fui apresentada à gestora da instituição que de forma solícita contou sobre o histórico, mostrou os espaços da escola e me apresentou aos professores. Na situação, chamou minha atenção o fato de as pessoas falarem concomitantemente a língua portuguesa e a língua crioula cabo-verdiana, aspecto que ficou subsumido frente a tantas outras possibilidades que me eram apresentadas.

Durante as observações das turmas de 1os e 2os anos do Ensino Básico, ocorreu-me solicitar aos alunos alguns cadernos escolares para levar ao Brasil. Para minha surpresa, recebi quinze cadernos, gentilmente doados pelos alunos. Além dos cadernos doados, produzi vídeos, de situações em sala de aula e no pátio, totalizando 560 minutos em filmagens, 360 fotografias e um diário de campo, com escritas a partir das observações realizadas. Realizei entrevistas com a gestora e as professoras das turmas observadas e adquiri livros didáticos, também do 1º e do 2º ano, além de outros materiais bibliográficos, como livros que contextualizam a história de Cabo Verde e que se tornaram fontes da pesquisa.

Os cadernos doados pelas crianças de Cabo Verde se tornaram material de meu interesse, mesmo antes de ingressar no Mestrado. A partir deles desenvolvi, sob orientação da professora Dra. Gabriela Medeiros Nogueira, o Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia, intitulado “Cadernos Escolares como fonte e/ou objeto de investigação: o que revelam as pesquisas?”, no qual busquei conhecer acerca do que é ensinado nesses anos escolares e os tipos de atividades propostas. Cabe destacar que os dados produzidos e coletados não foram pensados, para uma pesquisa de Mestrado. Contudo, ao entender a potencialidade do material que trouxe de Cabo Verde e meu interesse em pesquisar no campo da Alfabetização, participei em 2015 do processo seletivo para o Mestrado em Educação, no Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Rio Grande – FURG e, a partir desse momento, as fontes coletadas e produzidas passam a fazer parte da pesquisa.

Ao longo do primeiro ano do mestrado,

momento da qualificação e precisei, portanto, revisitar o material produzido e coletado, no ano de 2015, durante as observações realizadas na escola em Cabo Verde. Foi, então, que reencontrei, no diário de campo, a presença da língua portuguesa e da língua crioula cabo- verdiana e identifiquei, em minhas reflexões, que, de alguma forma, essa questão chamou- me atenção durante o período vivido na cidade de Praia, além de ser uma temática interessante para aprofundar.

Assim, ao perceber que as crianças e as professoras se comunicavam em língua portuguesa (língua oficial), em sala de aula e, no pátio, as crianças falavam em língua crioula cabo-verdiana (língua materna), da mesma forma que as professoras e outros profissionais da escola e além disso, a maioria das crianças, ao ingressar no 1º ano, falam somente a língua crioula cabo-verdiana, segundo uma das professoras dessa escola, a pesquisa passou a se ocupar da seguinte questão: Que lugar as línguas crioula cabo-verdiana e portuguesa ocupam em uma Escola de Ensino Básico em Cabo Verde, mais especificamente no 1º e 2º anos?

Dito isso, compreendo que revisitar as fontes da pesquisa foi fundamental para repensar a questão proposta. Acrescento a relevância do diário de campo para pensar questões, até então esquecidas pela memória, como refletir sobre os modos que as línguas são utilizadas, isto é, sobre quais contextos, quando e por que uma e/ou outra língua é escolhida para participar de determinado prática social.

A partir do exposto anteriormente, compreendo que a abordagem metodológica assumida em uma investigação é fundamental para responder ou compreender a questão que o pesquisador se propõe investigar. Por isso, a abordagem adotada para nortear a referida pesquisa foi de cunho qualitativo, pois é em tal perspectiva que a investigação foi se constituindo, uma vez que:

[...] pretende aprofundar a compreensão dos fenômenos que investiga a partir de uma análise rigorosa e criteriosa desse tipo de informação, isto é, não pretende testar hipóteses para comprová-las ou refutá-las ao final da pesquisa; a intenção é a compreensão” (MORAES, 2003,

Outro fator que justifica a escolha por essa perspectiva, segundo Bogdan e Biklen (1994) é considerar o contexto onde os dados são produzidos a fim de que sejam compreendidos no contexto a que pertencem. Partindo dessa premissa, estar em Cabo Verde foi fundamental, pois me permitiu conhecer diferentes contextos, participar de práticas sociais letradas com a população cabo- verdiana, com as crianças e professoras da escola, bem como a possibilidade de refletir sobre minhas observações e leituras que realizei para este estudo. Os autores ainda atribuem a escolha por tal abordagem à produção dos dados por sujeitos do seu contexto, isto é:

[...] Como no caso de registos oficiais, os investigadores querem saber como e em que circunstâncias é que eles foram elaborados. Quais as circunstâncias históricas e movimentos de que fazem parte? Para o investigador qualitativo divorciar o acto, a palavra ou o gesto do seu contexto é perder de vista o significado (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p. 48).

É a partir dessa perspectiva que a pesquisa se configurou, ou seja, buscou compreender o significado de determinadas práticas para os sujeitos que delas faziam parte.

Além disso, na pesquisa qualitativa os dados investigados emergem dos materiais coletados e produzidos no contexto em questão e não cabe ao investigador fazer uma pesquisa superficial; todavia, uma análise mais profunda demanda certos cuidados em virtude dos limites que a utilização da referida abordagem exige, tais como:

[...] excessiva confiança no investigador como instrumento de coleta de dados; risco de que a reflexão exaustiva acerca das notas de campo possa representar uma tentativa de dar conta da totalidade do objeto estudado, além de controlar a influência do observador sobre o objeto de estudo; falta de detalhes sobre os processos através dos quais as conclusões foram alcançadas; falta de observância de aspectos diferentes sob enfoques diferentes; certeza do próprio pesquisador com relação a seus dados; sensação de dominar profundamente seu objeto de estudo; [...] (GERHARGT E SILVEIRA 2009, p. 32).

cuidado ao produzir e analisar o material de pesquisa, pois os dados devem ser produzidos de forma sensível e crítica. Segundo Bogdan e Biklen (1994, p. 48), uma investigação qualitativa se desenvolve de forma descritiva, pois os dados analisados não são quantificados e os pesquisadores buscam “analisar os dados em toda sua riqueza, respeitando, tanto quanto possível, a forma em que estes foram registrados ou transcritos”.

Nesse sentido, as fontes de pesquisa possibilitam a compreensão acerca da forma como os alunos utilizam as línguas crioula cabo-verdiana e portuguesa no cotidiano escolar, exigindo uma perspectiva metodológica que oportunize:

[...] a investigação de determinada problemática não em sua interação imediata, mas de forma indireta, por meio do estudo dos documentos que são produzidos pelo homem e por isso revelam o seu modo de ser, viver e compreender um fato social” (SILVA et al., 2009, p. 456).

Sendo assim, a escolha por tal abordagem metodológica também se dá pelas fontes da pesquisa serem materiais, ajustáveis a metodologias que possibilitam investigações inovadoras, como a pesquisa documental, assim denominada por Godoy (1995). É nessa perspectiva que os materiais apresentados para a investigação são identificados como documentos, pois são de:

[...] natureza diversa, que ainda não receberam tratamento analítico, ou que podem ser reexaminados buscando-se novas e/ ou interpretações complementares, constitui o que estamos denominando pesquisa documental (GODOY,1995, 21).

É desse modo que a pesquisa documental se constitui na abordagem qualitativa.

Nesse sentido, acreditamos que a pesquisa documental representa uma forma que pode se revestir de um caráter inovador, trazendo contribuições importantes no estudo de alguns temas. Além disso, os documentos normalmente são considerados importantes fontes de dados para outros tipos de estudos qualitativos, merecendo, portanto, atenção especial (GODOY, 1995, p. 21).