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HACER POÉTICO: POSIBILIDADES DE ENFOQUES METODOLÓGICOS

Jéssica Anibale Vesz a

Reinilda de Fátima Berguenmayer Minuzzi b

a Mestrado em Artes Visuais/Universidade Federal de Santa Maria/jessicaavesz@gmail.com

b Departamento de Artes Visuais/Universidade Federal de Santa Maria/reinilda.minuzzi@gmail.com

RESUMO

O artigo aborda a prática na pesquisa em artes visuais, segundo a Cartografia e a Poiética que servem como aporte teórico para a criação de um método de trabalho próprio. Assim, nas duas situações encontram-se alguns critérios e elementos para o desenvolvimento de uma investigação na área. Por sua vez, estes não são complementares, porém é possível que se construa uma metodologia própria de pesquisa a partir desta relação. A Poiética é analisada segundo as considerações de Sandra Rey (2002), e a Cartografia é abordada a partir de Gilles Deleuze e Félix Guattari (1995a), quando se apontam alguns princípios sobre rizoma. Igualmente, com base nos estudos de Virgínia Kastrup (2009) são relacionadas oito pistas para apontar procedimentos para a pesquisa. Como objetivo, busca-se analisar as formas que possibilitam o uso e as contribuições de cada abordagem para a pesquisa em poéticas visuais. A partir de um estudo de caso, em uma dada pesquisa que faz uso dos dois aportes, possibilitando a atuação de ambas, pretende-se verificar, sob uma análise qualitativa, como é possível potencializar o fazer poético em artes visuais. Para tal, alguns apontamentos são estabelecidos, no que tange à abordagem da Cartografia e da Poiética, pensando de que forma podem atuar paralelamente em investigações neste campo.

Palavras-chave: Artes Visuais, Metodologia, Cartografia, Poiética.

RESUME

El artículo aborda la práctica en la investigación en artes visuales, según la Cartografía y la Poiética que sirven como aporte teórico para la creación de un método de trabajo propio. Así, en las dos situaciones se encuentran algunos criterios y elementos para el desarrollo de una investigación en el área. Por su parte, estos no son complementarios, pero es posible que se construya una metodología propia de investigación a partir de esta relación. La Poiética es analizada según las consideraciones de Sandra Rey (2002), y la Cartografía es abordada a partir de Gilles Deleuze y Félix Guattari (1995a), cuando se apuntan algunos principios sobre rizoma. Igualmente, con base en los estudios de Virginia Kastrup (2009) se relacionan ocho pistas para apuntar procedimientos para la investigación. Como objetivo, se busca analizar las formas que posibilitan el uso y las contribuciones de cada abordaje para la investigación en poéticas visuales. A partir de un estudio de caso, en una determinada investigación que hace uso de los dos aportes, posibilitando la actuación de ambas, se pretende verificar, bajo un análisis cualitativo, cómo es posible potenciar el hacer poético en artes visuales. Para ello, algunos apuntes son establecidos, en lo que se refiere al abordaje de la Cartografía y de la Poiética, pensando de qué forma pueden actuar paralelamente en investigaciones en este campo. Palabras clave: Artes Visuales. Metodología, Cartografía, Poiética

Este artigo aborda a possibilidade da desenvolver uma metodologia própria em uma pesquisa em poéticas visuais, a partir de dois métodos que não são de uso exclusivo na pesquisa em Artes Visuais. A Cartografia, segundo Gilles Deleuze e Félix Guattari (1995)32 e Virginia Kastrup (2009)33, assim como a Poiética, segundo Sandra Rey (2002)34.

Com base nisto, apontam-se alguns critérios para o desenvolvimento de um método de trabalho próprio quando da instauração de uma obra em poéticas visuais na perspectiva de uma pesquisa em arte pelo artista-pesquisador.

Como uma questão principal de pesquisa, pretende-se pensar de que modo a Poiética e a Cartografia podem atuar juntos em fazer poético em Artes Visuais. Para isso, analisa-se, separadamente, a Cartografia e a Poiética para verificar os critérios apontados em cada uma, identificando, assim, quais podem ser pontos de encontro, colaborando, conjuntamente, para o estabelecimento de um método pessoal. Visando uma maior contribuição quanto a tal aspecto, como um estudo de caso, faz-se a análise da dissertação de Mestrado de Elias Edmundo Maroso (2014), o qual abarca em sua metodologia, tanto a Cartografia quanto a Poiética.

Por outro lado, igualmente, apresenta-se a investigação pessoal em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal de Santa Maria na linha de pesquisa Arte e Tecnologia. Isso se dá, primeiramente, para localizar neste estudo, a abordagem proposta no presente texto, com a temática envolvendo a relação de vestígios temporais encontrados na natureza por meio da fotografia.

32Gilles Deleuze, filósofo francês, nascido em 1925 e

falecido em 1995 (LECHTE, 2002, p. 120); Félix Guattari, filósofo francês, nascido em 1930 e falecido em 1992 (FAROFA FILOSÓFICA, 2018).

33Graduada em Psicologia pela Universidade Federal

do Rio de Janeiro em 1979. Atualmente é professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. (Fonte: KASTRUP, Virginia, Currículo Lattes, 2018).

Primeiramente localiza-se a investigação pessoal de modo a relacioná-la com os assuntos abordados no texto. Nela encontra-se a pesquisa baseada na Poiética e os estudos com foco no rizoma, assim pode ser situados alguns pontos que se aproximam da Cartografia.

A pesquisa tem como objeto os vestígios temporais encontrados na natureza, a partir de um local específico, uma serraria de madeira de propriedade paterna, onde são realizados registros fotográficos, resgatando elementos visuais e sonoros inerentes ao processamento do tronco e transformação da árvore para madeira, como também da madeira em pó e resíduos. Assim, busca-se encontrar naquele lugar uma potencialidade para pensar tais acontecimentos temporais.

Torna-se pertinente a pesquisa no âmbito da arte contemporânea e tecnológica, por se tratar de um estudo a partir da fotografia que pensa os eventos temporais em uma abordagem poética. Circunda, dessa forma, movimentações de um espaço que carrega significados no seu fazer e desfazer, um fluxo que dá margem à produção de uma pesquisa poética.

O que se percebe e instiga naquele lugar é a madeira, os troncos que são transformados em outro objeto; camadas que são deslocadas; os crescimentos de veios ordenados como em um ciclo de estações e que o passar do tempo transforma em tronco. Neste sentido, algo flui daquele lugar para outros, outras camadas, outros acúmulos, vestígios transformados pelo tempo.

Em meio às camadas se formando se dá o tempo, tempo que desperta o pensamento da vida que se fragmenta em fotografias. Um

34Sandra Rey, artista, professora, pesquisadora, crítica

de arte e curadora, entre outros, discute sobre os métodos de criação artística entre teoria e prática e metodologia de pesquisa em artes visuais (Fonte: REY, Sandra, Currículo Lattes, 2018).

tomam novos rumos, um vida que brotou e se desfaz, transforma-se, formando outras coisas, fluindo para outros espaços.

Ao evocar-se a horizontalidade do tempo, assumindo que tudo está interligado, tendo um sentido para estar ali, onde cada elemento não está fixo, geram-se encontros e atravessamentos. Relativamente ao rizoma (DELEUZE e GUATTARI, 1995), na perspectiva de que ele não tem início e nem fim e é, sim, um meio, ou seja, percebe-se que o meio é a serraria de madeira, de onde parte a pesquisa pessoal, tomando ramificações que se atravessam, crescendo, a partir dali, transborda-se para outras instâncias.

Um rizoma não começa nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas, inter- ser, intermezzo. A árvore é filiação, mas o rizoma é aliança, unicamente aliança. A árvore impõe o verbo "ser", mas o rizoma tem como tecido a conjunção "e... e... e..." Há nesta conjunção força suficiente para sacudir e

desenraizar o verbo ser. (DELEUZE;

GUATTARI, 1995, s.p.)

Ao pensar o objeto de estudo - a serraria de madeira - sob um tempo rizomático, evoca-se a multiplicidade de linhas que se atravessam e buscam desterritorializações em uma dança horizontal que não tem um ponto fixo, que produz encontros em várias direções, sob uma forma totalmente aberta. No rizoma, este local de encontros no contexto do tempo, interrompem-se os fluxos contínuos, abrem-se novas formas e se produzem tramas, movimentos que tomam caminhos próprios, constituindo temporalidades naquele espaço.

Encontros que são produzidos a partir de linhas que se ligam e que transbordam que se são multiplicidade, uma linha que se rompe e se integra a outra, que inventa um novo caminho; aquela serragem que se encontra desterritorializada, mas que encontra um novo território, esse novo caminho que será seguido, traçado e movimentado (Figuras 1 a 4).

Figura 1. (Sem título [I]. 2018. Fotografia/Objeto. Vista Frontal.

Dimensão: 30x40x9 cm. Fonte: Arquivo Pessoal)

Figura 2. (Sem título [I]. 2018. Fotografia/Objeto. Vista Lateral.

Dimensão: 30x40x9 cm. Fonte: Arquivo Pessoal).

Figura 3. (Sem título [II]. 2018. Fotografia/Objeto. Vista Frontal.

Figura 4. (Sem título (II). 2018. Fotografia/Objeto. Vista Lateral.

Dimensão: 30x40x9 cm. Fonte: Arquivo Pessoal)

Perceber que este trânsito entre a prática que vai ao encontro da teoria e que parte para a prática novamente, em uma costura entre o fazer, o pensar e o fazer, onde ainda estão imbricados o escrever, o pesquisar autores e artistas que possam dar embasamento teórico e artístico ao trabalho.

Passos do Processo

Para a metodologia encontram-se referências na Poiética, porém não se trata exatamente de uma metodologia e, sim, de um pensamento possível da criação, onde o procedimento se encontra articulado com os conceitos. A Poiética não possui uma estrutura que pode ser aplicada, mas estabelece alguns pontos para guiar e delimitar as próprias regras, ou seja, a própria metodologia de trabalho.

A produção de uma pesquisa em poéticas visuais, propondo-se a pensar o tempo e buscar significados dentro do campo potencial da arte e tecnologia, pensa um espaço para além dele. Desenvolver uma pesquisa em artes envolveria, então, a busca pelo próprio processo, pelo fazer, pois apenas a partir do fazer é que se consegue uma articulação entre a poética e os aspectos teóricos e conceituais, onde há espaço para argumentar, fazer e refazer, delimitar questões e experienciar situações pertinentes ao objeto de estudo.

No estudo em processo, a Cartografia não está explícita como um aporte metodológico, mas pode ser percebida e encontrada nos parâmetros rizomáticos; já a Poiética está

delimitar e apontar a própria metodologia, ou seja, que se estabelece a partir da própria prática, da experiência do fazer relativo ao que se busca. Tanto a cartografia quanto a Poiética servem como aporte teórico para desenvolvimento de um método próprio de trabalho, que se dá a partir da instauração da obra.

Na sequência, abordam-se as questões teóricas da Poiética e da Cartografia, apontando as principais características em comuns; após, exemplifica-se com a exposição sobre a dissertação de Elias Maroso.

Como referência bibliográfica para a Cartografia utiliza-se como base principal os escritos de Deleuze e Guattari (1995), onde apontam alguns princípios sobre rizoma. Em Kastrup (2009) são listadas oito pistas para fazer pensar o mapeamento e apontar procedimentos metodológicos para a pesquisa. Por outro lado, fundamentam-se os estudos sobre Poética a partir de Sandra Rey (2002), com base em alguns pontos específicos sobre o método.

A Poiética parece ser estabelecida sobre as questões do “tudo pode” (REY, 2002), pois não é constituída a partir de regras rigorosas, porém trata-se de um pensamento equivocado. Mesmo sem possuir uma estrutura fechada ou um modo correto de se fazer, apontam-se alguns critérios e delimitações que podem ser seguidos para auxiliar no processo e delimitar suas próprias regras.

Sabe-se que a Poiética não é exclusiva de uso em Artes Visuais, mas seu emprego tem sido recorrente para tais práticas de pesquisas. Sendo assim,

A pesquisa em poéticas visuais apóia-se no conjunto de estudos que abordam a obra do ponto de vista de sua instauração, no modo de existência da obra se fazendo. O objeto da Poiética não se constitui pelo conjunto de efeitos de uma obra percebida, não é a obra acabada, nem a obra por fazer: é a obra se fazendo. A

Poiética pressupõe três parâmetros

fundamentais: liberdade (expressão da singularidade), errabilidade (direito de se enganar) e eficácia (se errou, tem que reconhecer que errou e corrigir o erro) (REY, 2002, p. 134).

junto à obra, enquanto a mesma se constitui “a obra se fazendo”, segundo Sandra Rey (2002), levando, assim, em consideração os significados na construção da obra. Assim, por poder apresentar alterações ao decorrer do procedimento da formulação da obra, possui sempre um ponto de partida, porém não tem definido seu ponto de chegada. A produção poética (prática artística) deve caminhar junto com a reflexão e construção teórica, pois a escrita e os conceitos operatórios são emersos da obra a partir do processo da produção artística.

O trabalho deve se potencializado pela poética e teoria operando juntos, “[...] os conceitos abordados pelo viés da teoria não podem ser meras ilustrações do trabalho acabado, ou palavras vazias.” (REY, 2002, p. 128) e, ainda, “[...] a dimensão teórica implica que a obra possui um sentido além do que vemos” (REY, 2002, p. 129), assim os conceitos atuam junto ao fazer da obra, indo além do que está visível, produzindo articulações e significados através de processos subjetivos.

A autora apresenta exemplos para pensar as questões da Poiética, sendo que um desses se relaciona com a constituição da obra. Percebe- se que, assim como um iceberg, a obra seria um todo, constituído pela parte que fica fora da água, o que não está imerso, que seria a obra em si, ao passo que o que está submerso seria aquilo que não está visível na obra, ou seja, as questões teóricas, conceitos, leituras que possibilitaram a produção. O conjunto seria um pensar contíguo, uma construção que atua paralelemente, reunindo o fazer poético com a produção teórica.

O segundo exemplo é “Fita de Mœbius”, representando esse trânsito ininterrupto entre a produção poética e produção teórica. A Poiética seria, então, um caminhar em adjacência às duas produções, a conceitual e a poética, onde nenhuma se sobressai e, sim, se complementam, construindo bases que se fortalecem por leitura e experimentações.

Com a Poiética, acaba-se por produzir mais questionamentos, propondo outras problematizações do, muitas vezes, respondendo-as. As respostas não seriam

diversos encontros subjetivos para com o sujeito.

Uma metodologia baseada na abordagem da Poiética não contém uma estrutura, assim possibilitando certa abertura aos artistas, a fim de que pensem a sua própria produção e os processos de instauração da obra, podendo criar a partir de suas percepções e subjetividades, tendo a possiblidade de errar e corrigir os erros.

A pesquisa em poéticas visuais apoia-se no conjunto de estudos que abordam a obra do ponto de vista de sua instauração, no modo de existência da obra se fazendo. O objeto da Poiética não se constitui pelo conjunto de efeitos de uma obra percebida, não é a obra acabada, nem a obra por fazer: é a obra se fazendo. A

Poiética pressupõe três parâmetros

fundamentais: liberdade (expressão da singularidade), errabilidade (direito de se enganar) e eficácia (se errou, tem que reconhecer que errou e corrigir o erro). Leva em conta a constituição de significados a partir de como a obra é feita (REY, 2002, p. 134).

Alguns pontos que são trazidos na percepção da Poiética e que são tomados como regras para a instauração do processo seriam, então, a utilização de diários de bordo no qual se fazem anotações sobre o processo poético, assim como as leituras e pesquisas bibliográficas. Também evidencia-se a importância de verbalizações sobre a pesquisa apresentando ou até mesmo em conversas informais e com o orientador, e ainda algo que penso ser essencial é a busca de referências artísticas, sendo que ela pode ter ligação na poética ou conceitualmente com tua forma de fazer.

Como pode se notar, a Poiética não se constitui em uma estrutura, assim como a Cartografia não possui uma estrutura hierárquica. Algumas delimitações, no entato, servem para caracterizá-la.

Cunhada enquanto “imagem do pensamento” pelos filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari, a cartografia é articulada em diferentes obras, mais precisamente desenvolvida sob operações rizomáticas, principalmente na obra Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia (1995);

conectivos tanto na discussão da modernidade como na própria forma de apresentá-los[...] (MAROSO, p. 1316, 2015)

A Cartografia desenha seus próprios caminhos, construindo-se a partir da ideia de mapas que se cruzam e se entrelaçam, desfazem-se de algumas partes e seguem por outras, sendo que, se necessário, podem abandonar um caminho e seguir por outros, abrir novas visões e expandir conhecimentos. Nesse sentido, o rizoma é lembrado, pois a cartografia está apontada nos parâmetros que delimitam o rizoma, mais especificamente o quinto e o sexto de seus princípios. Assim, a perspectiva rizomática é pensada fora de hierarquias e, sim, em linhas que se entrecruzam, fazendo movimentos.

5º e 6º- Princípio de cartografia e de decalcomania: um rizoma não pode ser justificado por nenhum modelo estrutural ou gerativo. Ele é estranho a qualquer idéia de eixo genético ou de estrutura profunda. Um eixo genético é como uma unidade pivotante objetiva sobre a qual se organizam estados sucessivos; uma estrutura profunda é, antes, como que uma

seqüência de base decomponível em

constituintes imediatos, enquanto que a unidade do produto se apresenta numa outra dimensão, transformacional e subjetiva. (DELEUZE E GUATTARI, 1995, p.20)

Pensar sobre rizoma como também na cartografia essas linhas potenciais que não tem um ponto inicial como também não tem um termino, mas que atua pelo meio, pela velocidade e intensidade. Rizoma não atua pelo principio de “eixo genético” ou por uma estrutura hierárquica. Opera pelo viés da multiplicidade, desconsiderando assim a unicidade, pois o “uno” conduz a uma forma fechada, enquanto o pensamento rizomático e cartográfico flui para diversas direções e se utiliza das rupturas para potencializar os seus processos.

Linhas que não são dirigidas por uma linearidade, porém que conduzem encontros que se atravessa e transbordam, não possuem um ponto e sim linhas, esses “pontos” que pelas suas velocidades de fluxo se

não servem para ligar pontos e sim o rizoma se constitui delas, rizoma não é forma — é linha.

Cartografar seria então percorrer, construir caminhos a serem trilhados, porém não propõem segurança e nem estabilidade, pois apontar um caminho com segurança seria o mesmo de perder a potencialidade dele, o seguro não deixa pensar no processo e perceber detalhes, por ser algo de nosso conhecimento como também saber o que se dar no final e não conseguir aproveitar o “entre”, os acontecimentos e encontros intermediários ao começo e o fim, assim não sentindo a intensidade que o processo pode proporcionar. A cartografia é pensada a partir do conceito de invenção, segundo Kastrup (2009) é inventar problemas e não encontrar soluções para eles, se diferindo assim, do conceito de criatividade. O inventar deve estar presente todos os dias, mas sem ter regras predefinidas. Um método que apontam pistas, sem um caminho a ser percorrido e podem ser lidas sem uma ordem, elas se entrelaçam, transpassam se misturam e se afastam, assim sendo, aponto apenas algumas como à invenção, habitar territórios e as movimentações.

Cartografar demanda tempo e disposição do pesquisador a estar a todo tempo em movimento, pois a pesquisa se encontra sob movimentação a todo o instante, assim,

[...] é preciso que o próprio cartógrafo esteja em movimento, afetando e sendo afetado por aquilo que cartografa. O cartógrafo cartografa sempre o processo, nunca o fim. Até porque o fim nunca é na realidade o fim. O que chamamos de final é sempre um fim para algo que continua de uma outra forma. Se não conseguimos enxergar movimento é porque alguma coisa está impedindo, e lançar o olhar para isto é também função do cartógrafo. A cartografia é, desde o começo, puro movimento e variação contínua. (COSTA, 2009, p.17)

Então esse estar em movimento em territórios implica mapeá-los, mas também não é apenas estar em movimento, é também conseguir lidar com algo que não está parado e estanque em um lugar, a pesquisa está em mutação a todo o instante, assim segundo pensamento de Costa

coletividade, mas também no singular e produzida pelos caminhos de nossa intimidade e da exterioridade, assim percebendo que não atua em extremos e sim por caminhos que levam ao pensar no “entre”, entre isso e aquilo.

Defender que toda pesquisa é intervenção exige do cartógrafo um mergulho no plano da experiência, lá onde conhecer e fazer se tornam inseparáveis, impedindo qualquer pretensão à neutralidade ou mesmo suposição de um sujeito e de um objeto cognoscentes prévios à relação que os liga. Lançados num plano implicacional, os termos da relação de produção de conhecimento, mais do que articulados, aí se constituem. Conhecer é, portanto, fazer, criar uma realidade de si e do mundo, o que tem consequências políticas. Quando já não nos contentamos com a mera representação do

objeto, quando apostamos que todo