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MODERNITY AND DEVELOPMENT: A LATIN AMERICAN THEORIZATION

Josué Kuhn Völza,

Pedro Henrique Silva de Oliveirab,

a Universidade Federal do Rio-Grande do Sul(UFRGS), josuekvolz@gmail.

b Instituto de Filosofia, Sociologia e Política (IFISP), Universidade Federal de

Pelotas(UFPel),pedrohsdeoliveira27@gmail.com

RESUMO

O discurso hegemônico da modernidade se apresenta como fala universal e neutra, e, em última instância, como única forma de racionalidade inteligível. Tais pretensões são legitimadas pelo cânone eurocêntrico ao hierarquizar a produção de conhecimento, situando o Ocidente como referencial. A reivindicação do universalismo é basilar para a criação dessa narrativa totalizante, supostamente desprovida de locus geográfico originário, e com isso eclipsa a importância da geopolítica para a constituição de seu sujeito. Ao ocultar o “ser” e seu contexto, tal perspectiva teórica apresenta seu próprio conceito de modernidade como objetivo natural, trabalhando o progresso através de uma noção etapista que estabelece a civilização ocidental como meta, propósito da evolução social.Em sua argumentação meta-teórica o cânone de matriz liberal legitima a realização de um processo de alinhamento de verdades e conhecimentos locais atrasados e inerentemente inferiores - com seus supostos valores universais, racionais e modernos. Esse processo se inicia com o advento da colonização, mas é reproduzido via determinadas dinâmicas até a atualidade.O presente artigo oferece uma crítica à estrutura internacional de conhecimento eurocêntrica sob uma ótica latino americana. Realiza-se uma análise sobre suas origens e mecanismos de subordinação. Propõe-se, assim, uma crítica geolocalizada ao conceito de desenvolvimento, o que, por si só, se estabelece como prática teórica contra hegemônica.

Palavras-Chave: Teoria Descolonial, Teoria Latino-americana, Desenvolvimento, Geopolítica do

conhecimento, Colonialidade do Poder, do Saber e do Ser.

ABSTRACT

The hegemonic discourse of modernity presents itself as universal and neutral, and, ultimately, as the only form of intelligible rationality. Such pretensions are legitimized by the Eurocentric canon and hierarchizes the production of knowledge, wich culminates in the situation of the West as the ultimate referencial. The claim of universalism is a cardinal creation of this totalizing narrative, that is supposedly devoid of original geographical locus, and thereby eclipses the importance of geopolitics for the constitution of its subject. By concealing the "Being" and its context, this theoretical perspective presents its own concept of modernity as a natural goal, through an etapist notion that establishes Western civilization as the logical objetive of social evolution.In its meta-theoretical argumentation, the western canon legitimates the realization of a process of alignment of belated and inherently inferior truths and local knowledge - with its supposed universal, rational, and modern values. This process begins with the advent of colonization, but is reproduced through certain dynamics until the very present times.The article offers a critique of the international structure of Eurocentric knowledge from a Latin American perspective. An analysis is made of its origins and mechanisms of subordination. Thus, a geo-idealized critique of the concept of development is proposed, which establishes itself as a theoretical practice against western hegemony.

Keywords: Descolonial Theory, Latin-american Theory, Devolopment, geopolitics of knowledge,

O presente artigo tem por objetivo abordar as contribuições teóricas periféricas, especialmente latino-americanas, para o debate crítico acerca do desenvolvimento econômico. Dessa maneira, questiona-se como o discurso do desenvolvimento pode ser compreendido através de uma lente geolocalizada.

Historicamente, a partir do final da Segunda Guerra Mundial, tal conceito torna-se chave para a implementação de políticas em nível internacional, principalmente sobre o – posteriormente delineado – Terceiro Mundo. Nesse momento, acalorado debate toma forma, buscando compreender de que maneira os países dessa categoria poderiam superar sua condição de subdesenvolvimento.

Para tanto, a industrialização assumiria papel central, amplamente entendida como a via para o desenvolvimento, visto a trajetória percorrida pelos locais referência, ou seja, o Primeiro Mundo. Paralelamente, começa a se constituir determinada abordagem acerca da estrutura do comércio internacional, caracterizada, portanto como centro-periferia. A dizer, constata-se um caráter de dependência das economias da periferia para com o centro, visto a matriz extrativista-exportadora a qual aquela é submetida desde o advento da colonização – dentre outros aspectos que serão abordados ao longo do texto. Leva-se em conta que tal estrutura tende a agravar a disparidade entre os dois polos -centro e periferia - ao longo da história.

Outro mais, é apontado que a produção e reprodução de conhecimento seguem parâmetros análogos de hierarquia. Visto a divisão entre o centro enunciador e a periferia receptora, cabendo a essa uma margem limitada de teorização e aplicação prática de seu conhecimento próprio.

O que se percebe é que a concepção de desenvolvimento vigente é elaborada em determinado contexto geopolítico e aplicado a outra(s) realidade(s). A partir de tal constatação, o esforço do presente trabalho é delinear uma vigorosa construção crítica geopoliticamente localizada acerca das limitações e efeitos do desenvolvimento. Isso será realizado buscando compreender a relação

desenvolvimento, através de uma lente epistemológica Latino-americana.

Para tal, teorias mais contemporâneas serão utilizadas no intuito de questionar as inúmeras consequências sociais e ambientais geradas pela implementação da narrativa do desenvolvimento. Fazendo-se, assim, uso de um extenso aporte teórico, abrangendo as teorias cepalinas e dependentistas, assim como as contribuições marxistas latino-americanas, culminando nas abordagens ecologistas, pós- coloniais e decoloniais.

A geopolítica do conhecimento e colonialidade do saber

O trabalho aqui exposto insere-se em um amplo debate acerca da produção e reprodução do conhecimento. Levando em conta os entraves que os pensadores latino-americanos enfrentam ao adentrar o campo da teoria política e econômica, bem como possuir certa circulação de seus estudos, questiona-se as raízes de tal problemática. Em um primeiro momento, depara-se com a constatação, sustentada por diversos cientistas, de que há determinada estrutura internacional de divisão do trabalho intelectual. Responsável, assim, por classificar o globo entre lócus geográficos que possuem maior ou menor aceitação para que teorizem acerca do ambiente que lhes rodeia. Notadamente, há uma divisão relacional, mesmo que turva e dinâmica, entre centro e periferia. Certos locais ocupam a posição de referência enquanto outros são percebidos como desviantes.

Em termos crus: o centro produtor de conhecimento faz-se reconhecido internacionalmente e serve de parâmetro para avaliar e interferir em diferentes contextos. No caso da periferia teórica, toda produção intelectual feita tende a possuir baixa validação pela academia, até mesmo pelos seus pares. Por outro lado, o trabalho que é importado assume pompas de verdade. Na prática, nota- se uma constante tentativa de se aplicar teorias que foram concebidas no primeiro- mundo/norte-global em regiões entendidas como terceiro-mundo/sul-global (ou outras nomenclaturas classificatórias), tal qual o

social.

Na finalidade de explorar assertivas até então destrinchadas, se fará uma abordagem acerca da estrutura internacional de produção e reprodução de conhecimento. Parte-se do pressuposto de que há certa hierarquização entre diferentes localidades geopolíticas, imbuída em definir tal dinâmica. Reconhece- se o colonialismo como evento determinante para a formação de binarismos classificatórios de ordem geográfica, a notar “West and Rest”, e de ordem social, diferenciando os sujeitos entre: colonizado vs colonizador; sem alma/ pecaminoso vs salvo; selvagem vs civilizado; primitivo vs moderno; nécio vs racional.

Assim, a partir de diversos eventos, se forma uma complexa estrutura. Entretanto, as relações entre sociedades das mais diferentes trajetórias históricas são padronizadas devido a imperialidade colonial. Comércio, conquista, genocídio e escravidão são acontecimentos recorrentes na humanidade. Todavia, na metade do milênio passado era criado um instrumento que justificaria a utilização da violência indiscriminada: o racismo. Para alguns autores, que serão abordados a diante, surge esse fator discriminatório, que faz mão de características fenótipas para se justificar. Também serão apercebidas outras diferenciações e hierarquizações, através de variadas correntes teóricas, que servem para a formação de todo um tecido social.

Nesse esquema, o âmbito do conhecimento possui um papel fulcral. Ao se classificar as sociedades, o poder de fazer-se inteligível fica retido aos autoproclamados superiores. Dessa forma, infinitas perspectivas cosmológicas, engendradas por múltiplas geolocalidades, ficam subjugadas a uma única percepção, que é, em última instância, fruto de um específico contexto paroquial.

Para compreender tal processo, primeiramente é necessário abordar a formulação histórica da atual conjuntura estrutural. Henrique Dussel (2002) situa a modernidade como fator constitutivo do papel “central” da Europa na história mundial, o que desloca as demais regiões à condição “periférica”. O autor demonstra que para a hegemonização de tal narrativa, a produção de

Immanuel Kant (1784), buscou equalizar “racionalidade” como conceito, através da máxima europeia inaugurada no iluminismo.

Pode se recorrer a Foucault (1984) e seu entendimento sobre a justificativa kantiana tradicional: o autor alemão compreende o iluminismo para além de um movimento, mas como um dever, uma obrigação. A modernidade, grande projeto de narrativas universalizantes, é apresentado no cânone ocidental como uma tentativa de superação de certa “imaturidade” epistemológica, onde a existente relação entre autoridade, razão e desejo é reformulada. Essa tentativa de maturação se encontra pautada na racionalidade humana, compreendendo a razão um fim em si mesma, e para tal, a relação entre razão e universalidade se encontram intimamente conectados.

“O Iluminismo, portanto, não é apenas o processo pelo qual os indivíduos veriam sua liberdade pessoal de pensamento garantida. [...]os usos universais, livres e públicos da razão são sobrepostos uns sobre os outros” (FOUCAULT, 1984, p. 4-5, tradução nossa).

Em vias de analisar tais perspectivas, Maldonado Torres (2008) argumenta sobre a importância da busca por raízes no pensamento europeu. Em consonância, Walter Mignolo (2002) pontua que, devido à necessidade de se situar no centro da história. a civilização ocidental realiza uma leitura incorreta acerca de sua própria condição, traçando sua origem histórica da Grécia Antiga ao século XVIII, quando, na realidade, a modernidade “remete mais a uma articulação espacial do poder que a uma sucessão linear de acontecimentos” (MIGNOLO, 2002, p.03).

Concatenando as obras de Dussel (2002) e Mignolo (2002), se demonstra que a origem do sistema mundial moderno, de fato, está no século XV, propriamente devido sua vinculação com o capitalismo e a colonialidade. Dussel (2002) pontua que anterior à 1492, data de fundação do Sistema Mundo atual, não havia uma grande narrativa que contava a História Mundial, muito pelo

diversos sistemas culturais.

Dessa forma, a relação entre a colonialidade e a modernidade é extremamente íntima, e, apesar da colonialidade penetrar todas as facetas da modernidade, pouco se aborda a importância na constituição mútua desses processos. Para ilustrar tal questão, Mignolo (2002) utiliza a figura de linguagem da “sombra”, retratando, a colonialidade como lado não visto, obscuro, da modernidade.

Este obscurecimento é nomeado por Torres (2008) como Esquecimento da Colonialidade. Fator constitutivo do processo é a super valorização do ocidente sobre si mesmo, que busca naturalizar sua visão de racionalidade. O autor discorre sobre a relação da colonialidade com a exaltação das conquistas teóricas e/ou culturais da Europa, onde as mesmas se encontram como excepcionais e até indispensáveis dentro da narrativa vigente.

Portanto pode-se compreender o colonialismo não como produto da modernidade, mas a colonialidade como elemento constitutivo da mesma (MIGNOLO, 2002). Enquanto se considera que o colonialismo formal teria acabado nas primeira e segunda ondas de descolonização a colonialidade se mantém no regime vigente, ainda que de forma diversa ao seu passado.

Grande força desse movimento – de esquecimento da colonialidade -- está na apresentação universalista de narrativa, ocultando seu locus geográfico originário. Assim, a ampla disceminação de ideais, que em seu âmago são eurocêntricas, mas se apresentam como neutras, concretiza uma das facetas mais importantes da colonialidade. Vital, inclusive, para cementar a concepção da Modernidade (TORRES, 2008).

Essa argumentação universalista serve um propósito, a tentativa de eliminar qualquer importância da localização geográfica na constituição do sujeito. A realização de tal movimento permite um alinhamento de verdades locais com os supostos valores universais (MIGNOLO, 2002) naturalizando-

40 Por “civilização” Torres (2008) se refere a produção de conhecimento filosófico-cientifica.

demonstra que uma preocupação epistemológica da manutenção do projeto de civilização europeu permeia o cânone ocidental tradicional (TORRES, 2008). Mesmo os teóricos que o criticam, dificilmente questionam a importância do espaço geográfico para a conceitualização da modernidade.

Essa suposta ausência de espacialidade faz com que haja um alinhamento teórico ao discurso universalista, e até mesmo trabalhos que analisam a ontologia do pensamento não o rompe completamente tal condição. Para exemplificar Torres (2008) fala de Lévinas. O autor judaico - ao fazer sua crítica a Heidegger - nunca disputa a ideia do autor alemão de que a civilização40 teve origem na Grécia, mas busca uma conciliação, na medida que exalta a influência judia no pensamento ocidental.

No âmbito da metafisica ocidental, Heidegger apresenta sua visão ontológica do Ser, enquanto Lévinas pontua o Ser como uma existência dialógica. Mignolo (2001) em sua obra discorre sobre a insuficiência de ambos autores, caracterizando a desconstrução da metafísica como algo necessário, porém árduo devido ao mantenimento oculto da Colonialidade do Ser.

Em seu trabalho, Torres (2008) disserta sobre essa aversão epistemológica a rupturas com o discurso ocidental como um resultado da colonialidade do Ser. Para o autor, o “ser” é, na verdade, o Centro, e o “pensamento”, um Pensamento Central. Tudo aquilo que desvia dessa concepção se torna o ente, ou como veremos a seguir, o subdesenvolvido, o periférico. A própria dicotomia inerente dessa relação existe porque o “outro” só é reconhecido quando o Centro – o sujeito - o faz.

Durante seu trabalho Torres (2008) argumenta que a Colonialidade do Ser sugere que ele contrarie sua própria existência. Ou seja, em sua concepção o Ser é compreendido como algo opressivo, mas não de maneira igualitária, já que a lógica colonial possui uma

populações de formas diferentes. Essas dinâmicas de poder com caráter preferencial acabam marcando o senso comum e a tradição, dando forma, assim, ao movimento da Colonialidade do Ser. (TORRES, 2008).

Torres (2008) argumenta que tais dinâmicas encontram-se naturalizadas de tal forma, que para muitos autores a existência dessa hierarquia a priori não consiste em um problema em si, pois essa estrutura serve como ponto de partida. Retomando, os comentários feitos por esses autores evidenciam e criticam as discriminações que são realizadas dentro dela. Novamente o autor utiliza Lévinas para exemplificar, pois - ao realizar sua crítica à perseguição judia pela civilização ocidental - o autor não enxergava a naturalização do ser como um problema, focando seus esforços na denuncia da perseguição, como fato isolado. Respondendo à descriminição judaica, o autor buscou fazer em sua obra um resgate epistemológico das contribuições de seu povo para com o Ocidente, evitando um rompimento com as obras do mesmo.

O ofuscamento das contribuições judias – e outras - oferecem um exemplo concreto do movimento que Torres (2008) chama de Esquecimento da Colonialidade. A partir da criação de uma grande narrativa, que situa o começo da civilização dentro de suas fronteiras, o Ocidente ofusca a sua participação na criação de mecanismos preferenciais. Seu cânone teórico o coloca no papel de sujeito, de Ser, permitindo que uma fusão de raça e espaço geográfico seja feito, legitimando e justificando opressões sistêmicas (TORRES, 2008).

A colonialidade não transcende apenas o espaço geográfico, se situando também na linha temporal. Mignolo (2002) discorre sobre a relação da colonização do tempo, como ela faz parte de um amplo exercício de subordinação de lugares. Segundo o autor, ao utilizar do tempo como princípio ordenador, os “donos do tempo” (p.12, tradução nossa) relegam à periferia uma posição anterior dentro da linearidade do progresso.

A própria percepção do tempo e do mundo, para Mignolo (2002), compreende uma dissonância na percepção de colonizadores e

enxergavam uma missão legítima e civilizatória, os nativos percebiam sua destruição, tal dissonância compreende o que o autor denomina de Diferença Colonial.

Assim, concatenando o conceito de Colonização do Tempo com a Diferença Colonial, pode-se compreender o tempo como ponto referencial para ordenamento do conhecimento. Existe um gap entre o conhecimento ocidental – tido como inerentemente superior - e os conhecimentos subordinados (MIGNOLO, 2002). Em diálogo com Torres (2008), Mignolo (2002) demonstra que no próprio âmbito da crítica à epistemologia ocidental existe uma hierarquia entre a crítica eurocêntrica e a crítica periférica.

Outro aspecto constitutivo da modernidade, que alicerçou a hierarquização das populações, foi a institucionalização do racismo como fundamento da divisão laboral internacional, se tornando ele o pilar do capitalismo histórico (MIGNOLO, 2002). Aníbal Quijano (2000 apud TORRES, p. 87) postula que a codificação da raça legitimou a argumentação de diferenças inerentes entre conquistadores e conquistados, criando uma relação, supostamente, baseada na biologia.

Ao se articular raça ao capitalismo emergente durante o século XV, nasce um novo padrão de exploração, responsável pela criação e expansão da rota comercial atlântica. Torres (2008) pontua como essa matriz de poder – denominada por Quijano de Colonialidade do Poder – concatena raça, Estado e produção de conhecimento.

Em diálogo com tal postulação, Mignolo (2002) argumenta sobre as relações da Colonialidade do Poder com as grandes narrativas criadas pela modernidade, pontuando seu impacto. Para o autor, devido a Colonialidade do Poder:

“As áreas do mundo colonizado foram objetivos da cristianização e da missão civilizadora no projeto da narrativa da civilização ocidental e tornaram-se objetivos para o desenvolvimento, modernização e a criação de novos mercados no

projeto do sistema mundial moderno

modernidade e colonialidade, conforme delineada no artigo, foi de suma importância para o longo processo em que a Europa passa a se constituir como Europa, se autodefinir, e, por consequência o restante do globo passar a ser categorizado a partir de tal local de enunciação, segundo os critérios específicos desse determinado espaço geopolítico41. Ou

seja,

“(...) o mundo ficou comercialmente

interconectado e, por outro lado, a emergência do circuito comercial do Atlântico começou a construir-se como excepcionalismo cristão e logo, no século XVIII, como excepcionalismo

europeu. Capitalismo e epistemologia

começaram a encontrar-se e, desde então, a seguir uma marcha paralela “(MIGNOLO, 2001,

p. 22).

Numa perspectiva teórica, faz-se necessário abordar de que maneira o conhecimento e a teorização tornam-se produtos sociais. Quijano (2010) aponta que é a partir de determinada experiência social que se faz possível demarcar o que é intencional ou inteligível, estabelecendo a noção do que seria um conhecimento válido. Assim, o contexto geo- histórico da criação do conhecimento implicará diretamente na sua produção. É o que trabalha, em confluência, o argentino Walter Mignolo (2005), ao abordar a questão geopolítica do conhecimento.

“A geopolítica do conhecimento pressupõe que não há lugar abstrato (...) nem desincorporado desde onde argumentar pró ou contra o eurocentrismo.” (MIGNOLO, 2001, p. 42)

Segundo tal instrumento de análise, o aspecto geopolítico não é só intrínseco, mas também definidor do conhecimento. Sendo assim, assumir que determinada episteme pode ocupar o posto de universal e neutra, deslocando-a se seu ponto de origem mostra- se errôneo. Entretanto, é dessa forma que o

41 Mignolo (2001) rastrea as classificações de regiões do globo vigentes até o cristianismo, no período pós cruzadas, quando Jerusalém faz-se referência central para classificar o cristão entre Ocidentais, de um lado, e Orientais, de outro. E também que o globo

Algo importante a se notar é que devido a condições históricas específicas fez-se possível estabelecer estruturas coercitivas em que determinado conhecimento é alçado ao posto de epistemologia hegemônica. Dito isso, assume-se os adventos do colonialismo e do capitalismo como definidores para o atual padrão de poder mundial (TORRES, 2002).

Ainda, para que teoria e ciência modernas se estabelecessem como dominantes foi necessária supressão e anulação dos demais conhecimentos/saberes produzidos em contextos distintos ao do centro de poder. Esse processo se dá através de continuas práticas políticas, econômicas e militares, presentes até a atualidade. Portanto, a partir do colonialismo e do capitalismo, o mundo passa a se configurar entre um centro de poder, produtor de conhecimento, e regiões periféricas, cabendo a essas somente receber e reproduzir o mesmo. Se pode ser enfático:

“estratégias simbólicas/ideológicas globais são uma importante lógica estruturante do âmago das relações centro-periferia no sistema mundial capitalista” (GROSFOGUEL, 2013, p.25).

Obviamente, tal ordenação não é estática, havendo uma constante tentativa por parte das regiões subalternizadas em influenciar ou até subverter tal lógica. O que se aponta aqui é que