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Chéli Nunes Meiraa

a Ceihe-Centro de Estudos e Investigações em História da Educação/Linha de Pesquisa de Filosofia e História da

Educação/Programa de Pós Graduação em Educação-PPGE/Faculdade de Educação-FaE/Universidade Federal de Pelotas-UFPEL, chelimeira@gmail.com

RESUMO

Este trabalho buscou apresentar a trajetória da família Porto Alegre, formada pelos irmãos Lucio, Aquilles, Apolinário e Apelles Porto Alegre. Os irmãos Porto Alegre, como eram conhecidos, nasceram na cidade de Rio Grande e mudaram para a cidade de Porto Alegre, filhos de Antônio José Gomes Porto Alegre e Delfina da Costa Campelo. Os irmãos se destacaram como docentes e na criação de instituições educacionais e culturais no final do século XIX e início do XX, além de, participarem da movimentação política do período. Esta pesquisa tem como metodologia a análise documental, amparada pelos autores Cellard (2010) e Stephanou (1998). E para a construção teórica recorreu-se aos trabalhos de Arriada (2011), Candau (2014), Certeau (2013), Gomes e Hansen (2016), Le Goff (2013), Nora (1993), Nóvoa (2013) e Prost (2008). Apoiando-se em Gomes e Hansen (2016) identificou-se nos irmãos Porto Alegre a figura de intelectuais mediadores do seu tempo, pois eles estavam envolvidos com a comunidade, sendo nos campos educacionais, políticos e culturais. Apelles Porto Alegre fundou o colégio Rio-grandense e o jornal A Imprensa, e atuou em várias instituições como docente. Apolinário e Aquilles tiveram uma vasta produção literária. Lucio apesar de menos citado, esteve envolvido na criação de várias instituições auxiliando assim seus irmãos.

Palavras chave: Educação, Porto Alegre, intelectuais mediadores.

ABSTRACT

Ce travail a cherché de présenter la trajectoire de la famille Porto Alegre, formé par les frères Lucio, Aquilles, Apolinário et Apelles Porto Alegre. Les frères Porto Alegre, comme étaient connus, sont nés dans la ville de Rio Grande et ils ont déménangé à la ville de Porto Alegre. Fils d'Antônio José Gomes Porto Alegre et de Delfina da Costa Campelo. Les frères ils se sont détachés en tant qu'enseignants et dans la création d'institutions éducatifs et culturels à la fin du siècle XXI et au début du XX e siècle, au-delà de participer de la mouvementation politique de cette période. Cette recherche a pour méthodologie l'analyse documentaire, soutenue par les auteurs Cellard (2010) et Stephanou (1998). Pour la construction théorique, ont été utilisée aus travails de Candida (2014), Certeau (2013), Gomes et Hansen (2016), Le Goff (2013), Nora (1993), Nóvoa (2013) et Prost (2008). Sur la base de Gomes et Hansen (2016), ont identifié les frères Porto Alegre la figure des intellectuels de médiateur de son temps, puis ils étaient engagés dans la communauté, dans les champs éducatif, politique et culturel. Apelles Porto Alegre a fondé l’ecóle Rio-Grandense et le journal A Imprensa et a agi en plusieurs institutions comme enseignant. Apolinario et Aquilles ont eu une vaste production littéraire. Lucio, bien que moins mentionné, a été engagé dans la création de plusieurs institutions, aidant ainsi ses frères.

Introdução

Neste trabalho são apresentados os dados de uma investigação realizada sobre a trajetória dos irmãos Porto Alegre, a saber: Apelles, Apolinário, Lucio e Aquiles; além de buscar detalhar o papel desta família para a História da Educação do estado do Rio Grande do Sul. Os irmãos Porto Alegre, como eram conhecidos, se destacaram na política e na cultura do estado, uma vez que eles estiveram ligados ao ensino privado, a criação de instituições culturais e participaram ativamente da política do período.

Os quatro irmãos eram filhos de Antônio José Gomes Porto Alegre e Delfina da Costa Campelo, nasceram na cidade de Rio Grande, sul do estado do Rio Grande do Sul, e mudaram-se para Porto Alegre ainda na adolescência. A família Porto Alegre, teve uma significativa atuação como professores, escritores, poetas, jornalistas, além de criarem colégios e participarem de jornais e associações como o Parthenon Litterário. De todos, apenas Lucio não exerceu a docência.

Resgatar a história desta família por meio deste trabalho tem o intuito, também, de preservar a memória da educação sul rio- grandense no contexto de fins do século XIX e início do XX, período em que muitas modificações aconteceram no setor educacional, sendo que os irmãos Porto Alegre participaram ativamente destas mudanças. A política e a educação estavam muito ligadas, e a crescente ascensão cultural com a fundação de diversas instituições demonstrou o quanto efervescente foram esses anos.

A história da educação tem este papel de salvaguardar a memória de professores, instituições, métodos de ensino e objetos educacionais, resgatando o que ao longo do tempo foram se tornando obsoletos. A história da educação por muitos anos foi periférica, mas para que exista hoje uma valorização do

Dados retirados da genealogia da família Martins

Costa: visualizado em:

professor este resgate se faz necessário, é neste sentido que esta pesquisa se torna relevante.

Sendo assim, este texto está organizado em duas seções. Na primeira são apresenta as questões metodológicas da pesquisa, assim como os materiais que foram localizados até o momento para a mesma e na segunda será abordada a trajetória dos quarto irmãos, a qual será realizada por meio de um resgate teórico da história e da educação relacionado a esta família.

Desenvolvimento

No que se refere à metodologia das pesquisas no campo da História da Educação, Luchese (2014, p.159) argumenta que é necessário o entendimento de esse tipo de investigação é constituída pelo conjunto de documentos encontrados no presente, que serão ordenados para a montagem escrita. Por isso, se faz necessário atentar para o momento histórico em que o mesmo foi produzido, seu suporte, sua intencionalidade e circulação.

A documentação para a realização desta pesquisa pertence principalmente ao acervo privado do Prof. Dr. Eduardo Arriada que possui aproximadamente 150 documentos sobre o professor Apelles que datam de 1855 a 1934 e, outros trinta e quatro, que não possuem data.

Assim, as fontes utilizadas neste trabalho são basicamente documentais. Segundo Cellard (2010), o documento escrito é uma fonte valiosa que o historiador pode aproveitar, seja no passado remoto ou no mais recente e em muitos casos é a única ferramenta a ser utilizada. Sobre esse aspecto, vale salientar que o corpus documental desta pesquisa será basicamente documental, pois além dos documentos já localizados, o professor fez várias produções em artigos e livros, aparecendo como coadjuvante apoiando a criação de instituições literárias e educativas.

http://www.martinscosta.org/pgv/individual.php?pid=I 288 acessado em 29/10/2017.

O conjunto de documentos localizados para este trabalho permitiu realizar um agrupamento formando séries, as quais ficaram assim descritas: correspondências, recibos, boletins, telegramas, texto, poema, catão de visita, documentos e anotações.

A correspondência contém cartas e bilhetes enviados ao próprio pesquisado ou a seus familiares como esposa e filhas. Na série recibos, foram denominados todos os recibos de despesas ou pagamentos de valores com o aluguel da casa ou com as aulas e o pagamento de dívida com impostos.

Na série documentos são considerados aqueles que não caberiam nas outras séries, por exemplo, um comunicado da Associação dos Empregados no Comercio de Porto Alegre, entre outros. E por sua vez, a série poemas, contém um poema, assim como na série texto que possui um texto sobre a Guerra no Rio do Prata, que supostamente pode ter sido elaborado pelo próprio professor para as suas aulas.

A série boletins foi formada por boletins de alunos do Colégio Rio-Grandense originais, preenchidos ou em branco, instituição essa fundada pelo professor Apelles. O grupo denominado Telegrama, como o nome sugere, tem além de formato próprio, conteúdo reduzido. A série cartão de visita é composta por cartões que, em alguns casos, além do nome de um conhecido também contém recados. E por fim, a série anotações contém listas de materiais e de atividades escolares referentes as instituições nas quais o professor atuava. No entanto, estas séries não estão encerradas, após uma nova análise podem ser subdivididas ou reagrupadas, uma vez que elas são resultado de um primeiro contato e análise desses documentos.

Além desta documentação ainda, o arquivo privado mencionado possui livros do Apolinário e crônicas do Aquilles Porto Alegre.

Além desse arquivo privado, localizou-se que o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, situado em Porto Alegre/RS, tem sob sua guarda o acervo do Apolinário, o

jornal A Imprensa publicado por Apelles, e também as crônicas do Aquiles. Além disso, ao realizar uma busca em outros arquivos da capital foi encontrado no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do sul inventários, processos crimes, partilhas de bens e certidões, os quais podem contribuir com outras informações para a pesquisa.

No Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul a documentação encontrada fazia referência ao Apolinário Porto Alegre e refere-se ao Clube Bento Gonçalves, além de alguns documentos da Instrução Pública referentes ao Apelles Porto Alegre.

Na Biblioteca da cidade de Porto Alegre encontrou-se um livreto intitulado “À memória do professor Apeles Porto-Alegre: Homenagem promovida por seus admiradores e antigos alunos” publicado em 1944, por diversos ex-alunos.

Para além dessa busca de materiais documentais, outra contribuição importante para este trabalho foi a pesquisa do estado da arte, na qual se realizou uma busca pela bibliografia existente sobre os irmãos. Com esta busca pode-se conhecer o que já há escrito sobre os quatro irmãos e as lacunas existentes, sendo o Apolinário e o Aquiles os mais pesquisados até o momento.

Assim, pela bibliografia existente acerca dos irmãos Porto Alegre, com o descritor “Apelles Porto Alegre”, encontraram-se seis trabalhos que de alguma forma citam o nome dos professores mesmo que perifericamente. Arriada abordou de forma bem abrangente o ensino secundário no estado do Rio Grande do Sul e reservou uma página para o professor Apelles (ARRIADA, 2011).

Por sua vez, Silveira discutiu na sua dissertação de mestrado no curso de história, as relações entre literatura e política na Associação Parthenon Litterário, em que os quatro irmãos participaram, alguns mais ativamente como fundadores (SILVEIRA, 2008). Aguiar (2008) apresentou diversos poemas escritos por Apolinário Porto Alegre, contudo em diversos momentos a história dos

irmãos se une e assim sua pesquisa se torna mais ampla.

O trabalho de Barbosa e Ott (2013) buscou as origens da contabilidade no Rio Grande do Sul e frente a este tema se destacou o Colégio Rio- Grandense. O Colégio Rio-Grandense fundado em 1876, pelo professor Apelles Porto Alegre que tinha na época 26 anos (BARBOSA e OTT, 2013). “[...] Apelles desfrutava de prestígio político e cultural no estado do Rio Grande do Sul” (BARBOSA e OTT, 2013).

Conforme Barbosa e Ott (2013), o professor Apelles participou da primeira banca examinadora de português, dos formandos do curso de guarda-livros do Colégio Mauá em 1901, além de ministrar a disciplina de português do mesmo colégio. O professor Apelles foi quem proferiu o discurso oficial no dia da entrega dos diplomas aos formandos (BARBOSA e OTT, 2013).

Em outro momento, Barbosa e Ott (2013) apontam a evolução do estudo da contabilidade no estado do Rio Grande do Sul e para isso dividem em três períodos, uma disciplina no ensino secundário, a abertura de um colégio especializado e posteriormente a faculdade de ciências econômicas.

Perin (2017) escreve em sua dissertação de mestrado para o curso de história sobre a visão do jornalista Roque Callage sobre Porto Alegre e suas desigualdades sociais. E por fim, Torres (2014) abordou em seu artigo a Guerra do Paraguai na visão do jornal literário Arcádia, editado na cidade de Rio Grande.

Se hoje a história destes homens de seu tempo, pode ser contada é porque existe registros de suas trajetórias, que foram preservados, assim como vestígios que permitem construí-las Estes vestígios foram preservados por orgãos públicos, mas também por pessoas conscientes do papel que esta família exerceu na sociedade.

Os vestígios que permanecem do passado devem ser indagados para que se tornem fontes. As fontes não falam sem que o historiador as interrogue. No entanto, parte do tempo, temos que trabalhar com a carência de

informações, o que muitas vezes forma lacunas que não poderão ser compreendidas (PROST, 2008).

Sobre esse aspecto, vale ressaltar que o historiador utiliza o mesmo modo de narrar uma história que uma pessoa comum, mas ele precisa de comprovações e usa métodos para legitimar o que está afirmando (PROST, 2008). Os fatos devem ser avaliados com rigor crítico, pois são carregados de intencionalidade e significações. É fundamental para o profissional de história tentar se aproximar ao máximo da “verdade”, apesar de possuir a certeza que isto será apenas uma pretensão não atingida (LE GOFF, 2013).

Os irmãos Porto Alegre

Os irmãos Porto Alegre tiveram um papel importante na vida cultural da cidade de Porto Alegre influenciando historicamente o restante do estado com suas participações, políticas e investimentos educacionais. A seguir se tratará de cada irmão individualmente.

A partir do levantamento realizado identificou-se que o mais conhecido e pesquisado dos quatro irmãos Porto Alegre até o momento é Apolinário José Gomes Porto Alegre, que nasceu em 29 de agosto de 1844 na cidade de Rio Grande, e ainda na adolescência muda-se com sua família para a cidade de Porto Alegre. Em 1861 matricula-se na faculdade de Direito de São Paulo, contudo, com a morte de seu pai retorna para Porto Alegre onde inicia sua docência para ajudar a sustentar a família (AGUIAR, 2011).

Ele deixou uma vasta produção textual que pode ser dividida entre contos, historiografia, poesia, romance, teatro, estudos críticos e biográficos e outros, entre eles estão cento e dezessete poemas, seis livros e diversas peças de teatro publicada em vários jornais e revistas (AGUIAR, 2011, PÔRTO ALEGRE, 1954). A seguir, apresenta-se uma imagem de Apolinário:

Figura 1: Imagem de Apolinario Porto Alegre.

Visualizado em:

http://www.paginadogaucho.com.br/escr/apa.htm acessado em: 10/11/18.

O professor Aquiles Porto Alegre nasceu na cidade de Rio Grande em 1848, e mudou-se para Porto Alegre juntamente com sua família. Estudou no Colégio Gomes e na Escola Militar (FERRER, 2015).

Trabalhou como funcionário público, foi o fundador e dirigiu o Jornal do Comércio (1884/1888) e a Notícia (1869) de Porto Alegre (FERRER, 2015). Escreveu inúmeros contos e crônicas. Além disso, “pertenceu ao ‘Clube Abolicionista’ de Porto Alegre; foi membro fundador da Academia Rio- Grandense de Letras (1901), da Academia de Letras do Rio Grande do Sul (1910) e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul” (PÔRTO ALEGRE, 1917, p.9).

Juntamente com os irmãos e outros companheiros fundou o Partenon Literário, do qual em 1879 foi eleito presidente (FERRER, 2015). Em sua vasta publicação bibliográfica Aquiles privilegiava a escrita de crônicas sobre a cidade de Porto Alegre, além de escrever sobre homens ilustres e populares (ANTONIOLLI, 2011).

Conforme Arriada (2011), Aquiles Porto Alegre, escreveu e editou poesias, crônicas, livros didáticos, relatos históricos e biografias. Seus escritos reforçam o olhar cuidadoso e perspicaz sobre as modificações ocorridas na cidade de Porto Alegre. Abaixo, é apresentada uma imagem deste professor:

Figura 2: Imagem de Aquiles Porto Alegre

Visualizado:

http://www.webpoa.com/cms/memória/personagens/20 3-aquiles-porto-alegre.html acessado: 10/11/18.

O Caçula dos quatro irmãos Apelles Porto Alegre, nasceu na cidade de Rio Grande, em 24 de outubro de 1850 e faleceu em 6 de julho de 1917, na cidade de Porto Alegre.

O professor Apelles “além da direção do Colégio Rio-Grandense, foi professor dos Colégios ‘Instituto Brasileiro’, ‘Souza Lobo’ e ‘Luis Kraemer’. Jornalista, educador e contista. Integrante do Partenon Literário publicou diversos artigos” (ARRIADA, 2011, p.102).

No ano de “1890, [...] Apeles Porto Alegre foi nomeado diretor da Instrução Pública e da Escola Normal” (PÔRTO ALEGRE, 1917, p.196). Fundou o jornal A Imprensa, que circulou na cidade de Porto Alegre no início da década de 1880, o qual, possivelmente tenha sido o primeiro jornal republicado do estado. A seguir, também é exposta uma imagem do professor:

Figura 3: Imagem de Apelles Porto Alegre (Foto:

Candace Bauer/CMPA) Disponível em: http://camarapoa.rs.gov.br/noticias/apeles-porto-alegre-

e-luciana-de-abreu-sao-lembrados acessado em 28/04/2018.

Lucio Porto Alegre apesar de menos citado, auxiliou na fundação de instituições educacionais e associações, foi sócio do Parthenon Literário. Até o momento não se tem conhecimento de ter exercido a docência e não possui nenhuma imagem, em algumas pesquisas realizadas sobre os irmãos ele não chega a ser mencionado.

A família Porto Alegre se orgulhava de sua tradição com a educação e a política, conforme Alvaro Pôrto Alegre, Apolinário deixou um manuscrito assim relatando: “À minha família cabe a glória de ter sido a inspiradora da reação atual em favor da liberdade. Fomos os mestres da mocidade rio-grandense. Filhos de farrapos, não interrompemos jamais a evolução tradicional” (PÔRTO ALEGRE, 1954, p.7).

Compartilhando desta mesma ideia Antoniolli (2011), utlizando-se da escrita de Alexandre Lazzari, afirmou que os irmãos Porto Alegre foram “os principais mobilizadores da associação literária” do Rio Grande do Sul e continua:

Ainda que alguns eminentes veteranos das letras da província estivessem entre os fundadores do Parthenon, é certo que a iniciativa maior em liderança e entusiasmo coube a uma nova geração de cidadãos cultos nascidos após a guerra de 1835-45, em sua maioria também envolvidos com as instituições de ensino da província. Neste aspecto, foi emblemática a presença dos irmãos Apollinario, Apelles e Achylles Porto Alegre (ANTONIOLLI, 2011, p.16).

Neste sentido é que podemos afirmar que a família Porto Alegre esteve a frente da educação, da cultura e da política no período. A salvaguarda dos seus documentos faz com que a história permaneça ativa na nossa memória auxiliando futuras gerações a compreender a trajetória de tais homens. Sobre a necessidade de reafirmação das identidades e de reificação da memória, Meneses afirma que:

[...] a memória como suporte dos processos de identidade e reivindicações respectivas está na ordem do dia... Palavras-chaves são ‘resgate’, ‘recuperação’ e ‘preservação’ – todas pressupondo uma essência frágil que necessita de cuidados especiais para não se deteriorar ou perder uma substância preexistente. A

comunicação de massa e o mercado

(antiquariato, moda) reforçam esta reificação (1999, p. 12).

Ainda referente à memória, Le Goff (2013) salienta que esta é fundamental para a construção da identidade seja ela coletiva ou individual. Neste mesmo sentido, Candau afirma que na ânsia de não perder nada, na preocupação de conservar a memória, acabamos por guardar tudo, e é esta memória guardada que origina as identidades do passado (CANDAU, 2014).

Nesse sentido, a pesquisadora Stephanou afirmou que “à história, ao invés de preservar o passado tal qual ele foi, está reservada a tarefa de reescrevê-lo incessantemente” (STEPHANOU, 1998, p.138). E por sua vez, a memória é ao mesmo tempo uma “organização neurobiológica muito complexa” que todo ser humano possui, bem como “uma reconstrução continuamente atualizada do passado” (CANDAU, 2014, p.9).

Segundo Nora (2013), memória e história não são sinônimos. A memória é ativa e se modifica, enquanto a história foi fabricada, como se fosse uma reciclagem da memória. A história não traduz o fato na integra e não é de ninguém, e ao mesmo tempo serve para todos (NORA, 2013). Ainda nessa perspectiva, Le Goff argumenta que “tal como o passado não é a história, mas seu objeto, também a memória não é a história, mas um de seus objetos e, simultaneamente, um nível elementar de elaboração histórica” (LE GOFF 2013, p.51).

Com isso se pode entender a história como uma representação do passado, que não apreende de forma total aquilo que aconteceu, e a memória como as lembranças que ficaram desse passado, que juntamos na tentativa de mantê-la viva. A história é uma versão do

passado e a qualquer momento ela pode ser modificada, caso surja um novo fato que estava oculto, ou seja, desenvolvendo uma nova interpretação. Desse modo, a história é uma construção dos vestígios deixados pelo passado. O presente interfere na história, pois o passado precisa ser observado no presente, assim, o passado sofre a alteração do presente. Essa discussão pode ser exemplificada por