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Discutindo alguns temas e conceitos: Matricialidade Familiar e Programa de

CAPÍTULO 1 POLÍTICA SOCIAL E ASSISTÊNCIA SOCIAL: SENTIDOS E

1.2 A trajetória da política de Assistência Social no Brasil

1.2.1 Discutindo alguns temas e conceitos: Matricialidade Familiar e Programa de

Conforme apresentado, o SUAS estrutura-se priorizando o apoio à família nas suas funções de proteção, socialização, aprendizagem e desenvolvimento das capacidades humanas, considerando que:

[...] o usuário de seus serviços ou benefícios não pode ser desvinculado do seu contexto familiar e social. Isto é, a política de Assistência Social reconhece que somente é possível tecer uma rede de proteção social ao se compreender os determinantes familiares de uma situação de vulnerabilidade social e acolher mais de um membro da família para promover a superação da situação de vulnerabilidade social. (BRASIL, 2009a, p. 12).

No entanto, alguns autores salientam que essa prioridade das ações sociais dirigidas às famílias representa um retrocesso, balizado em uma perspectiva protecionista, fundada no Welfare

Mix, que coloca a família e as organizações não governamentais como agentes de bem-estar

substituindo a política pública. Assim, há uma transferência para a família e para a sociedade da responsabilidade pela garantia dos direitos de cidadania, pois quem precisa “prover, prevenir, promover e incluir” os membros é o Estado e não a unidade nuclear. (BEHRING; BOSCHETTI, 2011; FREITAS, 2013).

Nessa perspectiva, Cariaga (2013) aponta que desde a década de 20 do século passado o Estado desenvolve ações com o foco na família para enfrentar as questões sociais. Como exemplo disso, aponta as ações do poder judiciário em torno da questão do menor, como em 1949 com a criação do Serviço de Colocação Familiar no Juizado de Menores em São Paulo, visando garantir que a criança usufruísse o direito de crescer no interior de uma família “estruturada” e favorável ao seu desenvolvimento. Assim, havia uma responsabilização da família, atribuindo-lhe mais deveres do que direitos.

Embora Carvalho (2011) ressalte que a ancoragem dos serviços públicos nas famílias e comunidades avançou principalmente com as ações do SUS, nos programas de saúde da família (PSF), com a introdução da participação do médico de família, assim como dos agentes comunitários de saúde e no cuidador domiciliar, a autora considera que o reconhecimento contemporâneo da indispensabilidade da família no cerne das políticas de proteção social, seja como porta de entrada e/ou adesão aos objetivos dos programas e projetos ou como responsável e parceira na condução desses mesmos, esse envolvimento requer um forte apoio, especialmente pela via do CRAS, para não cair no risco da família, como agente de proteção social, ser exaurida.

Saraceno (1995 apud PEREIRA, 2004, p. 139) ainda ressalta que o peso desse modelo recai sobre as mulheres:

Neste setor, tem ganhado importância a família (e, dentro dela, a mulher), sobre a qual recaem as mais fortes expectativas pluralistas de participação solidária, especialmente em relação aos idosos, crianças e enfermos. Isso porque se chegou à conclusão de que, se a contribuição do grupo e da mulher foi considerável em todos os Estados Sociais do pós guerra, ela seria maior agora porque atuaria numa rede de relações não hierarquizadas e compartilhadas por múltiplas participações não convencionais. Daí a refarmiliarização da proteção social na contemporaneidade.

Em relação aos PTRS, os CRAS operam diversos programas sociais Estaduais, Federais e Municipais, além do Programa Bolsa Família, que se estruturam na transferência de Renda ou não. Dentre eles, podemos citar os programas: Renda Mínima, Renda Cidadã, Ação Jovem, implicados na transferência de renda e o Projovem, Viva Leite, Frente de Trabalho, que envolve outras funções. No entanto, apenas os PTRs exigem contrapartidas dos beneficiários.

Silva, Yazbek e Giovanni (2012) realizaram uma pesquisa visando traçar um perfil dos Programas Renda Mínima e Bolsa Escola, em vigência na época (2002), e discutir sobre seus aspectos relevantes e problemáticos. As informações obtidas são muito interessantes para pensar sobre as implicações do atual Programa Bolsa Família tanto para os beneficiários, quanto para os profissionais atuam nos CRAS

Desse modo, apontaram algumas das questões apresentadas pelos gestores municipais e estaduais dos programas. Foram elas: a) a obrigatoriedade à frequência à escola por parte de crianças e adolescentes não é suficiente para alterar o quadro educacional das futuras gerações e alterar a pobreza, em decorrência da péssima qualidade dos sistemas educacionais estaduais e municipais; b) a dificuldade de articulação da transferência monetária com outras políticas e programas gerando a descontinuidade das ações; c) O pressuposto de que a educação guarda estreita relação com oportunidades de trabalho e rendimentos é falho, pois a causa fundamental da pobreza no Brasil é a desigualdade social e mais do que a incapacidade de geração de renda, o que requer não só o acesso ao sistema educacional, como também políticas de geração de emprego e de redistribuição de renda; d) a focalização de famílias pobres e extremamente pobres, com um corte de renda familiar muito baixo e variado, desse modo as possibilidades de impacto para os que recebem são reduzidas e um grande contingente de família pobres fica fora desse programa; e) a nebulosidade da questão do tempo de permanência no programa; f) a continuidade e sustentação dos programas diante da mudança de administração, das questões orçamentárias e da falta de prioridade da política social no Brasil; g) a exigência de contrapartida da família para participar do Programa é um contrassenso, porque o benefício é um direito de garantia de vida. Todavia, o que parece

negação do direito pode ser visto como condição de acesso a outros direitos (educação, saúde), e, por esse prisma, pode significar afirmação de direitos; h) para aumentar o alcance das ações é necessário articular as ações com outros programas, tais como os voltados para a capacitação profissional, a geração de renda e o de microcrédito,

Além disso, as autoras defendem que esse último aspecto demonstra que o Estado deve propiciar serviços de educação, saúde e trabalho de qualidade, bem como as contrapartidas “devem ser percebidas e encaminhadas numa perspectiva educativa e não punitiva, evitando que as famílias mais vulneráveis sejam, possivelmente, as mais prejudicadas com seu desligamento do programa” (SILVA; YAZBEK; GIOVANNI, 2012, p. 223).