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Os CRAS do município onde foi realizada a pesquisa

CAPÍTULO 4 O PERCURSO METODOLÓGICO

4.3 Os CRAS do município onde foi realizada a pesquisa

Nesse item farei uma breve descrição da estrutura física, do funcionamento e da equipe dos CRAS existentes no município e, em seguida, ressaltarei outros aspectos relativos à interação que se deu entre os participantes e a pesquisadora.

4.3.1 A estrutura física

Todos os CRAS possuíam a mesma estrutura física, situavam-se em ruas comerciais onde havia bastante movimento e organizavam o espaço de forma mais ou menos semelhante. Esses dispunham de uma recepção, na qual havia uma pequena mesa com um computador e cerca de quinze cadeiras estofadas dispostas em fileiras; de uma sala ampla onde eram realizados os grupos socioeducativos; as salas de atendimento onde havia uma mesa e um computador; a “sala dos técnicos”, uma sala com duas ou três mesas e computadores que os técnicos e estagiários da manhã e da tarde compartilhavam; dois banheiros, um destinado aos funcionários que era trancado e outro de uso da população; uma copa com um fogão, uma pia, uma geladeira e uma estante; a sala da coordenação, eventualmente dividida com a auxiliar administrativa, onde havia duas mesas, dois computadores, armários e uma estante.

Em um dos CRAS, nessa sala também havia uma mesa redonda no canto destinada ao café/bolo e para serem feitas as refeições. Em todos os outros CRAS os funcionários compravam/levavam a refeição e almoçavam em cima da mesa onde trabalhavam. Geralmente todos almoçavam no mesmo horário enquanto conversavam, às vezes sobre trabalho. Participei de dois almoços com eles.

4.3.2 A composição da equipe dos CRAS

As equipes desses CRASs eram compostas por dois psicólogos, dois assistentes sociais, quatro estagiários (dois de Psicologia e dois de serviço social), um coordenador, um auxiliar administrativo e um auxiliar de limpeza. Esse quadro não era o mesmo em todos os CRAS, pois, em

alguns, havia um estagiário ou um auxiliar administrativo a mais ou a menos e, em um deles, apenas um psicólogo, porque o outro assumiu a coordenação e a Secretaria ficou sem o cargo para oferecer a outra pessoa. Todos os funcionários eram concursados, exceto os estagiários. Esses, assim como os psicólogos e os assistentes sociais, possuíam uma carga horária de trabalho de seis horas e os demais funcionários de oito horas. A equipe da manhã saia às 14h00, quando chega a equipe da tarde, momento em que todos se encontravam. Os funcionários que tinham a carga horária de seis horas, dispunham de apenas quinze minutos de almoço.

4.3.3 O Funcionamento

O CRAS funcionava das 8h00 às 17h00. Algumas das atividades desenvolvidas por este, eram: o acolhimento, as visitas domiciliares, os grupos socioeducativos e as reuniões informativas; distribuídas e organizadas em dias da semana e/ou do mês e por técnicos/estagiários responsáveis. Então, as reuniões socioeducativas ocorriam uma vez por mês, os acolhimentos em dois dias por semana e assim por diante. A maioria dos CRAS seguia uma grade de atividades que ficava disponível para todos ou em um arquivo no computador ou no mural da sala dos técnicos, com a data, a atividade a ser realizada e a pessoa responsável por esta. Dessa forma, todos tem uma visão de tudo o que seria feito no mês e por quem.

A coordenação de todos os equipamentos era de responsabilidade da gestora da Proteção Social Básica do município que trabalhava no prédio sede da Secretaria de Assistência Social. As coordenadoras de todos os CRAS tinham reuniões frequentes com ela para trocar ideias e sanar dúvidas. Os estagiários, supervisionados pelos técnicos, também realizavam acolhimentos, visitas domiciliares, auxiliam na pesquisa e na realização das atividades nos grupos socioeducativos.

As atividades dos CRAS eram organizadas por um planejamento mensal da equipe que ficava exposto tanto nos computadores do CRAS, quanto na parede, em uma lousa. Desse modo, todos os membros da equipe sabiam quais atividades iriam realizar diariamente, bem como os seus colegas. Além disso, os prontuários das famílias eram organizados de forma numerada e ficavam em um móvel com gavetas. Os outros documentos e materiais, como leis, normas operacionais, livros, apostilas, cartolinas, cola e tesoura, ficavam guardados em um armário específico em uma das salas.

Em todos os CRAS o clima era bastante agitado. Na maioria das entrevistas fomos interrompidos por algum funcionário que fazia uma pergunta ou solicitação ou por ruídos externos,

como buzinas, autofalantes, caminhões, etc. Nos dois CRAS que frequentei por um maior número de vezes, percebi entre os funcionários, uma relação descontraída e de bastante proximidade.

4.3.4 Interações entre pesquisador e colaboradores

De modo geral, as pessoas queriam colaborar com a pesquisa. A coordenadora de um dos CRAS mostrou-me diversos materiais normativos sobre a atuação do psicólogo perguntando se eu conhecia e/ou queria xerocar. Aline também me entregou um texto, um encarte do CRP, que abordava o trabalho do psicólogo no CRAS e um jornal do município que continha uma matéria sobre uma atividade realizada por aquele CRAS.

Luiza mandou-me por e-mail algumas informações em PowerPoint sobre os índices de vulnerabilidade do município e seus centros de referência e os links de dois grupos que discutem a atuação do psicólogo. Além disso, no segundo encontro ela disse-me que eu nem precisava ligar para comparecer ao CRAS, apenas ir, mostrando abertura.

Thaís enviou-me por e-mail um projeto que elaborou para o grupo socioeducativo que realiza com os idosos, que observei, e um texto pessoal com reflexões sobre um assunto abordado na entrevista. Durante as observações de campo, em alguns momentos, dispus-me a colaborar, carregando objetos ou distribuindo-os para as pessoas. Em uma dessas vezes, ganhei da coordenadora um vaso de flores. Tirei fotos de duas atividades com minha máquina e levei em um CD para Aline, também mandei imagens de painéis em resposta ao pedido da estagiária de Psicologia, pois fariam uma exposição na Mostra de Psicologia no Anhembi.

De modo geral, estabelecemos uma relação de respeito, reciprocidade e afeto. Sendo que em um CRAS, uma coordenadora pareceu mais receosa por conta de uma experiência pessoal que considerou negativa, com dois estudantes que a identificaram e distorceram suas falas em uma pesquisa que realizaram para um curso de serviço social em uma faculdade particular. Nesse mesmo CRAS, a psicóloga, apesar de aceitar minha presença e oferecer seu tempo para conversarmos, não escondeu o anseio de que a pesquisa terminasse.