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4. Resultados

4.2. Análise da Recuperação da Linfopoiese e Reconstituição dos Repertórios

4.2.1. A Recuperação da Linfopoiese NK

4.2.1.3. Diversidade dos Repertórios dos Receptors KIR

4.2.1.3.3. Distribuição de Perfis Genotípicos KIR e das Interações com os Ligandos do

Relacionado e Dador Não-Relacionado Local ou Internacional.

Os grupos de dadores apresentaram genes e arranjos genéticos KIR com frequências semelhantes à encontrada para a população em geral, exceto em relação ao motivo Tel-A, que surgiu relativamente superior nos dadores relacionados comparativamente aos dadores não-relacionados locais e internacionais. Esta diferença apresentou consequências na maior frequência no grupo de dadores relacionados de haplotipos KIR A/A e de conteúdos KIR-B neutros (Tabela 18). Verifica-se ainda que devido a sua baixa frequência, a alocação dos motivos mais favoráveis Cen-B/B e Tel-B/B, que compõem o genótipo B/B, são os de alocação particularmente difícil. A frequência transplantes com alocação de motivos Cen-B/B situou-se entre os 9.9 e os 15.8% e a de motivos Tel-B/B foi ainda mais baixa, entre 1.8 e 6.9%. O genótipo B/B foi alocado em somente 11.7% dos transplantes relacionados, em 19.8% dos não-relacionados com dador nacional e em 18.6% de dadores internacionais.

Tendo em consideração que um efeito aloreativo antitumoral pelas células NK é potenciado pela ausência nas células do recetor de ligandos do repertório KIR alocado, foi verificada a distribuição nos três grupos de doentes dos principais alotipos HLA reconhecidos como ligandos KIR. Primeiro, verificou-se um equilíbrio na distribuição dos alotipos HLA C1 e C2. Cerca de 78% dos indivíduos de qualquer dos grupos são C1/x, dos quais entre 21 e 32% são homozigóticos C1. Em relação ao alotipo C2, está presente em 68 a 78 % dos doentes e a homozigotia para este alotipo apresenta uma frequência média de 21%. O motivo Bw4 presente em determinados grupos HLA A e numa fração importante dos grupos HLA B apresentou uma distribuição entre 71.6 e os 78.2%. A restante fração de doentes apresentou grupos HLA B contendo somente o motivo Bw6. O Bw4 apresenta um dimorfismo entre uma isoleucina e uma treonina na posição 80, que modela a afinidade dos recetores KIR

específicos para este ligando [331]. A forma de grande afinidade deste alotipo, a Bw4I80, surgiu presente em 55 a 64% dos doentes, enquanto 12.6 a 22.8% apresentou somente forma de baixa afinidade Bw4T80.

Tabela 18 – Distribuição de perfis genotípicos KIR do dador, dos ligandos HLA classe I do recetor e das interações KIR-Ligando no transplante alogénico com dador relacionado, com dador não-relacionado identificado no registo no painel de dadores nacional e com dadores internacionais

Transplantes alogénicos de CEH Dador Relacionado N=111 Dador Não- Relacionado Português N=101 Dador Não- Relacionado BMDW N=102

Dador: Genótipos KIR Cen eTel n (%)

Cen-A/A 53 (47.7) 40 (39.6) 44 (43.1) Cen-A/B 47 (42.3) 45 (44.6) 44 (43.1) Cen-B/B 11 (9.9) 16 (15.8) 14 (13.7) Tel-A/A 79 (71.2)****/* 44 (43.6)*** 59 (57.8)* Tel-A/B 30 (27.0)**/** 51 (50.5)** 36 (35.3)** Tel-B/B 2 (1.8) 6 (5.9) 7 (6.9)

Haplotipos KIR completos n (%)

A/A 41 (40.6) **/* 18 (17.8)** 24(23.5)*

A/B 43 (38.7) 42 (41.6) 45 (44.1)

B/x 14 (12.6) 21 (20.8) 14 (13.7)

B/B 13 (11.7) 20 (19.8) 19 (18.6)

Conteúdo KIR-B (classificação)# n (%)

Neutro 84 (75.7)* 60 (59.4)* 69 (67.9)

Bom 16 (14.4) 25 (24.8) 19 (18.6)

Melhor 11 (9.9) 16 (15.8) 14 (13.7)

Doentes: ligandos HLA classe I (%)

C1/C1 24 (21.6) 32 (31.7) 33 (32.4) C1/C2 63 (56.8) 47 (46.5) 47 (46.1) C2/C2 24 (21.6) 22 (21.8) 22 (21.6) Bw4+ (incluindo HLA-A) 86 (77.5) 79 (78.2) 73 (71.6) Bw4I80+ 72 (64.8) 56 (55.4) 58 (56.9) Somente Bw4T80+ 14 (12.6) 23 (22.8) 15 (14.7) Bw4- 25 (22.5) 22 (21.8) 29 (28.4)

Interações pós-transplante KIR-ligando HLA classe I: Dador KIR inibitório + / Recetor com ligando ausente n (%)

Recetores com todos os ligandos 47 (42.3) 40 (39.6) 31 (30.3) 2DL1+/C2- 24 (21.6) 31 (30.7) 32 (31.4) 2DL2+/C1- 13 (11.7) 8 (7.9) 9 (8.9) 2DL3+/C1- 23 (29.7) 18 (17.8) 17 (16.3) 3DL1+/ Bw4- 24 (21.6) 20 (19.8) 28 (27.4) Bw4I80- 14 (12.6) 23 (22.8) 15 (14.7) Dador KIR ativação + / Recetor com ligando presente n (%)

2DS1+/C2+ 24 (21.6) 34 (33.7) 26 (25.5)

3DS1+§ Bw4+ 29 (26.1) 39 (38.6) 32 (31.4) Bw4I80+ 25 (22.5) 28 (27.7) 27 (26.4)

BMDW, Bone Marrow Donors Worldwide. C1, grupo HLA-C(Asn80). C2, grupo HLA-C(Lys80). Bw4I80, motivo Bw4 isoleucina 80. Bw4T80, com treonina 80.

#

de acordo com a modelo proposto por Cooley S. et al [332] dadores com conteúdo KIR neutro têm genótipos Cen e Tel com nenhum ou 1 motivo B; com conteúdo bom têm 2 ou mais motivos B mas sem o Cen-B/B; com o melhor conteúdo têm 2 ou mais motivos B incluindo o Cen-B/B.

§

mantém-se elusiva a definição inequívoca dos ligandos específicos do KIR3DS1, contudo têm sido propostos os alotipos HLA-Bw4 como ligandos putativos em que a afinidade é modelada pela forma Bw4I80 e pelo péptido Ag apresentado pela molécula HLA [329].

As diferenças significativas na distribuição de genes e genótipos entre os 3 grupos de transplantes estão indicadaa a negrito. De forma a tornar claras estas diferenças, o símbolo de significância é apresentado em ambas as colunas de cada comparação. *p<0.05, **p<0.01, ****p<0.0001

Foi considerada de seguida, a distribuição no pós-transplante de interações entre os recetores KIR do dador e os ligandos do doente. Em relação aos recetores KIR inibitórios, verifica-se que uma fração importante de doentes (entre os 30 e 0s 42%) apresenta um repertório de ligandos completo (têm um genótipo C1/C2, Bw4+) e consequentemente terão interações do tipo ligando ausente (Tabela 18). Cada uma das interações com ausência do ligando HLA C apresentou uma distribuição similar entre os grupos de doentes. Ainda assim verifica-se algumas pequenas diferenças, o grupo de transplantes relacionados apresentou como interação maioritária a 2DL3+/C1- (29.7%) enquanto nos transplante não-relacionados foi a 2DL1+/C2- presente em 30.7 e 31.4% dos transplantes com dador local e internacional, respetivamente.

Em relação à interação mediada pelo KIR3DL1 foram avaliados 2 perfis, o primeiro como a ausência completa do ligando Bw4 que apresentou uma frequência entre 19.8 e 27.4%. O segundo perfil definido pela ausência da forma de alta afinidade BwI80 do ligando foi observado em 2.6 a 22.8 % dos transplantes.

Os recetores KIR de ativação 2DS1 e 3DS1 têm sido associados com a evolução dos transplantes por AML. Este efeito, poderá ser o resultado de a ação destes recetores que quando ativados pelos ligandos cognatos, atuam de forma a modelar a educação das células NK, baixando os limiares da ativação das células NK [333, 334]. A distribuição de transplantes com interação KIR2DS1+/C2+ foi entre 21.6% a 33.7%. Em relação ao 3DS1, o ligando deste KIR não está inequivocamente demonstrado. No entanto, é uma molécula com uma homologia estrutural muito extensa com o 3DL1 e por outro lado, tem vindo a ser demonstrada uma associação entre a progressão da infeção HIV em indivíduos 3DS1 e Bw4I80 positivos [335]. Desta forma, tem sido proposta uma interação 3DS1/Bw4 cuja afinidade é provavelmente fortemente modelada pelo péptido Ag presente na molécula HLA. A distribuição nos grupos de doentes desta interação putativa 3DS1/Bw4 e com a forma de maior afinidade Bw4I80, verificou-se entre os 26.1 e 38.6% e os 22.5 e os 27.7% respetivamente.

4.2.1.3.4. Análise da Expressão Genética dos Recetores KIR Durante a