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Este trabalho faz uma análise integrada da reconstituição imunológica após o transplante de células estaminais hematopoiéticas, a partir do estudo duas séries de doentes, uma submetida a transplante com enxerto autólogo e outra com enxerto alogénico.

A análise foi estabelecida com o objetivo geral de investigar e caraterizar a recuperação da diversidade estrutural e funcional dos compartimentos celulares derivados da hematopoiese, com competência imunológica, após o transplante. A planificação do trabalho foi estabelecida de forma a contribuir para a resposta às questões que surgiram nos seguintes contextos:

1º- A recuperação da hematopoiese mieloide está bem caraterizada em relação à

cinética e apresenta como principal fator condicionante a dosagem de células CD34+ do enxerto. Já a consolidação da recuperação mieloide após o arranque hematológico está menos caraterizada. Assim, de forma a contribuir para este esclarecimento, neste trabalho foram caraterizadas as evoluções dinâmicas das duas principais populações celulares mieloides circulantes imunocompetentes, os neutrófilos e monócitos. Esta caracterização foi realizada desde o início do período pós-transplante de longo termo (3 meses após transplante) até a um ano de evolução. Desta forma, fez-se a avaliação se os fatores determinantes da cinética do arranque hematológico ou se outros são condicionantes da consolidação da função do enxerto.

2º- O potencial antitumoral inato das células NK tem vindo a ser explorado no pós-

transplante alogénico para um controlo da doença neoplásica residual mínima. No entanto, mesmo com a alocação de um reportório de genes KIR e ligandos HLA favorável, tem-se revelado difícil antecipar um efeito aloreativo GvT. Provavelmente, será devido a diferenças na reconstituição do compartimento de células NK no pós- transplante.

No transplante alogénico e ao contrário do transplante autólogo, a recuperação e desenvolvimento das células NK está bem caraterizada. Com o início da função do aloenxerto, há uma expansão de células imaturas CD56++ enquanto a células maturas apresentam uma recuperação retardada e lenta. Por outro lado, tem sido observado que os transplantes com um enxerto sujeito a uma depleção extensa de células T

apresentam uma reconstituição deficiente do compartimento das células NK. Desta forma, tem sido sugerida uma influência das células T no desenvolvimento das células NK.

Assim por forma a contribuir para a elucidação destes eventos foi feita uma avaliação da heterogeneidade da reconstituição das células NK e estabeleceu-se a sua relação com os níveis de células T. Foi caraterizada a dinâmica da recuperação das subpopulações de células NK nos dois modelos de transplantação autóloga e alogénica; o primeiro não sujeito a imunomodulação e o segundo suportado por terapia imunossupressora, moduladora essencialmente, das respostas imunológicas derivadas das células T. Foi ainda avaliada, nos dois tipos de transplantação, a relação entre a composição do compartimento periférico de células NK e os níveis de células T CD4+ e CD8+ circulantes.

3º- No contexto do transplante alogénico tem sido proposto que uma atividade

aloreativa das células NK do enxerto dirigida contra o recetor é importante para o controlo da doença residual mínima mieloide. Este efeito, poderá, em principio ser promovido pela seleção de um enxerto com um repertório de genes KIR orientado para uma interação com reportório de ligandos do recetor modeladora da educação e da ativação das células NK.

Tendo em consideração que a diversidade germinal do cluster de genes KIR tem uma componente antropológica, várias populações mundiais estão caracterizadas em termos de frequências genotípicas dos genes KIR e também da sua organização haplotípica. Neste estudo, foi caraterizada a diversidade deste cluster imunogenético na população portuguesa e comparada com outras populações geograficamente próximas assim como com a população caucasiana da Europa.

A distribuição destes perfis genotípicos na população deverá determinar o repertório de genes KIR alocado no processo de transplantação alogénica. No entanto, não está determinado exatamente em que medida a alocação destes é condicionada pela proximidade genética do par dador-recetor.

Nesta parte do trabalho, é estabelecida a distribuição de genes KIR e de interações com os ligandos presentes nos recetores que teoricamente fazem a captura um potencial aloreativo mediado pelas célula NK em transplantes com diversos tipos de pares dador-recetor. Este estudo poderá ser usado como referência para a avaliação de estratégias de seleção de pares dador/recetor com base na imunogenética dos recetores KIR das células NK.

repertório KIR no pós-transplante.

4º- A reconstituição do compartimento das células B, após o transplante, é

caraterizada por uma expansão muito marcada das células B transicionais, e uma recuperação lenta das populações de células B naíves maturas e de memória. Permanece em discussão se o processo é condicionado por mecanismos de proliferação celular antigénio-independentes com repercussão sobre a diversidade estrutural do compartimento.

Esta questão é abordada neste trabalho, sendo realizada uma análise da cinética da linfopoiése B, da estimativa do número de divisões celulares e da diversidade do repertório IGH, de forma a estabelecer algumas conclusões sobre os principais mecanismos de regeneração do compartimento de células B no pós-transplante. São também avaliados os fatores que condicionam ou indicam a capacidade de recuperação das populações de células B maturas e de memória.

5º- A recuperação da linfopenia peri-transplante dos compartimentos celulares T CD4+

e CD8+ segue cinéticas muito diferentes. A reconstituição das células T CD4+ é lenta e essencialmente dependente da capacidade de regeneração tímica. Já a recuperação quantitativa do compartimento periférico T CD8+ é estabelecida por uma expansão periférica espontânea, dirigida principalmente por citocinas que induzem a proliferação antigénio-independente de células naíves e de memória. Durante este processo, os doentes apresentam uma capacidade imunológica comprometida. Desta forma, há um interesse considerável numa caraterização abrangente das células T que surgem durante a reconstituição, detalhando a distribuição celular pelas diferentes subpopulações naives e de memória assim como da definição das capacidades reativas destas células. Nesta parte do trabalho foi avaliado o recobro da atividade tímica e relacionado com a recuperação das diferentes subpopulações de células T periféricas, a evolução da diversidade estrutural e a expressão de marcadores de ativação e competência celular em ambos os compartimentos de células T CD4+ e T CD8+. São ainda avaliados o impacto dos vários fatores clínicos e demográficos na reconstituição das várias populações maturas de células T.