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1. Introdução

1.3. A Diversidade Estrutural e a Diferenciação Funcional dos Repertórios

1.3.2. O Repertório de Linfócitos B

1.3.2.2. A Maturação Terminal das Células B Induzida pelas Respostas aos Antigénios

imaturas transicionais. Estas células são vistas como o elo de ligação entre o repertório imaturo de células B imaturas formado na MO e o repertório maturo de células B. O compartimento das células transicional é alvo de um processo de seleção periférico, de forma a eliminar o potencial autoreativo que permaneceu após a seleção na MO. A população de células B maturas deriva do compartimento transicional selecionado, que foi sujeito a um desenvolvimento nos compartimentos foliculares do tecido linfoide e na zona marginal do baço, em grande parte, com base na especificidade por Ags e intensidade do sinal do BCR [185].

A população de células B transicionais é heterógena, na medida em que estas células estão num contínuo desenvolvimento. O compartimento de células transicionais apresenta o fenótipo comum CD19+CD20+CD5+IgM++IgDdim em que são distinguíveis três estadios de desenvolvimento. O mais imaturo é o T1 que compreende a fração de células recentemente emigradas da MO com a expressão CD24+++CD38+++. Estas células têm uma capacidade proliferativa muito baixa e são altamente sensíveis a estímulos apoptóticos. O segundo estadio é o T2 constituído pela fração precursora, com expressão CD24++CD38++, mais resistente à apoptose, que faz a migração para os tecidos linfoides periféricos. O terceiro é o estadio T3, com o fenótipo CD24+CD38++, que constitui o estadio de desenvolvimento prematuro naíve [186, 187]. De acordo com o modelo corrente para o desenvolvimento da maturação terminal das células B, as células T1 autoreativas são eliminadas devido à intensidade do sinal BCR produzido com estes Ags (seleção negativa). As células que ultrapassaram este processo de seleção fazem o desenvolvimento para células maturas naíves e tornam- se resistentes à apoptose, desta vez, através de um processo de seleção positiva dos sinais do BCR [188]. Este processo é regulado a dois níveis, o primeiro é inerente à natureza do BCR que as células formaram, o segundo é devido à sinalização através do eixo Baff-BaffR (Baff, fator de ativação de células B). O sinal induzido pelo Baff promove a sobrevivência e desenvolvimento das células transicionais em células maturas naives, servindo também de determinante da longevidade das células B maturas [189].

As células naives têm um fenótipo CD19+CD20+IgM+IgD+ e vão colonizar duas estruturas dos tecidos linfoides: as zonas marginais (MZ) em especial do baço [190] e as regiões foliculares [191].

A MZ do baço é um tecido altamente perfundido e rico em células do SMF, o que o torna uma interface privilegiada entre a circulação sanguinea e o sistema imunológico [192]. Os Ags e patogénicos são capturados pelos macrófagos, DCs e neutrófilos, processados e apresentados às células B da MZ. As células B naíve com um BCR de afinidade fraca por Ags próprios são selecionadas a ativação e diferenciação B MZ

rápida [193]. O BCR das células MZ é sujeito a um grau relativamente baixo de edição por hipermutação somática (HSM), e na forma finalizada, apresenta caraterísticas polireativas, na medida em que pode ligar múltiplos padrões moleculares microbianos [190]. As células B MZ são principalmente produtoras de IgM, mas algumas células fazem recombinação para mudança de classe de Igs (CSR) e produzem IgG e IgA [194]. Estas células encontram-se principalmente na interface de vários tecidos linfoides com a circulação, onde vigiam infeções bacterianas, nomeadamente por espécies encapsuladas; contra as quais desenvolvem uma resposta efetora, mediada por anticorpos poliespecíficos. As células B MZ encontram-se também em circulação e são caraterizadas como linfócitos B com o fenótipo CD1c+CD21++CD23CD27+IgM++IgDdim [190].

O desenvolvimento folicular das células B apresenta duas caraterísticas radicalmente diferentes do processo anterior. Primeiro, é feito através de uma reação imune num centro germinativo (GC) dependente da apresentação de Ags, de sinais co- estimulatórios do microambiente e por outras células presentes [195, 196]. Em segundo lugar, as células B que resultam deste processo expressam um BCR de elevada afinidade, normalmente monoreativo contra Ags de natureza proteica [190]. O processo é iniciado pela passagem das células B naíve, ativadas por um Ag cognato, na zona das células T das estruturas linfoides secundárias (principalmente gânglios). Entre as células T presentes nesta região, existe uma população T CD4+,previamente diferenciada por DCs, que é aqui residente. Expressam CXCR5+CCR7- e o fator Bcl6 e são reconhecidas como células T foliculares de ajuda (TFH) [197]. A passagem da célula B naíve no contexto descrito, permite um reconhecimento cognato entre péptido Ag presente no MHC classe II da célula B e o TCR das TFH. Este contato celular inicia uma rede de sinais co-estimulatórios por recetores e ligandos, de que se destacam os eixos CD40-CD40L e ICOSL-ICOS (ICOS, co-estimulador induzível de células T). A tradução destes sinais induz a sobrevivência das células B e a migração das duas células para a região folicular B, onde formam uma estrutura conhecida como centro germinativo [198]. As células B, agora conhecidas como centroblastos, procedem a uma intensa proliferação clonal [191]. Por outro lado, a reação imune do GC induz a produção de fatores como a IL-21 e o Bcl6, que promovem dois processos moleculares diferentes nos genes das Igs, mas mediados pela mesma enzima, a citidina deaminase induzida por ativação (AID) [199, 200]. A AID promove a hipermutação somática (HSR) das regiões variáveis dos genes das cadeias leves e pesadas das Igs. Desta forma é induzida diversidade adicional a estes genes [199]. Numa fase posterior, a AID atua especificamente sobre o gene IGH e promove uma recombinação especificamente dirigida à região IGHC. Este processo, conhecido

como recombinação de mudança de classe de Ig (CSR), produz rearranjos genéticos que fazem a seleção dos segmentos constantes que codificam as classes de IgG, A e E [201].

A reação imune do GC é ainda dependente de um terceiro tipo de células, as DCs foliculares (FDC) com origem no estroma do tecido linfoide. Estas células apresentam imunocomplexos de Ags aos centroblastos e induzem sinais de sobrevivência somente às células que apresentam um BCR com alta afinidade pelo Ag. Este processo, conhecido por maturação por afinidade, seleciona os clones celulares com BCRs editados por HSM com a mais alta afinidade pelo Ag [202]. As células selecionadas, conhecidas como centrócitos, reúnem então duas capacidades fundamentais para a resposta imunológica mediada por anticorpos: primeiro, de submeter o gene IGH ao processo de CSR de forma a produzir as classes de Ig que não a IgM e IgD e segundo, as Igs que produzem têm uma alta afinidade pelo Ag. Os centrócitos terminam a expressão do fator Bcl6 por repressão pelo fator IRF4 e prosseguem por duas vias de diferenciação; em células de memória ou plasmablastos. O processo desta diferenciação não está completamente caraterizado, no entanto, sabe-se que a inativação do repressor transcricional PAX5 e o aumento do fator proteína indutora da maturação de linfócitos B 1 (Blimp1), são meios essenciais à diferenciação dos plasmablastos. Já a continuação da atividade do PAX 5 e sinais pelo recetor CD40 e pela IL-4 estão associadas à diferenciação em células de memória [191].

No sangue periférico, as populações de células B de memória são associadas à expressão do CD27. De facto, são as células CD19+CD27+ que apresentam as regiões variáveis dos genes das Igs com as mutações somáticas do processo SHM, o que constitui uma marca de diferenciação terminal. Estas células constituem no total cerca de 40% das células B circulantes [203] e têm a capacidade de fazer uma proliferação e diferenciação rápida, para plasmócitos produtores de Acs, quanto encontram um Ag cognato [204]. Com base na expressão da Ig de superfície são reconhecidas várias subpopulações de células B de memória: as células CD27+IgM+IgD+ são propostas como as células de memória que resultam do desenvolvimento T independente como as MZ ou as B1-like [205] ; as células CD27+IgM+IgD- são propostas como células de memória com origem na primeira fase da reação GC que podem ainda fazer a mudança de classe de Ig [206, 207]; as células CD27+IgG+ e CD27+IgA+ constituem as populações de células de memória com origem na reação GC que fizeram o processo de CSH para as respetivas classe de Ig que expressam [208]. As células B de memória constituem uma memória reativa, na medida em que numa estimulação antigénica secundária, estas células proliferam e diferenciam-se em plasmócitos

produtores de Acs [209].

Os plasmablastos apresentam o fenótipo CD19+CD20-CD27++CD38++ e constituem os precursores em trânsito para os locais de residência onde fazem a diferenciação terminal nas células produtoras de Acs, os plasmócitos [210]. Os locais de residência dos plasmablastos são definidos pelos recetores de quimiocinas que expressam e por um padrão de integrinas nos tecidos [211]. Por exemplo, os plasmablastos que expressam CCR10 (CCR, recetor de quimiocina com motivo CC) são conduzidos por gradientes de CCL28 (CCL, quimiocina ligando com motivo CC) para as mucosas, onde fazem a diferenciação em plasmócitos produtores normalmente de IgA. Os plasmablastos que expressam CXCR4 são sensíveis aos níveis levados de CXCL12 na MO, onde se estabelecem num nicho celular estabelecido pelas células do estroma da MO. Aqui recebem suporte por moléculas de adesão, sinais de diferenciação terminal e de viabilidade [212]. Um marcador de diferenciação dos plasmócitos é a expressão de CD138 [213]; na MO é mantida uma população de plasmócitos de vida prolongada, produtores de quantidades massivas de IgG, IgA e IgE secretada na forma de Acs, fundamentais para a manutenção da memória imunológica. Os plasmócitos com vida longa produzem níveis constantes de Acs circulantes e constituem a memória humoral protetora [209].