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Diversificação das Tipologias Textuais e o Seu Contributo para a Emergência da Leitura e a Iniciação à Educação Literária em Contexto de

Capítulo III O Estudo Investigativo

2. Enquadramento Teórico

2.4. Corpus Textual

2.4.5. Diversificação das Tipologias Textuais e o Seu Contributo para a Emergência da Leitura e a Iniciação à Educação Literária em Contexto de

Jardim de Infância

Desde do início da educação pré-escolar que as crianças podem ler uma carta, uma notícia ou uma descrição. Podem fazê-lo através da voz e da mão do educador, claro está. Mas o que é escrito, a criatividade, a forma de se fazer expressar, o respeito pela estrutura do texto (ainda que seja feito com conhecimento ténues), as autoras são elas mesmo, as crianças, sabendo melhor do que ninguém fazê-lo a:brincar:Assim:o:“ensino:das:estratégias:de:leitura:compreensiva:não:pode:ser:deixado:para:idades: avançadas. Ou se ensinam desde o início da leitura - nos primeiros contactos da criança com textos escritos - ou nos arriscamos a aprovar pessoas que sabem decifrar, mas não utilizam a leitura como meio de aprendizagem nem de acesso à informação, nem de prazer:etc”:(Curto:L:et:al2000p.48).

De facto e segundo alguns estudos, a partir dos 4 anos, a maioria das crianças têm um bom nível de competência oral que lhes permite compreender a maioria do conteúdo de avisos, contos, cartazes, entre:outros:contudo:esse:saber:não:é:inato:nem:se:pode:generalizar:“Em:muitos: lares não se leem jornais, livros ou revistas; não se escreve; inclusive não se leem contos a todas as crianças. E, de qualquer forma, a cultura escrita requer maior informação do que a que habitualmente é oferecida em casa. Isso cabe à escola oferecer”: (Curto, L. et al.,2000,p.64) visando sempre não se sustentar num ensino precoce. Deve-se sim, estimular com a oferta de acesso a diversos suportes escritos mas nunca requerendo de todas as crianças as mesmas capacidades e conhecimentos dado que o ambiente cultural familiar poderá não ser o mesmo assim como o background de experiências anteriores (Marques,R., 1993).

Na verdade, ao ligarmos a diversidade textual à emergência da leitura propomos que as crianças se familiarizem, conheçam e explorem tipos variados de textos para que criem uma motivação autónoma visando apropriar-se de diferentes características, ganhando vontade de querer saber mais sobre o processo: de: leitura: Por: outras: palavras: desejamos: através: da: diversificação: do: corpus: textual: “(): desenvolver estratégias gerais de automonitorização da leitura e estratégias específicas para abordagem de cada tipo:textual”:(Sim-Sim, I., 2008, p.15) simplificada e continuamente. De facto, não se pode esperar que o processo de apropriação de um estilo literário novo seja brejeiro. O contacto com algo diferente implica a existência de dificuldades e, por isso, o educador deve apoiar-se em experiências concretas, compartilhadas com as crianças. Deste modo constrói-se um caminho firme facilitador da reflexão metalinguística sobre a diferença entre um texto poético e um texto de ficção narrativa, por exemplo. Compreendendo a importância deste processo e sabendo que é uma vantagem a apropriação da diversificação textual desde cedo, foram traçadas novas metas de aprendizagem para a Educação Básica, pelo Ministério da Educação e Ciência. Como sabemos a leitura e a educação

estavam a ser entendidas e desenvolvidas como uma só, criando algumas lacunas no domínio desta área. Assim, e aliada às dificuldades económicas que o país atravessa, foram criados objetivos para a leitura obrigatória de sete livros por ano, neste nível educativo. Presumimos que assim se garante o acesso a alguns livros literários, fomentando a educação literária e, consequentemente, desenvolvendo o nível de literacia. Com isto rompe-se com o tradicional conceito:de:que:“:a:escola:tratava:a:leitura: como se fosse uma capacidade para ser utilizada sempre da mesma forma e não incluía na aprendizagem: da: leitura: a: consideração: de: habilidades: necessárias: para: proceder: eficazmente”: (Camps, A. & Colomer, T., 2002, p.68) em questões como o ler para adquirir conhecimento.

Várias seriam as possibilidades de classificação de tipologias textuais a utilizar neste relatório de estágio. Após a consulta de uma das brochuras do PNEP (O Ensino da Leitura: A Compreensão de Textos, de Inês Sim-Sim em colaboração com Cristina Duarte e Manuela Micaelo, 2008) decidimos que o mais adequado para o efeito, tendo em conta toda a prática pedagógica desenvolvida, seria a classificação idealizada por Duke, Purcell-Gates, Hall e Tower (2007) e adaptada pela autora acima mencionada. A tabela 60 ilustra o que acabámos de referir.

Tabela 60 - Classificação da tipologia textual e respetivos objetivos intencionais da leitura.

Fonte: Inês Sim-Sim (adaptado de Duke, Purcell-Gates, Hall & Tower) Apresenta-se, assim, uma classificação clara e concisa dos diferentes tipos de texto que estão na base da nossa investigação.

2.4.5.1. Texto Informativo

Tal como o nome indica, a principal função deste tipo de texto é informar segundo um determinado assunto sendo, por isso, a envolvência de um conjunto próprio de conteúdo e de estruturação. Falamos de géneros textuais como artigos, notícias, cartazes, entre outros que pretendem divulgar algo sobre o mundo: e: a: sociedade: onde: as: crianças: se: encontram: inseridas: Deste: modo: “pedem: diálogo: entre: o: adulto e a criança, possibilitando assim, trocas importantes, quer em termos de vivências, quer pelo desenvolvimento das capacidades de expressão das:crianças”:(Bastos:G:nd:p.273).

Tipos de textos Objetivos intencionais de compreensão

da leitura

Informativos:(artigos:temáticos:notícias) Obter informação sobre a vida e sobre o mundo natural ou social

Ficção:narrativa:(histórias:textos:de:teatro) Usufruir do prazer da leitura recreativa Poesia

Usufruir prazer, alimentar o gosto pela sonoridade e poder da linguagem poética e

simbólica Textos instrucionais (receitas, instruções para a

ação)

Realizar algo de acordo com procedimentos sequenciais enunciados

Biografias Aprender sobre a vida de alguém Textos epistolares (cartas pessoais, recados,

emails)

Estabelecer contacto com alguém, partilhar acontecimentos e emoções

2.4.5.2. Texto Instrucional

De que servirá querer confecionar um bolo e não se saber como o conseguir fazer? Ou como descobrir como nos dirigimos para determinado lugar se não compreendemos as indicações? Pois bem, é por isso mesmo que a utilização de textos instrucionais tem que estar presente na educação pré- escolar e não pode ser encarada como algo comum porque como sabemos é uma tipologia textual bastante usual no quotidiano e queremos educar/ensinar no sentido da autonomia e não de dependência constante do adulto.

2.4.5.3. Ficção Narrativa

Estamos perante a tipologia mais usual nas salas de atividades e nas salas de aula portuguesas. Ligada a géneros textuais como as histórias, os textos de teatro e os contos este tipo textual remete-nos muitas vezes para um mundo imaginário criando uma visão enfatizada da realidade e talvez por isso, seja dos mais apreciados pelo público-alvo: aqui: destacado: “A: narrativa: literária: dá-nos a conhecer algo que é objetivamente distinto do sujeito que relata: não é ele o narrador que constitui o centro da atenção da narrativa, mas sim as coisas, os lugares, as personagens, os acontecimentos, etc. - em suma a:história”:(Bastos:G:ndp.120 citando Reis, C. (1995)). Não nos podemos esquecer que ao explorar textos dramáticos estamos a transportar as crianças para a concretização do imaginário muitas vezes experimentado num conto ou numa história. A verdade é que a integração das crianças em atividades de jogo dramático contribui para a facilitação da comunicação e expressão oral mas também do ponto de vista clínico, remetendo por exemplo, para a expressão de sentimentos e pensamentos que jamais iriam ser demonstrados de outra forma. Assim, as crianças relacionam-se com o mundo e afirmam o seu Eu através do jogo simbólico. Deve o educador de infância planear atividades estruturadas a este sentido:para:que:“():correspondam:a:uma:maior consciencialização dos aspetos envolvidos neste tipo de exercício procurando-se cumprir certos requisitos”:(Bastos:G:nd:p.227).

2.4.5.4. Poesia

A poesia deve ser incutida como uma fonte de prazer do ato de leitura. Ouvir ler poesia sem ter ênfase e sem cativar é um autêntico homicídio a esta tipologia textual, tal como refere Banos (1993), citado:por:Bastos:G:nd:P179::“():ler:poesia:implica:também:dizer:poesia:porque:o:caracter:oral:da: linguagem nunca desaparece dela, já que a poesia é por natureza:():memória:da:linguagem:falada: Significa:isto:que:é:necessário:captar:as:palavras:não:só:pelo:que:dizem:mas:também:pelo:que:são”:É: por primazia um veículo promotor de potencialização da palavra, da descoberta do poder criativo e da auto - motivação, tudo conseguido através da sonoridade e do ritmo desta tipologia textual.

2.4.5.5. Biografia

Não querendo criar um contexto ambíguo, pensamos que a biografia é a tipologia textual que em a margem mais ténue entre o aborrecimento e o entusiasmo, ou seja, que pode facilmente cativar ou não criar interesse nas crianças. Se a pessoa a que a biografia faz referência for do interesse do grupo, isto é, se tiverem sido pré-estabelecidos conhecimentos sobre determinada pessoa, pensamos que a conquista da motivação pela descoberta desta tipologia está conseguida. Por outro lado, se as crianças não tiverem qualquer interesse em saber mais sobre determinada pessoa, tornar-se-á uma tarefa

Todavia é irrevogável a importância da apropriação desta tipologia e cometemos a ousadia de afirmar que tem que ser mais explorada na educação pré-escolar, para que haja a apropriação e interesse necessários para a criação das ferramentas de trabalho dos anos escolares essenciais na segunda etapa da Educação Básica.

Não há um livro ou um filme que não tenha um autor e este é, por exemplo, uma das vias facilitadoras da motivação necessária para despertar o interesse na exploração do texto biográfico.

2.4.5.6. Texto Epistolar

Trata-se de uma tipologia textual que tem como essência o ato comunicativo. Sendo a comunicação uma competência por excelência na educação pré-escolar, é de facto fundamental o contacto com os textos epistolares, pois deste modo, as crianças ficam a compreender uma das funções da linguagem escrita. O s recados, as cartas ou os e-mails são registos que podem ser elaborados com as crianças para se comunicar com alguém que não está presente. O desenvolvimento destas atividades contribui para a aquisição de um dos vários sentidos da linguagem escrita - a comunicação.

2.4.5.7. Listagens

Ao contactar com este tipo de texto não compositivo. As crianças apropriam-se de outra das funções da linguagem escrita - a escrita como auxiliar de memória.

Acreditamos que a emergência da leitura é facilitada pelo contacto e pela apropriação de diferentes tipologias textuais, trazendo contributos benéficos para a criança. Com gosto por algo tudo se consegue. Com motivação o saber torna-se prazer e a curiosidade pelo escrito passa a ser eterna em vez de característica da criança. Julgamos que caminhando neste sentido, se contribui progressivamente: para: a: criação: de: futuros: alunos: bons: leitores: onde: a: “()eficiência: da: leitura: resulta da eficácia das estratégias utilizadas”:(Sim-Sim, I., 2002,p.207).

Orgulhamo-nos de pensar que ao trabalhar com um diversificado corpus textual, estamos a fomentar a verdadeira emergência da linguagem, quer escrita quer oral.

Conhecer, compreender e gostar são os verbos chave do sucesso educativo.

2.4.6.Contributo do Plano Nacional de Leitura para a Diversidade do Corpus