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IV. Hiperligações e referências bibliográficas I Introdução

2.2. Do encerramento do inquérito 1 Do arquivamento

Efectuadas todas as diligências probatórias que se afiguraram úteis e possíveis ao apuramento dos factos, e caso o Ministério Público tiver recolhido prova bastante de se não ter verificado

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crime, de o arguido não o ter praticado a qualquer título, ou caso não tenha obtido indícios suficientes da verificação de crime ou de quem foram os agentes, deverá proceder-se ao arquivamento do inquérito nos termos do artigo 277.º, n.ºs 1 e 2, do CPP.

A este propósito, importará apenas dar nota que, para quem considerar que a legitimidade do acto integra o tipo legal do crime de resistência e coacção sobre funcionário, o apuramento da sua ilegitimidade será causa de arquivamento do inquérito nos termos do artigo 277.º, n.º 1, 1.ª parte do CPP, com fundamento de ter sido recolhida prova bastante de não se ter verificado o crime. Para quem considerar que a ilegitimidade do acto não integra o tipo legal de crime, o acto de resistência levado a cabo pelo agente, desde que proporcional à lesão sofrida, excluirá a ilicitude da conduta, ao abrigo das disposições conjugadas dos artigos 21.º da Constituição da Republica Portuguesa e 31.º, n.º 2, al. b), do Código Penal, devendo, nessa medida, o inquérito ser arquivado nos termos do artigo 277.º, n.º 1, 3.ª parte do CPP, com fundamento em ser legalmente inadmissível o procedimento, em virtude de verificação de uma causa de exclusão de ilicitude.

2.2.2. Da suspensão provisória do processo

De acordo com as razões de política criminal, em sede de reacção penal quanto à denominada pequena e média criminalidade, o Ministério Público deverá privilegiar sempre a utilização das soluções de consenso, desde que verificados os necessários requisitos formais e materiais e desde que satisfeitas que estejam as necessidades de prevenção, quer geral, quer especial, que, em cada caso concreto, se façam sentir71.

Atenta a moldura penal do crime de resistência e coacção sobre funcionário (pena de prisão de 1 a 5 anos de prisão), e tendo sido recolhidos indícios suficientes da prática de crime e de quem foram os seus agentes, o Ministério Público deverá determinar a suspensão provisória do processo se o arguido não possuir condenação anterior e não tiver beneficiado de suspensão anterior pela prática de crime da mesma natureza, se houver concordância do arguido, do Ministério Público e do Juiz de Instrução, se houver ausência de um grau de culpa elevado e ser de prever que o cumprimento de injunções ou regras de conduta respondem suficientemente às exigências de prevenção que no caso se façam sentir (cfr. artigo 281.º, n.º 1, do CPP e Directiva 1/2014 da PGR).

Para determinação da natureza, proporcionalidade e adequação das injunções ou regras de conduta a aplicar, importará apurar a motivação e as consequências do crime, a qualificação e quantificação dos danos causados e eventuais reivindicações por parte dos lesados na sua reparação. A título exemplificativo, poderão ser aplicadas ao agente do crime de resistência e coacção contra funcionário as seguintes injunções ou regras de conduta:

– Entrega de quantia monetária a alguma entidade pública ou privada de solidariedade social;

71 Ao crime de resistência e coacção sobre funcionário não é aplicável o arquivamento em caso de dispensa da

pena, previsto no artigo 280.º, do Código de Processo Penal, porquanto não está prevista, para o referido crime, a possibilidade de dispensa da pena.

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– Entrega de quantia ao Estado ou ao sujeito passivo do crime para pagamento de danos sofridos em consequência do crime;

– Frequência de programas específicos de prevenção da violência ou de sujeição a tratamento de dependência de que o agente padeça e que tenha favorecido a prática do crime;

– Prestação de serviço gratuito de interesse público a favor de uma instituição pública ou privada.

2.2.3. Do processo comum

Tendo sido recolhidos indícios suficientes de se ter verificado o crime e de quem foi o seu agente, o Ministério Público deduz acusação (artigo 283.º, n.º 1, do CPP). Tal deverá suceder quando não seja possível aplicar o regime da suspensão provisória do processo ou, sendo aplicado, o arguido incumpra culposamente as suas condições, não sendo possível o recurso ao processo sumaríssimo ou abreviado.

O Ministério Público deve deduzir acusação perante o tribunal singular, atento o disposto no artigo 16.º, n.º 2, al. a) do CPP, que expressamente prevê que compete ao tribunal singular, em matéria penal, julgar os processos respeitantes a crimes previstos no capítulo II do título V do livro II do Código Penal, que se refere aos crimes contra a autoridade pública, onde se insere o crime de resistência e coacção contra funcionário.

Na acusação, dever-se-á descrever os elementos do tipo objectivo e subjectivo do crime, concretamente:

– A prática de actos de violência pelo arguido, contra funcionário ou membro das Forças Armadas, militarizadas ou de segurança (artigo 347.º, n.º 1, do Código Penal);

– A acção de dirigir contra funcionário ou membro de Forças Armadas, militarizadas ou de segurança o veículo que o arguido conduza depois do sinal de paragem (artigo 347.º, n.º 2, do Código Penal);

– A finalidade pretendida pelo arguido com a prática de tais actos, que se terá de materializar na oposição à prática de acto relativo ao exercício das funções do sujeito passivo ou no constrangimento à prática de acto relativo às funções mas contrário aos deveres do sujeito passivo;

– O conhecimento por parte do arguido que sujeito passivo é funcionário ou membro das Forças Armadas, militarizadas ou de segurança, no exercício das suas funções; – Que o arguido actue com conhecimento e vontade de opor-se à prática de acto relativo ao exercício das funções do sujeito passivo, ou de constrange-lo à prática de acto relativo ao exercício das suas funções mas contrário aos seus deveres.

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2.3. Das formas especiais do processo