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DOCÊNCIA E SOFRIMENTO PSÍQUICO

DOCÊNCIA E SOFRIMENTO PSÍQUICO

Maria Iara Moreira Pereira72; Jéssica Queiroga de Oliveira73

Resumo: O artigo realiza a discussão entre sofrimento psíquico e docência, enfatizando-se as principais patologias

desenvolvidas e fatores que a ocasionam. Trata-se de revisão de literatura de natureza qualitativa e descritiva. A docência caracteriza-se muitas vezes como uma atividade estressante, contribuindo no desenvolvimento de patologias psicológicas e corporais. As doenças mais comuns são: faringite, insônia, problemas cardiovasculares, estresse, labirintite, nervosismo, depressão, exaustão emocional, ansiedade, irritabilidade; geradas por precárias condições de trabalho, não reconhecimento profissional, problemas familiares e distinção de gênero. Torna-se frequente o desenvolvimento de patologias pela classe sinalizando a necessidade da elaboração de projetos que promovam a sua saúde.

Palavras-chave: Docência. Sofrimento psíquico. Trabalho.

Introdução

O presente artigo realiza a discussão acerca da temática do sofrimento psíquico no âmbito da docência, enfatizando-se as principais patologias desenvolvidas e os fatores que a ocasionam.

De acordo com Dejours (2004) o trabalho analisado em uma perspectiva clínica é caracterizado por diversos aspectos que envolvem inteligência, reflexões, criatividade, cognições, interpretações, sensações; nesta perspectiva não se configura primordialmente apenas como um emprego, visto como uma troca laboral e financeira, mas como um meio pelo qual o ser humano é capaz de expressar sua personalidade e ser reconhecido socialmente.

Quando falamos acerca das psicopatologias do trabalho sob a óptica do teórico Christophe Dejours é necessário levarmos em consideração que o mesmo irá compreendê-las a partir da relação de causalidade existente entre sofrimento psíquico, tipos organizacionais e condições laborais (VIEIRA, 2014). O sofrimento psíquico de acordo com Lyra et al (2008) configura-se como a vivência de um mal-estar incomum gerador de alterações psicológicas e físicas, podendo comprometer as atividades rotineiras do sujeito acometido, além de poder vir a se tornar uma patologia caso perdure por muito tempo e de forma intensa.

72 Faculdade Vale do Salgado (FVS). E-mail: mariaiara0925@gmail.com 73 Faculdade Vale do Salgado (FVS). E-mail: jessicaqueiroga@fvs.edu.br

Nesse sentido, quando relacionamos a docência com o adoecimento mental identificamos que o mesmo, nesta categoria em específico, se manifesta através do surgimento de sintomas como cansaço, desânimo, sentimento de impotência, tristeza, aflição, decepção, insatisfação, os quais resultam, dentre outros fatores, da extensa jorna da trabalho, problemas de indisciplina apresentados pelos discentes, baixa remuneração salarial, relações de poder estabelecidas no âmbito de trabalho e ausência de reconhecimento profissional (VIEIRA, 2014).

Embora seja cada vez mais comum as divulgações através da mídia acerca das limitações e dificuldades enfrentadas pelo ensino público, bem como os constantes episódios de violência executados para com os docentes, pouco se tem abordado cientificamente sobre o sofrimento psíquico e fatores patológicos relacionados ao trabalho desenvolvido por essa classe (VIEIRA, 2014).

Dessa forma, o trabalho possui como relevância acadêmica o conhecimento acerca de uma problemática contemporânea comum ao campo de atuação da psicologia, permitindo a elaboração de estudos e pesquisas sobre a temática que poderão servir de subsídio para o desenvolvimento de propostas interventivas que permitam a qualidade de vida no âmbito do trabalho educacional.

Objetivos

Este estudo objetiva compreender os fatores que contribuem para o desenvolvimento do sofrimento psíquico nos professores identificando as principais psicopatologias que acomete este público.

Metodologia

O presente trabalho configura-se como uma revisão de literatura de natureza qualitativa e descritiva. Durante a realização da coleta de dados foram selecionados como instrumentos de pesquisa artigos referentes a temática escolhida como estudo, tendo como banco de dados a SciELO - Scientific Electronic Library Online (Biblioteca Científica Eletrônica em Linha) e Revistas Científicas online, utilizando-se como descritores: docência, sofrimento psíquico e trabalho.

A realização do levantamento bibliográfico ocorreu através do acesso aos periódicos eletrônicos selecionando trabalhos publicados no período de 2004 a 2014. A investigação do estudo

100 realizou-se mediante leituras reflexivas, críticas e seletivas, identificando-se os elementos essenciais para a pesquisa e a relevância dos dados apresentados nos textos selecionados.

Foram definidos como critérios de inclusão: trabalhos publicados no período de 2004 a 2014, pesquisas epidemiológicas realizadas com enfoque na temática escolhida para estudo e artigos publicados em português. Como critérios de exclusão: estudos que abordavam como temática principal apenas uma psicopatologia em específico, pesquisas epidemiológicas que apresentavam realidades estrangeiras e trabalhos que não realizavam uma discussão que articulasse docência e sofrimento psíquico como tema principal.

Dessa forma, foram realizadas as leituras e investigações dos instrumentos selecionados, utilizando-se como estratégias de estudo o desenvolvimento de mapas conceituais para a delimitação dos temas, enfoques e marcos teóricos relevantes para a pesquisa.

Resultados e Discussão

De acordo com Dejours (2004) quando falamos em trabalho há uma diferenciação entre realidade concreta e exigências, onde será o trabalhador que irá buscar preencher, mediante sua função, essa discrepância. Nesse sentido, o trabalhador deve acrescentar com sua atividade o que falta para se atingir as metas que lhe são impostas pela organização. O distanciamento entre realidade concreta e exigências é compreendido pelo trabalhador, muitas vezes, como um fracasso, principalmente quando o mesmo não consegue atingir as metas impostas, dando margem para o surgimento da sensação de impotência, decepção e desalento.

Nesta perspectiva, o sofrimento psíquico será desencadeado quando o trabalhador após utilizar-se de todos os seus subsídios (tanto a nível intelectual como psicológico e afetivo) não consegue atender as exigências e objetivos estabelecidos pelo trabalho, não encontrando formas de superar esse desequilíbrio. Essa situação se agrava em virtude do trabalhador não encontrar meios de externalizar esse sofrimento, aspecto que resulta da forma como se estrutura o trabalho (VIEIRA, 2014).

O entendimento acerca do sofrimento psíquico ocasionado no trabalho requer uma compreensão dos aspectos subjetivos envolvidos no ato de trabalhar, levando-se em consideração a inviabilidade de dissociação entre trabalho e subjetividade, bem como os aspectos sociais, uma vez

que as cobranças laborais desenvolvidas nas organizações acabam muitas vezes por desprezar as individualidades de cada trabalhador, fazendo-o vítima da função que executa (VIEIRA, 2014).

A prática da docência caracteriza-se muitas vezes como uma atividade estressante que acaba por contribuir para o desenvolvimento de patologias psicológicas e corporais, refletindo no funcionamento profissional. No que se refere as doenças mais comuns podemos mencionar faringite, desenvolvimento de insônia, cansaço, problemas cardiovasculares, patologias oriundas nos altos níveis de estresse, labirintite, neurose e nervosismo. Como aspectos psicopatológicos decorrente do estresse na classe de professores temos depressão, exaustão emocional, ansiedade, irritabilidade (REIS et al, 2006).

Sobre os fatores geradores de sofrimento psíquico na classe de professores temos precárias condições de trabalho, não reconhecimento profissional, problemas familiares e distinção de gênero (LYRA et al, 2008). Vieira (2004) apresenta também como fatores desencadeadores a sobrecarga de responsabilidade exigida pela profissão, uma vez que tem como meta a formação dos indivíduos, a sobrecarga de atividades, presença de funções burocráticas, aspectos socioeconômicos e a situação de vida dos discentes.

No estudo epidemiológico realizado por Reis et al (2006) com 808 docentes de escolas municipais da cidade de Vitória da Conquista (BA) foi identificado como principais formas de sofrimento psíquico o cansaço mental e o nervosismo, sendo que o primeiro estava presente em 70,1% da amostra em estudo e o segundo 49,2%. No que se refere aos fatores que ocasionam esse tipo adoecimento foram identificados idade superior o igual a 27 anos, ser do sexo feminino, possuir filhos, tempo de atuação na docência, característica do vínculo trabalhista, ausência de atividades de lazer, extensa jornada de trabalho e baixa remuneração.

No trabalho desenvolvido por Araújo e Carvalho (2009) através da realização da análise de oito estudos epidemiológicos realizados com professores da Bahia, compreendidos no período de 1996 a 2007, foi possível identificar três principais tipos de queixas que acometia essa classe: dificuldade osteomusculares, problemas na voz e saúde mental, relacionando como causas para desenvolvimento das mesmas a forma como o serviço se operacionaliza e organiza-se.

Nesta perspectiva, observa-se a necessidade do desenvolvimento de estratégias protetivas à saúde direcionada aos docentes, buscando promover a compreensão do sujeito no âmbito do trabalho de forma holística, levando-se em consideração aspectos relacionados ao contexto social no qual está inserido, a forma como se relaciona com as demais pessoas, sua subjetividade e características

102 psicológicas, sendo enfatizado o significado que o sujeito atribui ao trabalho que executa; identificando-se assim os fatores nocivos do mesmo a saúde (VIEIRA, 2014).

Conclusões

Observa-se como vêm tornando-se frequente o desenvolvimento de patologias, tanto físicas como psicológicas, na categoria de professores, decorrentes principalmente de condições precárias de trabalho e de aspectos peculiares ao ambiente escolar. Em contrapartida, identifica-se que escassas e muitas vezes ineficientes são as estratégias desenvolvidas para tentar reverter esse atual cenário, refletindo assim no comprometimento da qualidade de vida dos profissionais e consequentemente na qualidade do processo de ensino.

Através do conhecimento dos fatores desencadeadores de adoecimento e as principais patologias desenvolvidas pelos docentes torna-se possível o desenvolvimento de políticas preventivas e promotoras de saúde direcionadas a esse público, buscando formas de minimizar os danos causados pelo ofício do magistério, trabalhando-se tanto aspectos psicológicos, que garanta saúde mental, com aspectos físicos, realizando dessa forma uma compreensão holística do ser humano e enfatizando-se os aspectos subjetivos presentes no ato de trabalhar.

Nesta perspectiva, seria primordial o desenvolvimento de mais pesquisas relacionadas a essa temática, visto a escassez de trabalhos sobre mesma, o que permitiria uma visualização mais concreta acerca do cenário de atuação no campo da educação e identificação dos principais fatores desencadeadores de adoecimento, servindo de subsídio para a elaboração de projetos que garantam a saúde dos professores.

Referências

ARAÚJO, T. M. D; CARVALHO, F. M. Condições de trabalho docente e saúde na Bahia: estudos epidemiológicos. Educ. Soc., Campinas, vol. 30, n. 107, p. 427-449, 2009.

DEJOURS, C. Subjetividade, trabalho e ação. Revista Produção, São Paulo, vol. 14, n. 3, p. 27-34, 2004.

LYRA, G. F. D. et al. A relação entre professores com sofrimento psíquico e crianças escolares com problemas de comportamento. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, vol. 14, n. 2, p. 435-444, 2008.

REIS, E. J. F. B. D. et al. Docência e exaustão emocional. Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 94, p. 229-253, 2006.

VIEIRA, S. R. S. Sofrimento psíquico e trabalho. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, vol. 17, n. 1, p. 114-124, 2014.

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CONHECIMENTO DE MULHERES SOBRE O EXAME

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