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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.5. Endocrinologia da fêmea suína

2.5.4. Duração do estro

De acordo com Weitze et al. (1994) e Soede et al. (1995a), a duração do estro (DE) em porcas pode variar de 24 até 96 horas, sendo influenciada por fatores tais como ordem de parto, sazonalidade, estresse, efeito do macho e pelo IDC. Este, por sua vez, pode ser influenciado por várias outras características, como discutido acima. A alta variação na DE resulta em uma grande variação no intervalo entre o início do estro e o momento da ovulação. Até o início dos anos 90, acreditava-se que as porcas ovulavam dentro de um intervalo relativamente fixo após o início do cio, de 38 a 40 horas. No entanto, estudos onde a ovulação foi investigada utilizando ultrassonografia têm demonstrado que as ovulações ocorrem em momentos variáveis após o início do cio. Apesar do intervalo médio até a ovulação não variar muito entre os experimentos (35 a 48 horas), o momento da ovulação em fêmeas suínas, quando considerado individualmente, varia de 10 a 85 horas após o início do cio. Em fêmeas com ovulação espontânea, a duração das ovulações é de apenas 1-3 horas (Soede

et al., 1992) ou de no máximo 5 horas, sob

condições de estresse (Soede et al., 1997). O interesse em estudar a DE e sua variação se justifica pela sua relação com o momento da ovulação. Na maioria das porcas, a

ovulação ocorre quando transcorridos dois terços do período de estro. Desta forma, a determinação da DE ajuda no estabelecimento de um protocolo ótimo, envolvendo a utilização da IA (Soede et al., 2011).

Steverink et al. (1999) avaliaram 15.186 dados registrados, de 55 granjas comerciais, com o objetivo de estudar os fatores que influenciam a DE, bem como a sua variação dentro da granja e entre granjas. A média geral da DE foi 48,4 ± 1,0 horas, com variação de 31 a 64 horas entre granjas. A duração média do cio nas granjas foi consistente em diferentes meses, com repetibilidade de 86%. Em média, as leitoas apresentaram menor DE do que as porcas (40,8 ± 1,1 vs 48,5 ± 1,0 horas, p<0,01). Além disso, a duração do primeiro estro após a desmama foi maior (p<0,0001) do que o estro subsequente (50,2 ± 1,0 vs 46,8 ± 1,0 horas). Da variação total da DE, 23,3 % foi relacionada ao componente granja. A duração do primeiro cio pós desmame para todas as porcas foi de 50,1 ± 1,1 horas. Entretanto, houve uma redução da DE (p<0,05) acompanhando o aumento do IDC, de 4 para 5 dias (56,0 ± 1,2 vs 50,3 ± 1,1 horas) e de 5 para 6 dias (50,3 ± 1,1 vs 45,8 ± 1,2 horas).

A variação entre granjas quanto à DE pode estar associada às diferenças na interpretação dos sinais de cio, bem como à fatores específicos, tais como o estresse (Soede e Kemp, 1997). Pode advir, ainda, de diferenças na qualidade do varrão utilizado para a detecção do cio (Jongman

et al., 1996), da raça e da condição

nutricional das leitoas e porcas.

Rojkittikhun et al. (1992) e Weitze et al. (1994) demonstraram que a duração do estro foi menor na presença de longos IDC´s. Além disso, Weitze et al. (1994) observaram uma redução do intervalo entre o início do cio e a ovulação, acompanhando o aumento do IDC.

108 Na prática, o sucesso da IA é altamente

influenciado pela variação no início do cio após a desmama, pela duração do cio, bem como pelo intervalo entre o início do cio e a ovulação (Weitze et al. 1994). Soede et al. (1995a) demonstraram que a fertilidade será ótima quando as inseminações forem realizadas de 0 a 24 horas, antes da ovulação.

Weitze et al. (1994) determinaram a frequência de distribuição da DE, em um estudo envolvendo 427 porcas examinadas através da ultrassonografia. A DE apresentou uma distribuição normal, sendo a duração mais curta, detectada em 12 porcas, de 32 horas (2,5%). Em 76% das fêmeas o cio durou entre 48 e 72 horas, enquanto que em 8 porcas (1,7%), ultrapassou as 96 horas. Apenas duas porcas apresentaram uma DE mais longa, de 152,5 e de 120 horas. O IDC influenciou a DE, sendo que nas porcas que entraram em cio muito cedo, a sua duração ultrapassou as 70 horas.

Steverink et al. (1997) observaram diferenças na DE em porcas de diferentes ordens de parição. Assim, nas fêmeas de primeira e segunda ordens de parto, observaram uma menor DE do que nas porcas a partir da terceira ordem de parto. Apesar da consistência na DE observada nos diferentes meses, dentro da granja, esta consistência na DE para as porcas individualmente não é alta. Assim, Andersson et al. (1983, citado por Steverink et al., 1999) observaram que, em cinco leitoas, o quarto estro foi 45 horas menor do que o segundo para uma das fêmeas, três horas maior que o segundo estro para duas fêmeas, nove horas superior ao segundo estro para outra fêmea, sendo ainda 33 horas maior para a quinta fêmea. Além disso, em duas parições consecutivas, a porcentagem de porcas com DE idênticas foi de 29% (31 de 106 porcas, sendo a detecção realizada a cada 12 horas).

A DE também pode ser influenciada pela genética. Desta forma, Willemse e Boender (1966) observaram que a variação na DE, dentro de um grupo de irmãs, foi significativamente menor do que a variação entre diferentes grupos de irmãs, sugerindo a existência de um fator ontogênico ou genético na DE.

Rydhmer et al. (1994) observaram uma correlação genética negativa entre a DE à puberdade (1,8 ± 1,7 dias) e a taxa de crescimento até 90 kg, em 600 leitoas. Diante disto, afirmaram então que a seleção para parâmetros produtivos pode resultar em uma redução da DE.

Durante os últimos 60 anos, o desempenho das porcas com relação ao tamanho da leitegada tem mudado acentuadamente, enquanto a duração do cio não sofreu mudanças aparentes. Em 1930, a DE variava entre 40-46 horas (Gordon, 1997). Desta forma, os efeitos da seleção para produção sobre a DE podem ser considerados limitados (Soede e Kemp, 1997).

Considerando-se que a estratégia de inseminação ideal em suínos é aquela que garanta ótimo desempenho reprodutivo (taxa de parição e tamanho da leitegada), quando utiliza-se uma única inseminação, de preferência, associada à uma baixa concentração espermática; para alcançar tal façanha, existem duas maneiras. Primeiro, aumentar-se o período dentro do qual uma única IA proporciona ótimas taxas de fertilização, ou seja, aumentar a longevidade dos espermatozoides e/ou dos oócitos. Segundo, melhorar o momento da inseminação em relação à ovulação, ou seja, melhorar a previsão do momento da ovulação (Soede et al., 2000).

A relação entre o IDC, a DE e o momento da ovulação parece fornecer informações mais detalhadas, capazes de possibilitar a implantação de um programa de IA mais eficiente. Porcas que entram em cio mais cedo, com um IDC menor que quatro dias,

109 têm, em média um cio mais longo em 20

horas, do que as fêmeas com IDC, entre 4 a 5 dias (Weitze et al., 1994).