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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.4. Fatores a serem considerados no processo de resfriamento e/ou

2.4.9. Influência do período de armazenamento do sêmen de varrões

O ponto crítico de estocagem do sêmen do varrão é o fato de sua capacidade fecundante diminuir após 24 horas ou mais de armazenamento (Polge, 1956a). Além disso, tem sido observado que a percentagem de porcas com gestação positiva, bem como o tamanho da leitegada, diminuiu marcadamente com o aumento do

tempo transcorrido entre a coleta e a IA (Ito

et al., 1948). Observou-se, ainda, uma

redução acentuada no número de porcas que se tornaram gestantes, quando as mesmas foram inseminadas com sêmen armazenado por 24 horas ou mais, embora tenha havido apenas uma pequena redução no tamanho da leitegada (Polge, 1956b).

Dziuk e Henshaw (1958) observaram maiores taxas de gestação nas fêmeas inseminadas com sêmen armazenado por três dias em comparação às inseminadas com sêmen armazenado por dois dias, quando o sêmen foi mantido a 7°C. Esta diferença se deve, provavelmente, à adição de antibióticos à fórmula do diluidor (penicilina e estreptomicina). O número de fetos e a mortalidade embrionária nas fêmeas inseminadas com sêmen fresco ou armazenado por um dia se manteve dentro da média observada quando utiliza-se a monta natural, embora fosse maior naquelas inseminadas com sêmen armazenado por três dias. Estas diferenças indicam que os espermatozoides armazenados por mais de três dias, antes da IA, produzem zigotos mais susceptíveis à mortalidade precoce. Salisbury et al. (1952) descreveram o mesmo fenômeno em bovinos.

Em contrapartida, no estudo de Alexopoulos e colaboradores (1996) foram usadas doses de sêmen diluído em BTS e contendo 1x109 (A), 3x109 (B) ou 5x109 de espermatozoides (C). O sêmen foi armazenado a 17°C por no máximo 120 horas, sendo avaliado a cada 24 horas. Houve queda significativa (p<0,05) da motilidade, a partir de 48 horas de armazenamento, para todas as concentrações utilizadas. Além disso, não observou-se diferenças entre as doses A e B, porém, nas doses contendo 5x109 observou-se uma maior (p<0,05) queda da motilidade. Isto pode decorrer do pobre ambiente metabólico disponível para os espermatozoides. No entanto, é importante ressaltar que as doses C continham, no geral, maior número de espermatozoides

94 vivos, mesmo após 120 horas de

armazenamento. Desta forma, a expectativa era de se obter altas taxas de fertilidade após IA´s com doses de 5x109, mesmo armazenadas por 96 a 120 horas. A taxa de retorno ao estro, nas porcas inseminadas com 1x109 ou 3x109, foram maiores (p<0,05) para o sêmen armazenado por 96 a 120 horas. Em contrapartida, quando foram utilizadas doses com 5x109 houve aumento significativo (p<0,05) das taxas de retorno para as IA´s realizadas com sêmen armazenado por mais de 48 horas. As taxas de parto também foram menores para as doses de 5x109, armazenadas por 48 horas ou mais. Observou-se, ainda, uma redução do tamanho da leitegada quando as porcas foram inseminadas com doses armazenadas por 96 a 120 horas.

Diferentemente, Johnson et al. (1988) obtiveram altas taxas de fertilidade no quarto dia após a coleta de sêmen e diluição em BTS, quando o número de espermatozoides passou de 3x109 para 6x109. Estes resultados foram posteriormente confirmados por Machaty et

al. (1992), quando utilizaram doses de

sêmen de 2,5x109 espermatozoides no dia zero da IA e de 5x109 no dia 4, e obtiveram taxas de parição similares (p>0,05).

Em um estudo envolvendo porcas inseminadas com doses de 3x109 de espermatozoides, à intervalo de 0-72 horas após a coleta e diluição ou com 6x109 quando o período de estocagem foi superior a 72 horas, não observou-se efeito do período de incubação sobre o tamanho da leitegada. Embora um tratamento contendo doses inseminantes de 3x109, armazenadas por mais de 72 horas, não tenha sido incluído no delineamento experimental, aceita-se, comumente, que os parâmetros de qualidade seminal e de fertilidade do sêmen fresco diminuem com o aumento do período de estocagem (Flowers, 2002).

Visando-se investigar a qualidade do sêmen diluído de varrões durante o

armazenamento, de forma a determinar o melhor diluidor a ser utilizado, bem como a duração da viabilidade espermática do sêmen resfriado, Huo et al. (2002) diluíram o sêmen em BTS®, Androhep®, Zorlesco® ou Kiev ®, armazenando-o a 17°C, por até 15 dias. A gentamicina (300mg/L) foi adicionada aos quatro diluidores. Observou- se, neste experimento, diferenças quanto à manutenção da viabilidade espermática, atividade mitocondrial, integridade do acrossoma e na capacitação espermática. A ordem de classificação quanto à manutenção da viabilidade espermática e atividade mitocondrial foi Androhep®, Zorlesco®, BTS® e Kiev®. No entanto, o percentual de acrossomas intactos no sêmen diluído com BTS®, Zorlesco® e Androhep® foi similar, embora maior que o encontrado nos espermatozoides diluídos no Kiev®. Houve menos de 15% de espermatozoides capacitados no sêmen diluído em BTS®, Androhep® e Zorlesco® durante nove dias de armazenamento, embora aos 13 dias esta percentagem tenha subido para 85%. Para o Androhep®, encontrou-se acima de 70% de espermatozoides viáveis aos nove dias de armazenamento.

Apesar do BTS® ser um diluidor simples de curta duração, a sua baixa concentração de potássio pode manter as concentrações intracelulares de potássio dentro de padrões fisiológicos adequados, quando comparado a outros diluidores. Além disso, os diluidores Androhep® e Zorlesco® têm em sua composição a BSA, que dentre outras, tem a função de proteção da membrana. Uma taxa de gestação aceitável tem sido reportada com o sêmen diluído em Androhep® eexposto a 12°C por mais de 60 horas. Além disso, não observou-se diferenças nas taxas de parto, nascidos totais e nascidos vivos para o sêmen armazenado a 12°C ou a 17°C (Althouse et

al., 1998).

Mudanças estruturais e funcionais dos espermatozoides, relacionadas com o

95 armazenamento do sêmen resfriado,

lembram o processo de envelhecimento natural, podendo ser causadas pelas condições e tempo de estocagem. O envelhecimento dos espermatozoides ocorre durante o armazenamento in vitro e após a IA in vivo, quando populações de espermatozoides férteis aguardam a ovulação. Isto significa que o sucesso da fertilização é influenciado por dois períodos de envelhecimento: o armazenamento in

vitro por período superior a cinco dias, bem

como o envelhecimento in vivo, que aumenta quando o intervalo entre a IA e a ovulação é superior a 12-24 horas (Waberski et al., 1994b; Soede et al.; 1995a).

Leitoas inseminadas dentro de um intervalo de 24-30 horas pré-ovulação, com sêmen armazenado por 96-120 horas apresentaram uma redução de 6,7 embriões (p<0,05) quando comparadas às leitoas inseminadas, no mesmo intervalo, porém com sêmen armazenado por no máximo 48 horas. Esta redução no número de embriões demonstra o efeito do envelhecimento in vitro e in vivo das células espermáticas (Bennemann et al., 2005).