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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.4. Fatores a serem considerados no processo de resfriamento e/ou

2.4.8. Influência da temperatura final de armazenamento do sêmen

O principal objetivo quando do armazenamento do sêmen é manter a viabilidade espermática no decorrer deste período. Isto pode ser feito através da redução do metabolismo espermático, tanto pela diluição quanto pela redução da temperatura de armazenamento (Weitze, 1990b).

No entanto, a sensibilidade do sêmen do varrão ao choque térmico torna as temperaturas de armazenamento acima de 15°C necessárias, o que limita a redução do metabolismo celular (Watson e Plummer, 1985; Weitze, 1991). Esta maior sensibilidade está relacionada a uma maior

relação de ácidos graxos

insaturados:saturados nos fosfolípides da membrana plasmática e à baixa concentração de colesterol, que possui, ainda, uma distribuição assimétrica na membrana. Estes fatores geram uma

membrana mais aberta, menos estável e coesa (De Leeuw et al., 1990; White, 1993).

Na suinocultura comercial atual utiliza-se, rotineiramente, o sêmen do varrão armazenado entre 15°C e 20°C até seu uso na IA. Estudos têm demonstrado que o potencial de fertilidade do sêmen suíno, diluído e armazenado a 15°C, é aceitável. Entretanto, quando da exposição a temperaturas inferiores a esta, observa-se o choque térmico e morte das células espermáticas. Para estudar os efeitos do choque térmico sobre as células espermáticas do varrão, tem-se utilizado o resfriamento a 5°C ou até temperaturas inferiores, porque assim há indução dos efeitos indesejáveis do choque térmico, que levam a danos celulares irreversíveis (Althouse et al., 1998).

Paulenz et al. (2000) recomendaram que as doses de sêmen deveriam ser usadas até 60 horas pós coleta, ainda que o sêmen não seja exposto a oscilações de temperatura com queda abaixo dos 15°C ou elevação acima dos 20°C durante o período de estocagem e/ou transporte. Segundo estes autores, os efeitos deletérios do choque térmico foram observados quando o sêmen foi resfriado a 10°C, após diluição em BTS, havendo queda significativa da motilidade e da integridade acrossômica, após as 24 horas de armazenamento. Quando o resfriamento foi até 20° ou 25°C, a integridade acrossômica foi pouco afetada, com uma queda total de 4,5% após as 96 horas de estocagem. Entretanto, observou- se uma queda suave da motilidade quando o tempo de armazenamento superou 72 horas, que se acentuou após as 96 horas. A redução da motilidade às 96 horas foi mais acentuada no sêmen armazenado a 25°C do que no estocado à 20°C. Entretanto, não houve diferenças significativas na motilidade e integridade acrossômica no sêmen armazenado a 20° ou a 25°C. No entanto, como a queda da motilidade e da atividade metabólica foram maiores no

92 sêmen armazenado a 25°C, parece mais

apropriado armazená-lo a 20°C. Além disso, observou-se uma redução significativa do pH do meio após 96 horas a 25°C e 20°C, que foi maior, embora sem significância estatística, a 15°C. Entretanto, houve uma queda significativamente maior quando o sêmen foi estocado a 10°C. A severidade do choque térmico depende da taxa de resfriamento, do intervalo de temperatura e da variação das temperaturas, durante o armazenamento, sendo no geral mais severo quando esta variação é entre 2° e 12°C (Weitze, 1991).

Vários estudos buscam relacionar os efeitos das temperaturas de resfriamento do sêmen com a qualidade seminal, após diferentes períodos de estocagem. Assim, Venumanohararao et al. (1991), armazenaram o sêmen do varrão em quatro diferentes diluidores durante 96 horas a 5°C ou a 15°C, concluindo que a motilidade progressiva geral foi maior em todos os diluidores a 15°C. Alexopoulos et al. (1996), armazenaram o sêmen diluído em BTS por 96 horas a 17°C e observaram uma redução de 18% na motilidade inicial. Wallgren (1985) armazenou o sêmen por 72 horas a 18°C ou a 24°C, e detectou uma queda significativa tanto da motilidade quanto da integridade acrossômica.

Modificações da membrana têm sido descritas nos espermatozoides suínos expostos a temperaturas abaixo de 8°C. Como consequência, acrossomas comprometidos são considerados parte do fenômeno do choque térmico. No entanto, Althouse et al. (1998) não observaram lesões de acrossomas no sêmen suíno armazenado em temperaturas inferiores a 8°C, por mais de 48 horas. Uma explicação possível para este achado pode se dever ao diluidor utilizado, contendo BSA (Androhep®) em sua formulação. Além disso, os autores usaram uma taxa de resfriamento lenta e controlada de 2- 4°C/hora, com taxas de diluição que

variaram de 1:7,6 até 1:15,7; que se encontram dentro das recomendadas pela literatura. Entretanto, questionam se estes fatos podem ter exercido um efeito protetor sobre o sêmen. Após 48 horas, a motilidade espermática foi significativamente menor em amostras armazenadas a 12°C do que a 17°C, embora sempre superior a 75%. Não foram observadas diferenças quanto às taxas de parição obtidas quando o sêmen foi armazenado a 12°C ou a 17°C, por mais de 60 horas, que foram de 93% e 95%, respectivamente. O mesmo pode ser dito quanto aos nascidos totais (11,58 ± 2,50 vs 11,61 ± 2,87) e nascidos vivos (10,68 ± 2,27 vs 10,63 ± 2,51), na mesma ordem descrita anteriormente.

Os resultados de Althouse et al. (1998) demonstraram que a temperatura crítica para o choque térmico no sêmen suíno é de 12°C.

De acordo com Katzer et al. (2005), o sêmen suíno pode ser mantido a 22°C por 2 ou 8 horas antes do resfriamento a 17°C. Para o sêmen resfriado a 5°C, uma viabilidade espermática similar foi obtida quando da utilização de uma curva lenta de resfriamento, incluindo um tempo de incubação de 24 horas a 17°C ou de 8 horas a 22°C adicionalmente ao tempo de 16 horas a 17°C. Entretanto, os baixos índices de viabilidade obtidos não permitem recomendar o uso de sêmen suíno diluído em BTS e resfriado a 5°C.

A atividade metabólica dos

espermatozoides do varrão, preservados em diluidores contendo lipoproteínas da gema de ovo, é afetada por diferentes temperaturas de armazenamento. Neste contexto, Dzienkonska et al. (2009) investigaram os efeitos de duas diferentes temperaturas de armazenamento (5°C ou 16°C) na atividade metabólica dos espermatozoides suínos armazenados em diluidor Kortowo (K3), suplementado ou não com frações das lipoproteínas da gema de ovo (FLG). Os autores avaliaram além

93 da motilidade e da integridade de

membrana, a atividade metabólica, incluindo a condição de energia mitocondrial, captação de oxigênio, conteúdo de ATP e produção de L-lactato. Não houve diferenças relevantes na motilidade e integridade de membrana nos espermatozoides, durante o armazenamento em diluidor FLG nos dias 2 e 3 a 5°C, em comparação aos espermatozoides armazenados a 16°C. Isto indica um efeito protetor das frações das lipoproteínas contra o choque térmico. Sabe-se que os espermatozoides suínos são capazes de produzir L-lactato durante a glicólise e sobre condições aeróbicas. Durante o armazenamento em diluidor FLG a 5°C, observou-se uma redução na produção de L-lactato, acompanhada pela queda de captação do oxigênio, bem como do conteúdo de ATP. Estas observações indicaram ser a glicólise (frutólise) a fonte primária de energia espermática do sêmen a 5°C. Em contrapartida, os espermatozoides armazenados no mesmo diluidor a 16°C, utilizaram, como fonte primária de energia, a respiração mitocondrial aeróbica. Estas diferenças no metabolismo energético, observadas durante o armazenamento do sêmen a 5° ou 16°C, indicam que os espermatozoides podem modular diretamente o consumo de substratos energéticos em resposta a diferentes condições do ambiente em que se encontram.

2.4.9. Influência do período de