• Nenhum resultado encontrado

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.6. Inseminação artificial em suínos

2.6.1. Momento ideal de inseminação

2.6.2.1. Sincronização do cio, sincronização da ovulação e inseminação

tempo fixo

O número de dias não produtivos médios de uma fêmea suína, que são os dias em que uma matriz não está gestando e nem tão pouco lactando, é considerado o principal fator a influenciar o número de leitões desmamados por porca por ano. Neste contexto, o intervalo transcorrido entre a desmama e o cio é o período de maior impacto nos dias não produtivos.

Grande número de estudos têm reportado que a fertilidade máxima é alcançada quando as fêmeas são inseminadas dentro de um intervalo de no máximo 24 horas pré-ovulação até no máximo, 8 horas após a ovulação (Kemp e Soede, 1996). Se o momento da ovulação pudesse ser determinado de forma precisa, uma única inseminação por cio poderia provavelmente ser efetiva para alcançar taxas de parição ideais, o mesmo podendo ser dito quanto ao tamanho das leitegadas (Pelland, 2007). O controle do ciclo reprodutivo suíno tem sido alvo de intensa pesquisa científica há mais de 40 anos (Estill, 2000). Apesar disto, os produtores de suínos continuam tendo limitada disponibilidade de métodos para alterar o ciclo reprodutivo do rebanho em comparação com o que se observa na produção de bovinos. A capacidade de controlar o momento do cio em porcas cíclicas poderia facilitar a introdução de leitoas no rebanho, assim como a inseminação de porcas após o desmame (Estill, 2000).

Apesar dos métodos de sincronização do cio em suínos serem variados, todos se baseiam tanto no controle dos eventos que levam à maturação folicular e a ovulação ou na alteração da meia-vida do corpo lúteo (Pelland, 2007). Estill (2000) relatou que as primeiras tentativas farmacológicas de manipular o ciclo estral de porcas cíclicas

114 envolveu a administração de progestágenos

visando a inibição dos estágios finais de desenvolvimento folicular. Deste modo, com a queda da progesterona, a maturação folicular ocorria de maneira rápida permitindo que a ovulação ocorresse dentro de um intervalo previsto de tempo.

Sabe-se que a ovulação nas porcas ocorre quando transcorridos aproximadamente 70% do período de duração do cio (Soede et

al., 1995a). No entanto, a duração do cio

tem grande variabilidade, o que torna difícil prever o momento da ovulação e assim a realização da inseminação artificial no momento ótimo, em relação à ovulação, para garantir a máxima fertilidade. Apesar da duração do cio ser uma maneira fácil para se predizer o momento da ovulação, a incapacidade de se prever a sua duração, limita a sua utilização. A variação do momento do pico pré-ovulatório do LH em relação ao início do cio é considerada como a principal causa para as diferenças observadas, no que se refere ao momento da ovulação (Zak et al., 2010). Por este motivo, na prática, as porcas são normalmente inseminadas 2 a 4 vezes à intervalos variando de 12 a 24 horas durante o cio. Esta variabilidade observada no intervalo transcorrido entre o início do cio e a ovulação é exacerbada em animais sofrendo estresse térmico, o que torna ainda mais difícil a determinação do momento ideal da inseminação, em relação à ovulação (Tummaruk et al., 2011).

Neste sentido, protocolos hormonais visando o controle do momento da ovulação têm sido desenvolvidos, contribuindo para a utilização da inseminação artificial em tempo fixo em leitoas e porcas (Tummaruk

et al., 2011). Dentre os hormônios usados

nestes protocolos estão a Gonadotrofina Coriônica Humana (Human Corionic Gonadotropin- hCG) (DeRensis et al., 2003; Cassar et al., 2004); o Hormônio

Liberador de Gonadotrofinas

(Gonadotropins Release Hormone – GnRH) (DeRensis et al., 2003; Martinat-Botte et

al., 2010) e o Hormônio Luteinizante Suíno

(Porcine Luteinizing Hormone – pLH) (Cassar et al., 2005; Abad et al., 2007). Para Dziuk e Baker (1962), o intervalo entre a adminstração de hCG e a ovulação na porca é de 36-40 horas. Para Hunter (1967) e Roca et al. (2003), as porcas tendem a ovular após aproximadamente 42 horas e, aproximadamente, 38 horas após o tratamento com GnRH (Brussow et al., 2009) ou LH (Abad et al., 2007). No entanto, estes tratamentos durante o período de desmama têm sido associados a um aumento da mortalidade embrionária devido à queda da qualidade dos oócitos (Martinat- Botté et al., 1990).

O intervalo transcorrido entre a aplicação da hCG e a ovulação é similar ao intervalo observado entre o pico endógeno de LH e a ovulação, em porcas desmamadas (Willis et

al., 2003).

Martinat-Botté et al. (2010) demonstraram que a administração de 10µg de buserelina (Receptal®, Intervet Co. Ltda), um agonista do GnRH, após a aplicação de 20mg/kg de altrenogest (progestágeno) por 18 dias (Regumate®, Intervet Co. Ltda), foi capaz de induzir e sincronizar a ovulação em leitoas púberes. De acordo com os autores a sincronização pode ser feita de três diferentes formas: 1) através de um tratamento com GnRH após 104 ou 120 horas do tratamento com altrenogest; 2) utilizando-se uma combinação de 800 UI de eCG (Gonadotrofina Coriônica Equina) e GnRH após 24 horas; 3) utilizando-se um tratamento com GnRH, 24 horas após o tratamento com altrenogest. Os autores observaram que o intervalo entre o final do tratamento com altrenogest até a ovulação nas leitoas tratadas com GnRH às 104 horas ou com a combinação da eCG e GnRH foi menor do que nas leitoas tratadas com GnRH às 120 horas após o tratamento com o altrenogest. Para as porcas, o tratamento com GnRH às 94 horas após a desmama foi capaz de induzir e sincronizar a ovulação

115 com maior sucesso do que o tratamento

com GnRH às 104 horas após a sua ocorrência.

O protocolo para indução da ovulação mais utilizado, em suínos, envolve a aplicação da gonadotrofina coriônica equina (eCG) para estimular o crescimento folicular, seguido pela gonadotrofina coriônica humana (hCG) para estimular a ovulação. No entanto, há grandes variações nos resultados obtidos com este protocolo. Além disso, existem evidências de que o estímulo ovariano exógeno pode ser deletério para a função reprodutiva futura em leitoas. Assim, tem sido observado que leitoas pré-púberes tratadas com eCG e hCG têm reduzidas taxas de gestação, porque a maturação oocitária pode ser influenciada por hormônios exógenos, tais como a hCG, o que pode reduzir a qualidade embrionária (Degenstein et al., 2008).

O PG600® é um produto composto por 400 UI de eCG e 200 UI de hCG. O eCG tem efeito tipo FSH, levando ao desenvolvimento e maturação folicular, enquanto a hCG tem função LH, estimulando a ovulação. O PG600® é usado para induzir a ciclicidade em leitoas pré- púberes ou em porcas desmamadas em anestro. Quando fornecido à leitoas pré- púberes, acima de 30%, normalmente, podem não exibir cio. Algumas preparações de eCG puro são disponibilizadas e algumas vezes utilizadas para indução do cio. Além disso, as preparações puras fornecidas em altas doses (900 UI) podem melhorar a responsividade de porcas de primeira ordem de parto (Cassar, 2009). A prostaglandina F2α exógena pode ser utilizada também para a sincronização do cio de porcas ou leitoas, por provocar abortamento em porcas com gestações recentes, acompanhado por um retorno subsequente ao cio, dentro de 3 a 5 dias. Tal protocolo pode ser utilizado para que estas fêmeas entrem em cio no momento desejado (Cassar, 2009). No entanto, não há

sincronização da ovulação devido à impossibilidade de se prever a duração do cio induzido.

Pesquisas recentes têm demonstrado que o Hormônio Luteinizante Suíno ou Porcine Luteinizing Hormone (pLH) pode sincronizar a ovulação em porcas desmamadas. Estes estudos envolveram a utilização de 600 UI de eCG no dia da desmama e 5 mg de pLH exógeno, 72-80 horas depois da aplicação da eCG. Em um estudo realizado por Candini et al. (2001), a ovulação ocorreu após 35,7 horas da aplicação do pLH; já Cassar et al. (2005), observaram ovulação às 38,2 horas após a aplicação do pLH, enquanto no estudo de Viana et al. (2002), as ovulações ocorreram 39,2 horas após a aplicação do pLH. Além disso, sugere-se que a utilização do pLH pode melhorar a qualidade do corpo lúteo formado após a indução da ovulação (Ambrose et al., 2005).

Degenstein et al. (2008) observaram que a aplicação de 5 mg de pLH (Lutropin®) intramuscular em leitoas aumentou a amplitude do pico de LH, em relação ao pico de LH pré ovulatório das leitoas não tratadas; além disso, o intervalo transcorrido do tratamento à ovulação foi mais sincronizado em resposta ao pLH. Gama et al. (2005) estudaram a utilização de diferentes doses de pLH (Lutropin®) na indução e sincronização da puberdade em marrãs. Neste estudo, foram utilizadas 67 fêmeas com 140 dias de idade e 86 kg de peso vivo, submetidas a três diferentes tratamentos. No T1 ou grupo controle, as fêmeas receberam 600 UI de eCG (Novormon®) e após 72 horas, 5,0 mg de pLH; no T2 receberam 600 UI de eCG e após 72 horas, 2,5 mg de pLH. Finalmente, no T3 receberam 600 UI de eCG e 72 horas depois, 1,25 mg de pLH. Não houve diferença estatística, entre os tratamentos, quanto ao percentual de cios, embora o melhor intervalo entre o tratamento e a ovulação ocorresse no grupo de fêmeas do

116 T2 (38,26±2,84). A duração do estro foi

similar entre os tratamentos. Os autores concluíram, desta forma, que a combinação de 600 UI de eCG e 2,5 mg de pLH foi a mais efetiva na indução e sincronização do estro e ovulação em fêmeas suínas pré- púberes.

Os protocolos de sincronização são indicados principalmente naquelas granjas apresentando problemas no intervalo entre a desmama e o cio subsequente (IDC). Rebanhos com baixa produtividade, apresentando menos de 75% das fêmeas cobertas até cinco dias após a desmama, demonstraram uma melhoria acentuada de

seu desempenho reprodutivo

acompanhando a utilização da indução da ovulação. Nestes rebanhos, houve uma variação de 20% a 40%, quanto ao número de porcas inseminadas até os cinco dias após a desmama. Rebanhos com alta produtividade, ou seja, aqueles apresentando uma proporção de porcas inseminadas até cinco dias pós desmame superior a 75%, estão no nível superior dos parâmetros reprodutivos e economicamente desejáveis. Neles, há pouco espaço para o uso de protocolos hormonais visando melhoria dos resultados já obtidos (Pelland, 2007).