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Educação de jovens e adultos: autorrealização e políticas educacionais

O Plano Nacional de Educação de 2014,10 Lei n° 13.005, apresenta duas metas,

as de número 8 e 9, referentes à educação de Jovens e Adultos e a EJA integrada a educação profissional. (BRASIL, 2014) No primeiro caso, embora não pareça viável, almeja alfabetizar 93,5% da população com 15 ou mais anos até 2015, o que não foi alcançado, assim como, até o final da sua vigência, o eliminar o analfabetismo e

7 Ver mais informações em: <http://www2.uol.com.br/vyaestelar/biofeedback.htm>. 8 Ver mais informações em: <http://www.biociclos.com.br/release.htm>.

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diminuir em 50% a taxa de analfabetismo funcional que segundo o IBGE em 2009 era de 20,3. (IBGE, 2009) No segundo caso, pretende que 25% das matrículas da EJA seja em cursos integrados a educação profissional.

Abraham H. Maslow, ao discutir sua teoria sobre a hierarquia das necessida- des, aponta a relevância do crescente autodesenvolvimento e auto-atualização do ser humano. A teoria parte da satisfação de necessidades básicas (como por exem- plo, fisiológica, segurança, afeto) até atingir o estágio mais elevado que é de autor- realização e que nunca está plenamente atingido. Cada autorrealização clama por outra sucessivamente. Desse modo, pode-se aceitar que a cada conquista educa- cional satisfeita, o jovem e o adulto queiram buscar novas conquistas. As políticas educacionais, os professores e as instituições educacionais precisam estar aten- tos a este aspecto, o que nem sempre ocorre, gerando prejuízos para os estudantes que frustrados tendem a evadir. A equação, política educacional, educação com qualidade, satisfação dos estudantes, aprendizagem, gestores e professores bem preparados, assim como a aproximação entre escola, família e mundo do trabalho, precisa ser bem resolvida.

As políticas nacionais relativas a educação dos que não tiveram escolaridade bem sucedida na idade certa, apresentam, no mínimo, três funções: reparadora, equalizadora, qualificadora. A função reparadora oferece a oportunidade de resga- te do direito à educação de qualidade que é assegurada a todos os brasileiros em qualquer fase da vida pela Constituição de 1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n° 9394/96. A função equalizadora propõe a reinserção dos que, por motivos vários, deixaram o sistema educacional e estão a margem de novas e promissoras oportunidades na vida pessoal e no mundo do trabalho. A função qua- lificadora está voltada para o permanente desenvolvimento do ser humano, para a educação durante toda a vida e a preparação e realização das pessoas num mun- do em constantes mudanças em todas as instâncias da sociedade. (PRINCIPIOS... [2013]) Essas três funções da EJA e as Diretrizes Curriculares para EJA estão defini- das no Parecer CEB nº 11/2000 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacio- nal de Educação, cujo relator foi o professor Carlos Roberto Jamil Cury. Estamos em 2015. Quinze anos após esse Parecer, é possível indagar os resultados da EJA. Como afirma Jamil Cury (BRASIL, 2000, p. 9) no referido parecer a“[...] EJA necessita ser pensada como um modelo pedagógico próprio a fim de criar situações pedagógicas e satisfazer necessidades de aprendizagem de jovens e adultos”.

Há uma distância entre as proposições referidas e sua operacionalização nos contextos escolares que abraçam estudantes jovens e adultos. Esses buscam me- lhor condição de vida, de trabalho e o resgate da autoestima que fica abalada quan- do por qualquer que seja a razão ou as razões são impedidos de atingir seus obje- tivos educacionais na idade regular. São vários os Pareceres e Resoluções voltados para a regulamentação da EJA tanto com relação ao currículo, quanto às horas de curso, idade mínima de ingresso e assim por diante. Contudo, deve ser primordial

valorizar e conhecer o indivíduo que se inscreve nesses cursos, identificar seus ob- jetivos e metas, o potencial e os limites de cada um.

A população de potenciais estudantes do EJA tem características particula- res que a diferenciam dos alunos regulares em idade e série própria. É um desfio dos sistemas de ensino atendê-los de modo a conseguir operar os três princípios já referidos e a incentivar a colaboração dos envolvidos no processo educacional de tomada de decisões com relação a metodologia, aos conteúdos pedagógicos e atividades curriculares a serem trabalhados com os estudantes. Outra grande di- ficuldade é criar oportunidades institucionais para que os envolvidos no processo educativo façam valer os seus direitos, manifestem os seus anseios e expectativas e sejam considerados para que a oferta do ensino e de todas as atividades oferecidas sejam de qualidade para todos.

Segundo Houle (1961, p. 3), são três as razões pelas quais os adultos procuram oportunidades educacionais: a) atingir objetivos; b) realizar atividades; c) desen- volver novas aprendizagens. Charlotte Buhler acredita que os adultos podem ter necessidades distintas ao longo de sua vida. Logo cada faixa etária pode ter impac- to positivo na decisão de voltar a estudar e constituir resposta à alguma necessida- de. Já Apt (1978) ensina que adultos que participam de atividades de aprendizagem podem ser afetados negativa ou positivamente por variáveis como: a) baixa autoes- tima que dificulta a participação e determinação no processo de aprendizagem; b) Circunstância: econômicas, familiar, localização e condições da instituição edu- cacional; c) Objetivos profissionais, como a vontade ou necessidade de progredir na profissão ou no emprego; d) Autodesenvolvimento.

Com relação aos estilos de aprendizagem e de ensino, Parsons (1979) apontou que a diferença no estilo de aprendizagem está relacionada a características pes- soais, a idade, sexo, nível de desenvolvimento, e outros aspectos. Pesquisadores, como Havighurst (1980), entendem que os seres humanos passam por muitas mu- danças e desenvolvimento durante toda a vida. Logo, os objetivos e práticas educa- cionais devem ser distintos e variados em cada estágio da vida. O envelhecimento não impede aprendizagem. Contudo, há outras questões, como possível declínio da audição e da visão, além da habilidade mental, pontuadas por pesquisadores, como Patricia Cross (1981), ao discutir funções intelectuais e envelhecimento no âmbito da educação e aprendizagem de adultos.

Comentários finais

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O crescimento pessoal e das nações, a inserção e manutenção dos indivíduos no mundo competitivo do trabalho requer educação de qualidade para todos em

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todas as idades enquanto vida e condições de aprendizagem tiverem. Qualificar a qualidade tem nuances que se modificam ao longo do tempo e das necessidades individuais, sociais, científicas, tecnológicas e econômicas. A educação de jovens e adultos é um direito assegurado na legislação brasileira e se constitui numa ala- vanca importante para o crescimento de oportunidades individuais e a melhoria geral da sociedade. Jovens e adultos capazes de ler, escrever, contar, usar bem as inovações tecnológicas, desenvolver a criatividade e conviver com as diferenças têm inúmeras possibilidades de desenvolvimento contínuo.

Gestores e professores bem preparados, que entendam as condições e os ob- jetivos de aprendizagem dos seus estudantes, podem apoiar o desenvolvimento do processo intelectual, cognitivo e emocional dos estudantes. A família, a esco- la e o mundo do trabalho quando aliados favorecem aprendizagens significativas. Como afirma Paulo Freire, educação é um ato político e deve ser emancipatório. As políticas, os sistemas de ensino, gestores e professores devem abrir espaços e criar condições para o desenho de experiências de aprendizagem que se coadunam com os objetivos dos estudantes em cada fase de sua vida, inclusive da vida adulta. Igualmente importante é ajudá-los a traçarem novos objetivos e metas para que a cada etapa sigam crescendo e perseguindo sua autorrealização. Se as crianças concluírem o processo educacional na idade considerada apropriada, de 0 a 17 ou de 4 a 17, provavelmente, a “juvenilização” da educação de adultos se extinguirá e a EJA atingirá novos patamares podendo atender melhor aos adultos ao longo de suas vidas.

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para todas as etapas da educação básica, e dá nova redação ao § 4º do art. 211 e ao § 3º do art. 212 e ao caput do art. 214, com a inserção neste dispositivo de inciso VI. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil.Subchefia para Assuntos Jurídicos, Brasília, DF, 12 nov. 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/Emendas/Emc/emc59.htm>. Acesso em: 11 maio 2015.

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Os sujeitos da educação de jovens e adultos:

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