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Reflexão sobre os conceitos de democracia, direitos humanos, educação em direitos humanos e cidadania

Compreendemos que tratar da formação da juventude universitária com foco nos direitos humanos é imprescindível entender a articulação entre democracia, di-

reitos humanos, cidadania e educação em direitos humanos, considerando que são temas interdependentes, estão imbricados conceitualmente e na sua materialização.

Assim, entendemos democracia como o regime político que respeita a von- tade da maioria da população, na integralidade dos direitos humanos, que possi- bilita a participação, o contraditório, o conflito e as possibilidades de mudanças, sendo estas, as maiores virtudes do regime democrático. Na democracia as pes- soas são vistas como protagonistas e corresponsáveis pelo modelo de sociedade, podendo nela intervir como sujeitos que têm direitos iguais sem qualquer forma de distinção. Os(as) jovens são protagonistas das suas histórias e da história da so- ciedade que está sendo construída e, portanto, convidados(as) a participar perma- nentemente desses processos de construção.

E os direitos humanos são aqueles que se referem a todo ser humano extrapo- lando o conceito de nação, uma vez que estão

assegurados por tratados internacionais, pela Constitui- ção Federal e pela legislação brasileira, além da própria noção intuitiva de dignidade humana, base de toda essa construção. Assim, o conjunto compreendido como di- reitos humanos deve ser garantido a todo ser humano, independentemente da forma como a população perce- ba sua origem ou contexto. (VENTURI, 2010, p. 7) Esses são, portanto, direitos que garantem as condições de vida, com digni- dade a todas as pessoas, independente da sua condição política, classe social, raça, etnia, gênero, opção política e religiosa, orientação sexual, calcado na defesa de um desenvolvimento sustentável do ecossistema. Essas condições se

constituem em prerrogativas básicas do ser humano e são intrínsecas ao regime democrático, pois não é possí- vel efetivar os direitos de todas as pessoas em um regime totalitário, ditatorial, uma vez que pela própria concep- ção este é um regime violador de direitos e que não per- mite a oposição e a liberdade de expressão de idéias, de valores, e de concepções. (SILVA; TAVARES, 2012, p. 25) Assim, é importante enfatizar que a vigência dos direitos humanos só é pos- sível em regime democrático fundamentado na igualdade do acesso aos direitos, na liberdade de expressão, de ir e vir na sociedade, de participação e de inserção nas políticas públicas, uma vez que em regimes ditatoriais não há contraponto de opinião e existência de participação na definição de princípios e fundamentos que orientam a sociedade.

Essa é, portanto, uma das responsabilidades da instituição de ensino supe- rior – educar para a construção de sociedade livre, autônoma e que tenha como

O papel da instituição superior na formação da juventude em direitos humanos / 59

preocupação fomentar a cultura do “Nunca Mais”1 em relação a qualquer tipo de

ditadura, em que as histórias das sociedades sejam objetos de estudos, permeando o ensino, a pesquisa e a extensão. Dessa forma, há que integralizar a história real do povo brasileiro, que trata inclusive dos regimes ditatoriais e, as relações com as outras culturas, em todos os projetos político-pedagógicos dos cursos de formação dos(as) profissionais de todas as áreas de conhecimento, conforme orientam as Di- retrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos. (BRASIL, 2012)

Nessa relação, a cidadania é compreendida, com destaque, neste trabalho, para ações no campo educacional, como processos político-pedagógicos que visam à garantia do acesso aos direitos para todas as pessoas, e no exercício permanente da sua materialização. É o que podemos denominar de exercícios de direitos. E, o(a) jovem, como ser social, tem papel fundamental como protagonista da sua his- tória e da história da sociedade. É o sujeito de ação e intervenção para a conquista de direitos ou para a reclamação quando da sua não materialização, ou violação.

Com base nesse entendimento é que a educação em direitos humanos se in- sere e, se articula como processo multidimensional, uma vez que abrange todas as dimensões do ser humano e todas as áreas do conhecimento. É uma formação sistemática, permanente e dinâmica, haja vista que a humanidade foi e vai cons- truindo e reconstruindo os direitos ao longo da sua história, na perspectiva de que essa formação venha a possibilitar processos diversificados de elaboração de co- nhecimentos ao longo da vida. É uma educação para humanização, no sentido de que as pessoas possam se sentir sujeitos de direitos e de responsabilidades.

É importante destacar que a educação em direitos humanos implica na apreensão dos conhecimentos específicos dessa área, do processo histórico da sua construção, dos instrumentos normativos e, não é limitada ao campo cogni- tivo do conhecimento. Requer, também, o desenvolvimento de valores, atitudes e comportamentos na defesa e ampliação dos direitos, na reclamação de violação de direitos quando necessário, ou seja, de uma vivência cidadã. São processos de aprendizagens que se efetivam em diferentes instâncias da sociedade, nos âmbi- tos formal e informal, mas sabemos que as instituições educativas têm um papel fundamental nessa construção, por serem lócus de formação sistematizada, com propósitos e finalidades e, portanto, de responsabilidade social.

Magendzo (2009) chama atenção para que na educação formal se desenvol- vam ações articuladas no interior dos espaços educativos, envolvendo os diferen- tes atores que neles atuam. E, ainda, destaca a importância de serem desenvolvi- das várias competências nos processos de educação em direitos humanos. Entre essas ressaltamos algumas ao compreendermos que são processos de aprendiza- gens, pois contribuem para instrumentalizar as pessoas no exercício da cidadania:

1 “Nunca Mais” se refere à expressão que foi utilizada pelos movimentos sociais, no período da ditadura civil e militar no Brasil (1964-9185), nas denúncias contra as violações aos direitos humanos e em defesa da democracia no país.

a) competências referidas à formulação de planos de ação e projetos de vida pesso- al e coletivos; b) competências relacionadas à autorregulação social e emocional; c) competências relacionadas à tomada de decisões; d) competências vinculadas a capacidade de conviver com a diversidade cultural e social; e, e) competências relacionadas ao capital social e emocional.

É importante perceber que Magendzo (2009) ao destacar essas competências nos processos de formação, mostra que são aprendizagens que envolvem o ser hu- mano como um todo e, por isso mesmo são articuladas, interdependentes e vão se complementando. Portanto, compreendemos que essas são algumas das tarefas e compromissos que devem permear as ações das instituições educativas que bus- cam contribuir para a formação de sujeitos de direitos. Mas quem são esses jovens? E para que sociedade?

O papel das instituições universitárias na formação da

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