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Educação em direitos humanos: a experiência do projeto diálogos sobre educação em direitos humanos e interculturalidade

O Projeto Diálogos sobre Educação em Direitos Humanos e Interculturalida- de (DEDHI) foi uma iniciativa extensionista que buscou promover a discussão so- bre educação em direitos humanos mediante a integração de diversos atores: uni- versidade, administração pública, escola básica e a sociedade civil. O diálogo entre estas diferentes vozes constituiu-se em estratégia fundamental para se estabelecer pontes entre as universidades e a comunidade. Na perspectiva de mais um espa- ço para compartilhar, de forma colaborativa, pesquisas e diferentes experiências, buscou-se o intercâmbio de saberes e práticas.

O DEDHI teve por finalidades: criar espaços de diálogos entre universidade, escola básica e Organizações Não Governamentais (ONGs) para viabilizar a trans- ferência e difusão de conhecimentos acerca da educação em direitos humanos e interculturalidade; fomentar a pesquisa colaborativa, a partir dos debates e vivên- cias com a sociedade civil, tendo em vista a criação de propostas de intervenções

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didático-pedagógicas voltadas à formação de uma cultura de direitos humanos na

educação básica e no ensino superior da UNEB; e identificar iniciativas curricula- res, ações, projetos e programas das escolas básicas e ONGs voltadas para Educa- ção em Direitos Humanos.

O formato do projeto DEDHI funcionou intra e extramuros do espaço acadê- mico, teve periodicidade quinzenal e seu público contemplou pessoas interessa- das em diálogos colaborativos sobre Educação em Direitos Humanos e Educação de Jovens e Adultos (EJA). O foco principal dessa ação extensionista foi estabele- cer relações significativas entre o conhecimento preexistente (conhecimentos pré- vios) e articular a outros.

Baseado na perspectiva dialógica, conforme aporte freireano, o DEDHI bus- cou criar estratégias para romper com a transmissão de conhecimento mecânico, constituindo a castração da curiosidade, a burocratização das informações onde as perguntas já trazem as respostas, mas teve como finalidade a pedagogia da pergun- ta, ou seja, fomentando a curiosidade como uma atitude indagadora, com inclina- ção ao desvelamento de algo como procura de esclarecimento. Não existe critici- dade sem curiosidade, daí a pedagogia da pergunta não parte da resposta, mas cria possibilidade para sua própria produção ou a sua construção. Tendo como base este pressuposto pedagógico, a base das discussões respaldou-se a partir de uma lógica democrática em que os estudantes poderiam contestar, perguntar, interagir com outros pontos de vistas através da “relação dinâmica, formativa, viva, entre palavra e ação, entre palavra-ação-reflexão”. (FREIRE, 1995, p. 49)

Tendo como metodologia uma leitura interdisciplinar sobre educação em di- reitos humanos, o DEDHI abordou ao longo dos encontros formativos as seguintes temáticas: Leitura interdisciplinar sobre educação em direitos humanos; o cenário dos direitos humanos na Bahia: programas e projetos; educação em direitos huma- nos e saúde mental; educação de adultos como um direito; educação do campo e direitos humanos; juventude e participação em direitos humanos; educação, imi- gração e direitos humanos; currículo, formação de professores e interculturalida- de; políticas públicas e direitos humanos.

Os resultados do projeto DEDHI fomentaram a formação dos sujeitos envolvi- dos através de leituras plurais sobre educação em direitos humanos e a criação de estratégias didáticas para o trabalho com educação em direitos humanos e inter- culturalidade. Além disso, gerou publicações de artigos em revistas especializadas, divulgando amplamente as discussões sobre a citada temática.

Enfim, o DEDHI inseriu-se na temática da educação em suas interações com as múltiplas formas de aplicabilidade e de interpretação da educação em direitos humanos, a partir da horizontalidade comunicativa. Por isso, o projeto esteve cal- cado na ética de reconhecimento do outro, condição sine qua non a favor da partici- pação e convivência cidadã, que se coadunam em um encontro de conhecimentos, frutos da aprendizagem colaborativa e do saber comum, inerentes à extensão.

Considerações finais

É notória a contribuição singular do projeto DEDHI para a formulação, im- plementação e acompanhamento de ações extensionistas sobre direitos humanos. Com o envolvimento dos atores parceiros ao evento, a comunidade acadêmica sensibilizou-se quanto à importância do tema para a sociedade, propiciando um maior estímulo a novas ações integradas de ensino, pesquisa e extensão, tais como: eventos institucionais, fóruns, sites, blogs entre outros.

A partir das discussões dialógicas foi possível um aprofundamento de ações políticas, mecanismos de gestão e saberes acadêmicos e sociais, que efetivamente fortaleceram a rede em Direitos Humanos, potencializando os caminhos da exten- são para o desenvolvimento da Bahia, do Brasil e do mundo.

Sendo um projeto piloto, serviu como relevante observatório para o debate crítico sobre a universidade e sua relação com a sociedade, focalizando aspectos inerentes à Educação em Direitos Humanos e Interculturalidade. Dentro dessa perspectiva, o que pensam e como agem os atores envolvidos no processo for- mativo e social relacionado às práticas da Educação em Direitos Humanos foram fatores essenciais ao fortalecimento da rede ora estabelecida. Experiências como esta estão presentes na agenda oficial de universidades em distintas capilaridades espaciais do país, expressando o quanto a extensão universitária tem se institucio- nalizado e agregado valor à academia.

A partir dos debates decorrentes dessa ação de extensão foi possível construir um novo olhar sobre as práticas sociais e os saberes acerca da Educação em Direi- tos Humanos. Sendo um espaço de construção coletiva, de análise de realidades locais/regionais, de confrontos e troca de experiências, concretizou-se em uma ação de integração de saberes daqueles que compõem a extensão universitária, tanto no âmbito da UNEB, quanto de outras instâncias sociais.

A extensão é o caminho de abertura para um novo conhecimento, onde os atores envolvidos, por meio de práticas sociais geradoras de saberes, constituem um novo olhar, conforme fundamentos de Chauí (1998), onde esse “olhar é, ao mesmo tempo, sair de si e trazer o mundo para dentro de si”, numa busca contínua por visões de mundo que provoquem mudanças intensas e significativas da reali- dade circundante.

O DEDHI possibilitou uma aproximação da comunidade universitária com ONGs e Fundações, possibilitando uma polifonia de experiências e debates que respaldam o respeito aos direitos humanos, possibilitando a troca de saberes aca- dêmicos e comunitários, através de um diálogo fecundo à formação da cidadania de direito.

É preciso consolidar o extensionismo universitário em experiências como o Projeto DEDHI. E assim perpetuar o efeito multiplicador do diálogo colaborativo

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entre a universidade e a população, potencializando atores sociais mais ativos para a construção de uma sociedade mais justa, mais humana, mais feliz.

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Desenvolvimento da educação em direitos

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