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Embora não haja consenso com relação a idade própria para iniciar formal- mente a alfabetização, estudos neurológicos sobre aprendizagem e a plasticidade cerebral indicam que é possível aprender em qualquer idade. (DE QUE MANEI- RA, [201-?]) Contudo, quanto mais cedo a criança começar a receber o processo de estimulação com as famílias e as escolas apresentarem as condições básicas para o estabelecimento do processo ensino-aprendizagem, maior a probabilidade de a aprendizagem escolar ocorrer efetivamente.

Nessa linha de pensamento, o Brasil, cuja educação é um direito subjetivo prescrito pela Constituição Federal de 1988, oferece educação pública para crian- ças, jovens e adultos. A Emenda Constitucional 59, de 11 de novembro de 2009, determina como mandatório que os sistemas de ensino matriculem crianças e jovens entre 4 e 17 anos de idade. Além disso, a matrícula no sistema educacio- nal é assegurada a todos que não usufruíram desse direito na faixa etária referida, considerada como ideal. (BRASIL, 2009) Acredita-se que quando esta faixa etária é antecedida e acompanhada de estímulos cognitivos e afetivos, há mais possibi- lidade de aprendizagem efetiva, tanto da leitura quanto da escrita e dos demais conhecimentos definidos como importantes para esse grupo e para a sociedade. O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa prevê que toda criança esteja alfabetizada ao final da terceira série do ensino fundamental, o quê, em condições normais, corresponde aos 8 anos de idade. (BRASIL, 2012) Já o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio também visa elevar a qualidade desse nível de ensino e a inclusão de todos os potencias estudantes. Essas são políticas que po- dem ser consideradas como recentes e estão relacionadas à inclusão de toda a po- pulação que demanda educação. (BRASIL, 2013)

A principal questão é a efetividade da implementação das políticas vigentes e o enfrentamento das dificuldades operacionais. Se bem executadas, como men- cionado anteriormente, evitarão o aumento do número de jovens e adultos anal- fabetos no Brasil. O quadro atual deixa a desejar em vários aspectos, apesar de da- dos do IBGE5 registrarem que em 2015, 97% das crianças entre 7 e 14 anos estavam

matriculadas. Contudo, os dados revelam também que o Brasil ainda apresentava, em 2011, cerca de 12,9 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais, sendo o 8° país em contingente de analfabetos considerando os informes das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). (IBGE, 2011) Este mesmo organismo internacional aponta que o analfabetismo entre adultos caiu apenas 1% entre os anos de 2000 e 2011.6

A média de permanência no ensino fundamental está entre 4 e 6 anos. As frequentes repetências terminam por elevar, para 11 ou mais anos, o tempo do es- tudante nesse nível de escolaridade. Desde 2009, o tempo regular para concluir o ensino fundamental, que até então era de oito anos, passou a 9 anos no Brasil. Em 2011, dados do IBGE apontam que a escolaridade média de 20% das pessoas mais pobres é de 5,6 anos, enquanto que dos 20% mais ricos da população é de 10,6 anos. Aos 16 anos de idade, um total de 85,8% dos 20% mais ricos da população, tem o ensino fundamental completo, enquanto que, dos 20% mais pobres, só 42,8%o conseguem. Cerca de 30% dos 20% mais pobre e 74,2% dos 20% mais ricos com- pletam o curso médio. Nem mesmo os 20% mais ricos atingem 100% de aprovação. Os que não completam esses cursos com aprovação são, na sequência, prováveis candidatos aos cursos de EJA.

Uma pergunta intrigante: por que, em pleno século XXI, esse panorama per- manece no Brasil, um país que tem políticas públicas voltadas para minorar esse problema? Além disso, tem conhecimentos teóricos e práticos para evitar essa si- tuação. Tem grandes professores como Paulo Freire, Anísio Teixeira e tantos ou- tros ilustres pesquisadores que legaram um patrimônio inestimável ao Brasil e ao mundo com relação a educação. A demanda dos jovens pelos cursos da EJA está crescendo e já se discute a “juvenilização” da EJA. Este é um sintoma forte de que, apesar do esforço, o sistema regular de ensino não atende adequadamente aos anseios e características dos mesmos como ficou implícito mediante os dados do IBGE e do IPEA referidos.

O sistema nacional de ensino desenvolveu a possibilidade de jovens e adultos serem absorvidos, às vezes reabsorvidos, pelo sistema de ensino, em geral no turno noturno e estudarem em cursos da EJA − países que não resolveram a educação de crianças e jovens com a devida responsabilidade e acuidade precisam solucionar o analfabetismo dos adultos. Na Finlândia, por exemplo, país que se destaca pela

5 Dados comparativos do IBGE entre os sensos de 2000 e 2010. Documento completo em: <http://7a12.ibge.gov.br/vamos-conhecer-o-brasil/nosso-povo/educacao.html>.

Algumas considerações sobre a política de educação de jovens... / 167

efetivação da qualidade da educação e dos professores, não há preocupação com as taxas de analfabetismo, pois são menores que 1%. O mesmo ocorre na Coreia do Sul, Noruega, outros. Esses são sinais de que todas as crianças e jovens frequentam a escola no tempo adequado e participam de um processo de educação com quali- dade. Enquanto isso, no Brasil, somente cerca de 20% dos trabalhadores têm ensi- no superior completo. Cada três em dez trabalhadores não completaram o ensino fundamental de acordo com o IBGE. (NEDDERMEYER, 2015) Essa falta de qualifi- cação impacta negativamente no desenvolvimento humano, econômico e tecnoló- gico do país. O Brasil se classifica na 85ª posição mundial com relação ao seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que é igual a 0,73%. O IDH para ser aferido envolve expectativas de vida e de estudo, a média de estudos, renda nacional bruta per capta. A Noruega ocupa a primeira posição no ranking mundial de IDH e não apresenta dados disponíveis sobre jovens e adultos analfabetos, depreende-se que esta não é uma preocupação no país número um em IDH. (NORUEGA..., 2016)

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