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EDUCAÇÃO GEORÁFICA NA EJA E OS ASPECTOS DA FORMAÇÃO DOCENTE

Luis Fabiano de Aguiar Silva¹

Professor da Educação Básica – SEDUC-MA lfgeo@hotmail.com

GT – Formação de professores para o ensino de Geografia

RESUMO

O tema do presente ensaio investigativo é um convite à reflexão acerca da formação docente, com ênfase na Geografia e na Educação de Jovens e Adultos. Apresenta-se neste trabalho um estudo que tem como objetivo analisar a formação do professor de Geografia que leciona para alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos anos finais do Ensino Fundamental. Intrigados em discutir a formação do professor de Geografia que ensina para alunos da EJA, fomos instigados a buscar essa informação para compreender como se dá o processo formativo e sua trajetória, uma vez que não havendo restrições, todos os professores licenciados estariam aptos a atuar nessa modalidade de ensino. Assim, acreditamos que a precariedade do ensino de geografia na EJA, resultada de uma má formação docente. A proposta de pesquisa está alicerçada em uma pesquisa de campo em duas escolas públicas municipais no município de Chapadinha-MA.

Palavras-chave: Formação Docente. Ensino de Geografia. Educação de Jovens e Adultos.

INTRODUÇÃO

Intrigados em discutir a formação do professor de geografia que leciona para alunos na Educação de Jovens e Adultos, fomos instigados a buscar essa informação para compreender como se dá o processo formativo e sua trajetória, uma vez que não havendo restrições, todos os professores licenciados estariam aptos a atuar nessa modalidade de ensino.

Assim, nosso percurso começa com um levantamento de referenciais bibliográficos, acerca das intenções de estudo, confecção de um questionário semiestruturado, com a intenção de colher respostas das questões levantadas sobre formação docente. Assim, o próximo passo foi o campo. E para essa etapa forma escolhidas duas escolas públicas municipais em Chapadinha-MA, que atendem aos alunos da EJA das séries finais do Ensino Fundamental, identificados os professores passamos para coleta dos dados.

Assim, este texto é um convite a reflexão acerca da formação docente e o ensino de geografia na EJA. E buscamos com essa pesquisa contribuir no processo de ensino e

aprendizagem da geografia escolar no contexto da EJA, a partir de uma análise da formação docente.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A EJA é uma modalidade de ensino da Educação Básica, que possui os mesmos componentes curriculares estabelecidos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e Médio, contudo, os métodos, conteúdos e processos devem estar adaptados à realidade desses alunos. Assim, é pertinente pensar sobre uma formação docente na EJA. Neste sentido nos propomos a discutir a formação do professor de Geografia que leciona para alunos jovens e adultos.

Para Cavalcanti (2002), é um tema complexo, polêmico e pode ser abordado de distintas maneiras. Qualquer que seja o enfoque escolhido, é uma questão que, para ser discorrida, deve levar em conta o conjunto de transformações políticas, econômicas, sociais, espaciais e éticas, que provocam alterações no mundo do trabalho, na formação docente, nas escolas e na identidade dos profissionais.

Um dos objetivos de qualquer bom profissional consiste em ser cada vez mais competente em seu ofício. Geralmente se alcança esse objetivo na junção entre conhecimento e experiência, elo importante à formação docente (ZABALA, 1998).

O problema de não haver professores voltados especificamente para educação de pessoas jovens e adultas, segundo Laffin (2012), não é uma questão de ordem pessoal, e sim estrutural. São escassas as instituições de ensino superior, quem contemplam no currículo dos cursos de licenciaturas propostas pedagógicas para essa modalidade de ensino. Logo, a formação dos professores, e dentre estes, os de Geografia ainda se configura particularmente pelas e nas experiências no trabalho, confrontadas como os pressupostos teóricos que possam contribuir com as demandas do cotidiano e da prática social, fruto da curiosidade docente.

A necessidade de formação docente na EJA é evidenciada, no entanto as bibliografias referentes à formação inicial e continuada dos professores da EJA ainda é restrita (KOCH, 2014). Assim, o debate sobre a formação do professor de geografia que leciona para alunos da EJA é pertinente e representa o epicentro deste ensaio.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para realização desta pesquisa selecionamos duas escolas da rede pública municipal em Chapadinha-MA, que ofertam a referida modalidade de ensino. Os professores entrevistados atuam nas séries finais do Ensino Fundamental, especificamente no segundo ciclo, nas etapas quatro (5ª e 6ª séries) e cinco (7ª e 8ª séries). Assim, para facilitar a compreensão, dos dados obtidos em campo foram reunidos e organizados de acordo com os objetivos da pesquisa.

A seguir, apresentamos a descrição e a análise da situação dos professores de Geografia que lecionam na EJA nas sérias finais do Ensino Fundamental referentes às condições de formação docente e de atuação no magistério. Os professores de Geografia serão nomeados de acordo com as escolas que lecionam.

Os professores Santana e Sarney não são habilitados em Geografia, possuem graduação em Letras e História, respectivamente, com especializações em Língua Portuguesa e Gestão e Supervisão Escolar. Soma-se a isso o fato de não terem cursado nenhuma disciplina na graduação e na pós-graduação sobre a educação de jovens e adultos.

Inicialmente, com maior razão, pode-se dizer que a formação de um docente voltado para EJA deve incluir, além das exigências formativas para todo e qualquer professor, ou seja, a respectiva formação na área específica, aquelas relativas à complexidade diferencial desta modalidade de ensino (SOARES, 2002).

Observa-se ainda, a fragilidade da atual LDB 9.394/96, que não faz nenhuma menção à necessidade de haver professores especializados para EJA, o que pode incentivar a não-qualificação dos profissionais para essa modalidade educacional.

Os professores foram interrogados sobre o exercício de outras atividades remuneradas, além do ensino. O professor Santana é funcionário da Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão (CAEMA) e a professora Sarney desenvolve atividade autônoma com artesanato. Somente o professor Santana participa de formação e seminários sobre a EJA, que se restringem a semana pedagógica realizada uma única vez ao ano. Ambos fazem planejamento, entretanto fazem-no de acordo com seus horários, ou seja, isoladamente.

Esses são fatores que influenciam na qualidade do ensino ofertado a jovens e adultos, que dado o caráter de experiência de vida já acumulada, demandam profissionais que tenham conhecimentos suficientes para propiciar a ampliação dos saberes da vida e dos saberes escolares entre os alunos (SOUSA, 2007).

Por isso, segundo Soares (2002, p. 115) “os docentes deverão se preparar e se qualificar para a constituição de projetos pedagógicos que considerem modelos apropriados a essas características e expectativas da EJA”.

Quando questionados sobre a aptidão para ministrar aulas de Geografia na EJA, os mesmos responderam:

Sim, apesar de não ser formado na área de Geografia, me dedico bastante para ser útil com essa disciplina (Professor Santana).

Sim, entendo que transmito da melhor maneira que eles possam entender e capacitar algo que possa ficar para os seus próximos anos letivos (Professora Sarney).

Esse profissional do magistério deve estar preparado para interagir empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exercício profissional consciente. “Jamais um professor aligeirado ou motivado apenas pela vontade ou por um voluntariado idealista e sim um

docente que se nutra do geral e também das especificidades que a habilitação como formação sistemática requer” (SOARES, 2002, p. 114).

Sobre a importância do ensino de geografia para EJA e a relação dos conteúdos com o cotidiano dos alunos, os entrevistados responderam:

Sim, é uma disciplina importante para a vida estudantil, não importa a modalidade de ensino. Eles terão noção de localização, limites geográficos do país, seus estados e municípios e suas direções (Professor Santana).

Nas aulas de geografia os alunos participam, indagam e ficam curiosos com os ensinamentos da matéria. Eles se identificam muito com os ensinamentos do livro. Tem tudo haver geografia e o cotidiano dos alunos é uma matéria que ensina a vida, os movimentos da Terra e o cotidiano dos seres (Professora Sarney).

Diante do exposto, a formação docente na área de atuação é obrigatória, pois, ficou nítida que a prática desses professores ora está firmada no senso comum, ora está pautada em conteúdos livrescos e estanques. O que neutraliza, engessa o processo de ensino e aprendizagem.

A necessidade de formação do professor de Geografia que leciona para alunos da EJA fica evidenciada, no entanto é significativa a escassez de referenciais bibliográficos nesse campo de pesquisa. A colheita aqui realizada é mais um estudo que destaca a relevância de que se reflita e investigue a Geografia escolar na EJA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar sobre a formação do professor de Geografia que ensina na EJA requer um olhar crítico e mais aprofundado. A necessidade de formação docente na EJA fica evidente com os resultados da pesquisa.

Mudanças nos currículos dos cursos de Licenciatura em Geografia e nas demais áreas se fazem necessárias, em relação a formação docente para EJA. Nos cursos de graduação, pós-graduação e extensão as discussões ainda são restritas, onde apenas o curso de Pedagogia possui um relativo espaço para esse debate. O que tem se tornado um grande desafio para as universidades.

Desse modo, as instituições que se ocupam da formação docente de professores são instadas a oferecer esta habilitação em seus processos seletivos. Para atender esta finalidade elas deverão buscar os melhores meios para satisfazer os estudantes matriculados.

Quanto as licenciaturas como a Geografia e as outras habilitações ligadas aos profissionais de ensino não podemos deixar de considerar, em seus cursos a realidade da educação de jovens e adultos.

A pesquisa denuncia pouco interesse dos professores em relação a capacitação e a formação continuada na EJA. Na qual Ficou evidente também a desarticulação entre formação acadêmica e a realidade prática, entre teoria e a realidade, que é muito timidamente trabalhada na academia, restando apenas o estágio curricular, que raramente é realizado na EJA. A

investigação também revela a EJA como uma “válvula de escape”, não como escolha e sim opção.

Delineadas algumas considerações chega-se a conclusão que a formação docente na EJA é uma das causas da precariedade dessa modalidade de ensino. Entretanto, acredita-se que um debate envolvendo os gestores da educação nacional, estadual e municipal, a administração das escolas, os profissionais da educação, em todos os níveis de ensino, inclusive na academia, e principalmente os alunos dessa modalidade, possa-se reverter esse realidade.

REFERÊNCIAS

CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia e práticas de ensino. Goiânia: Alternativa, 2002. KOCH, Leani Lauermann. Formação docente para educação de jovens e adultos. In: LAFFIN, Maria H. L. Fernandes (Org.). Educação de jovens e adultos na diversidade: processos de intervenção na realidade escolar social. Florianópolis: Apoio, 2014.

LAFFIN, Maria H. L. Fernandes. A constituição da docência na educação de jovens e adultos. Currículo sem Fronteiras, v.12, n.1, p. 210-228, jan./abr. 2012.

SOUZA, Maria Antônia de. Educação de jovens e adultos. 2 ed. rev. atual. e ampl. Curitiba: Ibpex, 2007.

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

PROFISSÃO DOCENTE EM FOCO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS NA FORMAÇÃO

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