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Desafios para a prática pedagógica

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Introdução

A educação inclusiva se destina aos alunos pertencentes a minorias sociais que, por diversos motivos, não estavam, anteriormente, presentes nas escolas e salas de aula regulares. (AINSCOW, 1997) A luta para sua implementação, fortalecida a partir do início da década de 1990, conseguiu, em muitos países, que seus objetivos fossem, ao menos em parte, cumpridos, ainda que haja muito a ser realizado. (MUÑOZ, 2007)

A Tabela 1 traz dados referentes à distribuição desses alunos, no Brasil, em 2010, segundo dados calculados a partir do censo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira (INEP):

Tabela 1 - Frequência e porcentagem de alunos portadores de necessidades educacionais especiais no ensino básico em 2010

pública % pública privada % privada total Ensino

especializado 75.384 14% 142.887 84% 218.271 Ensino regular 457.236 86% 27.096 16% 484.332 total 532.620 100% 169.983 100% 702.603

1 Este texto tem como base conferência a proferida ao final do III Congresso Brasileiro

Os dados da Tabela 1 indicam que:

1) a maioria dos alunos considerados como portadores de necessidades educacionais especiais está matriculada no ensino público;

2) no ensino público, a maioria desses alunos está matriculada em classes regulares, o contrário ocorrendo no ensino privado, que privilegia o ensino segregado.

Esses dados mostram que os alunos que antes não frequentavam a esco la ou que a frequentavam em escolas e/ou classes especiais passaram a fa zê- lo em escola regular, sobretudo a pública. Há de se considerar, contudo, que, segundo dados desse mesmo censo, realizado pelo INEP, em 2010, o número total de matriculados no ensino básico foi de 51.549.889 e a porcentagem de alunos da educação inclusiva correspondia a 1,4%, o que nos parece muito baixa comparada ao total da população estimada com necessidades especiais (14,5%, conforme dados do IBGE, 2000), mesmo considerando que esse total se refira ao total da população e não somente aos que estão em idade escolar.

No Brasil, segundo os dados da Tabela 1, a maioria dos alunos porta- dores de necessidades educacionais especiais2 está matriculada no ensino regular, mas ainda é grande o número de matrículas no ensino especializado. É difícil também estimar o número de potenciais alunos com deficiência que não estão em nenhum tipo de escola. A realização da educação inclu- siva significa que todas as crianças e todos os jovens estejam estudando em escolas e classes regulares, o que até o momento não está ocorrendo.

Os objetivos da educação escolar têm se direcionado para a formação do cidadão, contrapondo-se à ênfase ainda predominante na formação para o trabalho. Isso é importante quando pensamos que parte do ensino especial voltado, sobretudo, a pessoas com deficiência intelectual, é feito por meio de oficinas abrigadas. Se é a formação do cidadão, portanto política, que é a meta a ser alcançada, não cabe limitar a educação ao ensino de tarefas simples, o que parece ocorrer nessas oficinas. Aliás, a educação voltada somente ou predominantemente para a adaptação é criticada por Adorno (1995a) na década de 1960, independentemente de os alunos terem ou

2 Utilizamos aqui essa expressão por ser aquela adotada pelo INEP, no restante do trabalho

demos preferência à expressão aluno com deficiência, ainda que ambas as expressões não coincidam.

não deficiência. A formação não deve se restringir à reprodução da socie- dade existente, deve proporcionar a crítica desta sociedade com o fito de alterá-la, tornando-a justa, igualitária, propícia à liberdade.

Quando a educação escolar não é segregadora, isto é, não separa os alu- nos por suas consideradas, mas não necessariamente reais, incapacidades de aprender e/ou de conviver, há ganhos na formação individual dos que têm e dos que não têm deficiência, segundo estudo de Monteiro e Castro (1997). Os que têm deficiência, por identificação com seus colegas sem deficiência, podem se desenvolver mais, dada a diversidade de modelos, do que quando só estão entre os que têm deficiência. Para os que não têm deficiência, a convivência com os que são diferentes de si podem propiciar o que Adorno (1995a) chama de identificação com o mais frágil, o que é um fator importante contra a violência.

Apesar do que foi desenvolvido até aqui, que revela o fortalecimento da educação não segregadora, ou educação inclusiva, há de se considerar a existência de fortes pressões a favor de que os alunos com deficiência estu- dem em instituições especializadas e não na sala de aula regular. Como em outros tempos alunos com deficiência eram dirigidos predominantemente a instituições especiais ou classes especiais, sendo considerados, em geral, com problemas de saúde e não propriamente de aprendizagem, mais com problemas de desenvolvimento do que de aprendizagem, formou-se uma estrutura sólida ao redor dessas instituições, envolvendo quadros profis- sionais especializados e recursos governamentais, que têm dificuldades de se transformar. Não adianta essas instituições se modernizarem quanto aos seus métodos e instrumentos, quando a mudança necessária só pode significar a superação da segregação estabelecida.

Como as propostas da educação inclusiva preveem modificações subs- tanciais na arquitetura da escola, nos métodos de ensinar e avaliar, mes- mo quando alunos com deficiência são aceitos, não necessariamente têm condições de ser incluídos; quando tais alterações não são feitas, temos o que é denominado educação integrada (ver VIVARTA, 2003), que se já significa um bom avanço em relação à educação segregada, ainda não possibilita a plena inclusão dos alunos antes segregados, quer pelo fato de que estudavam em instituições especiais/classes especiais, quer porque não estudavam em nenhum lugar. A proposta de educação inclusiva im-

plica o reconhecimento das diferenças e as adequadas condições para que essas não sejam obstáculo à formação; assim, linguagem em braile pode ser importante para os que têm deficiência visual; linguagem dos sinais pode ser importante para os que têm deficiência auditiva; falar mais pau- sadamente e utilizar mais recursos imagéticos pode ser importante para os que têm deficiência intelectual. A educação inclusiva, assim, não deve desconhecer as diferenças, mas proporcionar recursos para o cumprimento dos objetivos escolares.

A esta introdução, neste texto, que tem a intenção de ser um ensaio, seguem-se quatro partes. Na primeira delas, são discutidos os objetivos da educação no que se refere à constituição do indivíduo, que deve expressar sua diversidade; na parte seguinte, iniciamos a discussão sobre o conceito de preconceito em sua relação com o conceito psicanalítico de identifica- ção; o preconceito é objeto de discussão também do terceiro item; nesse, damos ênfase à sua forma de manifestação como marginalização ou segre- gação. Por fim, na última parte, apresentamos ilustrações das categorias de marginalização, segregação e também da categoria de inclusão, por meio de dados empíricos obtidos em pesquisa recentemente concluída sobre a educação inclusiva.

Educar para diversidade e diversidade prévia

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