• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 LINHA DO TEMPO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: DA EXTINÇÃO À

2.1.3 Educação da PcD

As escolas para pessoas com deficiência começam a ser criadas e difundidas, especialmente no século XIX. Foi criado, em 1926, em Belo Horizonte, Minas Gerais, o Instituto de Cegos no Brasil, conhecido como Instituto São Rafael, bem como, ainda, no mesmo ano, o Instituto Pestalozzi, de Canoas, no RS.

Na metade do século XX, autores passam a escrever sobre os estabelecimentos escolares que atendiam pessoas com deficiência:

Na primeira metade do século XX, portanto até 1950, havia quarenta estabelecimentos de ensino regular mantidos pelo poder público, sendo um federal e os demais estaduais, que prestavam, algum tipo de atendimento escolar especial a deficientes mentais. Ainda, catorze estabelecimentos de ensino regular, dos quais um federal, nove estaduais e quatro particulares, atendiam também alunos com outras deficiências. No mesmo período, três instituições especializadas (uma estadual e duas particulares) atendiam deficientes mentais e outras oito (três estaduais e cinco particulares) dedicavam-se à educação de outros deficientes (MAZZOTA, 1996, p. 3).

Em 1950, as epidemias de poliomielite no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, deixam centenas de crianças com sequelas. Tais epidemias provocaram a necessidade de estimular o surgimento de entidades filantrópicas em favor das crianças com paralisia infantil. Foi fundada a Associação de Assistência à Criança com Deficiência: “a inclusão de deficientes na política educacional brasileira só ocorre no final dos anos 1950 e início da década 1960 do século XX. No período entre 1854 a 1956, existiram iniciativas oficiais e particulares isoladas [...]” (MAZOTTA, 1996, p. 27).

O ano de 1960 foi marcado pelo movimento dos hippies, que acreditava que a paz e o amor eram as únicas maneiras de resolver as diferenças entre os povos, a ideologias e as religiões. Pregavam o não julgamento das pessoas, com base apenas na aparência. Tal movimento impulsionou as pessoas com deficiência a buscar os movimentos organizados.

Ainda, em 1960, a cultura surda e a língua de sinais puderam reafirmar seus argumentos pelo livro escrito pelo americano Willian Stokes (Estrutura da linguagem: uma abordagem do sistema de comunicação visual do surdo americano), neste livro, o autor afirma que a Língua de Sinais americana tem todas as características da língua oral. Surgem, nos Estados Unidos, os primeiros movimentos organizados por familiares de pessoas com deficiência. Continham fortes críticas à discriminação e incentivos às pesquisas e às teorias sobre a inclusão, bem como a melhoria das condições

de vida dos mutilados de guerra. No Brasil, se fortalece a ‘era da Integração’, em que o indivíduo com deficiência tem de se adaptar a uma sociedade que deve aceitá-lo, mas não é construída com acessibilidade para ele. Ainda, na década de sessenta, o artigo 55 da Lei nº 3.807/1960 obriga as empresas com vinte ou mais empregados a reservar 2% de cargos para readaptados ou reeducandos profissionalmente.

Em 1964, acontece no Brasil o golpe de Estado, que instituiu durante 21 anos um regime político imposto pela ditadura militar. Nesses anos, o exercício da cidadania foi limitado em todas as suas dimensões, prevalecendo a falta de liberdade e a censura ao pensamento livre. Emergem pessoas com deficiência, tais como Candido Pinto de Mello (na época presidente da União dos Estudantes de Pernambuco e militante quanto à resistência à ditadura militar), o qual depois de levar um disparo de arma de fogo, conseguiu sobreviver seccionando a medula abaixo do peito. A partir daí, ele passa a ser um dos fundadores do movimento pelos direitos das pessoas com DF.

A Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969, traz uma inovação ao dispor, em seu artigo 175, que a família é constituída pelo casamento e terá direito à proteção dos poderes públicos, especificando no parágrafo 4º que uma Lei especial deverá dispor sobre a assistência à maternidade, à infância e à adolescência e, ainda, sobre a educação de ‘excepcionais’, que era a nomenclatura utilizada para designar pessoas com DM e intelectual.

Os anos de 1970 foram marcados pelo apogeu da ditadura militar no Brasil. Foram anos de resistência política e muitas pessoas, inclusive pessoas com deficiência, foram presas, torturadas ou banidas. Sabe-se que “[...] desde o império até a década de 1970, todas as iniciativas para a questão das pessoas com deficiência são parte de uma história na qual elas ainda não possuem autonomia para decidir o que fazer da vida própria” (BRASIL. SDH, 2012d, p. 12). Ainda, em 1970, nascem movimentos afirmativos dispostos a lutar pelos direitos humanos. No início desta década, acontecem as primeiras inserções no mercado de trabalho na área de computação, de programador cego, iniciando o período da inclusão digital para cegos.

Em 1975, a ONU promulga a Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiência, a qual inclui o direito da PcD ser consultada sempre que o assunto for referente a ela. No ano seguinte, 1976, a ONU promulgou o ano de 1981 como o Ano Internacional da Pessoa com Deficiência (AIPD), com o tema ‘participação plena’. Em

1978, a Constituição recebe uma emenda de número 12, que trata dos direitos da PcD, essa emenda assegura melhoria da condição social e econômica, especialmente, mediante educação especial e gratuita.

Na década de oitenta, dá-se início à fase de um movimento de ‘inclusão’ como opção, defendendo que o ensino, para com as pessoas com deficiência, deveria ser feito, sempre que possível, na escola regular. Assim, a preparação da sociedade e a acessibilidade deveriam ser da própria sociedade e não mais do indivíduo com deficiência.

O Movimento das Pessoas com Deficiência ganha visibilidade e, a partir daí, esse movimento torna-se ainda mais ativo na busca de transformações sociais. Em 1980, acontece o Primeiro Encontro Nacional de Entidades de Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2012d, p. 3). Esse evento reúne aproximadamente 500 pessoas e teve como objetivo criar diretrizes para a organização do Movimento no Brasil, definir uma pauta de reivindicações e definir critérios para entidades que faziam parte da luta.

Em 1981, em Recife, aconteceu o Primeiro Congresso Brasileiro de Pessoas com Deficiência com a participação de, aproximadamente, 700 pessoas originárias de todas as regiões do Brasil, que tivessem algum tipo de deficiência. Em 1983, no Terceiro Encontro Nacional das Pessoas com Deficiência, foi aprovada a proposta de organização nacional por área (tipo) de deficiência. Cria-se, para discussão das questões comuns, o Conselho Nacional de Entidades de Pessoas Deficientes.

Criam-se, no Brasil, diversas instituições de pessoas com deficiência e não mais

para pessoas com deficiência. Entre essas, a Associação de Amigos dos Autistas

(AMA)4, a Associação Pernambucana de Cegos e a Comissão de Surdos. Ainda, em 1984, cria-se a Organização Nacional das Entidades de Deficientes Físicos (Onedef)5, na cidade do Rio de Janeiro.

4AMA tem como missão proporcionar à pessoa com autismo uma vida digna: trabalho, saúde, lazer e

integração à sociedade. Oferecer à pessoa com autismo instrumentos para convivência no lar e em sociedade. Promover e incentivar pesquisas sobre o autismo difundindo o conhecimento acumulado.

5

A Onedef foi criada a partir da coalizão entre várias instituições de pessoas com deficiência física do Brasil, em encontro realizado em Recife/PE. Por meio de suas representações, essa entidade participou das discussões que culminaram na criação da Corde e do seu Conselho Consultivo, que foi o cerne de onde se originou o Conade.

Em 1986, foi criada a Coordenação Nacional para a Pessoa Portadora de Deficiência (Corde)6, órgão responsável por coordenar todas as ações voltadas para a área. Em 1987, é fundada a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis)7, organização de âmbito nacional. Em 1988, é criada a União Brasileira de Cegos (UBC)8, que passa a representar o Brasil na União Latino-Americana de Cegos, perante órgãos do governo brasileiro, bem como em diversos conselhos e órgãos criados no país.

Na década de 2000 a 2010, a Língua de Sinais brasileira, por sua vez, ganha status de ‘Língua’, os surdos reafirmam o seu pertencimento a uma comunidade linguística com identidades próprias. Isso fortalece os segmentos dos surdos que passam a se unir por objetivos. A partir de 24 de abril de 2002, por meio da Lei nº 10.436, o Brasil passa a ter uma segunda língua: a Libras, diferente da oral, tendo nos gestos e no sistema visual a sua forma de comunicação.

O Censo de 2010, segundo Brasil (2012, p. 17), registra a distribuição percentual da população de 15 anos ou mais com pelo menos uma deficiência categorizada por nível de instrução. Os dados revelaram que 61,1% da população com deficiência não tem instrução ou tem apenas o ensino fundamental incompleto; 14,2% possuem fundamental completo e médio incompleto; 17,7% possuem ensino médio completo e superior incompleto e, apenas 6,7% possuem superior completo.

Diante do quadro apresentado, surgem iniciativas governamentais e não governamentais em prol de uma sociedade inclusiva, mais igualitária e que defende uma educação para todos. A educação inclusiva passa a ser vista pelo governo brasileiro como alternativa para que a PcD possa estar presente na escola regular. Assim, surge a necessidade de explicitar com maiores detalhes o que significa a era da inclusão.

6Atualmente esse órgão está diretamente ligado à Secretaria dos Direitos Humanos (SDH), a qual tem

status de ministério e está denominada como Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da PcD

(SNPD).

7

Feneis é uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, com finalidade sociocultural, assistencial e educacional, que tem por objetivo a defesa e a luta dos direitos da comunidade surda brasileira.

8UBC, fundada em 1924, é uma instituição de utilidade pública federal, estadual e municipal, tendo como