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CAPÍTULO 4. DADOS GERADOS: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE, DISCUSSÃO E

4.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS DO SEGMENTO ‘ALUNOS COM

4.1.1 Perfil dos alunos com deficiência participantes

Percebe-se que a maioria dos alunos participantes se encontrava na fase adulta, conforme o gráfico 2, que informa a idade dos alunos com deficiência que participaram

da pesquisa.

Gráfico 2 – Idade dos alunos com deficiência. (%)

20% 57% 17% 6% 15 a 20 anos 21 a 30 anos 31 1 40 anos 41 a 50 anos

Fonte: banco de dados da pesquisa.2012.

Quanto à cor da pele dos alunos participantes, 64% dos alunos se autodeclararam como negros ou pardos, sendo assim denominados de afrodescendentes, e 34% como de cor branca, conforme gráfico nº 3:

Gráfico 3 – Raça e cor da pele dos alunos participantes. (%)

Fonte: banco de dados da pesquisa.2012.

Isso demonstra que as pessoas com deficiência que estudam nos cursos de educação profissional do Senai e que foram participantes desta pesquisa, além de serem pessoas com deficiências, na maioria são também afrodescendentes e, assim, estão computados dentro de mais um componente de exclusão social, ou seja, possuem a cor preta ou parda, o que os coloca ainda mais em situação de desvantagem, como se evidencia nos longos anos de história do Brasil, onde os negros foram escravizados e hostilizados pelos homens brancos e, atualmente, de forma diferente e talvez mais velada,

64%

36% Negros e pardos

a discriminação continua existindo.

Dessa forma, agregar, em um mesmo indivíduo, dois fatores de desigualdade social, ou seja, quanto à cor e quanto à deficiência, evidencia como a discriminação sofrida pelos alunos participantes que são ao mesmo tempo pessoas com deficiência e afrodescendentes é maior do que os alunos com deficiência de cor branca.

Ao serem questionados sobre se nasceram deficientes ou se tornaram deficientes posteriormente, a maioria confirma a deficiência a partir do nascimento (67%) e, entre os que se tornaram posteriormente deficientes, percebe-se que o fato aconteceu em quase todos os participantes desde a mais tenra idade, entre cinco meses e cinco anos. Apenas dois participantes relataram ter ‘ficado deficientes’ após os 10 anos.

Sabe-se que o número de pessoas com deficiência no Brasil, conforme já descrito no referencial teórico, é de aproximadamente 25% da população e esse panorama tem sido alterado significativamente, especialmente pelo número de acidentes que deixam sequelas ou pessoas com deficiência. Isso é confirmado em pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro dos Direitos da PcD (IBDD) e a ‘Associated Press’. No ‘Jornal Estadão’, em 2012, foi publicada tal pesquisa, até então inédita:

Traumas e lesões decorrentes da violência no trânsito são umas das principais causas de deficiência – e de mortes – no Brasil. Em dez anos, entre 2001 e 2011, o número de vítimas com invalidez permanente aumentou mais de vinte vezes, passando de 11 mil para 239 mil, segundo os dados do DPVAT, seguro obrigatório pago pelos proprietários dos veículos, responsável pela cobertura às vítimas dos acidentes, informa o IBDD (VENTURA, 2012).

Na presente pesquisa, foram analisados todos os tipos de deficiência considerados pela legislação as quais são: ‘DF’; ‘DA’, ‘DV’, ‘DM’, ‘DI’ e, ainda, ‘Dm’18, sendo estas as mais comuns e que também aparecem categorizadas pelo Censo Demográfico. O gráfico 4, demonstra o percentual por tipo de deficiência entre os participantes.

Gráfico 4 – Tipos de deficiência dos alunos participantes. (%) 21% 29% 34% 12% 4% Deficiente visual

Deficiente mental e/ou intelectual

Deficiente auditivo

Deficiente físico

Deficiente múltiplo

Fonte: Banco de dados da pesquisa. 2012.

Quando questionados se sabiam ler e escrever, o percentual dos que se definiram como alfabetizados (92%) foi elevado. No entanto, apesar disso, muitos alunos participantes desta pesquisa tiveram dificuldade na redação das respostas, ou seja, responder o formulário por meio da escrita. Assim, a pesquisadora, quando ia a campo entrevistar os alunos com deficiência, usualmente utilizava o formulário de pesquisa apenas como matriz semiestruturada e as questões serviram como orientação para sequência lógica para geração dos dados obtidos junto aos alunos participantes.

O analfabetismo e a falta de escolaridade ainda atingem as pessoas com deficiência. Conforme descrito no referencial teórico da pesquisa e no resultado do último Censo ,“em 2010 havia, ainda, grande parte da população sem instrução e fundamental completo, um total de 61,1% das pessoas com deficiência” (BRASIL. SDH, 2010).

O depoimento de um aluno com Síndrome de Down, participante da pesquisa, demonstra como, mesmo sem estar alfabetizado, conseguiu frequentar curso de aprendizagem industrial na educação profissional na modalidade de habilitação profissional: “Eu sei escrever, mas não sei ler, eu não tenho a sabedoria de ler. O que os

professores passaram para mim, foi para que a gente prestasse atenção. Como eu consigo prestar atenção, eu consigo tirar da lousa com o próprio punho” (A1-D,

Síndrome de Down, arquivo pessoal da pesquisadora da tese, gravação).

Percebe-se a relação do discurso que o aluno acima tece entre a alfabetização e a cópia da lousa, ou seja, apesar de ele expressar que não sabe ler, deixa claro que consegue fazer cópias da lousa. Na visão desse aluno, não saber ler não é uma condição que o

caracterize como analfabeto.

Ao serem perguntados como conseguiram obter informações sobre os cursos do Senai que estavam abertos para pessoas com deficiência, a maioria dos participantes informaram que foi a família que os avisou sobre tal possibilidade (30%); os demais afirmam terem sido avisados pelas organizações não governamentais que participam da formação deles em turno inverso ao da escola do Senai, ou ainda, pelos amigos e pela mídia local. Isso demonstra que a família da PcD tem preocupação com a sua formação e, demonstra estar atenta às possibilidades oferecidas pela sociedade, bem como à sua inserção no mercado de trabalho.

A família ainda responde por grande parte do desenvolvimento e crescimento da PcD. Em especial, aqueles alunos que necessitam de apoio na locomoção. Os que são deficientes mentais ou intelectuais possuem familiares que são designados como curadores. Isso os torna aptos a receberem benefícios financeiros do governo.

Apesar da existência do BPC concedido às pessoas com deficiência pelo Governo Federal, pouco se consegue avançar na aquisição de tecnologias assistivas19, pois, em muitos casos, há necessidade de maiores recursos financeiros para tais aquisições.

Esse recurso financeiro, por meio do BPC, nem sempre é algo que subsidia todas as necessidades das pessoas com deficiência, pois, além de o valor recebido por essas pessoas ser equivalente a um salário mínimo, as despesas que têm quase sempre são superiores ao que recebem, especialmente no que se refere às tecnologias e aos instrumentos adaptados ou adequados e que são necessários para que tenham uma vida o mais independente possível.

Sica Szymansky, doutora em Psicologia, tem se dedicado a estudar as dificuldades de aprendizagem e observa que, em alguns casos, essa dificuldade financeira pode afetar o desenvolvimento da pessoa. A autora se refere à questão econômica e salienta que essa pode ser um entrave para o avanço escolar do aluno. Ela afirma que “A condição socioeconômica também interfere na busca de soluções, pois ao saber que uma criança está com dificuldade de aprendizagem, a família pode buscar auxílio, quando há possibilidades financeiras” (SZYMANSKY, 2012, p. 5). No entanto´, as famílias nem sempre possuem tal recurso para dar prosseguimento ao tratamento necessário ou para aquisição de recursos

19Tecnologias assistivas – termo utilizado para designar produtos, recursos e serviços que tem por

finalidade facilitar a acessibilidade, o desempenho e a participação social das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.

adaptados ou adequados, ou ainda aquisição de tecnologias assistivas.

Ao serem participantes sobre o curso que escolheram para frequentar na escola profissional, nota-se a variedade de opções e de participação dos alunos com deficiência. Isso demonstra que a PcD tem ‘querer’ e ‘poder’ de escolha. Assim, vale lembrar que a PcD pode e deve ter o direito de frequentar cursos profissionais que considere melhor para si própria. O gráfico 5 demonstra a diversidade dos cursos frequentados pelos alunos com deficiência participantes.

Gráfico 5 – Cursos frequentados pelos alunos com deficiência participantes. (%)

11% 43% 7% 7% 21% 11% Informática- TI Auxiliar administrativo Auxiliar de produção Padeiro Logística OUTROS

Fonte: banco de dados da pesquisa.2012.

Quando foram questionados sobre acreditarem ou não no seu potencial, em 100% a resposta foi positiva. Assim, pensar que as pessoas com deficiência se consideram ineficientes não parece ser verdadeiro. Na visão da PcD e, particularmente, de todos os participantes, existe a confiança e a certeza de que se veem com potencial e de que se consideram pessoas aptas para escolher e realizar os cursos de educação profissional.

Após a análise do perfil dos participantes, resumindo o que foi declarado a partir de registros e exposição oral dos alunos, ressalta-se que a maioria são alunos na faixa de 21 a 30 anos de idade e que, aproximadamente, 70% são afrodescendentes. Todos os participantes possuem algum tipo de deficiência, a maioria deles é do tipo designado como DA, mental ou intelectual.

Apesar de os participantes terem se autodeclarado como alfabetizados, muitos não sabiam ler ou escrever, o que fortalece a ideia de que o senso comum nem sempre prega

que a alfabetização está somente na transcrição de signos, pois nem sempre ler e escrever significa estar alfabetizado.

Os participantes chegaram aos cursos do Senai porque foram comunicados pela família ou pela mídia local sobre a possibilidade de participação e seleção desses cursos. Todos os participantes cursaram ou estavam em curso na modalidade de aprendizagem industrial, e a maioria desses alunos esteve ou estava inserido nos cursos relacionados a auxiliar administrativo.

Após a descrição do perfil dos participantes e após o leitor conhecer quem são esses alunos com deficiência que responderam à esta pesquisa, observam-se a seguir as contribuições, os resultados da análise das respostas relacionadas ao bloco que foca no perfil docente.