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Elaboração de um Currículo para a Educação Pré-Escolar

5. Diferentes Conceções de Currículo

5.4. O Currículo na Educação Pré-Escolar

5.4.2. Elaboração de um Currículo para a Educação Pré-Escolar

O conceito de “currículo” ainda é bastante recente para a área profissional de Educação Pré-escolar, assim como o é entre os profissionais desta área, “estando ainda longe de corresponder a uma realidade institucionalizada na maior parte dos jardins de infância” (Rodrigues, 1995, p. 37). No entanto, a

“existência/exigência de currículos devidamente formalizados e adequados nas instituições de educação pré-escolar, pode constituir a expressão de que os organismos responsáveis no campo da educação assumem a responsabilidade e reconhecem o direito das crianças a uma educação de qualidade antes da sua entrada na escola obrigatória (…) fortalecendo-se assim a posição da educação pré-escolar na percepção social e na própria organização do sistema educativo” (Idem, p. 38),

mostrando-se importante para a valorização da educação de crianças mais pequenas. Segundo a Circular N.º 17/DSDC/DEPEB/2007, “o desenvolvimento curricular na Educação Pré-Escolar é da responsabilidade do educador que exerce a actividade educativa/lectiva de 25 horas semanais, em regime de monodocência, devendo a sua acção orientar-se pelo disposto nas Orientações Curriculares para a Educação Pré- Escolar”. Quer isto dizer que o educador é o responsável por elaborar e gerir o currículo

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(PCG) do seu grupo de crianças. Segundo Roldão (1995) citado por Vasconcelos (2000, p. 38)

“a gestão curricular envolve todo o conjunto de processos e procedimentos através dos quais se tomam decisões necessárias quanto aos modos de implementação e organização de um currículo proposto (…) [como, por exemplo] o estabelecimento de objectivos e conteúdos prioritários e respectiva sequência, a definição do nível de desenvolvimento e aprofundamento das diferentes componentes curriculares, a sequência temática a adoptar, as metodologias a privilegiar, os projectos a desenvolver, as modalidades de integração interdisciplinar a desenvolver”.

Deste modo,

“integrado no projecto educativo de jardim de infância ou do agrupamento de estabelecimentos de ensino de que faz parte, o educador vai gerir o currículo de acordo com estes processos tendo como quadro de referência o documento das Orientações Curriculares, articulado e contextualizado de acordo com a realidade em que o educador está inserido, os saberes e necessidades das crianças e suas famílias e a realidade mais ampla que envolve o jardim de infância” (Vasconcelos, 2000, p. 38),

sendo, assim, salientada a importância de considerar o meio envolvente de onde as crianças são provenientes, bem como aquele em que a instituição educativa está inserida.

A NAEYC elaborou um documento em que é descrita a “prática adequada sob o ponto de vista do desenvolvimento nos programas para a 1.ª e 2.ª infância” (NAEYC, 1990, p. 8), de modo a apoiar os educadores na elaboração do currículo para o seu grupo de crianças.

Segundo esta associação, “um currículo apropriado em termos do desenvolvimento é planeado de forma a ser adequado ao nível etário das crianças dentro do grupo e é implementado, tendo em atenção as diferentes necessidades, interesses e graus de desenvolvimento dessas crianças” (Idem). No documento mencionado, estão descritas as linhas orientadoras para a prática adequada. Assim, a NAEYC afirma que:

 De modo a que um currículo seja considerado apropriado em termos de desenvolvimento, deverá enquadrar todas as áreas do desenvolvimento da criança (físico, emocional, social e cognitivo) de forma integrada;  É importante que um currículo seja baseado nas observações e registos

de cada educador, sobre os interesses e evolução de cada criança, relativamente ao seu desenvolvimento: "objectivos e planos realistas para o currículo são baseados na avaliação regular de necessidades, talentos e

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interesses individuais. O currículo é baseado em informação adequada à idade e ao indivíduo” (Idem, p. 10);

 É necessário que a planificação do currículo enfatize a aprendizagem interativa, devendo os educadores preparar o meio envolvente de modo a que as crianças aprendam através da exploração e interação com os materiais, adultos e as outras crianças. “O processo de interacção com materiais e pessoas dá origem à aprendizagem (…) [e] muita da aprendizagem infantil se dá quando as crianças dirigem as suas próprias actividades de jogo” (Idem);

 “A aprendizagem surge à medida que as crianças mexem, manipulam e experimentam objectos e interagem (sic) com pessoas” (Idem), pelo que é importante que tanto as atividades como os materiais sejam concretos, reais e relevantes para a vida das crianças, pois “a participação activa da criança no jogo auto dirigido com experiências concretas, ligadas à vida real, (…) [é] chave para uma aprendizagem motivada e com significado na pré-primária” (Idem);

 O currículo deve proporcionar uma maior amplitude de interesses e habilidades do que aquela que poderá surgir da faixa etária do grupo, podendo justificar-se a necessidade de uma maior variabilidade de mobiliário, materiais e estratégias de ensino, de modo a que todas as crianças sejam desafiadas a ir mais longe, sem perderem o interesse pelo facto de haver exigência ou facilidade em demasia;

 Os educadores devem oferecer uma maior variedade de atividades e materiais, aumentando progressivamente a dificuldade, complexidade e desafio de determinada atividade à medida que as crianças se envolvem nela e desenvolvem a sua compreensão e as suas competências. Assim, é importante que o educador observe as crianças enquanto trabalham com materiais ou estão envolvidas em atividades, de modo a lhes facilitar o envolvimento e a aprendizagem, fazendo perguntas, sugestões ou acrescentando materiais e ideias mais complexas;

 Os educadores devem proporcionar oportunidades de escolha entre várias atividades, materiais e equipamentos às crianças, garantindo-lhes também tempo para que explorem ativamente cada um. Além disso,

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devem facilitar o empenho das crianças e aumentar as suas aprendizagens, fazendo-lhes perguntas ou dando-lhes sugestões que estimulem o pensamento;

 Os educadores devem proporcionar às crianças experiências, materiais e equipamentos multiculturais, o que facilita a adequação individual do currículo. As experiencias multiculturais deverão ir além da celebração dos dias festivos de cada cultura, incluindo alimentos, música e contacto com as famílias, habitações e outros aspetos que possam suscitar interesse;

 É necessário que os educadores mantenham um equilíbrio, alternando entre atividades mais calmas e outras mais ativas ao longo do dia. Além disso, é necessário ter em conta que as crianças não devem ser apressadas e os horários e previsões devem ser flexíveis de modo a poder tirar partido de situações improvisadas ou inesperadas;

 Os educadores devem também tirar partido de experiências e atividades ao ar livre, de modo a que as crianças exercitem a grande musculatura, aprendam sobre o meio e experimentem a liberdade. Também o tempo no exterior faz parte de um currículo adequado e necessita de ser planificado.

Spodek e Saracho (1998, p. 99) consideram estas diretrizes importantes uma vez que nelas está contida “a sensibilidade às formas de aprendizagem das crianças pequenas”. Assim, o educador deve basear-se nas formas primárias de aprendizagem das crianças quando escolhem as atividades, as quais são a linguagem e o jogo. No entanto, os mesmos autores também mencionam um aspeto negativo sobre estas diretrizes, uma vez que obscurecem a resposta à pergunta: “o que ensina o professor da primeira infância e com que qualidade?”. Para eles, “enriquecermos o conhecimento da criança pode ser tão importante quanto estimularmos o seu desenvolvimento” (Idem, pp. 99-100).

Tal como Spodek e Saracho (1998), também a sociedade tem tido expectativas crescentes em relação à função formativa da educação pré-escolar, ou seja, espera-se que o conhecimento das crianças seja enriquecido, assim como as competências desenvolvidas. Deste modo, é necessário sistematizar a prática pedagógica em educação pré-escolar, o que “conduz à necessidade da construção curricular, como estrutura

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aberta que possa ajudar o educador na planificação do seu trabalho, promovendo a qualidade educativa na intervenção e dando respostas às expectativas da sociedade” (Rodrigues, 1995, p. 38). Uma vez que a elaboração de um currículo é considerada a “expressão e concretização de um Plano Cultural assumido pela Escola” (Vilar, 1994, p. 18), é, também, importante que os educadores tenham conhecimento do sentido da cultura em que estão inseridos assim como dominem os «conhecimentos» que deverão ser abordados pelos alunos (ou crianças) de qualquer nível de educação ou ensino. Isto porque “as componentes do currículo são de natureza política e sócio-cultural” (Idem). Como já foi referido, as áreas de conteúdo que devem ser abordadas na educação pré- escolar encontram-se explícitas nas OCEPE.

5.4.3. Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar: reflexão sobre o