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4.1 ANÁLISE DOS DADOS

4.1.1 HOTEL INDEPENDENTE (HI)

4.1.1.2 Elementos Culturais

Como um dos objetivos deste estudo era identificar elementos da cultura organizacional presentes no relato das gestoras, e conforme a opção pela grade mista, algumas categorias foram previamente definidas e outras surgiram no processo de análise. Desta forma, nesta seção estão apresentados os elementos culturais identificados, tentando-se responder ao objetivo a seguir:

Identificar elementos da cultura organizacional perceptíveis no processo de inserção de pessoas com deficiência em hotéis da rede hoteleira de Belém– PA Os seguintes códigos foram estabelecidos para esta unidade de análise: para gestora GHI (Gestora Hotel Independente), para os funcionários F1HI (Funcionário 1 do Hotel Independente), mudando apenas o número determinado para cada funcionário).

a. Valores

Valores foram observados em dois trechos da entrevista da gestora GHI, foi observado que estes valores apareceram no início e no final da entrevista, onde houve uma ênfase na não discriminação das pessoas negras:

“...acho que a empresa tem cumprido a meta dela não discriminando nem as pessoas que são negras, nada. Tanto que temos brancos, temos negros e outros.” (GHI)

Em outro trecho um valor que apareceu de forma não tão explícita foi o cuidado em onde alocar (setor) as pessoas com deficiência, já que nos relatos da entrevistada existem setores dentro do hotel onde os funcionários com deficiência poderiam sofrer um acidente facilmente:

“e alguns outros setores, como por exemplo no restaurante também não, a gente evita colocar na copa e na cozinha por material cortante, lavanderia porque tem máquinas.” (GHI)

b. Mitos

Em alguns trechos da entrevista da gestora, foi possível identificar um mito criado para justificar a ausência de PcDs. Neste mito as PcDs não podem trabalhar em vários setores da empresa, por entender que aquela deficiência as impossibilita de exercer tais atividades, como pode verificar neste trecho da entrevista:

“A gente evita esses setores por causa disso, mas a gente consegue encaixar eles em outro local” (GHI)

Por este motivo, entendeu-se que as PcDs acabam isoladas em dois setores: Manutenção e Serviços Gerais.

c. Crenças

Foi identificada a crença de que a deficiência que a pessoa tem a impossibilita de ter acesso a outros cargos, que não àqueles que eles ocupam. Esta crença está ancorada na justificativa de que esta seria uma decisão protetora:

“... então têm lugares que a gente que... assim... que não vá nos causar nenhum problema também, nem pra gente nem pra eles.”

Esta crença está ancorada nos valores apregoados pela gestora e também no mito criado em torno da proteção ao funcionário com deficiência no sentido de evitar acidentes.

Outra crença identificada foi a de que é melhor, para os hóspedes, que o hotel contrate pessoas de aparência “normal”, com deficiências mais leves e que sejam pouco visíveis:

“... então a gente tenta sim ver, por exemplo um surdo mudo, uma deficiência que seja não muito visível (falou apontando para perna, fazendo sinal como que desse pra esconder, e depois para as mãos), a gente tenta ver isso, tenta fazer isso. têm lugares que a gente que... assim... que não vá nos causar nenhum problema também, nem pra gente nem pra eles.”

Atrelada à crença citada acima, vem a crença de que o hóspede está ali para ver coisas belas. Não só na estrutura física do hotel, mas também nos seus funcionários:

“O hóspede chega ele quer ser bem recepcionado, quer ver uma recepcionista bonita. Assim, né, uma boa noite bem dada aquelas coisas todas que com deficiente fica mais complicado.”

d. Pressupostos

Apesar de, segundo a literatura, serem difíceis de identificar, foi possível ter contato com pelo menos dois pressupostos. O primeiro originado no recrutamento das pessoas com deficiência, que teve esta prática quase que delegada à Casa do trabalhador39, que é um dos órgãos onde as pessoas com deficiência fazem cadastro de emprego.

O segundo pressuposto adveio do fato de todas as contratações terem como prática de seleção apenas as entrevistas com os gerentes, o que para o hotel é suficiente para escolher um candidato. Após as entrevistas, este passa direto para o período de experiência:

P40 - No caso esta seleção, tem algum tipo de prova, teste? GHI – Não, não.

P - É só a entrevista mesmo?

GHI - Só entrevista. Só a experiência que a gente dá 45 dias e depois mais 45 dias, é “essa” o teste pra gente saber.

e) Normas

No relato da gestora, ela deixou claro que não existem normas específicas para os funcionários com deficiência, mas que estas são para todos:

“Não, não. É igual. A única diferençazinha é que todos têm um aparelhinho que se comunicam e a deficiente não tem por não conseguir ouvir (se referindo a funcionária da faxina que tem deficiência auditiva)” (GHI)

Outras normas foram identificadas na observação feita do ambiente e que já foram relatadas na caracterização deste hotel.

39 Casa do trabalhador é como as gestoras e profissionais com deficiência chamam o SINE. 40 Pesquisadora

f) Tabus

Um assunto considerado tabu e que foi citado duas vezes pela entrevistada, é a questão da discriminação principalmente em relação às pessoas negras, assunto que nem estava sendo mencionado no momento. A gestora falou:

“... foi determinado que nós tivéssemos, por exemplo, oito aprendizes, três deficientes e... também havia... também discriminação de pessoas de pele escura nós não temos isso aqui, aqui... Nos disseram que tem empresas que não tem essas pessoas.”

g) Ritual

De acordo com a gestora, quando uma pessoa é contratada tem que passar por todos os trâmites de uma contratação, como se fosse um ritual. Após a assinatura do contrato, o novo funcionário recebe um manual com todas as normas da empresa que deve sempre trazer consigo.

h) Histórias

Este elemento foi o fator surpresa desta pesquisa e surgiu quando a GHI foi questionada sobre a aparência física como pré-requisito para contratação. Então ela respondeu que preferia pessoas com deficiências leves e relembrou um fato acontecido no passado:

“[...] estava fazendo uma seleção quando apareceu uma moça com uma deficiência horrível, que até me assustei. Ela tinha um olho em cima e outro em baixo, um próximo a sobrancelha e o outro na bochecha. Ora se eu me assustei imagina os hóspedes, como ficariam?”