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Em um campo de estudo social sobre parto: construindo

1 O CENÁRIO NACIONAL DE ATENÇÃO AO PARTO:

1.2 Em um campo de estudo social sobre parto: construindo

Nas Ciências Sociais e, mais especificamente, na Antropologia, o parto foi recuperado em textos clássicos como A eficácia simbólica de Claude Lévi-Strauss (2012) e As técnicas do corpo de Marcel Mauss (2003a), onde pode-se ver ressaltado o caráter eminentemente cultural de um evento fisiológico. Como fontes para a consolidação da Antropologia do Parto, destacam-se as obras de Brigitte Jordan (1993) e de Robbie Davis-Floyd (2003), intituladas Birth in four cultures: A

cross-cultural investigation in Yucatán, Holland, Sweden and the United States e Birth as an american rite of passage, respectivamente. Estes trabalhos refletem

sobre o caráter ritual da assistência ao parto, variável de acordo com as sociedades e, portanto, sobressaindo-se como um constructo social pautado em diferentes conhecimentos autoritativos. Já a noção de humanização dos cuidados em saúde nesta área de estudos foi apadrinhada por Jan Howard que junto com Anselm Strauss (1975) publicou Humanization health care e junto com Fred Davis, Clyde Pope e Sheryl Ruzek (1977) publicou Humanizing health care: the implications of

technology, centralization, and self-care tematizando conceitos, causas e

consequências da desumanização, bem como alternativas para este tipo de assistência.

No Brasil, o interesse acadêmico sobre o tema da humanização do parto e do nascimento foi se edificando de forma simultânea à expansão e solidificação do movimento. Se, como localiza Tornquist (2002), o movimento social pela humanização do parto e do nascimento no Brasil teve início no final da década de 1980, é a partir dos anos 1990 que as produções acadêmicas no campo das Ciências Sociais e Humanas sobre o tema começaram, timidamente, a surgir. Merece destaque, como uma das primeiras, a dissertação intitulada Subsídios para

a avaliação da qualidade do processo de assistência ao parto, de Daphne Rattner,

datada de 1991, num mestrado em Epidemiologia. Antes disso, e ainda hoje, as principais publicações acadêmicas que circulam entre as Ciências Humanas e da Saúde têm um enfoque mais psicológico e tematizam, principalmente, a depressão pós-parto e a psicose puerperal.

Em um levantamento bibliográfico de artigos indexados no Scielo, pode-se facilmente notar que as áreas que publicam sobre parto (de seres humanos), por

ordem de quantidade, são: Enfermagem, Medicina, Saúde Pública e Saúde Coletiva, Psiquiatria, Psicologia, Nutrição, Fisioterapia, Ciências Sociais (abrangendo Sociologia, Antropologia e Ciências Políticas) e História, sendo que, estas duas últimas disciplinas contemplam menos de três por cento das publicações. Em buscas nos bancos de teses e dissertações nacionais, esses números não mudam muito.

Num apanhado da literatura nacional, é possível detectar alguns dos elementos que foram, até o momento, priorizados na abordagem ao tema. São eles: • Os profissionais envolvidos no acompanhamento ao parto, com destaque

para o trabalho da parteira;

• As instituições de assistência ao parto, em especial, as análises sobre maternidades;

• A humanização em suas diversas vertentes e expressões;

• Apanhados históricos sobre a visão e o acompanhamento ao parto no Brasil e em outros países; e,

• Análises sobre as repercussões da presença do pai do bebê ou outro acompanhante no momento do parto.

Com exceção das propostas mais voltadas para a área da saúde – onde elas mais abundam – ou de cunho psicológico, nas quais, algumas vezes, pode-se notar a tentativa de transversalizar a discussão e trazer, por exemplo, questões culturais para a análise dos pontos tratados nos trabalhos, as primeiras produções especificamente da área de Ciências Sociais trouxeram reflexões mais voltadas para a atuação de parteiras tradicionais. Estas, frequentemente moradoras de sítios afastados de centros urbanos ou, simplesmente, da região Sudeste, se tornaram importantes interlocutoras para pesquisas que trazem considerações ligadas às práticas destas mulheres e à cultura local, evidenciando outras alternativas de atenção ao parto e de construção de saberes sobre o evento diferentes do padrão hegemônico.11

A despeito de terem sido defendidas na área de saúde, a dissertação e a tese de Simone Diniz, de 1997 e 2001, respectivamente, possuem um contundente apelo                                                                                                                

11 Sobre este tema, a tese de Soraya Fleischer é exemplar: FLEISCHER, Soraya Resende. Parteiras, buchudas e aperreios: uma etnografia do atendimento obstétrico não oficial na cidade de Melgaço, Pará. Tese. Doutorado em Antropologia Social. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.

sócio-antropológico e são referências fundamentais para a abordagem ao tema, inclusive nas Ciências Sociais, na medida em que analisam a assistência rotineiramente dada ao parto em nosso país, problematizando, com um viés de gênero, as posições ocupadas por parturientes e médicos. Refletindo sobre a manutenção da dominação e controle sobre os corpos das mulheres e o uso da técnica como estratégia de poder, estes trabalhos põem em xeque o paradigma de assistência ao parto em nossa sociedade, qualificado como tecnocrático e medicalizado.

Foi então, a partir do campo da saúde, especialmente da saúde pública, que surgiram os primeiros trabalhos acadêmicos abordando com enfoque sociológico ou antropológico o tema, numa tentativa de criticar o modelo de atenção ao parto vigente em nosso país12. Já no âmbito das Ciências Sociais, esta abordagem foi um pouco mais tardia, e nela destacam-se a tese de Carmen Suzana Tornquist, de 2004, e, mais recentemente, a de Rosamaria Giatti Carneiro, de 2011. Esta última traz a novidade de adotar as mulheres em busca de “outros modos de parir na contemporaneidade” (termo usado pela autora) como principais interlocutoras.

Esta é uma tendência recente nas pesquisas sobre o tema, onde o presente estudo também pode ser situado. Ao se propor abordar a experiência de parto de mulheres que participaram de grupos de discussão pela humanização do parto e do nascimento, esta pesquisa pode ser localizada na interface entre diferentes áreas de estudo que englobam as temáticas de saúde, feminismo, gênero, direitos reprodutivos, dentre outras. Entretanto, os direcionamentos e enfoques adotados durante a sua confecção fazem com que ela se configure como uma tese pertencente ao campo dos estudos de parto ou Antropologia do Parto. A Antropologia da Saúde, os Estudos de Gênero e as Epistemologias Feministas são áreas que se constituem como transversais e dão o tom das discussões empreendidas neste trabalho.

Feito este preâmbulo recuperando alguns dos acontecimentos mais recentes e importantes para o movimento de humanização do parto e do nascimento e situando o cenário de produções acadêmicas sobre o tema, gostaria agora de localizar as participantes da presente pesquisa como sendo as mulheres que                                                                                                                

12 Neste interim, vale mencionar também a dissertação de Sonia Hotimski: Parto e nascimento no ambulatório e na casa de partos da Associação comunitária Monte Azul: uma abordagem antropológica. Dissertação. Mestrado em Saúde Pública. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.

buscam fugir da abordagem hegemônica oferecida à gravidez e ao parto. São mulheres que, ao tomarem pé do cenário obstétrico brasileiro, da maneira como gestações e partos têm sido conduzidos em nosso país, percebem que querem viver estas experiências de outra forma. São as mulheres, segundo Carneiro (2011), adeptas do parir diferentemente ou que optam por outros modos de parir.

Este recorte de pesquisa se justifica a partir da afirmação corrente entre as mulheres que participaram de grupos de discussão pela humanização do parto e do nascimento de que o parto é um evento transformador. E aqui é importante enfatizar uma distinção: essas mulheres se referem ao parto e não à maternidade, que já aparece como obviamente transformadora se levarmos em conta o valor atribuído a ela em nossa sociedade. Para essas mulheres, o parto assume contornos de experiência única e transformadora, pela qual desejam passar.

Sendo assim, considero importante pensar nas expectativas dessas mulheres em relação ao parto, a maneira como o parto efetivamente ocorreu e a repercussão destes elementos sobre aquilo que elas chamam de transformação. Em busca de apoio para alcançar o parto desejado, essas mulheres costumam assumir uma atitude de busca ativa por informações – para além da consulta obstétrica – em relação à gravidez, ao parto, à amamentação e outros assuntos e encontram nos grupos de discussão pela humanização do parto e do nascimento uma importante alternativa para esse acesso. Esses grupos são fontes de informações que questionam o modelo instituído de acompanhamento à gravidez e ao parto e podem possuir características diferentes a depender da condução assumida.

Em 2010, quando esta pesquisa foi iniciada, existiam em Recife/PE quatro grupos presenciais de apoio a gestantes e casais grávidos. Dois deles, como já mencionado no item anterior desta tese (a Carta à/ao leitor/a), eram guiados por pessoas que atendiam partos domiciliares com um viés dos conhecimentos de parteiras tradicionais e os outros dois eram coordenados por mulheres comuns, mães, algumas delas doulas, que além de levarem em consideração a sabedoria das parteiras tradicionais, tinham um direcionamento mais pautado pelas recomendações da OMS e pela MBE. Antes disso e até o momento, em 2015, outros acontecimentos importantes merecem ser lembrados para que fiquem mais claras as particularidades que envolvem este tema em Recife, já considerada por algumas/ns o “oásis da humanização do parto”, por ter uma forte representatividade

no movimento e possuir grupos que promovem ações e reflexões neste âmbito já há algum tempo e com repercussões nacionais.

A primeira iniciativa que merece destaque foi a fundação, em 1989, da Organização Não Governamental (ONG) Curumim. Trata-se de um grupo feminista que tem como foco os direitos sexuais e reprodutivos, os direitos humanos, a igualdade racial e a justiça social, desenvolvendo projetos voltados para a educação popular em saúde e sexualidade e o aprimoramento da atenção à saúde materna para um público que atualmente envolve outras pessoas, mas que já foi prioritariamente formado por parteiras. Sendo assim, a entidade, além de programas visando a humanização da atenção integral à saúde da mulher, com foco na assistência obstétrica e no atendimento ao aborto legal, possui uma proposta de valorização do trabalho das parteiras tradicionais que incide sobre as políticas públicas de saúde para a inclusão dessas parteiras na atenção ao parto domiciliar como parte desta atenção integral. Mais de duas mil parteiras tradicionais de todas as regiões do país já foram contempladas por trabalhos desenvolvidos pela entidade, que se mantém ativa na busca por maior dignidade para a vida das mulheres, em especial, no campo da saúde reprodutiva.

Em 1991, houve a inauguração da então ONG Cais do Parto (Centro Ativo de Integração do Ser), com sede em Olinda/PE (região metropolitana do Recife) com o intuito de servir como entidade de apoio a grupos de parteiras, promovendo o que denominam de resgate de culturas e tradições do parto e nascimento no Brasil, bem como para a luta pelo reconhecimento da profissão. Pautado nos direitos humanos, direitos sexuais, direitos reprodutivos, questões de gênero, dentre outras, o Cais do Parto participou do movimento de mulheres de Pernambuco, da Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos, do Fórum de Mulheres de Pernambuco, bem como da fundação da REHUNA, dentre outros eventos voltados para a saúde da mulher. Nela surgiu o primeiro grupo de apoio a gestantes e casais grávidos da região, atuante ainda hoje, presidido por pessoas que acompanham partos domiciliares.

Atualmente, o Cais do Parto oferece também cursos de formação de doulas e parteiras na tradição. O termo na tradição foi criado como forma de distinguir as pessoas, geralmente mulheres, que são treinadas durante esta formação para o acompanhamento à gravidez e ao parto, com inspiração nos conhecimentos tradicionais/populares, das parteiras tradicionais. As parteiras tradicionais são

compreendidas como mulheres que aprendem seu ofício no dia a dia, convivendo com outras parteiras desde mais novas, quando começam a ser introduzidas nos conhecimentos sobre as beberagens, massagens e outros elementos que contribuem para o cuidado da saúde da mulher e da criança. As parteiras tradicionais têm um conhecimento empírico, formado pela experiência que adquirem no cotidiano, observando as mulheres mais velhas ou simplesmente sendo chamadas para acudir quando há necessidade. São comumente pessoas reconhecidas nos lugares onde vivem e podem se tornar líderes comunitárias. Já as parteiras na tradição são as pessoas que fazem este curso de formação oferecido pelo Cais do Parto, com inspiração nos conhecimentos das parteiras tradicionais, sem que haja exigência de qualquer outro pré-requisito.

Em Jaboatão do Guararapes (região metropolitana do Recife/PE) reside Dona Prazeres, parteira com bastante prestígio na região, com mais de 50 anos de profissão. Ela começou a atender partos com aproximadamente 17 anos, seguindo a tradição da mãe e da avó, e na década de 1960, formou-se em Enfermagem. Então, Dona Prazeres circula tanto entre os conhecimentos tradicionais quanto entre os da Biomedicina na atenção ao parto, ocupando um importante lugar político no diálogo para a valorização do trabalho das parteiras, sendo, inclusive, a primeira presidenta da Associação das Parteiras Tradicionais e Hospitalares de Jaboatão dos Guararapes, quando pôde auxiliar na elaboração de um inventário das práticas tradicionais de obstetrícia e requerer seu reconhecimento oficial.

Além das iniciativas não governamentais em Recife/PE e região metropolitana citadas acima, o Instituto de Medina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP) sobressai na cidade e no cenário nacional como referência para a atenção humanizada ao parto. Em 2003, foi criado no IMIP o Espaço Aconchego com o intuito de oferecer uma assistência humanizada a todas as etapas do processo de parto em um mesmo ambiente, com equipe multidisciplinar e com uma estrutura física e profissional que se propõe favorecer o uso de métodos não farmacológicos para o alívio da dor, a livre movimentação das parturientes, a presença de um acompanhante de escolha da mulher, o acompanhamento feito prioritariamente por enfermeiras/os obstetras, dentre outros elementos previstos em uma atenção humanizada ao parto. O Espaço Aconchego se configura hoje como uma importante alternativa para as mulheres que desejam ter um parto humanizado hospitalar.

É também mais ou menos neste período que começaram a se destacar na cidade duas obstetras que estavam oferecendo outro tipo de atenção à gravidez e ao parto. A partir de frustrações pessoais e/ou profissionais, estas médicas começaram a questionar e se distanciar cada vez mais do modelo de atenção vigente e a buscar especialmente na MBE um novo paradigma para guiar suas práticas. Leila e Melania logo passaram a ser procuradas por quem desejava um parto normal e reconhecia a quase impossibilidade disso com outros profissionais. Elas começaram a introduzir na cidade um acompanhamento diferencial, que se propunha a rever limites estabelecidos pela atenção habitual e, principalmente, respeitar os desejos das parturientes dentro daquilo que a MBE prevê como seguro. Assim, foi uma equipe médica que começou a atender partos domiciliares, partos na água, partos vaginais após cesáreas (VBAC) dentre outras situações consideradas como inviabilizadoras de um parto normal. Segue abaixo um trecho de uma conversa em que Leila me conta este processo:

...foi uma fase assim que do ponto de vista profissional, já foi diferente, porque, pela minha frustração com o resultado da primeira gestação que terminou numa cesárea, né. Eu fiquei felicíssima com a minha filha, mas eu fiquei frustradíssima assim, foi uma coisa que me deixou arrasada, eu fiquei em depressão mesmo, e aí já desde essa época, até terminar minha residência, logo depois eu comecei consultório, eu comecei a entrar pelo mundo da humanização, procurando alternativas, mas, nesse momento eu não fui como médica ainda, eu fui como mulher, porque eu me senti tão frustrada que eu precisa encontrar uma explicação de porque tudo tinha dado tão errado. E aí, isso foi bom pra mim, porque nessa época eu comecei a fazer consultório nesse meio tempo e é... eu... essa experiência negativa pra mim em relação à cesariana, os abortos e essa busca por humanização foi me tornando uma profissional diferente, então, eu comecei a trabalhar já de uma forma diferente. Aí, quando eu tive Maria, já foi diferente também, porque eu tava, quando ela foi nascer, já tava terminando o mestrado, mas eu tava mais estável, eu não tava tão estressada como eu tava da primeira vez, eu já tava mais madura, mas eu acabei em outra cesárea, aí isso também me frustrou assim profundamente. E aí foi que realmente eu mergulhei de vez nisso e fui buscar uma forma diferente. Ao mesmo tempo, Melania né, vinha trabalhando também com essa coisa de busca né, de alternativas de assistência ao parto. Na verdade, ela foi mais atrás das evidências científicas, e aí, paralelamente, a gente foi crescendo. Eu passando muito pela minha frustração, ela também tinha as frustrações dela, e ao mesmo tempo a gente foi também entrando nas evidências científicas e aí, isso foi modificando totalmente a prática da gente no consultório e como a gente via as coisas.

...quando a gente já tava nesse processo de mudança né, eu e Melania a gente já tava atuando de forma diferenciada é... a gente foi atrás, na internet, né, de textos, de livros, de evidências científicas e de coisa, então, a gente já tava estudando isso tudo, a gente já tava mudando o que a gente já tava fazendo no consultório, a gente já tava atendendo de uma forma diferente. Aí, no meio disso tudo, a gente conheceu o Cais do Parto, e aí, a gente foi pra lá, assim, pra ver o que que rolava, foi quando a gente

começou a pensar em domiciliar, né, e que era uma coisa, e é... foi na verdade, uma forma também da gente conhecer mais gente porque na verdade a gente era muito solitárias, tá entendendo? A gente tava naquilo dali, mas a gente era totalmente diferente de todas as pessoas que cercavam a gente, dos nossos semelhantes né. Tanto que quando a gente começou a mudar essas práticas era um negócio bem estranho assim, a gente chegava nos hospitais, eu, Melania, Isabela, a gente era ridicularizada, a gente... era muito preconceito, porque a gente começou a mudar essas coisas e a gente era quase que como assim, três andorinhas, entendeu? Sozinhas, e sendo ridicularizada, hostilizada por todo meio. E eu acho que na verdade, pelo menos assim, a gente foi nas primeiras vezes nesses encontros até pra poder conhecer outras pessoas que pensassem

como a gente né.13

Hoje em dia estas profissionais encontram-se vinculadas a instituições de ensino e maternidades públicas, exercendo um papel fundamental na formação de outros profissionais dentro do paradigma da humanização. Neste meio tempo, entre 2005 e 2010, outros três grupos de apoio à gestação e ao parto foram criados: o Boa Hora, o Ishtar e o Gestar.

O grupo Boa Hora tem como objetivo a promoção de uma gestação saudável, a partir de discussões sobre a humanização do parto e do nascimento. Ele valoriza o conhecimento das parteiras tradicionais, com vistas a promover a equidade de gênero e a maternidade e paternidade responsáveis e se caracteriza como um grupo de educação perinatal que tem o intuito de contribuir para que as famílias façam escolhas informadas sobre a fisiologia do parto, as intervenções, as evidências científicas e o cenário obstétrico do Recife/PE e região metropolitana. O grupo Ishtar busca informar gestantes e familiares sobre a gestação, o parto e os cuidados com o bebê, dentre outras questões, com base nas evidências científicas. Nele, gravidez e parto são compreendidos como processos fisiológicos, nos quais as escolhas das mulheres devem ser respeitadas para que seu protagonismo seja incentivado. Estes dois grupos continuam em funcionamento, são gratuitos e não possuem vínculos com profissionais que assistem partos. Já o Gestar foi um grupo fundado e coordenado por uma pessoa que atende partos com o viés dos conhecimentos tradicionais. Ele tinha como proposta dialogar sobre gravidez e parto, sendo um espaço de troca de experiências, onde dúvidas, ansiedades e medos eram abordados. Nos encontros deste grupo também era realizado o acompanhamento

                                                                                                               

13 Como modo de distinguir trechos de informações construídas durante a pesquisa de campo das citações integrais de minhas referências bibliográficas, optei por destacar as primeiras em itálico durante todo este trabalho.

das barrigas, exercícios e relaxamentos. Atualmente, este grupo está com as atividades suspensas.

Em 2011, Tati chegou em Recife/PE e o cenário obstétrico recifense, que estava relativamente amornado, foi aquecido, ela trouxe uma revolução para a

atenção ao parto (notas de campo, 2011). Trata-se de uma enfermeira obstetra que

atua acompanhando partos em casa, oferecendo cuidados embasados nas evidências científicas. No ano de 2012, ocorreu a primeira edição da Capacitação