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2.4. Algumas considerações sobre o termo empresa no direito brasileiro

2.4.3 Empresa

O termo empresa precisa ser examinado neste trabalho, na medida em que podem surgir dúvidas importantes na aplicação do direito, ocasionando a confusão entre a responsabilidade de pessoa física e jurídica, a exemplo do que dispunha o artigo 13 da Lei 8.620/93, que previa a responsabilidade pessoal e solidária dos sócios de empresa limitada,

com relação aos débitos para com a Seguridade Social, julgado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, sob o regime de repercussão geral91.

No artigo 966 do Código Civil, encontra-se assim disposto:

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.

Parece-nos apropriado, a partir da leitura do artigo de lei, inferir conceito de empresa. Rubens Requião92, em lições sobre o tema, afirma tratar-se de um organismo

econômico, isto é, "se assenta em uma organização fundada em princípios técnicos e leis econômicas". Representaria a expressão da atividade do empresário visando geração de riquezas e lucro. As empresas, por exigência legal, possuem finalidades descritas em seu contrato social, razão de ser da constituição do organismo93.

A finalidade da empresa merece ser ressaltada, uma vez que o interesse comum na realização da hipótese de incidência pode ser aferido pela desconsideração da personalidade jurídica requerida pelo Fisco e deferida por um juiz, nos termos do art. 50 do Código Civil, em razão de abuso da personalidade, caracterizada pelo desvio de fins e confusão patrimonial.

A atividade de empresa poderá ser desempenhada por pessoa jurídica ou pessoa física, desde que esta não pratique profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa, de acordo com o parágrafo único do art. 966 do Código Civil. Dito de outro modo, a atividade da pessoa física para ser considerada empresarial deve ser pautada em uma organização que não dependa

91 RE 562276, Relatora: Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgado em 03/11/2010, Repercussão Geral- DJe- 027 de 09-02-2011. Vejamos trecho da Ementa: "O art. 13 da Lei 8.620/93 também se reveste de inconstitucionalidade material, porquanto não é dado ao legislador estabelecer confusão entre os patrimônios das pessoas física e jurídica, o que, além de impor desconsideração ex lege e objetiva da personalidade jurídica, descaracterizando as sociedades limitadas, implica ir razoabilidade e inibe a iniciativa privada, afrontando os arts. 5º, XIII, e 170, parágrafo único, da Constituição. 8. Reconhecida a inconstitucionalidade do art. 13 da Lei 8.620/93 na parte em que determinou que os sócios das empresas por cotas de responsabilidade limitada responderiam solidariamente, com seus bens pessoais, pelos débitos junto à Seguridade Social."

92 Curso de Direito Comercial. v. 1, 20. ed. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 48-49. 93 "Art. 46. O registro declarará:

exclusivamente de seu nome, mas de outros elementos que denotam organização necessária para a produção de seu serviço.

Imaginemos um jurista que desenvolve atividade acadêmica de renome e comprovadamente influencia, por seus argumentos, a jurisprudência. Em virtude de sua especialidade, investe adquirindo imóvel imponente em bairro luxuoso, no qual abrigará um escritório de advocacia que pretende atuar junto a grandes empresas proferindo pareceres e representando seus clientes em processos judiciais e administrativos, mediante o pagamento de honorários compatíveis. Equipa-o com móveis suntuosos, biblioteca com vários clássicos ladeados por publicações próprias e auditório, símbolos de seu sucesso advindo da mestria no lidar com o saber jurídico, implanta potente sistema informatizado de controle processual e contrata auxiliares qualificados.

O jurista imaginado em nosso exemplo não constitui pessoa jurídica. Contudo, o exercício da profissão pelo fictício advogado e doutrinador constituem elemento de empresa, como se fosse sua marca, seu diferencial no mercado, que abre portas para os negócios. Mas, para que o serviço seja prestado, todos os outros elementos de empresa entram em ação. Em decorrência, sua atividade é empresarial e preenche os requisitos de empresário do art. 966 do Código Civil.

Portanto, em nosso ver, tão somente as empresas podem ser integrantes de grupos econômicos e responder solidariamente pela dívida decorrente no interesse comum em determinado fato imponível. Isso não implica na conclusão que pessoas físicas que atuem informalmente como empresa não possam ser incluídas nessa classe, mas o serão pela atividade, e não pelo fato de terem sido sócias ou administradoras de sociedades devedoras de tributo. A responsabilidade, nesse caso, será de terceiros (art. 135, III, CTN), e não de grupo econômico.

Por fim, as pessoas jurídicas sem fins lucrativos não preenchem o conceito ou noção de empresa porque sua prática não é econômica no sentido de não almejar o lucro. Mas, em caso de abuso de personalidade, podem integrá-lo, inclusive com a perda de eventual imunidade ou isenção.

3 SUJEIÇÃO PASSIVA TRIBUTÁRIA

Após as reflexões feitas no capítulo anterior, no qual definimos os contornos da figura denominada grupo econômico para fins de responsabilidade tributária, passamos a tratar da sujeição passiva e suas espécies. A importância desse tema para o trabalho que realizamos é o seguinte:

(i) localizar a sujeição passiva na norma jurídica que institui o tributo;

(ii) estabelecer a diferença entre a norma que institui o tributo e a norma da responsabilidade;

(iii) identificar a posição ocupada pelos grupos econômicos, baseados em nossa definição já exposta.

3.1 Regra-matriz de incidência tributária: a estrutura mínima da norma jurídica que