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2. CULTURA

2.6 Enculturação e Aculturação

2.6.1 Enculturação

Por meio das crenças e valores de uma comunidade, o indivíduo aprende sobre uma determinada cultura e a compartilha com os demais indivíduos pertencentes àquela, o que os distingue dos demais grupos e os associa como um grupo relativamente homogêneo. Esse é o processo de enculturação pelo qual todas as pessoas passam, seja de maneira formal ou informal, e que se inicia desde os primeiros anos de vida. Assim, a cultura de um país ou de um local específico contribui para a formação de costumes e hábitos de comportamento, incluindo o consumo de bens e serviços.

As classes sociais possuem um importante papel tanto na integração dos indivíduos quanto na transmissão da cultura. Assim, classes muito distintas podem possuir culturas também não idênticas. Apesar de algumas semelhanças superficiais, produzidas pela imprensa de massa e pela produção em série de produtos, há freqüentemente diferenças importantes em atitudes e valores.

Toda classe tende a criar sua própria série de padrões culturais, partilhados e transmitidos, e a estabelecer certas obrigações especiais entre seus membros. Tende também a obter prioridades para seus membros e a tornar parte de sua cultura distintiva certas atividades necessárias à sobrevivência da configuração maior (LINTON, 1945, p. 68).

Assim, as sociedades, por meio das classes, transmitem uma herança aos indivíduos que dela participam, de geração a geração, e de maneira regular e relativamente constante. Esse compartilhar inclui os costumes e as soluções habituais para os problemas recorrentes da vida, os quais têm sido resolvidos gradualmente durante o desenvolvimento histórico da sociedade.

Uma herança social viável provê aos membros da sociedade respostas prontas para as questões mais comuns e que são geralmente levantadas pelos indivíduos a respeito de sua identidade coletiva, sobre quem são como membros de um grupo humano particular, e sobre seus relacionamentos com outros membros não pertencentes a seu grupo (USEEM, 1971, p. 5).

Linton (1945) oferece uma reflexão muito interessante sobre o processo automático e inconsciente de enculturação de um indivíduo. Ele cita um exemplo emblemático de que a última coisa que um morador das profundezas oceânicas descobriria seria provavelmente a água. Esse ser aquático se tornaria cônscio da existência da água somente se algo ou alguém o trouxesse à superfície e o pusesse em contato com o ar. Assim, o homem tem tido apenas uma

vaga consciência da existência da cultura, e isso por causa dos contrastes existentes entre os costumes de sua própria sociedade e os de alguma outra com a qual veio a ter contato. “Os que não conhecem outra cultura senão a própria não podem conhecer a sua própria cultura” (LINTON, 1945, p. 125).

Isso reforça a idéia anteriormente abordada, da “mão invisível da cultura”, de Schiffman e Kanuk (2000), onde os indivíduos não têm consciência do grau de influência de sua própria cultura em seus hábitos e comportamentos. A cultura tem o papel de orientar todo ser humano, desde o seu nascimento.

Todo ser humano nasce em um mundo definido pelos padrões culturais já existentes. Assim como um indivíduo que perde sua memória não é mais considerado “normal”, assim também é inconcebível a idéia de uma sociedade – em qualquer momento na história – tornando-se completamente emancipada de sua cultura passada (KLUCKHOHN, 1962, p. 70).

A cultura é um processo fenomenal que ocorre em um tempo e espaço. Espera-se que, por meio da cultura, uma pessoa aprenda normas de comportamento social, amplos princípios gerais, e ideologias que justificam ou racionalizam certas formas de se comportar. Há, no comportamento humano:

[...] padrões de seletividade historicamente criados e feitos pelo homem: premissas convencionais e conceitos que são comunicados (tanto por meio da verbalização explícita quanto por outras formas) dentro do grupo e transmitidos culturalmente, induzindo necessidades e desejos (KLUCKHOHN, 1962, p. 72).

A ordenação do mundo em categorias definidas e subordinadas entre si, refletidas nas enciclopédias, perdeu o seu valor, posto que a descoberta do mundo passa por um processo de ensaio e erro, e ocorre ao acaso para cada ser humano. A cultura formada nas mentes humanas não se limita à educação universitária, mas surge como resultado de um fluxo de conhecimentos recebidos diariamente, pelos meios de comunicação de massa, pela imprensa, pelas revistas, pelo cinema, pela televisão etc.

[...] por uma multiplicidade de meios que agem sobre nós, cuja massa nos submerge e dos quais nos sobram apenas influências transitórias, pedaços de conhecimentos, fragmentos de idéias: ficamos na superfície das coisas, somos impressionados ao acaso pelos fatos que agem mais ou menos vivamente sobre nosso espírito, não exercemos censura nem esforço e o único elemento geral que emerge nessa textura é a noção de densidade maior ou menor da rede do conhecimento (MOLES, 1974, p. 19).

Na relação entre sociedade e indivíduo, este último desenvolve uma cultura individual, que resulta da soma da educação com a experiência vivenciada no domínio do conhecimento.

Moles conceitua a cultura como o mobiliário do espírito, cujo papel, na vida social, é o de integrar as percepções em vista. Assim, o indivíduo recebe estímulos do ambiente que, juntamente com o mobiliário do espírito, são re-projetados como imagens, constituindo-se o que se conhece como percepção.

Assim, a cultura pessoal pode ser entendida como a tela de conhecimentos sobre a qual se projetam imagens formadas na percepção. Essa tela é constituída por um conjunto de conhecimentos a priori, que acabam por atribuir valor, significação e importância às mensagens recebidas do mundo exterior. “Portanto, a força da cultura encontra-se essencialmente ligada a probabilidades de associações. Ela é ao mesmo tempo a densidade e a extensão desta tela de conhecimentos sobre a qual o indivíduo projeta suas sensações para nela construir percepções” (MOLES, 1974, p. 22).

Assim, há uma relação entre certos conceitos referentes à cultura, sociedade e indivíduo, que são inter-relacionados e interdependentes, sendo a cultura algo contínuo, adaptativo e coletivo.

Em suma, Moles entende que a cultura pode ser concebida como uma rede de conhecimentos estabelecida por uma espécie de destilação de elementos originais. Esse conjunto de ferramentas de pensamento, de que dispõe o ser humano, é a noção objetiva do conceito de cultura, e pode ser chamado de quadro de conhecimentos ou memória do mundo. Mas existe ainda outro quadro, formado pelo fluxo permanente dos meios de comunicação de massa, chamado quadro sociocultural, sendo este o produto da “cultura social”, englobando os acontecimentos, os fatos, e as formas evidentes da cultura.

Podemos nos habituar a considerar a cultura como algo muito persistente e estável, mas então o fluxo de significados no mundo pode ser considerado em grande parte como uma corrente eterna de impressões e eventos rapidamente formados, sendo alguns deles repetitivos e outros não, e dos quais podemos talvez formar idéias mais duradouras (HANNERZ, 2000, p. 66-67).

Portanto, há dois tipos de quadros socioculturais: o da memória do mundo (rede ou quadro de conhecimentos) e o do fluxo permanente dos meios de comunicação de massa (quadro sociocultural), ambos podendo ser integrados no cérebro humano ou nas bibliotecas, sendo que tal integração representa a imagem da cultura individual ou coletiva.

Uma vez que a memória do mundo é composta de maneira muito complexa e abrangente, o que por fim acaba influenciando cada indivíduo para a formação de sua própria cultura individual (a sua tela de conhecimentos) é o quadro sociocultural instantâneo, composto pelos

diferentes canais de comunicação – rádio, televisão, imprensa, etc. – deixando um resíduo na memória individual.

O esquema de relações entre a cultura e o homem que dela participa apresenta-se então da seguinte maneira: o indivíduo está situado em um ambiente social e físico, do qual recebe constantemente várias mensagens e assimila-as, de maneira seletiva, por meio da percepção, a fim de integrá-las em seguida em sua memória, onde constituem o mobiliário de seu cérebro ou a sua tela de conhecimentos.

A sociedade, sendo constituída por uma cultura social, possui sua própria rede de conhecimentos ou memória do mundo, que representa todo o conjunto de materiais culturais que ela fabrica, o que fornece uma idéia de uma “Biblioteca Universal”, onde todo esse conhecimento poderia estar acumulado. O quadro sociocultural, pois, é formado pelo conjunto dos sistemas de comunicação de massa, que combina os acontecimentos e os conhecimentos saídos da memória do mundo, segundo um padrão essencialmente coletivo e anônimo, o que resulta nos fatos culturais. O conjunto de tais fatos, que são “derramados” sobre o indivíduo em base diária, leva à idéia de quadro sociocultural.

Moles (1974) entende que o primeiro problema fundamental da cultura é o de elucidar as relações entre o “quadro sociocultural”, a “memória do mundo” e a “estrutura de conhecimentos”. Tudo que um indivíduo recebe e assimila deste quadro sociocultural acaba por formar o seu próprio ambiente cultural. Dessa forma, tais mensagens do mundo exterior são integradas em sua sensibilidade e sua memória para constituir o que se denomina de

cultura individual (ou mobiliário do cérebro), que funciona como uma espécie de tela de referência, sobre a qual são projetados todos os estímulos da vida cotidiana. É a projeção destes estímulos-mensagem sobre esta tela da cultura individual que constitui a percepção, conforme mencionado.

O evento percebido, devidamente valorizado, situado, colorido, dimensionado, vai agora inserir-se em sua memória, isto é, constituir um pequeno elemento suplementar desta própria tela a que ele se incorpora: o homem é a soma dos eventos pessoais de sua história e dos fatos culturais (MOLES, 1974, p. 30).

Moles considera que a cultura origina-se do “umwelt social” (o mundo exterior em seu conjunto), ocorrendo em parte por meio da educação formal recebida na escola, e posteriormente, por meio da impregnação das informações e idéias que surgem nos meios de comunicação de massa, que influenciam o indivíduo e o ligam ao meio em que vive.

[...] o que alcança o indivíduo, o que ele incorpora na textura de seu espírito, chega-lhe muito mais pela impregnação do espírito imerso na esfera das mensagens do que pelo processo racional da educação, certamente mais ordenado e mais metódico, mas que só age durante uma fração restrita da vida [...] (MOLES, 1974, p. 21)

O autor entende, enfim, que as pessoas devem aprender a distinguir o que é a cultura viva, e o que é a cultura adquirida. Para ele, esta última representa a memória comum do grupo social: conjunto das bibliotecas, de escritos e de museus etc.; enquanto que a cultura viva “apresentará uma franja de aquisitividade verbal, uma potência de devir (perenidade), incerta e vaga, mas em perpétua evolução” (MOLES, 1974, p. 27, comentários nossos).

Portanto, os esquemas do ambiente externo fazem com que as pessoas reajam de certas maneiras em certas situações, bem como percebam o mundo de forma harmoniosa. Os esquemas resultantes levam ao surgimento de formatos e proposições culturais, que são filtros culturais básicos, usados pelos indivíduos para atribuir sentido à sociedade e ao ambiente ao redor. Quando esquemas culturais complexos e modelos são infundidos de sentimentos, emoções e reforços positivo e negativo, eles se tornam bem estabelecidos e motivam a agir ou a se comportar de determinada maneira. Portanto, os modelos culturais suportados pelos sentimentos e emoções, e equipados pelas motivações, levam ao surgimento dos valores culturais e crenças.

Crenças, valores e normas que são intersubjetivamente compartilhados, tendem a ser transmitidos de geração a geração e ganham significado público e estabilidade ao longo do tempo. Portanto, para preservar, propagar, compreender e estabelecer normas gerais, crenças, valores e idéias, são atribuídos formatos públicos às questões privadas, e estas são descritas como símbolos, códigos, textos e tradições (SINGH, 2004, p. 99).

O conhecimento compartilhado de forma intersubjetiva é internalizado, fazendo com que as pessoas desenvolvam maneiras de pensar e agir que são compartilhadas culturalmente. O trabalho de Bourdieu (1977 apud SINGH, 2004), “Outline of Theory of Practice”, propõe o conceito de “Habitus”, que vem a ser um sistema de disposições duráveis e transferíveis como resultado das práticas e experiências do dia-a-dia. Tal conhecimento é variável, impreciso e produtivo na medida em que corresponde a um contexto cultural mais amplo e provê espaço para a variação intracultural.

A idéia do conceito de “Habitus” é semelhante à do conceito de “mobiliário do espírito”, de Moles (1974), sendo que aquele representa o estrato básico do conhecimento simplificado do mundo obtido por um indivíduo em suas práticas diárias na sociedade. O conhecimento na forma de “Habitus” é organizado em esquemas, ou em estruturas mentais simplificadas, que

são coleções de elementos que trabalham em conjunto para processar informações (Strauss e Quinn, 1997 apud SINGH, 2004).

Em suma, a cultura é internalizada no nível mais básico em forma de Habitus, que é formado pelo mundo extra pessoal das práticas diárias. As disposições transferíveis aprendidas pelas práticas diárias e experiências, que formam o Habitus, são organizadas em forma de esquemas básicos e complexos. Quando esses esquemas aprendidos se tornam compartilhados intersubjetivamente, eles geram modelos culturais específicos e de propósitos gerais. Finalmente, esses modelos culturais ajudam os indivíduos a aprender a cultura e a comunicá-la (SINGH, 2004, p. 97).

O termo “partilhado” utilizado na conceituação de cultura oferecida por Linton (1945) e descrita no item 2.1, diz respeito ao fato de que os elementos culturais somente podem assim ser considerados quando compartilhados por dois ou mais membros de uma sociedade. Mas isso não significa dizer que tais elementos devam ser compartilhados por todos os membros de uma sociedade, durante todo o seu período de existência. Já o termo “transmitido” refere- se à transmissão de elementos de conduta de um indivíduo ao outro por meio de instrução ou imitação.

O principal agente na transmissão da cultura é o aspecto manifesto desta, pois os estados psicológicos não podem ser transmitidos. Os demais indivíduos somente podem conhecer tais estados, de outros indivíduos, por meio de suas condutas manifestas que os expressam. O contato com a cultura manifesta e a experiência resultante de tal contato recriam, no indivíduo, o seu estado psicológico que constitui a cultura oculta.

Cada um se encontra engajado, de sua própria maneira, no gerenciamento de uma parcela da cultura contemporânea. O processo cultural combinado, e o habitat geral de significados e práticas adotadas, podem ser entendidos como o resultado de várias buscas deliberadas, por uma variedade de atores, de suas próprias agendas, com diferentes poderes e diferentes alcances, e conseqüências previstas ou imprevistas (HANNERZ, 2000, p. 62).

Hofstede (2001) aborda a questão da programação mental de cada indivíduo, sendo esta parcialmente única e parcialmente compartilhada com outros. O autor defende que a parte singular, ou única, dos programas mentais, pode ser dividida em três níveis: universal, coletivo e individual. O menos singular, mas o mais básico de todos, é o nível universal, que é compartilhado por todos, ou quase todos, os indivíduos. Este é o sistema operacional biológico, que inclui diversos comportamentos expressivos, como rir, chorar, se associar ou se mostrar agressivo com outros, similar ao comportamento de alguns animais. O nível coletivo é compartilhado com algumas pessoas e não com todas, sendo comum entre pessoas do mesmo grupo, mas diferindo entre pessoas de grupos diferentes. Toda a parte subjetiva da cultura (a objetiva se refere aos artefatos culturais, por exemplo) pertence a esse nível, que

engloba também a linguagem, o respeito com os mais velhos, a maneira de perceber atividades humanas gerais, como comer, fazer sexo etc.

O nível individual da programação mental é o único verdadeiramente singular – não há duas pessoas programadas exatamente do mesmo jeito, mesmo que sejam gêmeos idênticos crescidos juntos. Esse nível se refere à personalidade individual, com um vasto espectro de comportamentos alternativos dentro de uma mesma cultura coletiva. Mesmo havendo tal divisão, a fronteira entre os três níveis não é clara e bastante distinta, não sendo fácil diferenciar o que é individual do que é coletivo, assim como não é fácil distinguir o que é um fenômeno cultural específico daquilo que é humanamente universal.

Tais programações mentais podem ser herdadas geneticamente ou aprendidas ao longo da vida. O nível universal é o mais totalmente herdado, enquanto que o nível individual também possui ao menos uma parte dessa programação herdada (filhos criados da mesma forma, com capacidades e temperamentos distintos). É justamente no nível coletivo que a maior parte da programação mental é aprendida, considerando-se que pessoas com genes totalmente diferentes compartilham programações mentais. A transferência dos programas mentais coletivos é um fenômeno social, e dura toda a vida de um indivíduo, sendo fortemente aprendida durante a juventude, pois nessa época costumam ocorrer os fatos mais fundamentais relativos à vida (HOFSTEDE, 2001).

Hannerz (2000) entende que é possível haver outras complexidades no repertório cultural de uma pessoa, que sejam compartilhadas apenas com pessoas específicas, com as quais haja uma identificação mais íntima. Há, para o autor, uma identidade cultural seletiva, que induz ao sentimento de pertencer a uma comunidade particular, com limites definidos, além de “um mosaico cultural de organização do mundo, e é nesse ponto do mundo contemporâneo que a noção de cultura é combinada com a de identidade, até ao ponto em que a troca entre ‘cultura’ e ‘identidade cultural’ pode ocorrer quase imperceptivelmente” (HANNERZ, 2000, p. 63). Nesse contexto de cultura e identidade cultural, Steward (1955) defende que a cultura total não é sinônimo de cultura nacional. O autor explica que, por cultura nacional entende-se todo o conjunto de produtos culturais ou conquistas nacionais nos campos da ciência, literatura, filosofia, religião, e assim sucessivamente, o que implica em um nível nacional de integração sociocultural. A cultura nacional também pode, ainda, ser utilizada para representar instituições governamentais, econômicas, religiosas e outras, que funcionem em escala nacional, e que afetem os membros da sociedade, ainda que de maneiras distintas para cada segmento sociocultural. Sterward também caracteriza a cultura nacional como o denominador

comum comportamental que é compartilhado por todos os membros de uma nação e que pode ser averiguado por meio da observação direta dos indivíduos.

O denominador comum ao qual Steward se refere pode ser afetado de três formas:

1) Alguns comportamentos e traços de personalidade podem resultar da educação infantil, e podem ser aprendidos no contexto familiar e sob influências que se iniciam na infância, podendo, ainda, perdurar por muitos anos. Como a sociedade é heterogênea, as famílias de subgrupos socioculturais podem exercer influências distintas nas crianças. Os padrões comportamentais da comunidade não afetam fortemente a personalidade, uma vez que não envolvem comida, conforto físico, bem-estar e segurança, na mesma medida em que ocorre no contexto familiar.

2) Há um comportamento comum de todas as pessoas dentro de uma nação, na medida em que elas participam das mesmas instituições nacionais, devem obedecer à mesma legislação, e compartilham, em alguma medida, a religião nacional, e as instituições militares e sociais. O que ocorre é que essas instituições nacionais podem exercer efeitos diferentes sobre os membros de grupos subculturais.

3) Deve haver um denominador comum que resulta da influência dos meios de comunicação em massa. A educação estadual, a literatura geral, os jornais e revistas, o rádio e a televisão, podem alcançar praticamente qualquer pessoa.

Os efeitos das práticas compartilhadas nacionalmente, como a educação infantil e os padrões familiares, a participação comum nas instituições nacionais, e as comunicações de massa, todos servem para desenvolver uniformidades nacionais de comportamento individual. Mas, como ainda existem diferenças regionais significativas, não se pode assumir que o denominador comum nacional se sobrepõe às diferenças subculturais em importância, de maneira que o comportamento individual possa ser compreendido apenas pelo primeiro. A sociedade moderna é um composto heterogêneo, e mesmo o denominador comum de comportamento compartilhado é um composto de muitas partes distintas.

Nenhum indivíduo ou grupos de indivíduos carregam um padrão nacional completo. Eles participam somente em porções especiais da cultura como um todo. Eles são membros de uma subcultura que possui uma relação especial com a cultura nacional total. [...] O processo de assimilação é, de forma alguma, uma simples substituição de aspectos nativos por um padrão nacional completo (STEWARD, 1955, p. 46-47).

Entende-se por subcultura, um estrato distinto da cultura maior, formado por indivíduos que compartilham dos mesmos valores e interesses, constituindo-se um grupo homogêneo de pessoas. Hannerz (2000) acredita também na existência de micro-culturas, que são as

composições criadas por cada indivíduo de uma sociedade. Muitos aspectos dessas micro- culturas podem ser compartilhados com outros grupos ou até mesmo com uma única pessoa, e são formadas por todos os inputs recebidos pelo indivíduo, referentes às suas leituras, o que ouviu no rádio, o que viu na televisão, na Internet, suas experiências e todo o conteúdo