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2 CENÁRIOS PROSPECTIVOS NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

2.1 PLANEJAMENTO E ESTUDOS PROSPECTIVOS

2.1.3 Enfoques sobre o futuro

O budismo diz que "o passado já se foi, o futuro ainda não veio, vivendo no presente, sabe-se que este é o melhor momento". Há também um velho ditado popular que diz que "o futuro a Deus pertence". Prever o futuro é impossível. Contudo não significa dizer que não haja a necessidade de prevê-lo de maneira a tomarem-se as melhores decisões no presente.

Para Afuah (1997) há um “espectro” sobre o “estado do conhecimento” que compreende os conceitos de certeza, risco, incerteza e ambiguidade:

 Há uma certeza, se todas as variáveis são conhecidas e as relações entre elas;

 Há risco, se todas as variáveis são conhecidas, porém as relações entre elas são estimadas – as probabilidades;

 Há incerteza, se todas as variáveis são conhecidas, mas algumas não podem ser mensuradas e as demais relações são desconhecidas;  Há ambiguidade se todas as variáveis ainda têm que ser

identificadas.

Assim, a certeza, o risco, a incerteza e a ambiguidade, situam-se em uma faixa entre o determinismo e a indeterminação de modo que cada nível implica em tipos diferentes de eventos e premissas. Essa faixa estabelece o espaço de trabalho do decisor.

2.1.3.1 A predição e a certeza

Predição6, na acepção da palavra, significa uma declaração não probabilística, com um nível de confiança absoluto acerca do futuro. Entende-se por “não probabilística” um enunciado que tem a pretensão de ser único, exato, não sujeito a controvérsias, ou seja, faz afirmações determinísticas.

Segundo Masini e Medina (2000), as teorias determinísticas regem as leis de causas e feitos, nas quais às mesmas causas sempre ocorrem, inevitavelmente, os mesmos efeitos. A predição se baseia em teorias determinísticas e representa afirmações muito fortes. No entanto, em ciências da administração e ciências sociais, os profissionais do futuro evitam falar de predição no sentido estrito da palavra.

De fato, a situação de certeza total de tipo determinístico, na realidade, praticamente inexiste na vida social, pois se observarmos como rigor, as situações variam constantemente e é difícil garantir que ocorra um evento teoricamente seguro em todos os casos, como espera o observador. Na verdade, em relação às consequências futuras de uma decisão, pode-se vislumbrar diversas situações determinísticas, passando pelas não determinísticas, até as de ignorância total

(VÉLEZ, 2003).

2.1.3.2 Risco, prognóstico e projeção

Para Vélez (2003), nas situações não determinísticas existem graus de incertezas que, na medida em que diminuem, podem lidar com situações de forma analítica com a informação coletada. O risco e a

6 O conceito de predição aqui apresentado, se relaciona única e exclusivamente com a definição

clássica de Eric Janstch (1967), que a tem como uma definição de enunciados não probabilísticos, com um nível de confiança absoluto acerca do futuro, que pretende ser único, exato, e, portanto, não sujeito a controvérsias. A predição persegue o que é denominado de futuro único.

incerteza se produzem pela variabilidade de fatos futuros e por seu desconhecimento. Uma situação de risco é aquela em que, além de fornecer os possíveis resultados futuros associados a uma alternativa, é possível atribuir probabilidades a cada um deles. O risco é aquela situação sobre a qual há informações, não só dos eventos possíveis, mas também de suas probabilidades7. A incerteza surge quando se pode

determinar os eventos possíveis e não é possível atribuir-lhes probabilidades.

O prognóstico ou “forecasting”, em inglês, procura identificar a probabilidade de eventos futuros, com um nível de confiança relativamente elevado. Ao atribuir probabilidade de ocorrências de um determinado evento, matiza-se a pretensão a total exatidão e a certeza absoluta, característica que tem a predição: a ênfase está centrada na qualidade dos enunciados e interpretações realizadas. Em matéria de ciências sociais e estudos do futuro é mais honesto falar de prognósticos que falar de predições.

O prognóstico é diferente em sua formulação de uma predição. O prognóstico funciona dentro de uma rede de relações causais definíveis entre eventos, isto é, sempre relações de variáveis que estão interagindo e que dão como resultado um estado particular do futuro. O prognóstico se refere a um enunciado condicionado, no qual há premissas que fundamentam juízos razoáveis sobre algum estado particular do futuro. Ao prognóstico subjaz um raciocínio como “se então”, que procura orientar uma ação, não pretende enunciar lei. No entanto, os prognósticos valem de acordo com as premissas que os fundamentam, se as suposições são fracas, as conclusões também serão fracas.

Por outro lado, as projeções analisam tendências e ciclos que vêm do passado, acontecem no presente e espera-se que avancem para o futuro de uma maneira linear. A característica básica de uma projeção é que ela assume a continuidade de um padrão histórico ou estatístico, isto é, sob certas condições "A" se supõe levar para um estado futuro "B", que reproduzem a causalidade do passado. Por exemplo, na economia e na demografia é possível estabelecer as séries históricas de dados e extrapolar tendências.

Para Vasquéz e Órtegon (2006), a projeção é um padrão de referência para quem toma a decisão. A prospectiva ao contrário da

7 Os riscos somente mudam, para o bem ou para o mal, quando alguns eventos significativos

alteram a natureza e distribuição da incerteza relacionada, quando eventos que têm uma baixa probabilidade de ocorrência, acontecem intempestivamente. (MAZZIOTA, 1991).

projeção, concebe que esse padrão histórico de referência pode mudar no presente. As projeções deixam o terreno preparado para a prospectiva, mas a prospectiva não crê que o futuro seja somente fruto de uma extrapolação que segue a continuidade lógica do padrão. A prospectiva enaltece a questão da mudança social, advertindo a permanente transformação ocorrida em tendências estabelecidas ou padrões históricos aparentemente imodificáveis.

2.1.3.3 Prospectiva e a incerteza

Matus (1993) faz uma distinção entre a incerteza quantitativa e qualitativa. A incerteza quantitativa envolve situações em que os futuros alternativos possíveis são conhecidos, mas a distribuição de suas probabilidades é desconhecida. Enquanto que a incerteza qualitativa envolve situações em que a mesma composição de possibilidades futuras é desconhecida e envolve a tomada de decisões sobre apostas difusas.

A construção do futuro pressupõe inovação na medida em que a visão dos próximos dez ou vinte anos deve ser diferente da situação do presente. A prospectiva8 ou “foresight”, em inglês, gera a capacidade para observar sistemática e integralmente o ambiente, desde o ponto de vista do espaço (global, nacional, regional e local) e do tempo (passado, presente e futuro). Mas ele também orienta o tipo de mudança que se pretende realizar.

Vasquéz e Órtegon (2006) destacam que na prospectiva se escolhe um futuro desejável a partir de diversos futuros alternativos. A pergunta que fundamenta a prospectiva é: que tipo de empresa, indústria, cadeia, tecnologia, cidade ou país se deseja para o futuro? No entanto, não basta escolher esse ou aquele futuro que se acredita ser o melhor. “É necessário definir os mecanismos e caminhos que permitirão alcançar o futuro desejado. A prospectiva introduz a ideia de que é possível modificar as tendências para conquistar o futuro desejado dentro das opções consideradas” (VASQUÉZ; ÓRTEGON, 2006, p. 218, tradução nossa).

Michel Godet (1993) reforça a assertiva acima por meio de uma metáfora esclarecedora, ao afirmar que, em relação ao futuro, os homens e as organizações podem escolher entre quatro atitudes: a “passiva”, que

8 O conceito de prospectiva apresenta a formulação de diferentes futuros: possíveis, prováveis e

desejáveis, e, portanto permanentemente aberto à controvérsia. A prospectiva busca identificar futuros alternativos ou múltiplos.

sofre com a mudança (o avestruz); a “reativa”, que aguarda o aparecimento do problema para tomar alguma ação (o bombeiro); a “pré-ativa”, que se prepara para as mudanças possíveis porque sabe que a reparação é mais cara que a prevenção (o segurador); e, finalmente a “pró-ativa”, que atua no sentido de provocar as mudanças desejadas (o conspirador). O planejamento por cenários privilegia as duas últimas atitudes.

A principal fonte de incerteza é a falta de entendimento da complexidade do ambiente. Pela análise da situação e sua história prévia é possível, paulatinamente, exercitar o aprendizado da percepção do ambiente em seu entorno e tornar-se mais apto a antecipar aspectos do futuro. Alguma coisa deve ser previsível, ser pré-determinada, bem como terá que ser definido como lidar com a incerteza irredutível remanescente. Caberá ao processo decisório definir, considerada tal ambiência, no que vale a pena despender os recursos escassos da organização.

Uma perspectiva futura se baseia em cinco princípios (BRODZINSKY, 1979, p. 20-21):

 O futuro é determinado por uma combinação de fatores dos quais, não menos importantes, se inclui a escolha humana. O que se decide hoje terá um efeito significativo no amanhã;

 Existem futuros alternativos. Há sempre uma amplitude para a decisão e escolhas de planejamento. Deve-se procurar e determinar essas escolhas e intentar selecionar a melhor alternativa possível;  As ações operam dentro de um sistema inter-relacionado e

interdependente. Qualquer decisão, desdobramento ou força que afete uma parte do sistema, provavelmente afetará todo o sistema. Deve-se estar atento não apenas às mudanças de um setor, mas também a outras áreas dentro do sistema;

 Os problemas de amanhã estão germinando hoje. Pequenos problemas, ignorados hoje, podem ter consequências catastróficas daqui a cinco anos. Mudanças graduais ou tendências e desdobramentos distintos não podem ser ignorados. Não se pode ficar limitado às preocupações imediatas. O futuro deve ser parte integral do processo decisório corrente;

 Deve-se, regularmente, preparar possíveis respostas às mudanças potenciais. As tendências e os desdobramentos devem ser monitorados. Não se deve permitir que a hesitação impeça o uso da

criatividade coletiva e julgamento das assessorias para desenvolver previsões, projeções e predições.

Em resumo, o futuro é função das incertezas que se manifestam por meio das mudanças.