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Enquadramento jurídico das habilitações para a docência da Dança

DA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE DANÇA Nas palavras de Teresa Estrela:

1.1 A FORMAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOS PROFESSORES DE DANÇA

1.1.3 Enquadramento jurídico das habilitações para a docência da Dança

Um breve olhar sobre o enquadramento jurídico da formação de professores de Dança, neste início de milénio, mostra que numa Portaria de 2002, o Governo reconhecia as deficiências ao nível da formação para a docência da Dança:

“Constituindo preocupação do Governo a expansão do ensino artístico e a qualidade do pessoal docente, de modo a corresponder às necessidades específicas desta modalidade de ensino, torna-se indispensável definir os grupos de docência na área da dança, bem como as respetivas habilitações, com o fim de introduzir padrões de qualidade que sejam catalisadores dos projetos pedagógicos das instituições do sector do ensino vocacional da dança” (Portaria nº192/2002 de 4 de Março).

O mesmo documento afirma ainda que:

“Sendo a integração desta área no sistema de ensino relativamente recente, tem-se verificado que o número de docentes detentores das novas formações tem sido insuficiente para suprir, de forma satisfatória, as necessidades que um sector como a dança exige, pelo que se entende como adequado, para a lecionação das disciplinas técnicas dos cursos secundários, recorrer a profissionais do sector com experiência comprovada, mesmo que não detenham formação académica que lhes confira habilitação formal para a docência” (Portaria nº192/2002 de 4 de Março).

Conforme se pode observar no anexo II da referida Portaria, constituem Habilitação Própria para a lecionação do curso Básico do Ensino Vocacional da Dança, os graus de licenciatura conferidos pela Faculdade de Motricidade Humana (FMH) da Universidade de Lisboa e pela Escola Superior de Dança (ESD) do Instituto Politécnico de Lisboa e a denominada “prática profissional reconhecida” (esta última apenas aplicável desde que à data da publicação do diploma os docentes se encontrassem já em exercício de funções há mais de cinco anos).

No entanto, segundo o mesmo anexo, no caso de algumas disciplinas como a “Dança Clássica” e a “Dança Moderna”, apenas a referida “prática profissional reconhecida” constitui habilitação própria para a lecionação ao nível dos cursos secundários do ensino vocacional da dança, constituindo, as Licenciaturas em Dança da ESD e da FMH, habilitações suficientes para a lecionação deste nível de ensino.

Já em 2009, o Decreto-Lei n.º 69/2009 vem legislar sobre os professores do Ensino Superior Artístico, inserido no Ensino Politécnico, reconhecendo que as necessidades permanentes destas escolas têm vindo a ser asseguradas por docentes contratados que, há pelo menos 10 anos, lecionam de forma consecutiva e no mesmo estabelecimento, disciplinas no seu domínio de especialização, bem como por docentes de grupos disciplinares que em regime de mobilidade sucessivamente renovada, têm assegurado a lecionação das correspondentes disciplinas, concluindo que:

“Torna-se urgente criar condições de integração nos quadros e ingresso na carreira do seu pessoal docente, aproveitando-se a experiência entretanto adquirida por estes profissionais, conciliando-se, assim, as suas expectativas de

estabilidade laboral com as necessidades reais das escolas” (Decreto-Lei n.º 69/2009 de 20 de Março).

Reconhecendo a ligação entre a necessária criação de carreiras profissionais docentes que deem garantias de estabilidade aos professores, e a qualificação e formação profissional dos mesmos, reconhecendo também que ambas são factores determinantes para a construção de “projetos educativos de qualidade”, a Portaria n.º 942/2009 de 21 de Agosto, afirma que:

“Uma efetiva valorização do ensino artístico especializado da música e da dança exige um corpo docente cada vez mais qualificado e com garantias de estabilidade. A estabilidade e o nível de qualificação dos docentes constituem factores determinantes para a melhoria do seu desempenho e para a construção de projetos educativos de qualidade, promotores do sucesso educativo dos alunos” (Portaria n.º 942/2009 de 21 de Agosto).

Ainda no mesmo ano foi publicado o normativo que regula o processo da obtenção do Grau de Especialista (Decreto-lei nº 206/2009 de 31 de Agosto).

No artigo 7º do referido documento exige-se a quem requeira a realização de provas para a obtenção do título de especialista, que tenha não apenas uma formação inicial de natureza superior, mas também uma longa experiência (mínimo de dez anos) de docência na área para que se candidata ao referido título. O artigo 5º esclarece também que as provas para atribuição do estatuto de especialista são constituídas pela apreciação e discussão do currículo profissional do candidato e pela apresentação, apreciação crítica e discussão de um trabalho de natureza profissional no âmbito da área em que são prestadas as provas, preferencialmente sobre um trabalho ou obra constante do seu currículo profissional.

O prazo para requerer as provas com vista à obtenção do título de especialista terminará a 31 de maio de 2015, ou a 31 de agosto, para os docentes do ensino superior politécnico abrangidos por normas do regime transitório do Estatuto da Carreira do Pessoal Docente do Ensino Superior Politécnico, onde a obtenção do título de especialista seja condição a satisfazer (Secretaria de Estado do Ensino Superior, 2014).

Pela legislação aqui revista podemos observar que tem sido uma preocupação dos últimos governos, neste início do século, prover os meios legais que assegurem ao ensino artístico vocacional, profissional e superior, terreno para formar os seus docentes e para lhes dar um estatuto profissional.

Tudo leva a crer que a disponibilização efetiva de meios para uma formação para a docência da Dança e o consequente reconhecimento de um estatuto profissional, sejam fundamentais no desenvolvimento de uma identidade profissional docente, que reverterá como um benefício não só para os docentes da Dança, mas também para as instituições onde estes lecionam e, em última análise, para todos os alunos que “por lá passam”.

Sobre os resultados práticos destes esforços, sobre as habilitações dos atuais professores de Dança e sobre a forma como estes se identificam com a profissão de docente da Dança, procuraremos dar conta no capítulo que descreve os resultados do nosso estudo empírico.

1.1.4 Formação dos professores de Dança fora do sistema educativo português