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Identidade Profissional dos professores de Dança

DA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE DANÇA Nas palavras de Teresa Estrela:

1.1 A FORMAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOS PROFESSORES DE DANÇA

1.1.5 Identidade Profissional dos professores de Dança

A investigação sobre a profissão docente concentrou-se nos últimos vinte anos num certo número de temáticas entre as quais se destaca a questão da identidade profissional docente: o que é, como se forma, factores que contribuem para a sua formação e mudança.

Porém, apesar dos numerosos estudos, não encontramos um conceito de identidade profissional que prevaleça de forma universal.

No estudo apresentado por Beijaard, Meijer e Verloop (2004:113) os autores referem que a maioria dos investigadores que eles analisaram, ou não usou uma definição explícita do que consideravam identidade profissional, ou focaram-se numa variedade de aspectos, levando-os a afirmar que a maioria viu a “ identidade profissional como um processo contínuo de integração de dimensões pessoais e profissionais do tornar-se e ser professor”. Os autores que vimos seguindo afirmam que “a identidade profissional não é uma entidade estável; não pode ser interpretada como fixa ou unitária (Coldron & Smith, 1999). É um complexo e dinâmico equilíbrio, onde a autoimagem profissional é equilibrada com uma variedade de papéis que os professores sentem que têm de jogar (Volkmann & Anderson, 1998)”.

A identidade profissional constitui assim um conceito que, embora muito trabalhado por muitos e diversos investigadores, permanece de difícil definição precisa. Como referem Beijaard, Meijer e Verloop (2004) trata-se de um conceito fluido, dinâmico, contextualizado e discursivo.

De um modo geral podemos constatar que a identidade profissional do professor remete para o ensino e fundamenta-se numa dada pertença disciplinar- ensino da Biologia, ensino da Matemática, etc. Mas, a complexidade do ensino nos nossos dias, nomeadamente no plano do ensino profissional, tem vindo a mostrar que muitas vezes há sobreposição de identidades, umas remetendo para a docência e para a disciplina de ensino, outras fundando-se nas atividades profissionais desenvolvidas pelos professores e que justificam a sua docência – Engenheiro ou professor de Engenharia? Enfermeiro ou professor de Enfermagem? Informático ou professor de Informática? Economista ou professor de Economia?

No caso da Dança, tradicionalmente, o professor de Dança era o bailarino que, após uma carreira como intérprete (que por contingências da profissão tendia a acabar relativamente cedo), transitava para a docência da Dança, sem que para isso tivesse outra formação que não fosse a sua longa formação em Dança e a sua experiência como bailarino (Pontinari, 1989). No caso dos que optavam pela docência da Dança sem antes terem tido uma carreira de palco, sofriam de um enorme estigma, expresso na célebre fase de George Bernard Shaw (1903), na sua peça de teatro Man and Superman: “Those who can, do; those who can't, teach”.

Nas palavras de Stinson et al. (1990):

“Even George Balanchine, famous choreographer for the New York City Ballet, purported this notion of inadequate dancers becoming teachers stating, “I

never became a teacher: no, I am a person who teaches. Bad dancers become teachers.” (Stinson et al., 1990:24).

Em relação aos professores de Dança que não se identificam com a profissão de professor, Sims (2010) defende que constituem um problema para a comunidade da Dança, pois ao não se verem como professores, não investem minimamente em todos os saberes que poderiam ajudar a melhorar as suas práticas docentes.

Hoje, por razões que se prendem por um lado com a evolução do próprio ensino da Dança (que já não está confinado aos conservatórios e às companhias de dança, mas conta com uma extensa rede de escolas de todos os tipos, incluindo o ensino superior politécnico e universitário), por outro lado com a alteração do próprio conceito de

Dança e de bailarino / performer, este estigma já não tem o poder que tinha até meados do século passado.

No entanto a formação e carreira do professor de Dança poderá, ainda hoje, não ser linear, pois a opção pela docência pode ser tomada logo no início da carreira, obtendo a qualificação académica para o fazer, pode ser tomada não como uma primeira opção, mas como uma alternativa de subsistência num momento em que as carreiras dedicadas ao palco são difíceis de perspetivar (Strazzacappa, 2003), ou pode ainda ser tomada como “reconversão” de carreira, em que após uma carreira de palco, na inevitabilidade de não poder continuar a dançar por contingências físicas e da idade, se opta por terminar a vida profissional e ativa com o docente de Dança (Levine, 2004).

Andrzejewsky (2011), no “Model of Holistic Dance Teacher Education” que defende e que abordaremos com maior detalhe no subcapítulo dos Modelos de Formação dos Professores de Dança, avalia como fundamental, na formação do professor de Dança, o desenvolvimento de uma identidade profissional múltipla, que não se centra apenas na sua identidade como professor, mas passa pela sua identidade como artista, como bailarino, como professor e como professor de Dança.

No decorrer deste trabalho procuraremos avaliar a postura e a identificação profissional que advogam os professores de Dança que farão parte do nosso estudo empírico.

Como de apresentam? Como bailarino / Coreógrafos, e/ou como professores de Dança?

E que repercussões poderá ter essa identificação profissional na sua prática docente diária?

1.1.6 Síntese

Em síntese, no contexto da formação inicial dos professores de Dança, foi realçada a importância de os formadores de professores compreenderem a “bagagem” que o aluno/futuro professor traz da sua formação anterior, sabendo incorporá-la nos processos formativos do futuro professor.

Sublinhando a importância de promover um desenvolvimento profissional docente como um processo contínuo, feito junto da escola e dos pares, foi realçada a importância de incentivar o contacto com toda a comunidade docente da Dança, mas também um contacto efetivo com as comunidades artísticas da Dança e das outras expressões artísticas, como forma de promover uma identidade profissional docente e artística.

Foi observada e descrita a oferta, a nível nacional, de formação específica para a docência da Dança, bem como o quadro legislativo em que esta se enquadra, na convicção de que não só a oferta de formação específica, mas também o reconhecimento de um estatuto profissional, podem contribuir para um efetivo desenvolvimento profissional dos professores de Dança.

Por último, foi revista, de forma breve, o conceito de identidade profissional dos professores e a importância que esta pode ter na disponibilidade dos professores de Dança para investirem no melhoramento contínuo das suas práticas docentes.