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O currículo de música no ensino superior de Dança

DA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE DANÇA Nas palavras de Teresa Estrela:

CAPÍTULO 2 – DO ENSINO DA DANÇA E DA SUA RELAÇÃO COM A MÚSICA

2.5 POSSÍVEIS ABORDAGENS MUSICAIS NO ENSINO DA DANÇA HOJE

2.5.3 O currículo de música no ensino superior de Dança

Em Portugal, como referenciado no capítulo anterior, apenas duas instituições oferecem formação de nível superior ao nível da dança: A Escola Superior de Dança do Instituto Politécnico de Lisboa (ESD) e a Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa (FMH), que no âmbito do Departamento de Educação, Ciências Sociais e

Humanidades ministra cursos de Licenciatura, Mestrado e Doutoramento na área da dança.

Um olhar pormenorizado sobre a forma como a música está presente ao nível das licenciaturas em Dança nestas duas instituições mostra o seguinte:

Na FMH, não havendo unidades curriculares exclusivamente de música na licenciatura em dança, há no entanto uma Unidade Curricular (U.C.) de Práticas de Expressão e Comunicação I, com um total de 52 horas de contacto no semestre e que confere 5,5 créditos, em cujos objectivos e conteúdos programáticos põem em evidência a relação entre a música e a dança, conforme se pode observar no ANEXO 2, dos quais destacamos, no âmbito da música, os objetivos de elaborar, distinguir e articular relações intrínsecas e extrínsecas entre a música e o movimento, selecionar acompanhamentos musicais, conhecer e ampliar um léxico musical, caracterizar géneros musicais e componentes técnicas de uma música, escutar e analisar sequências musicais e componentes técnicas de uma música, identificar métodos de combinação entre música e movimento (FMH, 2014).

Quanto aos conteúdos programáticos, destacamos, no âmbito da música, que os temas desenvolvidos exploram e analisam o corpo na relação direta com o movimento e deste com a expressão musical e a experiências criativas do corpo em movimento, a acuidade da escuta, os principais parâmetros técnicos musicais, o cruzamento dos vocabulários terminológicos da Música e da Dança e os componentes do fenómeno musical, resultando no final, um trabalho de construção criativa por parte dos estudantes, articulando as Experiências Criativas do Movimento com o bloco Movimento e Expressão Musical (FMH, 2014).

Quanto à Escola Superior de Dança do Instituto Politécnico de Lisboa, como referido anteriormente, há mais de 10 anos que somos responsáveis pelas unidades curriculares (U.C.) relacionadas com a música e parece-nos pertinente neste ponto referir a estrutura que adoptámos, embora tenhamos sempre presente que esta estrutura não é “estanque”, mas aberta ao que se vai revelando possível e desejável em cada momento

de acordo com as necessidades dos estudantes e a nossa própria aprendizagem (da qual este estudo é parte integrante).

O atual plano de estudos inclui unidades curriculares dentro da área da música ao longo dos primeiros cinco semestres do curso, que apresentamos de forma mais completa no ANEXO 2, e que resumimos aqui da seguinte forma:

1º Semestre – “Música e Ritmo” – Tem como principal objectivo desenvolver os conhecimentos e capacidades de desempenho ao nível rítmico.

2º Semestre – “Música na Dança” – Tem como principal objectivo questionar e estudar as diferentes funções que a música pode ter na dança em contexto performativo.

3º Semestre – “Análise Musical” – tem como principal objectivo promover o desenvolvimento de uma escuta crítica e consciente da música, com subsequente análise musical auditiva, percorrendo a música escrita desde a Idade Média até ao século XIX no “mundo ocidental”.

4º Semestre – “Análise Musical II” – tem como principal objectivo continuar o desenvolvimento de uma cultura musical que permita uma escuta crítica e atenta, bem como o desenvolvimento das capacidades de análise auditiva, desta feita, centrando-se na música escrita ao longo do século XX e neste início do século XXI.

5º Semestre – “Música, Edição e Montagem” – tem como principal objetivo desenvolver as capacidades de trabalhar com programas informáticos de edição e montagem de som, com vista a que os estudantes possam gravar, transformar e editar os suportes musicais que necessitam no contexto das suas práticas de dança e futuras práticas profissionais.

2.5.4 Síntese

Procurando sintetizar os aspetos revistos nas possíveis abordagens da relação entre a música e a dança que vimos ao longo destes capítulos, e em especial no contexto educativo da dança, atrevemo-nos a indicar alguns pontos que nos parecem cruciais:

- Trabalhar todos os aspetos relacionados com o ritmo, a pulsação e a métrica da música;

- Transmitir uma forte e enraizada cultura musical, que passa pelos seus aspetos mais históricos (de conhecer e compreender a música de outros tempos), mas também por conhecer os variadíssimos estilos e abordagens musicais que temos ao nosso alcance hoje em dia;

- Desenvolver uma atitude crítica e reflexiva, com plena consciência da diversidade de relações que se podem estabelecer entre a música e a dança nos dias de hoje.

Estando cientes de que a literatura revista até aqui, neste ponto específico, se dirige à formação de bailarinos/ performers e não especificamente à formação de futuros professores de dança, acreditamos no entanto que muitas pontes se podem construir entre o que deve ser a formação em música de um futuro bailarino/ performer e a formação em música de um futuro professor de dança, nomeadamente ao nível do estudo do ritmo musical e da sua estrita ligação com o ritmo do movimento, e ao nível de outros conteúdos como a análise musical auditiva ou uma escuta musical ativa e analítica, a compreensão das inúmeras funções que a música pode desempenhar no seu apoio ao movimento e à dança e das inúmeras relações possíveis de estabelecer entre estas duas expressões artísticas, quer em contexto coreográfico e performativo, quer em contexto educacional, pois em última análise, sugerimos que só tendo uma formação musical sólida poderá, o professor de dança, transmiti-la aos seus alunos.

Mas são precisamente estes, alguns dos pontos que procurámos validar no nosso estudo empírico, do qual daremos conta no capítulo dedicado à apresentação dos resultados do estudo empírico.

2.6 SÍNTESE DA REVISÃO FEITA SOBRE O ENSINO DA DANÇA E A SUA RELAÇÃO