• Nenhum resultado encontrado

Entre subjetividade e experiência

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 109-119)

6. A CONDIÇÃO DO GÊNERO

6.3 Entre subjetividade e experiência

40

Barthes, Roland. Le plaisir du texte. Editions du Seuil. Paris. 1973. Pg.30

Aparentemente, Ocampo internalizou os valores que a sociedade impunha, ou seja, que o modelo da mulher ideal supõe um corpo formoso, cuja sensualidade e erotismo seriam neutralizados por um rosto angelical. Entretanto, essa idéia geral é alterada e condicionada por suas leituras e análises particulares, pois ao admitir que admira rostos belos essa admiração está sujeita a ajustes que dependem do que se pode ler neles. Diz ela:

El hecho es que yo tenía idolatría por las caras lindas. Sólo aprendí con los años que una cara perfecta en cuanto a sus rasgos puede convertirse en algo odioso o simplemente aburrido, cuando la hemos descifrado… (AUT. II, 169)

A aceitação de um significado pressupõe reduzir o desafio da incógnita a uma

unidade satisfatória capaz de fornecer uma resposta que a anula e foi essa a educação à qual Victoria fora submetida. Desse modo a conclusão de uma leitura acaba com o entusiasmo originalmente suscitado, tanto pelo texto quanto pelo rosto, e o substitui por um jogo de atrações sempre recomeçado e nunca terminado, de modo que seus textos preconizam seduções permanentes.

Nessa época Ocampo chega a uma fronteira lingüística. Luz vermelha ao balbuceio feminino. Luz verde à palavra do Pai. Victoria buscará assegurar-se que a linguagem herdada do pai, aquela que lhe foi dada de antemão, é a dos fortes e poderosos, dos que detém a palavra, o que faz com que ela busque sua própria palavra. Assim começará a escrever sua Autobiografia em 1952, mas impedirá que seja publicada enquanto for viva escondendo-a sob o tapete, como ela mesma diria referindo-se a Jane Austen. E embora esta escritura seja íntima e secreta, não poderá evitar sentir sobre si mesma, sobre seu corpo o olhar de censura de seu pai. Julián, seu amante, será nomeado unicamente J. Manchar o prazer seria manchar o corpo.

A experiência da marginalidade da mulher faz com que tenha maior consciência da outredade que os homens; a autobiografia feminina demonstra como o eu e sua imagem não coincidem na linguagem.

Ocampo que submete seu trabalho e seu texto a uma análise constante, revela, também, que a leitura pode falhar. Observa que, por vezes, a intervenção de seus desejos contribuiu para a formação de opiniões equivocadas. Ao narrar o período que

precede seu casamento, inclui trechos de uma carta sua a Delfina Bunge, na qual expõe emoções contrárias. Descreve, assim, a opinião que tinha de seu pretendente:

Lo que de él conozco es lo que me da la gana de conocer... no la verdad. Me gusta más la belleza de sus ojos que las cosas que dice. Por momentos veo claro en este amor. Pero el yo que se ha enamorado es impetuoso y joven. El yo que razona le tiene miedo y se deja llevar a la rastra. (AUT.II, 227)

O desejo de ver certas qualidades no outro cria miragens provenientes da própria

imaginação fazendo com que a imagem do ser humano real se veja, assim, alterada, e, mesmo sabendo o que ocorre, ela não consegue separar sua própria invenção do rosto que lê. Nessa leitura juvenil participam mais de um sujeito: um impetuoso que domina o outro, fruto da razão, que fica paralisada. Mas, mesmo considerando que a atração exercida pela beleza física sirva de obstáculo ao êxito de uma análise correta, ela constrói uma armadilha na qual Victoria irá cair, posteriormente, e que a conduzirá ao fracasso do seu casamento. O erro maior não se situa na invenção, mas na obtenção de uma mensagem que anularia o interesse. Tanto o rosto quanto o texto devem evitar sua redução a um sentido único.

Ocampo descreve o processo contrário quando opõe a relação que a une a seu

marido com a que a une a seu amante. Se a beleza do primeiro reduz-se a um sentido, a do segundo mantém a atração e oferece uma promessa que excede a interpretação. Esse suplemento irredutível permite um trabalho de análise e um questionamento constante. Ocampo quer ler sempre um texto múltiplo que lhe outorgue uma possibilidade de jogo permanente. A esperança de atingir uma unidade, a qual parecia almejar no início da leitura, demonstra sua impossibilidade. O corpo e o espírito não conseguem obter uma fusão. Em seu lugar, aparece o eu leitor como sujeito ativo na tarefa de executar uma leitura-sedução. A narradora propõe uma tarefa transformadora que, tomando como ponto de partida o corpo alheio, dá a conhecer os desejos do próprio corpo.

Ao retomarmos o trecho de sua relação com Julian, observamos que Ocampo

reconhece que o corpo é um texto de sentido plural, porém, impenetrável.

Pero esos besos míos no eran besos. Eran pobres medio para alcanzar lo que me decían esos ojos, esa frente, esa boca. Esos ojos, esa frente, esa boca eran una traducción en términos de belleza, un comentario, una promesa de no sé que. Eran un

signo. Algo que ni siquiera deletreaba. Y yo necesitaba ahora leer el texto entero [...] Recuerdo que levanté la cabeza y miré la cara de J. como los ciegos tantean un rostro para adivinarlo. Yo, para hacer pasar a no sé qué dominio lo que mis ojos veían y que quedara traducido. ¿Qué sentido en nosotros está amputado? Mis ojos trataban de leer un mensaje…. (AUT. III, 64-65)

A linguagem articulada não consegue decifrar o texto inteiro e a leitura muda

seus métodos de aproximação, frente ao hermetismo do corpo-texto. A narradora tenta a proximidade física, a comunicação direta. Mas esse corpo que convida, ao mesmo tempo, opõe resistência, e se expressa numa linguagem que ela não consegue decifrar. O que lê é a formulação do segredo próprio a toda linguagem: significantes que se relativizam e se contaminam entre si, subtraindo-se a qualquer solução. A comunicação dos corpos parece atingida sem a intervenção dos sujeitos, ou, até mesmo, apesar deles:

Nuestros cuerpos no necesitaban de nosotros para entenderse. No teníamos nada que enseñarles. Dudo que otros cuerpos hayan tenido, jamás, mayor entendimiento, mayor placer en tutearse y más ternura que prodigarse cuando el deseo saciado se alejaba. (AUT. III, 37)

O diálogo erótico cria um efeito de unidade em que o enigma parece

desvanecer-se, de modo que a presença é quase completa. Mas a separação dentro dos sujeitos ainda permanece. O nosotros que não participa da comunhão corporal, se desdobra. Como a escritura, os corpos são constituídos por códigos que se interpenetram uns aos outros deixando atrás deles algo que não consegue se manifestar. O texto escrito, que nasce mais tarde segundo as lembranças e que pretende suprir a falta do vivido no passado, repete a intenção fracassada dos corpos. O objeto da busca fica, assim, irremediavelmente perdido. O texto não deixa de repetir o ato de sedução ao pretender atrair o leitor para outro jogo de atração. Na citação precedente, nomear e repetir as partes do corpo separadamente, “ojos”, “frente”, “boca” contribui para a impossibilidade de integrá-los numa percepção única. O mesmo ocorre no texto de Ocampo em que proliferam fragmentos: encontros, cartas próprias e alheias formam um corpo textual que, através desses cortes, pretende repetir a sedução e reanimá-la através da leitura.

As passagens anteriormente mencionadas mostram, sobretudo, as mudanças sofridas pela protagonista na visão que tem de si mesma. Enquanto que, na infância, aceitava sua imagem refletida no espelho, a relação se complica quando, na idade adulta, lhe oferecem outra para lhe assegurar a correspondência entre ambos. A transformação é óbvia no relato que faz ao referir-se a sua relação com J.; a imagem de si abre-se ao diálogo com a imagem incompleta do outro; o eu abraça diferentes textos, todos inconclusos. Ocampo, como leitora e escritora, se sente parte integrante desse jogo múltiplo. Além disso, a impossibilidade da posse completa do outro, longe de significar um fracasso, mostra o logro da liberdade entre os dois sujeitos. Não há posse completa porque não há redução de nenhum dos participantes a uma postura de inferioridade, de objeto. Em sua escritura não há inversão das relações tradicionais; para assumir o lugar de autoridade, com o qual só faria reproduzir, inversamente, o mecanismo legendário de poder; a co-participação dos dois participantes garante o triunfo de ambos.

A Autobiografia acentua as fortes preferências do corpo e de sua capacidade de

mostrá-las sobrepondo-se ao controle do sujeito. Se os olhares citados marcam bem o passo que vai da recepção à criação, o texto não deixa de estar eivado de dúvidas e ambigüidades. Esta característica provém de duas fontes: por um lado, da abertura que os textos requerem e, por outro lado, das reflexões negativas que a sociedade impõe ao sujeito e que, se bem que repudiadas por ele, permanecem inseridas no texto.

Os discursos da censura e o castigo ao qual se submete o corpo da mulher são

sinais evidentes das restrições impostas à sua liberdade. A submissão, desde a infância, às regras sociais que são impostas ao tratamento do corpo têm como finalidade a inserção da mulher na sociedade, colocando-a na postura que a ela é assinalada. Ocampo particulariza esse treinamento ao referir-se a casos concretos de sua experiência. O primeiro deles marca a passagem da infância à juventude, quando recebe novas regras físicas e sociais. Quando fica menstruada pela primeira vez, evidenciando que seu corpo já está sexualmente maduro, a mãe lhe mostra certos limites que restringem seu comportamento:

Eso, todos los meses. Que no había que bañarse en agua fría mientras durara, ni jugar con agua fría, ni mojarse los pies. Que había que usar agua templada y que no se hablaba de esas cosas delante de los señores. Delante de las mujeres, sí. Que tampoco tenía yo que hablarles de eso a mis hermanas menores, por el momento. (AUT.I, 116)

O corpo se rege por leis naturais que a sociedade esconde e reprime. As proibições mutilam tanto a linguagem, (por exemplo eso, eufemismo decoroso), quanto o corpo, invalidando algumas de suas partes que ficam relegadas ao domínio da vergonha e do segredo. O discurso sobre as leis do corpo é coisa de mulheres para mulheres; fora dele é escandaloso e vergonhoso, podendo causar escândalo. A “verdade” subverteria a imagem ideal que simula a inexistência de uma parte do corpo. Ver-se condenada a esconder partes de um corpo de que a menina, até então, se orgulhava, e no qual fundamentava seu eu tem repercussões sérias para a adolescente:

Acurrucada sobre mí misma, como para ofrecer el menor blanco posible, me sentía presa. Presa de mi cuerpo. De mi cuerpo que odiaba, porque me estaba traicionando al conducirse de modo imprevisto. Porque algo en él merecía una vergüenza que yo no merecía ni aceptaba. (AUT.I, 117)

Ocampo, então, experimenta seu corpo, parte fundamental de seu eu, como uma

ameaça de desagregação. O corpo social emite, sobre ele, um juízo negativo que conduz à repulsa e que se interpreta como sendo uma condenação injusta. Embora o eu desarticulado tente reintegrá-lo a si, àquela Diana com a qual orgulhosamente se comparava, Ocampo se bate contra o corpo real, imagem vergonhosa que é necessário camuflar. Ao recordar, novamente, a estátua de Diana, diz Ocampo:

Pensaba con envidia en los muslos de esa estatua. No ser de mármol yo también. El mármol no se mancha con sangre. Y yo detestaba la sangre que me iba a manchar cada mes. Me sentía encarcelada por esa sangre. Ni la belleza del cuerpo me quedaba. ¿Quién hubiera hecho una estatua de Diana con los muslos manchados de sangre? Pensé que la sangre mataba la belleza. Que la mataba en mí. (AUT. I, 117)

Uma representação socialmente aceitável do corpo disfarça a anatomia e altera

as funções para esconder suas “imperfeições”. As superfícies lisas e suaves não mostram nenhuma fissura, nenhuma falha. O sangue “mancha” imprime um sinal interpretado como falta ou o resultado de alguma culpa, de uma transgressão.

Em sua idade adulta, quando descreve suas experiências e admite as lutas internas que dividem seu eu, é que Ocampo recupera seu corpo. Esse processo, porém,

se bate com o papel que a linguagem representa no contexto. A recuperação completa é impossível já que a corporalidade da linguagem interfere uma vez mais. Se a escritura é para a narradora um instrumento familiar no qual encontra alívio, ela, também, constitui um instrumento que a separa de si mesma e que lhe assinala a postura de leitora. Por isso relembra o efeito que produz nela a aprendizagem das partes de seu corpo; ao nomear e identificar órgãos do mesmo modo que classifica os pecados, seu corpo e seu espírito experimentam um certo alheamento. Entre o corpo, o espírito e a linguagem com que os quer representar não existe correspondência, mas um engano, que é comumente aceito:

Yo me repetía: “la columna vertebral, el tórax, el pulmón, el hígado, el estómago,” como me repetía: “El orgullo, la lujuria, la gula, la pereza”. Una parte de mí misma parecía desprenderse de mí misma y volvérseme extraña, sospechosa; nacía una distancia entre nosotros. Era yo y no era yo. A tórax, pulmón, gula, pereza, les sentaba bien el artículo y mal el adjetivo posesivo. Sólo se podía decir: “Me duele el pulmón... El pulmón que se me adjudicó en el reparto de pulmones, el pulmón que sacaron del cajón de los pulmones...(AUT.I, 121)

O corpo falado deixa de ser próprio, torna-se estranho, outro. Ele não é mais o

que se vive, mas uma representação que o rege e domina. A objetivação levada a cabo em lugar de iniciar o conhecimento, origina a estranheza. Não há categorização possível nem mesmo há unidade. O corpo, como objeto de estudo da anatomia assemelha-se ao censurado pela religião; o estudo anatômico emite um juízo exterior, assim como o religioso expressa a culpabilidade: mencionar as partes do corpo, equivale a enumerar os sete pecados capitais, igualmente despersonalizados. Com a escritura Ocampo pretende deixar a carga negativa agregada ao corpo e equilibrá-la dando-lhe uma outra voz. Ela confronta e rechaça essas linguagens, que considera rigorosas, substituindo-as por outras que questionam as anteriores e celebram sua sensualidade. Mas a tarefa é penosa; a dificuldade reside em encontrar os meios apropriados para obter uma nova expressão, já que todas as linguagens atraiçoam o corpo porque são aptas para representá-lo, mas não para torná-lo presente. Estabelece-se, então, uma luta para passar da linguagem escrita à presença de sua pessoa, tarefa quase impossível.

Outra experiência limitante que deriva do temor ao corpo e que impede sua exibição é a proibição que a família lhe impõe de dedicar-se ao teatro e tornar-se atriz. O cenário, lugar apropriado para que o corpo se mostre e ponha em ação suas

linguagens, movimentos e gestos, ameaça com a desonra quem dele participa. Permitir que se expusesse ao olhar direto do público, que seu corpo fosse o centro de atenção, causa escândalo, porque faz com que se aproxime da mulher pública. Para Ocampo, a nudez não merece, necessariamente, o juízo recriminatório feito por uma de suas tias; diante de sua manifestação artística, ela suspende o juízo moral e aplica uma valorização estética: a beleza é casta e sua admiração é a única atitude possível para substituir a linguagem da lei, por outra de sentido diferente; face ao discurso social, o seu adquire um valor de protesto e desafio. Ao expressar seus desejos, tradicionalmente negados, desafia as limitações e subverte as normas sociais. Face à linguagem da lei, ela interpõe a que problematiza os desejos e prazeres do corpo. Desse modo, cumpre com dois objetivos atribuídos à escrita feminina: por um lado, adota o que demonstra sua sexualidade, seus órgãos e seus prazeres, e, por outro, rompe o silêncio e desafia a censura com a qual querem cobri-lo. Mas a narração também dá provas de maior conflito, ainda que permita que o corpo se revele e rebele, não consegue evitar as discussões e as elaborações íntimas.

Far-se-á referência, agora, aos discursos internalizados que, formando parte do

eu entram em discussão com os já anteriormente mencionados.

Os escritos de Ocampo tomam freqüentemente, como ponto de partida, as lutas entre termos antagônicos, sujeito/objeto, eu/outro, liberdade/censura, que se opõem. Essa estrutura fundamenta muitos de seus ensaios e articula vários temas de sua

Autobiografia. A escritura, porém, apaga as diferenças nítidas entre os termos sem

conseguir um argumento conclusivo que solucione a disjunção inicial.

O mesmo processo ocorre quando examina a dicotomia corpo/espírito. O que

diferencia esse antagonismo, dos anteriores, é que, ao formar parte do próprio sujeito, expressa divisões internas. Ao longo de sua Autobiografia, Ocampo se refere a desejos espirituais que a atraem até um ponto que transcende o físico. Bem sensíveis quando narra sua amizade com Rabindranath Tagore. A atração que o poeta exerce sobre ela deve-se a seus versos que dão lugar tanto ao corpo quanto ao espírito. Ela se debate, então, entre forças contraditórias para conseguir uma unidade. Em busca de um meio para transcender tanto as limitações físicas quanto as sentimentais, encontra uma resposta nesses versos que cantam um novo amor carregado de espiritualidade: otro

amor en donde ya no domina esa sangre de la arteria, esa sangre de la vena que tan pesados y terrenos nos vuelve. (AUT. IV, 131) Ocampo desejava fundir corpo e espírito

em sua experiência pessoal e também conseguir sua transferência à escritura. Os debates

que empreende conduzem à impossibilidade de representar as forças não corporais e à formulação de perguntas e de desejos insatisfeitos:

¿cómo podía ser que... – el alma – estuviera hecho de vacío, de la nada? ¿El vacío y la nada de la muerte, nuestra absurda terminal, nuestra única certidumbre, nuestro incomprensible desenlace? (AUT .IV, 197)

As lutas culminam na confusão, na contradição ou na admissão do fracasso e,

ainda que Ocampo reconheça sua ingenuidade, retorna freqüentemente ao problema. As perguntas reiteradamente formuladas ficam sem resposta. Devemos acrescentar, ainda, outras ambivalências de sua postura. Ela contradiz seu desejo de unidade física e espiritual ao referir-se ao artigo de Aldous Huxley, no qual ele afirma que um ser humano de primeira precisa ser um pensador de primeira.

Responde Ocampo:

El delicado equilibrio con que Huxley sueña cuando ve al hombre caminando sobre una cuerda tensa, con la inteligencia, la conciencia y todo lo que es espiritual en un extremo de su balancín, y el cuerpo y el instinto y todo lo que es inconsciente, terreno y misterioso en el otro extremo, es quizá posible... pero, ¿cómo salvarlo, en su relatividad perfecta, de una mediocridad no menos perfecta y de una amenazadora esterilidad? No son cuestiones éstas que uno resuelve, sino que se formula con inquietud.l (T. I, 162)

Formular e reformular uma pergunta sabendo-se bem que não há resposta

possível é iniciar um jogo interminável. O que parece interessar mais à Victoria Ocampo é a ação, a formulação do desejo; ao reiterar o prazer, reitera, também, o sujeito. As batalhas travadas entre o corpo e o espírito não têm vencedores.

Assim fica demonstraa uma das características mais marcantes da escritura de

Ocampo, que consiste em por em contacto uma variedade de discursos que, aceitados ou recusados, dialogam entre si. Se, por vezes, a autora apresenta-se como sendo uma vítima da sociedade, em outras – e a dicotomia corpo/espírito é um bom exemplo – figura como confundida e mutante. O texto oferece diversos altos e baixos e, em conseqüência, não resulta dele um discurso dominante, mas uma discussão interminável de possibilidades. Isto, porém, não significa que o sujeito e o texto sejam incapazes de tomar posições, mas que mostram inegavelmente possuírem uma grande flexibilidade.

Que les tenemos los hace vivir en nosotros, con sus cualidades y defectos.... Pero como sólo viven en nuestra vida porque hemos vivido de la de ellos, hay un momento, más duro de sufrir que ningún otro, en que nos es preciso abandonar su morada y regresar con ellos, para siempre, a la nuestra, tan poblada ya... Y decimos a uno: “Ese ademán con que me llamabas cuando yo era chica, lo sigues haciendo, lo veo”. Y a otra:”!tus pasos detrás de la puerta cuando venías temprano a

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 109-119)