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Envelhecimento duplicará gasto social

Na seção dessa reportagem intitulada apenas “Previdência”50, que trata da Previdência Social em três dos cinco parágrafos que a compõe, é afirmado, categoricamente, que a Previdência será “Previsivelmente, a maior fonte de despesas adicionais nos próximos anos”, elevando “em mais de R$ 300 bilhões ao ano os encargos com aposentadorias, pensões e assistência a idosos”, chamando atenção para o quadro que ocupa o alto da página e que ilustra a evolução prevista das despesas das áreas sociais.

Ao final da reportagem, o olho da matéria dá destaque à frase alarmante de um dos autores da pesquisa do IPEA: “Se nós não erradicarmos a pobreza até lá, seremos velhos e pobres”. Apesar do olho estar posicionado no final da reportagem principal, a frase que o compõem aparece em texto complementar intitulado “Para economista, próximos 20 anos são chance para eliminar pobreza”, imediatamente posicionado abaixo do texto principal. No texto complementar é apresentada a avaliação de um dos responsáveis pelo estudo do IPEA sobre as possibilidades do Brasil eliminar a pobreza nos próximos 20 anos. Para o economista citado, a chance – “talvez a última” – depende da “reformulação dos orçamentos da área social”. Nesse sentido, a proposta apontada pelo economista, materializada no enunciado em questão, é “que os benefícios assistenciais sejam desvinculados do piso salarial” (constitucionalmente determinado em um salário mínimo), proposta convergente com a elaborada pelo economista Fábio Giambiagi.

O valor fiscalista do discurso neoliberal sobre Previdência Social também pode ser percebido no enunciado “Tema em discussão: Reformar ou não a Previdência” (Enunciado 2), publicado em 20 de dezembro de 2010, no jornal OG. O “Tema em discussão” é um espaço que o jornal OG possui para opor opiniões divergentes sobre determinados temas. Nele, são expostas as opiniões do jornal – uma espécie de editorial – em contraposição com a opinião de alguém, especialista ou não, que escreveu sobre um determinado tema de interesse geral. No caso em questão, a opinião do jornal sobre a reforma da Previdência Social, no texto “Grave descompasso”, foi colocada em oposição à opinião contrarreforma de um deputado federal e ex-ministro da Previdência Social, no texto “Eventuais ajustes”; aliás, esse artigo com opinião contrária à necessidade de reforma foi um dos poucos espaços dados a um enunciado divergente da opinião geral do próprio jornal OG. Tal desproporção entre opiniões

50 Em nenhum momento da reportagem é feita qualquer menção sobre qual(is) sistema(s) previdenciário(s) está(ão) sendo tratada(s): Regime Geral da Previdência Social (RGPS/INSS) do trabalhador da iniciativa privada ou Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) do servidor público. Só é possível identificar essa informação nas minúsculas linhas de uma nota do quadro que aparece no canto inferior esquerdo do mesmo, e que faz referência à curva do gráfico que mostra o aumento previsto dos gastos com aposentadorias e pensões. Na nota é informado que o item “Aposentadorias e pensões*” a que a linha se refere “Inclui benefícios assistenciais pagos

pró-reforma e contrarreforma, com peso muito maior para as teses reformistas, é a tônica dos enunciados dos jornais OESP, FSP e OG que compõem o corpus de análise desta tese.

O texto “Grave descompasso”, opinião do OG, destaca que a “crise previdenciária”, causada pelo “imperativo demográfico” obrigará, infalivelmente, a classe política a “enfrentar essa situação”. O imperativo demográfico que o texto se refere e que gera crise das contas previdenciárias é a redução da geração de filhos que levará à redução futura do “número de contribuintes ativos dos sistemas previdenciários, enquanto o envelhecimento e a ampliação da expectativa de vida, ditada por avanços da ciência, aumentam o universo dos aposentados”.

Imediatamente no parágrafo seguinte, a sentença do OG é dada: “Trata-se de infalível fórmula da falência”, decorrente dos desarranjos das contas públicas. Logo depois desse diagnóstico, a opinião do OG busca dar caráter técnico às suas convicções. Para desvincular- se de qualquer acusação de ordem ideológica, enuncia que a crise previdenciária não é “devido a uma conspiração neoliberal”, pois tal fenômeno ocorre “em qualquer país em que haja uma Previdência como a nossa, de repartição”. Essa posição é reforçada pelo enunciado do olho do texto: “É a demografia que causa um déficit estrutural, e não uma conspiração de neoliberais”. Sendo assim, pela lógica dos enunciados em conjunto, as críticas contra a reforma da Previdência, essas sim, podem ser vistas como ideológicas por não terem respaldo na inevitabilidade dos fatos.

Ainda nesse parágrafo, para aprofundar o caráter racional de sua argumentação, OG afirma que por “um raciocínio lógico simples, conclui-se que a evolução da demografia” por ela mesma “demolirá qualquer Previdência deste tipo que não se adapte a esta evolução”. Enfim, pela lógica de OG, o modelo de repartição solidária de qualquer país do mundo que o tenha adotado, sem exceção, deverá, obrigatoriamente, ser reformado devido às mudanças demográficas que, além de aumentarem a proporção de idosos na população, reduziram a relação entre o número total de contribuintes e o montante dos benefícios dados.

Na continuidade do texto, no quarto parágrafo, a opinião do jornal OG sobre o “déficit” da Previdência é enunciada. O jornal aponta que “costuma ser usado no Brasil o argumento de que a Previdência (INSS) é superavitária, pois não pode ser considerada nela, como é feito, a aposentadoria rural – em que não se exige contribuição –, por ser ela assistencialista, não seguridade. Mas do ponto de vista do Tesouro e do contribuinte não importa: os mais de R$ 40 bilhões de déficit que o INSS apresenta este ano precisam ser cobertos, e não por emissão de moeda”.

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