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Capítulo I – As políticas educacionais no Ensino Superior

4.2 Equipe ECT – Atores Envolvidos

4.2.1 A equipe em números

A Escola de Ciência e Tecnologia conta com uma equipe ampla de técnicos, assessores, docentes e diretores, para que seja possível o pleno funcionamento da instituição. A equipe é composta por: (01) uma diretora e (01) vice-diretor;(01) uma coordenadora e (01) uma vice-coordenadora; (05) cinco assessores acadêmicos; (04) quatro técnicos (as) em

assuntos educacionais; (04) quatro assistentes em administração; (167) cento e sessenta e sete monitores, que atuam em 33 componentes curriculares do BCT – para a disciplina de Pré- Cálculo, que foi pesquisada nessa dissertação, o semestre de 2019.2 contava com (02) dois monitores; (100) cem professores, sendo (93) noventa e três efetivos e (07) sete substitutos ou temporários. O corpo docente se distribui nas seguintes áreas:

Por área de atuação no ensino de graduação:

Ciência dos Materiais CTS (Ciência, Tecnologia

e Sociedade) Eletricidade Aplicada Empreendedorismo Estatística Expressão Gráfica Física Informática Matemática Mecânica dos Fluidos Mecânica dos Sólidos Meio Ambiente Modelagem Integrada Negócios Tecnológicos PLE (Prática de Leitura e

Escrita) Química

Por área de atuação na pesquisa:

CTS Economia Empreendedorismo Engenharia Elétrica Engenharia de Materiais Física Informática Matemática

Meio Ambiente Negócios Tecnológicos PLE Química

Para esta pesquisa, buscou-se entrar em contato com os funcionários que entendemos ter maior contato com os processos de ensino e aprendizagem na instituição. Sendo assim, foram entrevistadas (os) (02) duas coordenadoras; (03) três dos (04) quatro Técnicos e Técnicas em Assuntos Educacionais; (04) quatro dos (05) cinco professores que estavam lecionando a disciplina no semestre pesquisado; (01) uma professora que se disponibilizou a participar, mesmo não lecionando a disciplina de pré-cálculo no semestre em questão; (04) monitores da disciplina.

4.2.2 Conhecendo a instituição e seus atores

As entrevistas realizadas oportunizaram conhecer a instituição para além dos documentos. O contato com a equipe que faz a Escola de Ciência e Tecnologia (ECT) foi uma oportunidade de vivenciar, por meio de seus relatos, as relações institucionais, o cotidiano, as demandas, assim como as estratégias por eles criadas para lidar com cada um dos desafios que surgem. Serão apresentados inicialmente dados gerais da equipe referentes à sua atuação na Escola, para que posteriormente possamos nos deter aos aspectos específicos da pesquisa com a disciplina de Pré-Cálculo. No decorrer do texto também serão apresentadas as categorias de análise elencadas como principais para a compreensão do fenômeno pesquisado.

4.2.3 Chegando à Escola

Entramos em contato com a equipe da direção para apresentar a pesquisa e saber se havia interesse em participar. Após a anuência da instituição, o passo seguinte foi submeter a pesquisa ao Comitê de Ética da UFRN, em conformidade com a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde - CNS e Manual Operacional para Comitês de Ética – CONEP, tendo sido aprovada conforme o parecer de número 3.322.228. Com a aprovação do Comitê de Ética, entramos em contato com os participantes e, por contato via e-mail, foi possível agendar as entrevistas. A disciplina de Pré-Cálculo é ofertada no formato de módulos, no começo de cada semestre, com duração de 7 (sete) semanas e seguida da disciplina de Cálculo I. Devido esse formato, pensamos ser interessante realizar a coleta de dados com professores e alunos no período em que as aulas da disciplina ainda estivessem ocorrendo.

Foi entrevistada inicialmente a equipe composta pelas coordenadoras e pelas Técnicas e Técnico em Assuntos Educacionais. As entrevistas semi-estruturadas tiveram duração média de 25 minutos e foram realizadas no espaço de trabalho dos participantes, com exceção de uma entrevista que foi realizada em um dos laboratórios, devidoao grande movimento no espaço de trabalho dos participantes no dia.Da equipe de TAE‘s, somente com uma técnica não foi possível realizar a entrevista.

As entrevistas semi-estruturadas foram antecedidas da leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), assim como doTermo de Autorização de Gravação de Voz.(anexados).Todos os participantes aceitaram participar da pesquisa e assinaram ambos os termos. As entrevistas foram posteriormente transcritas, para que fosse possível em seguida a realização de sua análise.

Os dados dos questionários respondidos pelos alunos foram lidos e organizados em formato de planilhas no programa Excel 2003, para melhor visualização e análise das respostas dos participantes.

4.2.4 A coordenação

As entrevistas com as duas coordenadoras do curso aconteceram em espaços e dias diferentes. Devido à demanda de trabalho da equipe, na primeira entrevista a participante solicitou que fôssemos para um ambiente mais silencioso. A primeira entrevista foi realizada em um dos laboratórios da instituição e a segunda, por ter sido realizada e um dia de menor movimento, foi realizada na sala de trabalho da equipe.

A participante faz parte da instituição há 9 (nove) anos e desempenha funções na coordenação há 6 (seis) anos, tendo desempenhado a função de coordenadora ou de vice- coordenadora em diferentes momentos.

Na primeira entrevista, quando questionada sobre o que é estar na coordenação de um curso como o Bacharelado em Ciência e Tecnologia, a participante afirmou ser um desafio, principalmente devido ao tamanho do curso. Hoje, o curso de graduação em Ciência e Tecnologia da UFRN é a maior graduação da instituição e Escola de Ciência e Tecnologia é responsável por organizar toda a sua estrutura

Coordenadora (1)

[...] é um desafio enorme por que [...] Esse curso é o maior curso de graduação da UFRN, em quantidade de alunos e de professores. Então a gente tem, regularmente matriculados e ativos 3.700 alunos. Então a gente até brinca que a gente é uma faculdade dentro da universidade. Nós temos 94 professores e em torno de 380 turmas por semestre. Então você imagina o quê que é você gerenciar tudo isso aí.

Coordenadora (1)

[...] Então assim, é um grande gerenciamento, tanto físico, de espaço físico inclusive, distribuir essas turmas no espaço físico; é um gerenciamento de pessoas, a gente também trabalha gerenciando esses professores; é um gerenciamento de conflitos, por que a gente vê as mais diversas problemáticas que existem com os nossos alunos, seja por que ele não está entendendo a matéria;por que ele acha que o professor não está passando corretamente; seja por que ele acha que aquele conteúdo não deveria estar naquela disciplina, então lá vai eu explicar o por que. Então assim, é um desafio todo dia. Isso é que é a grande realidade. O desafio de você ser coordenadora do maior curso de graduação da UFRN é um desafio todo dia.

De acordo com Magalhães, Barbosa, Lima e Cassundé (2017) com as modificações do Ensino Superior brasileiro, principalmente após sua expansão, modificou-se também o papel do professor de Ensino Superior. Tais modificações atribuem ao docente de nível superior novas funções gerenciais, como temos percebidos nos relatos das entrevistas e conforme apontam Barbosa, Mendonça & Cassundé (2015).

O papel social de professor-gestor é, em certa medida, composto das competências gerenciais esperadas desses sujeitos, as quais, em algum aspecto, são diferentes das competências profissionais exigidas no papel de docente ou de pesquisador. (p. 02)

A quantidade de atividades acumuladas por docentes que também atuam na gestão das instituições é um aspecto relevante a ser considerado, uma vez que além das atividades de gestão, outras funções lhes são atribuídas. Essas novas funções demandam dos docentes outros domínios de conhecimentos, para que além da sua área de formação. De acordo com Faria, Venâncio & Camargo (2019).

Cada vez mais, com o avanço das tecnologias e a globalização, o papel do professor – e da própria escola – é colocado em xeque, demandando, para além do domínio de conhecimentos específicos, também o desenvolvimento de diversas outras habilidades individuais e interpessoais. (p.222)

O papel do professor gestor no Ensino Superior é um tema amplo que demandaria ainda outras conexões a serem discutidas, como a discussão sobre a relação sujeito-trabalho; modo de produção e relações institucionais; assim como uma discussão sobre carreira docente, como produto―das relações psicossociais dinâmicas e dialéticas entre indivíduo, sociedade e organizações de trabalho‖ (BENDASSOLI, 2009, p.397).

Devido aos limites dessa dissertação, não nos aprofundaremos em tal discussão, o que possibilita discutir tão importante temática em projetos futuros.

Além das questões de gestão, outras preocupações surgem cotidianamente, como apontado na entrevista com a coordenadora (2). A preocupação quanto ao aconselhamento dos alunos com relação à rotina da instituição surgiu como algumas das funções da coordenação

Coordenadora (2)

[...] tentar ajudar esses meninos a caminhar aqui dentro do curso; tirar as dúvidas e tentar colaborar para cada vez mais melhorar o curso. Tentar divulgar também. Eu acho que a intenção é realmente melhoria.

Foi possível perceber nas entrevistas com a coordenação, assim como na observação da rotina de trabalho, que as demandas de trabalho em uma instituição como a ECT é desafiadora, fato que se constata já na dificuldade das participantes em parar as atividades por alguns minutos para conceder a entrevista. Além das atividades administrativas, a coordenação também lida com demandas de alunos e professores que chegam à sua sala a cada momento. Durante as entrevistas que ocorreram no espaço, alunos chegavam a todo momento para tirar dúvidas com a equipe. A sala se localiza próxima à recepção da instituição, o que facilita o acesso de quem necessita, ao mesmo tempo em que promove mais atividades para a coordenação.

A rotina do professor gestor e da professora gestora em Instituições de Ensino Superior se configura como um campo de pesquisa rico em possibilidades de investigação, o que foi possível perceber já na entrada no campo. As demandas administrativas do cotidiano de trabalho, a carga horária a ser cumprida em sala de aula, atividades de pesquisa e de extensão e outras atividades, se mesclam na rotina de trabalho dessas professoras que necessitam de auxílio de outros profissionais para que seja possível o funcionamento da instituição, como relatado a seguir:

Coordenadora (1)

[...] não sou obrigada a dar a carga horária toda, mas eu não posso ficar sem carga horária de ensino totalmente. E tenho que desenvolver minhas pesquisas e tenho que fazer meus projetos de extensão, por que para a minha carreira docente, a universidade me cobra isso. Preciso fazer Ensino, Pesquisa e Extensão também.

Coordenadora (1)

[...] eu posso dizer que eu consegui desempenhar por que a gente tem na coordenação desse curso [...] uma grande rede de apoio, que são os Técnicos em Assuntos Educacionais que trabalham diretamente com a gente.

Assim, a atividade desses outros profissionais acaba por também sofrer modificações diante das novas funções que lhes são demandadas, o que nos leva ao próximo tópico, que contribuirá para a nossa compreensão acerca do trabalho do Técnico em Assuntos Educacionais (TAE).

4.2.5 Técnicas e Técnico em Assuntos Educacionais (TAE’s)

Para Sanverino & Gomes (2014), o cargo de TAE, desde a sua criação,instituído pela Lei Nº 5. 656, de 10 de dezembro de 1970, possui atribuição confusa mesmo na legislação, passando por diversas modificações ao que se refere à suas atribuições assim como os requisitos necessários para ingresso no cargo. Hoje, na descrição do cargo conforme Oficio nº 015/2005/ CGGP/SAA/SE/MEC, registra que esse profissional deverá

Coordenar as atividades de ensino, planejamento e orientação, supervisionando e avaliando estas atividades, para assegurar a regularidade do desenvolvimento do processo educativo. Assessorar nas atividades de ensino, pesquisa e extensão.‖ Como requisito de qualificação para ingresso no cargo, é necessário curso superior em Pedagogia ou Licenciaturas.(Brasil, 2005, p. 50)

Porém, essa confusão das atribuições do cargo parecem permanecer nas instituições, que, no caso da ECT, devido a grande demanda administrativa, necessita de auxílio extra para que consiga suprir as demandas. Essas atribuições administrativas, assim como a quantidade de trabalho realizado e a ausência de participação nos processos de ensino e aprendizagem, surgem nas falas dos participantes entrevistados de maneira veemente, o que corrobora com a confusa tarefa do cargo nas instituições.

As entrevistas com as Técnicas e o Técnico em Assuntos Educacionais foram realizadas em seu espaço de trabalho, ambiente de grande movimentação de outros funcionários, assim como de alunos. No momento de uma das entrevistas, os técnicos solicitaram que a mesma fosse realizada em conjunto, alegando a facilidade de comunicação entre a equipe e não sendo necessário o deslocamento para outro espaço. A solicitação foi atendida resultando o total de três entrevistas da equipe, sendo uma delas respondida por dois técnicos, conjuntamente. Apesar de ter sido realizada uma entrevista com duas pessoas ao

mesmo tempo, tivemos o cuidado em enfatizar a importância das respostas de ambos participantes, resultando em uma entrevista conjunta, porém, com respostas de dois participantes.

Na mesma sala trabalham a equipe da coordenação e a equipe administrativa. Em todas as entrevistas foi possível perceber que as atribuições das Técnicas e Técnico se vinculam à serviços de cunho administrativo, ficando de lado os serviços voltados para as atribuições pedagógicas do cargo. Sanverino & Gomes (2014) trazem em sua pesquisa que ―Técnico em Assuntos Educacionais é um cargo público que possui como registro de qualificação para ingresso o curso superior em Pedagogia ou Licenciaturas (p.01)‖ e que ―sua formação pedagógica e a natureza do cargo revelam, portanto, que as atribuições do TAE extrapolam o administrativo‖ (p. 02).A realidade relatada na pesquisa de Gomes & Sanverino (2014), de que ―nas universidades públicas, verifica-se que esses servidores têm executado rotinas essencialmente administrativas‖ (p. 02) se confirma na ECT.

Quando questionados sobre o que é ser Técnico em Assuntos Educacionais, os participantes apresentaram a sua atuação como sendo majoritariamente administrativa, auxiliando em processos documentais de alunos e professores, assim como auxiliando processos de matrícula e trancamento

Técnico (1)

[...] O principal que a gente faz, assim de um modo geral é: o aluno que procura a gente... encaminhamento... a gente procura resolver esse encaminhamento que ele quer, entendeu? Seja em relação à matrícula, seja em relação à alguma dúvida... em relação à trancar o curso; seja em relação à algum problema que está prejudicando ele no curso, de ordem psicológica, de ordem financeira. A gente recebe para poder dar os... assim, a gente primeiro recebe, dá o encaminhamento para procurar a psicóloga, ou seja... De bolsa também a gente já resolveu, graças a deus a gente já resolveu muitos casos de alunos que vem para cá com dificuldade financeira e a gente conseguir uma bolsa com algum professor, sabe? A gente faz ―mutirão‖ nesse sentido. A gente também recebe os pais.

Técnico (2)

[...] a gente encaminha. Atendemos alunos com muitos problemas. Já tivemos um caso aqui, por exemplo, que já fazia mais de um ano que o menino tinha abandonado a faculdade... tinha sido jubilado, na verdade e todo dia continuava saindo de casa como se viesse para cá. A gente olhou e fazia um ano que o menino tinha sido excluído do curso e o pai veio.

A equipe é composta por quatro (04) Técnicos em Assuntos Educacionais, sendo três (03) mulheres e um (01) homem, que trabalham em conjunto, dividindo as tarefas que chegam à coordenação.

Técnico (3)

[...] quando eu comecei a trabalhar realmente aqui na Escola, percebi que o cargo se confunde muito com a parte administrativa, com os cargos de nível médio... assistente de administração, enfim, cargos burocráticos que trabalham com o dia-a-dia mesmo de SIGAA, de abrir processos... enfim, processos e trâmites de sistema que são bem mais técnicos e voltados para o cargo de assistente de administração

do que para o cargo de TAE. Então, acaba que querendo ou não a gente acaba com um pouco de funções que seriam próprias desse outro cargo, mas claro que, por hora e por vezes não tem como separar a parte burocrática de sistema, de SIGAA, de processos... do cotidiano de orientação a alunos, do trabalho junto com os professores na questão da orientação acadêmica também.

Sobre as atividades desenvolvidas pelos TAE‘s, uma participante afirma o seguinte: Técnico (3)

A gente pode dizer que é 80% administrativa e 20% é pedagógica mesmo, do cargo de Técnico em Assuntos Educacionais. Acaba que [...] não diria que eu sinto falta, mas as vezes é esquisito, por que a gente acaba confundindo, mas enfim, é o cotidiano realmente da universidade e algo que a gente acaba aprendendo no dia-a-dia. As necessidades vêm e a gente tem que assumir.

Esse formato de organização do trabalho dos Técnicos em Assuntos Educacionais, ao mesmo tempo em que contribui para a redução da grande demanda administrativa deuma instituição como a ECT, impede os funcionários de exercerem sua real função nos processos educacionais no Ensino Superior, direcionados a professores e alunos da instituição.

Por esse viés de demanda de trabalho em uma instituição com um grande número de discentes e docentes, na tentativa de fazer a instituição funcionar da melhor maneira, os processos de ensino e de aprendizagem que ocorrem dentro e fora de sala de aula também sofrem modificações. A quantidade de alunos por turma; os espaços físicos disponibilizados para os alunos e para os professores, assim como o próprio apoio pedagógico são aspectos a serem levados em consideração ao analisar a função de cada um de seus atores e seus lugares na Escola de Ciência e Tecnologia.

A concepção dos docentes que lecionam em uma instituição como e ECT muito dizem sobre as suas práticas de ensino. Grandes turmas representam também grande carga de trabalho, de avaliações, de orientações acadêmicas, assim como a necessidade de maior dispêndio com as outras atribuições do professor de Ensino Superior, como lidar com a pesquisa e a extensão.

4.2.6 Setor Pedagógico – Psicologia

O setor pedagógico da instituição conta com uma equipe de uma (01) profissional de psicologia e dois bolsistas, alunos da graduação do curso de Psicologia. Essa equipe realiza atendimentos de orientação a discentes e docentes, assim como realiza atividades de Orientação Profissional; Hábitos de Estudos; desenvolve projetos em parceria com docentes da instituição; realiza pesquisas institucionais e outras.

De acordo com a psicóloga da instituição, das ações promovidas pelo setor, as mais desafiadoras são as ações que envolvem o corpo docente, como a participante aponta no seguinte trecho

Psicóloga (1)

[...] eu acho que até hoje o mais difícil para a atuação não é nem trabalhar com o aluno, é trabalhar nessa perspectiva mais macro da análise institucional, de ver essas estratégias, implementar essas estratégias [...] para a gente dar conta das dificuldades, dos problemas que surgem na instituição. Ter a adesão de quem faz parte da instituição para colocar em prática. Então hoje a dificuldade não é com os alunos. A gente tem um serviço oferecido para eles, mas tem as práticas mais macro e a dificuldade maior, inclusive, é trabalhar com os docentes. Ter essa adesão. Então, das propostas que são sugeridas, algumas vezes o docente já tem aquela resistência maior de aderir. Então, o desafio maior que eu acho é isso. [...] Algumas práticas precisam ser implementadas para a resolução de alguns problemas.

A concepção que a profissional tem de sua atuação no contexto do Ensino Superior diz de uma prática que visualiza os processos relativos à aprendizagem como contextualizados e colaborativos, associados a diversos atores. Entretanto, talvez a falta adesão dos sujeitos envolvidos indique certa expectativa de um profissional de psicologia que trabalhe de maneira individualizante, que atua exclusivamente com os alunos e seus ‗problemas‘ particulares de aprendizagem, o que corrobora com o estudo realizado por Moura & Facci (2016), sobre as concepções da atuação do psicólogo no Ensino Superior presentes nos documentos de algumas universidades. De acordo com o estudo,

[...] é difícil esperar que esse profissional atue de maneira crítica, buscando o desenvolvimento humano e a apropriação do conhecimento científico por parte dos alunos, pois a concepção presente nesses documentos é de um profissional fechado em sua sala de atendimento, atendendo alunos que não atingem os resultados esperados, o que está muito próximo de uma concepção de clínica de atuação. Assim, o fracasso escolar é visto como fracasso individual e o psicólogo mais uma vez é instrumento de corroboração desta concepção. (Moura & Facci, 2016, p. 506)

Além disso, é importante também levarmos em consideração que ao docente são atribuídas outras funções que, sobrecarregando a sua carga horária de trabalho, o impedem, infelizmente, de participar de processos de formação que qualifiquem sua prática, Conforme aponta Borowsky em sua tese (2017)

[...] faz-se necessário pensar, também, nas condições gerais do trabalho produtivo, mesmo que ao professor não seja atribuída à qualidade de trabalhador produtivo, por não ser o responsável pela produção ou por serviços, mas dele é exigida a mesma formação do trabalhador de todos os setores da sociedade. (Borowky, 2017, p.56)

Por isso, é imprescindível a promoção de trabalhos coletivos, que considerem que a psicologia tem muito a contribuir para os processos educacionais presentes no Ensino Superior, mas para isso, é imprescindível que a instituição perceba a necessária superação dos ―modelos tradicionalmente adotados pela ciência psicológica pautados na culpabilização, fragmentação e individualização do processo de ensino e aprendizagem‖. (p. 512).