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Capítulo I – As políticas educacionais no Ensino Superior

1.3 Fracasso Escolar no Ensino Superior

O insucesso no Ensino Superior já é um fenômeno discutido em pesquisas recentes, em instituições nacionais e internacionais, de maneira que, as instituições, preocupadas em equiparar o número de ingressantes e egressos, buscam estratégias para a redução dos índices de fracasso e, por conseguinte, de evasão. Para Tinto (1975), em seu estudo ―Student Model Integration‖ os problemas relacionados à incapacidade de redução dos índices de abandono nas IES estãovinculados à falha das instituições em detectar seus reais motivos – que são inúmeros – o que impede uma atuação mais eficaz, agindo diretamente nos grupos de risco. Esse insucesso preocupa direção, gestão e outros setores das instituições de ensino que buscam respostas para tal fenômeno e, através de diferentes estratégias, tentam solucioná-lo. Astin (1992) traz que ―interessa à faculdade e a seus gestores a compreensão de como os estudantes mudam e se desenvolvem e o que pode ser feito para melhorar esse desenvolvimento‖ (p. 75, tradução da autora). Santos, Arabi e Cespedes (2015) apontam que ―no nível superior, a evasão se torna um problema tanto para os estudantes como para as instituições, pois pode representar a perda de qualificação do jovem brasileiro e, um problema ainda maior, desperdício de recursos públicos‖ (p. 02).

Em Portugal, em 1999 medidas governamentais foram tomadas para que fossem realizados estudos acerca do abandono do Ensino Superior, com o intuito de reverter a situação

No que respeita às demandas políticas, já em 1999, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior comprovava a relevância da questão do abandono ao solicitar às universidades, através do Despacho nº 6659/99, IIª série, a realização de estudos que permitissem tipificar causas de insucesso/abandono no ensino superior e possibilitassem a implementação de medidas preventivas daqueles fenómenos. (Ferreira & Fernandes 2015, p. 179)

Quando nos referimos às IES públicas brasileiras percebemos um movimento de combate a evasão – nesse caso, compreendendo a evasão como consequência da retenção/reprovação -, sendo apresentado no REUNI como uma das ações contempladas pelo plano (SESU, 2015). O REUNI, criado no ano de 2007, teve como um de seus objetivos

―ampliar o acesso e a permanência na educação superior‖ (p. 31), demonstrando assim preocupação por parte das Instituições Federais relativa aos índices de conclusão de curso e formação de profissionais qualificados, (SESU, 2015).

Esse assunto vem ocasionando preocupação há um tempo, em 1995 foi criada peloMinistério da Educação (MEC) uma Comissão para analisar a taxa de evasão no ensinopúblico superior, denominada Comissão especial de estudos sobre a evasão no ensino superior. (Santos, Arabi & Cespedes, 2015, p. 02)

É importante atentarmos também para o grande passo dado pelas políticas de inclusão quando da criação dos programas de expansão das IES. Corroborando com tal afirmativa, Oliveira (2007), quando se refere à expansão do Ensino Fundamental no Brasil, traz que mesmo tempo em que se perde por falta de qualidade de ensino, se ganha pela possibilidade de acesso para aqueles que antes nunca haviam adentrado essas instituições.

Podemos fazer leitura semelhante das políticas de expansão das IES, considerando que à medida que um novo público ingressa nas Instituições de Ensino, têm-se novas demandas e novos desafios. Rosa & Ribeiro (2018) apontam o seguinte resultado, em pesquisa realizada na Universidade Federal de Goiás

[...] a despeito da expansão do número de cursos e vagas, a universidade enfrenta diversos desafios, como: preencher a totalidade de vagas disponibilizadas nos processos seletivos; levar os alunos a concluírem a graduação no período regular, sem ficarem retidos; e minimizar os índices de exclusão, principalmente no primeiro ano do curso. [...] Portanto, acredita-se que intervenções por parte do corpo discente e administrativo da universidade podem colaborar para reter o aluno. É preciso, pois, identificar os sinais de que o aluno vai se evadir para que se possa atuar de maneira preventiva, evitando o atraso e a interrupção da trajetória acadêmica. (Rosa & Ribeiro, 2018, p. 201).

Tais demandas e desafios devem ser vistas não como mais uma ferramenta para a exclusão desse público e sim como a possibilidade de enriquecimento e transformação para as práticas de ensino. Como afirma Oliveira (2007) ―se não percebermos que a desigualdade é outra, não estaremos preparados para enfrentá-la adequadamente. Paradoxalmente, mais educação gera demanda por mais educação‖ (p. 26).

As explicações para os determinantes do fracasso escolar nesse nível de ensino perpassam por diferentes frentes, como a entrada na universidade que ―exige, muitas vezes, por parte dos alunos, adaptações tanto a nível pessoal, como social e acadêmico a uma nova realidade‖ (Correia, 2003, p. 05), ―fatores relacionados a dificuldades pessoais de adaptação à vida universitária, a escolha precoce da profissão, a formação escolar anterior, dificuldades na relação ensino-aprendizagem, (Rissi & Marcondes 2011, p. 12) ou ainda ―desinteresse, falta de vocação, e as baixas expectativas em relação ao curso‖ (Silva et al (2002) in Correia, 2003, p. 09)

Nas pesquisas referidas observa-se que, ao mesmo tempo em que são indicados motivos de ordem pessoal dos alunos para as taxas de insucesso, há uma preocupação com tais índices. Entretanto, é importante apreender que, quando se trata de um fenômeno de tamanha complexidade como é o fracasso escolar no Ensino Superior, estamos falando não somente da relação entre professor e aluno em sala de aula, e as particularidades do processo de ensino e aprendizagem, mas sim de uma série de fenômenos que estão conectados entre si e que envolvem desde o acesso dos alunos às IES, até os motivos que os levam a desistir das disciplinas ou do próprio curso.

Corroborando com esse pensamento, em pesquisa realizada por Ferreira & Fernandes (2015), na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, as autoras apontam como conclusão

[...] a necessidade de uma maior reflexão institucional focada nas dimensões pedagógica e curricular (metodologias de ensino e de avaliação…), apontadas pelos estudantes como centrais para o seu sucesso académico e, consequentemente, para a conclusão dos seus cursos. (Ferreira & Fernandes, 2015, p. 195) Além disso, é imprescindível pensar que é a partir da apropriação dos conceitos científicos, promovidos através dos processos de ensino e aprendizagem, que os alunos podem desenvolver e ampliar suas capacidades mentais superiores, tendo assim uma formação integral. A falta de uma mediação pedagógica de qualidade afeta tanto os processos de aprendizagem dos alunos quanto os índices de formação e conclusão na instituição – índices esses que afetam diretamente as questões econômicas institucionais – de maneira que se torna necessário à instituição pensar estratégias que visem responder às demandas mercadológicas no novo momento da economia mundial, como já explicitado nas diretrizes do banco mundial, assim como promover o aprendizado e desenvolvimento de seus alunos.

Os dados de insucesso no Ensino Superior público brasileiro apontam para um maior fracasso dos alunos nos cursos de Matemática e Computação, como apresentado por pesquisa realizada pelo Instituto Lobo (2017). Os cursos de Matemática, com (30%), e Computação, com (22%), eram os que apresentavam maiores taxas de evasão, considerado o setor público.É interessante notar que a problemática referente ao ensino da matemática, apesar de ser apresentada em outro formato, também surge no contexto do Ensino Superior, o que corrobora para a justificativa da pesquisa apresentada nessa dissertação de mestrado.

Antes de adentrarmos na análise da disciplina foco da pesquisa, é interessante compreendermos como se dão esses processos de ensino e aprendizagem quando nos referimos à educação de matemática. Qual a sua relação com o fracasso escolar e por que a

mesma é motivo de tanto insucesso entre aqueles que a estudam? É nessa discussão sobre a matemática e, posteriormente, sua expressão no Ensino Superior que nos focaremos no capítulo a seguir.

Capítulo 2– Educação Matemática e o Fracasso

Escolar

Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes.

Paulo Freire

Neste capítulo, será discutido o histórico do conhecimento matemático e da educação matemática; as diversas concepções que o permeiam esse conhecimento e que hoje ainda aparecem nos contextos educacionais e a relação desse conhecimento com o fracasso escolar no contexto do Ensino Superior.