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Ergonomia: conceitos e aplicações voltados para a indústria

Há milhares e milhares de anos que o ser humano tenta desenvolver suas habilidades e aptidões de acordo com as mais diferentes diversidades.

A ergonomia surge dessa necessidade, a de melhorar sistemas e desempenhos. Ao longo dos anos a ergonomia como disciplina cientifica se constituiu a partir da união de fisiólogos, psicólogos, engenheiros e outras especialidades, mostrando o lado multi e interdisciplinar desta. Porém, deve ser entendido que a ergonomia só despontou realmente dentro de uma visão prevencionista a partir das décadas de 40 e 50, onde a pertinência da guerra revelou diversos aspectos de incoerência entre os sistemas humanos e tecnológicos. Depois de muito se questionar sobre os aprendizados da guerra, uma importante lição de engenharia podia ser

retirada deste fatídico evento: as máquinas não lutam por elas mesmas (CHAPANIS, 1962). De acordo com Ward (1992), com o advento da guerra houve a produção em escalas gigantescas de tecnologias mais novas e complexas, porém tais inovações não faziam o que se esperava realmente, devido a incongruências com o conhecimento tido como comum. Segundo Pheasant (1997), o termo ergonomia foi utilizado pela primeira vez em conhecimento específico, pelo psicólogo inglês Hywell Murrel, em julho de 1949, quando pesquisadores resolveram formar uma sociedade para o estudo dos ser humano em seu ambiente de trabalho, a conhecida Ergonomic Research Society – Sociedade de Pesquisas Ergonômicas. Neste mesmo período, em Oxford, criou-se a primeira sociedade de Ergonomia, a qual congregava psicólogos, fisiologistas e engenheiros ingleses, além de pesquisadores das mais diversas áreas interessados nas questões relacionadas à adaptação do trabalho ao homem e às suas habilidades e limitações.

De acordo com Rebelo (2004, p.15):

“A Ergonomia tem sido utilizada para anunciar automóveis, computadores, cadeiras outros objetos de grande consumo (...) Na maioria das situações o termo ergonômico está relacionado com a idéia de promoção de conforto dos utilizadores, No entanto, pensar que a Ergonomia se limita simplesmente a isto é ter uma visão redutora do que ela pode contribuir para a sociedade.”

Desta forma, como afirma o autor acima, ainda existe uma visão muito pequena dos inúmeros benefícios que a ergonomia pode proporcionar para a sociedade de uma forma geral e em especial para ambientes de trabalho como a indústria.

Diversos autores têm diferentes definições do que seja ergonomia. Para muitos, ela é a ciência que trata do estudo das características dos trabalhadores para a adaptação das condições de trabalho a tais características. Alguns autores a classificam como ciência, como disciplina, e outros como tecnologia, variando de acordo com que ela pode gerar em termos de métodos e conhecimentos. Outros destacam os aspectos sistemáticos e comunicacionais, enquanto outros focalizam a questão da adaptação da máquina ao homem.

A ergonomia de fato investiga aqueles aspectos do trabalho que possam causar de alguma maneira desconfortos aos trabalhadores, e propõe dessa maneira modificações nas condições e nos postos de trabalho com a finalidade de torná-los mais adequados, confortáveis e saudáveis. Para efeito desta pesquisa, utilizar-se-á a definição dada pela Associação Internacional de Ergonomia (2000) apud ABERGO (2005):

“A ergonomia é a disciplina científica relacionada ao entendimento das interações

entre os seres humanos e outros elementos do sistema e a aplicação da teoria, princípios, dados e métodos ao design a fim de otimizar o bem-estar humano e a melhoria de desempenho do sistema.”

Um ponto chave junto ao entendimento das atividades laborais que a ergonomia procura melhorar através de suas técnicas é o fator entre o trabalho prescrito e o trabalho real. É possível notar atualmente dentro da indústria que muito do que se tem normatizado não é seguido, o que pode ser entendido como um problema de ordem cultural ou organizacional.

Com o acelerado processo de automatização de sistemas produtivos, como a exemplo das indústrias de processo de vidro, cimento, cerâmica e entre outros, criam-se situações de trabalho nas quais muitas vezes o operador pelo controle e manutenção de tais sistemas é constantemente exigido em termos de vigilância por muitas horas a fio, exigindo ainda uma atenção redobrada, seja durante qualquer hora do dia ou da noite. A falha humana proveniente de uma falha em um sistema dessa natureza muitas vezes deixa a desejar em termos de responsabilidades, pois a complexidade é tamanha, que um simples erro no entendimento de um ou mais displays pode levar a um acidente. Sendo assim, muitas vezes a chamada falha humana pode estar ligada ao mau funcionamento de alguns sistemas.

Segundo estudos de Helander, Landauer e Prabhu (1997), dentro de sistemas de produção a ergonomia muitas vezes é apenas um conceito a se perder, e muito raro um objetivo dentro do sistema. Em contrapartida, itens como segurança e produtividade são objetivos comuns, porém, ainda assim, negligenciados em algumas indústrias. A ergonomia pode ser considerada mais precisamente como uma metodologia que pode ser utilizada para se atingir metas de segurança e mesmo de produtividade, pois quando se trabalha com saúde e segurança se trabalha mais e melhor.

O alvo principal da ergonomia dentro da indústria é o de projetar sistemas de maneira a se tornarem mais produtivos, seguros e talvez mais confortáveis e agradáveis para os seus usuários (trabalhadores, funcionários, supervisores, etc.). Se dentro de um ambiente os requisitos utilizados como de desempenho estão acima daqueles limites de desempenho suportados pelo operador, há um aumento muito grande nos riscos de incidentes e acidentes.

A ergonomia dessa forma procura a melhoria dos sistemas através de um trabalho executado pelas mais diversas partes interagentes dentro das organizações. Como conceito

aliado à prática, a ergonomia possui métodos que podem reduzir ou mesmo acabar com 100% de certeza os riscos oriundos de atividades das mais diversas áreas. Porém, outros fatores não permitem que ela atue dessa forma, a começar pelo próprio ser humano. O entendimento de normas e diretrizes de segurança muitas vezes não é visto ou entendida adequada e rapidamente por todos dentro de uma organização, o que leva a uma conduta diferenciada da aplicação de modelos e normas de cunho prevencionista. É necessário mais do que apenas conscientização local, e sim, global. De acordo com a opinião de Moraes e Mont’Alvão (2003) uma análise ergonômica envolve um projeto de melhoramento ergonômico de uma situação de trabalho.

O estudo ergonômico faz-se através de uma aplicação minuciosa e que demanda um certo tempo que varia de situação para situação, voltada para a observação e aprofundamento do estudo dos riscos na atividade laboral e na identificação dos problemas dentro de um ou mais postos de trabalho. Para tanto é necessário focalizar o posto de trabalho e analisar os elementos e as circunstâncias que o compõem, isoladamente, averiguando-se todas as atividades realizadas, posturas assumidas, tempo de execução nas tarefas, ciclos de trabalho, verificação da organização do trabalho, etc.

Este tipo de avaliação é prevista na legislação brasileira através da norma regulamentadora NR -17, que é fiscalizada pelo Ministério do Trabalho a partir do chamado PCMAT - Programa de Controle de Meio Ambiente do Trabalho (NR - 18), e do PCMSO - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (NR - 07) e algumas vezes o próprio PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (NR – 09), também se inclui nesta. Porém, para tornar um ambiente de trabalho mais confortável, elevando a produtividade e diminuindo a incidência de acidentes, é necessário mais do que a mera elaboração destes programas. Na verdade, faz-se necessário uma adequação de todos os trabalhadores para um desempenho ergonômico, ou seja, uma conscientização tanto horizontal quanto vertical, que deve ser proporcionado através de análises, intervenções e programas de ergonomia.

Ganhos em ergonomia apresentam-se muitas vezes através de menos taxas de mortalidade, acidentes de trabalho e absenteísmo nas empresas, e como conseqüência, os lucros também podem ser compreendidos através do aumento da produtividade, motivação, etc. Um estudo encomendado pela Microsoft relacionou a ergonomia à produtividade, quando perceberam que os usuários e consumidores de seus produtos afirmaram ser mais produtivos quando utilizam equipamentos de alta qualidade e tecnologia de última geração. A pesquisa

afirma que quanto maior a interação com a máquina, maior a produtividade dos funcionários, e que dois entre cada três profissionais que trabalham em escritórios passam pelo menos seis horas por dia de frente a um computador e um percentual de quase 25% chegam a passar mais de oito horas (PREUSS, 2005).

A ergonomia vai além das barreiras físicas. Ela gera uma maior conscientização, e esta é capaz de se perpetuar a depender de como é feita tal conscientização. Boas práticas desta ciência podem ser vistas em empresas de grande porte, como a Coca-Cola, Vitarela, AmBev, Microsoft, entre tantas outras empresas que percebem que os benefícios advindos na melhoria da qualidade de vida de seus clientes e especialmente de seus funcionários é um excelente meio de também se obter lucro.