• Nenhum resultado encontrado

De acordo com Otway e Amendola (1990) percebe-se que até meados da década de 70 a questão de segurança na indústria de uma forma geral era tratada unicamente no âmbito empresarial, sem maiores influências externas, como do governo e/ou da sociedade. A partir desta época, a produção teve uma ênfase exacerbada e muitas vezes alguns aspectos de segurança eram negligenciados, aumentando com isso os riscos e a incidência de acidentes de trabalho. Ainda segundo os autores, e não obstante, data desta época que os acidentes de maior repercussão até aquele momento começavam a ser vistos no mundo inteiro.

Nos dias atuais, o imenso desenvolvimento tecnológico seguido da acirrada competitividade econômica fazem o homem conviver com vários tipos de risco e perdas. Perdas que podem ser de caráter humano, material ou para o meio ambiente e sociedade de

uma maneira geral. O risco faz parte do cotidiano do ser-humano, desde os primórdios, estimulando a todos a conhecê-lo, desafiá-lo e superá-lo. De certa forma o risco vem sofrendo mutações com o decorrer da história, mesmo datando das épocas mais longínquas (para maiores detalhes verificar em Wynne, 1987) e com o passar do tempo e desenvolvimento das condições de vida, os riscos foram adquirindo novas e diferentes formas.

Conforme Morgado (2000), os aspectos ligados a segurança do trabalho normalmente apontam para uma direção onde o entendimento acerca dos riscos dentro da atividade laboral é peça-chave para a plena e completa compreensão das situações em que incorram algum tipo de perigo aos trabalhadores. Sabe-se que acidentes acontecem, porém, o potencial destes tem crescido gradativamente com o desenvolvimento tecnológico, e com eles, os riscos também aumentam. Neste contexto, é necessária uma manutenção rigorosa sobre os sistemas de avaliação e gerenciamento destes riscos de forma a se reduzir as probabilidades de acidentes e a minimizar-se suas conseqüências.

O gerenciamento de riscos deve ser percebido em um âmbito maior, onde faz-se necessária uma mudança no conceito de segurança em si, seja no aspecto da prevenção e planejamento como no de ação e implementação. Na interpretação de Fisher (1991) antigamente observava-se a segurança do trabalho como uma via única de prevenção, sendo apenas um meio de minimizar os acidentes com lesão e perda de tempo, estando os agentes responsáveis por toda a segurança dentro das organizações, em sua maioria, centralizados em um único órgão que tinha a função de prevenir, ou pelo menos, minimizar os acidentes dentro de seus ambientes de trabalho. Por mais competência que existisse a equipe nesse formato não podia estar em todos os lugares ao mesmo tempo e o tempo todo fazendo prevenção.

Para Hilson (2006) o gerenciamento de riscos vem desenvolvendo-se nos últimos anos para uma disciplina científica mais aceita com uma linguagem, técnica e ferramentas próprias. O valor de uma abordagem bem definida e estruturada de maneira formal e em prol do trabalhador, da organização e da sociedade para gerenciamento de incertezas foi largamente reconhecida e muitas empresas já procuram introduzir processos para o controle de riscos visando obter benefícios através de tais práticas.

A diminuição das taxas de acidentes (sobretudo com afastamento) era vista como uma meta a ser cumprida exaustivamente, conduzindo a uma omissão daqueles acidentes com alto potencial de perdas, pois muitas vezes estes eram negligenciados e não analisados em busca de suas causas raiz, pois não chegavam a causar acidentes propriamente dito. As ações voltadas ao gerenciamento de riscos visam buscar todas as causas principais de todo e

qualquer acidente que possa acontecer ou que porventura já tenha ocorrido. A ênfase é voltada no relato de todos os acidentes que causem ou que possuam o potencial de causar algum tipo de dano ou lesão. Dentro desta visão, a prevenção toma uma conotação onde a segurança passa a ser parte integrante de cada posto de trabalho por meio de seus responsáveis e pela equipe de profissionais que conhecem os procedimentos operacionais, de manutenção, etc.

Durante o processo de desenvolvimento deste estudo, levou-se em consideração que os aspectos pertinentes a segurança do trabalho são inerentes a cada tipo de empresa assim como as suas particularidade, como os perigos, e em especial, os riscos que envolvem cada uma delas. Como já mencionado anteriormente, toma-se por perigo a propriedade ou condição inerente a uma substância, atividade ou material capaz de causar danos às pessoas, as propriedades ou ao meio ambiente, e por risco a definição existente na OHSAS 18001 (1999), onde é considerada como sendo o potencial de ocorrência de conseqüências indesejáveis decorrente da realização de uma atividade.

Na opinião de Melo, Gueiros e Morgado (2002) a grande importância que permeia o entendimento de situações e mesmo a própria condição de riscos reside no que as leis e normas no âmbito nacional trazem acerca do chamado Grave e Iminente Risco (GIR). No Brasil, a legislação do trabalho define o que é GIR através da Norma Regulamentadora nº 3 (NR 03): “Considera-se grave e iminente risco toda condição ambiental de trabalho que possa causar acidente do trabalho ou doença profissional com lesão grave à integridade física do trabalhador.” As medidas legais cabíveis estendem-se a interdição de estabelecimentos, de setores, de maquinário, ferramentário e de equipamentos, ou mesmo o embargo quando em situações de obra.

Estas medidas são determinadas pelos Delegados Regionais do Trabalho (DRT), sempre à vista de um laudo técnico do setor competente. As responsabilidades técnicas e administrativas recaem sobre os Auditores Fiscais do Trabalho (AFT), que são responsáveis pelas conseqüências dessas interdições (ou embargos quando no caso de obras). O auditor indica as condições de grave e iminente risco e as medidas a serem tomadas para solucionar as irregularidades, sendo que, caso o laudo contenha erros e a empresa seja prejudicada de alguma forma pela interdição, o auditor responde pelo prejuízo. A situação é similar se durante uma inspeção o auditor constatar uma situação de GIR e não adotar as providências necessárias, responde por omissão de caso. Algumas Normas Regulamentadoras além da NR 03 tornam explícito as situações de grave e iminente risco, como a exemplo da NR 13 e da NR 15 (MELO, GUEIROS E MORGADO, 2002).

Diversos autores como Martini Junior (1999), Araújo, Lima Filho, Adissi e Moreira Junior (2001), entre outros, deixam claro a real necessidade de se ter um pleno e absoluto controle sobre todos os aspectos que envolvem a segurança do trabalho, sobretudo no que diz respeito aos riscos, e neste aspecto, a análise de riscos e perigos preenche adequadamente esta lacuna.

A análise de riscos (AR), procura identificar antecipadamente os perigos nas instalações, processos, produtos e serviços, quantificar os riscos associados para o homem, o meio ambiente e a propriedade, propondo medidas para o seu controle. Mais adiante serão apresentadas algumas técnicas que trabalham com tais tipos de análises, porém, deve ficar claro que a avaliação de riscos é singular para cada tipo de indústria, e ainda mais específico para cada empresa. Segundo Guthrie, Walker e Huff (2000) algumas etapas consideradas como básicas para a avaliação dos riscos podem ser resumidas em:

• Identificação de riscos - processo que define os eventos ou resultados que possam ter impacto no atendimento do sucesso de uma organização;

• Estimativa de riscos de cada fonte – probabilidade e gravidade do dano; processo que determina o impacto que um risco pode ter (conseqüência) e a probabilidade de sua ocorrência;

• Decisão sobre tolerância com relação ao risco; avaliação determinante na prioridade no gerenciamento dos riscos através da comparação do nível destes riscos no contexto dos objetivos da organização. A comparação deve ser feita entre o nível estimado do risco determinado na análise e os critérios pré-estabelecidos. • Tratamento de riscos; ação praticada após a identificação e a própria avaliação dos

riscos considerados inaceitáveis para a empresa ou organização.

Hilson (2006) afirma que ainda existe uma grande dificuldade no que cerne ao entendimento destes tipos de análises, assim como o próprio CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas define um grau de risco para cada tipo de indústria, ou como o mesmo define, Atividade Econômica. A Classificação de risco excede tais valores, sendo assim um parâmetro muitas vezes dissoluto sobre a realidade do entendimento de perigos e riscos de cada organização classificada por um tipo de atividade. Ainda segundo o autor a avaliação de riscos consiste na identificação de como o perigo é tratado nas mais diversas instalações, verificando-se as conseqüências (ou efeitos danosos) e a probabilidade de ocorrência (freqüência) dos mesmos. Ao se avaliar riscos, precisa-se ter bem definido o que pode dar errado, qual a freqüência e quais os impactos, ou seja, o risco é igual a freqüência

somada a sua possível conseqüência. Segundo o autor, ao se confrontar todos os riscos de uma instalação em uma curva de freqüência de ocorrência contra os possíveis danos um gráfico seria gerado com a seguinte representação conforme a figura 2.3 a seguir:

Riscos

Freqüência Danos

Figura 2.3 - Freqüência de ocorrência por danos

Fonte: Adaptado de Hilson (2006)

Através da observação do gráfico acima pode-se notar que para a maioria dos casos aqueles riscos que possuem uma alta freqüência de ocorrência tendem a causar danos menores e quando estes são mais severos a freqüência de ocorrência é inversamente proporcional. Quanto mais afastada a linha de riscos dos dois eixos, maior é o risco da empresa. A linha de risco define o grau de qualidade do sistema de gestão de riscos de uma organização.

Golding (1992), Morgado (2000) e Melo et al (2002) apontam em suas obras para algumas técnicas de avaliação de riscos como sendo aquelas mais proeminentes dentro da literatura de segurança do trabalho, onde o primeiro autor divide tais técnicas em dois tipos: aquelas para identificação de eventos, e aquelas para o cálculo de freqüência, já citado anteriormente. Dentre as primeiras técnicas destacam-se a Análise Histórica ou Análise Diacrônica – AH, a Análise Preliminar de Riscos (ou Perigos) – APR ou APP, Análise de Perigos e Operacionalidade – HAZOP, e a Análise dos Modos de Falha e Efeito – FMEA. Para o segundo caso, para o cálculo das freqüências têm-se a Análise por Árvore de Falhas – AAF, e a Análise por Árvores de Eventos – AAE, as quais serão tratadas e sua maioria mais detalhadamente nos sub-capítulos e capítulos seguintes.

Segundo a Australian/New Zealand Standard AZ/NZS 4360 (2004) o gerenciamento de riscos pode ser entendido como sendo um conjunto onde a cultura, os processos e a estrutura são componentes direcionados a gestão efetiva de oportunidades e efeitos adversos. O que leva ao entendimento de que a gestão de riscos deve ser elaborada para favorecer o acesso integrado ao adequado controle dos mesmos dentro de uma organização, com o objetivo de melhorar os resultados através da identificação de oportunidades e diminuição das

perdas para os sistemas (organização, funcionários e sociedade).

A responsabilidade do gerenciamento de riscos não deve ser vista como uma atividade limitada à alta gestão, mas sim, deve ser implementada por meio de todas as partes envolvidas nos mais diversos processos e setores. Todos os gestores de uma organização têm a responsabilidade pelo gerenciamento de riscos, e tal responsabilidade varia de acordo com a posição de cada indivíduo dentro da estrutura organizacional. Desta forma, os benefícios que um adequado gerenciamento de riscos permeia são da ordem de:

• um gerenciamento mais efetivo de recursos e atividades; • uma visão mais clara dos objetivos da empresa;

• maiores benefícios decorrentes da identificação sistemática das deficiências dentro da empresa;

• maior habilidade na identificação das necessidades dos envolvidos; • melhorias no aperfeiçoamento da comunicação (interna e externa);

• maior conformação legal, aderência aos regulamentos ou outras exigências formais; • custos menores;

• maior organização e melhor gerenciamento, capaz de sustentar os objetivos governamentais (PORTO, 2000).

Porto (2000) evidencia ainda que a análise dos riscos deva incorporar a vivência, o conhecimento e a participação dos trabalhadores, tendo em vista que estes realizam o trabalho e sofrem os seus efeitos, possuindo um papel fundamental no controle dos riscos (incluindo a própria identificação e eliminação dos mesmos). Os riscos dentro das empresas não podem ser vistos de maneira isolada, ou seja, levando-se em consideração apenas os aspectos técnicos, pois é também de natureza ética e política, envolvendo as relações de poder na sociedade e nas demais organizações. O Modelo Brasileiro de Gerenciamento de Riscos Operacionais (MBGRO, 2002) defende que o principal foco da análise de riscos é a prevenção, ou seja, os riscos devem ser eliminados sempre que possível, e o controle destes deve seguir padrões de qualidade o mais elevados possíveis, levando-se em consideração que os trabalhadores são os principais envolvidos na análise e controle dos riscos, seja porque conhecem as situações reais de trabalho, seja porque a qualidade de vida deles está em jogo.

Para Morgado (2000), apesar das dificuldades de se aplicar uma avaliação de riscos adequadamente, o objetivo principal é o de indicar o conjunto de prioridades dentro de um plano de ação, para que as medidas necessárias de prevenção possam ser direcionadas de maneira correta, coerente e sistemática, otimizando-se os resultados do próprio

desenvolvimento tecnológico, a partir da redução dos riscos apresentados em cada atividade. A relação custo-benefício para a implementação de um plano de gerenciamento de risco em uma organização é favorável, pois os gastos não podem ser comparados com os benefícios que acompanham uma maior proteção dos recursos humanos, materiais, financeiros e ambientais.

A nível nacional, a análise de riscos em momento algum substitui as exigências legais e normativas as quais obrigam as empresas a adotarem mecanismos adequados de proteção à saúde dos trabalhadores. A análise de riscos deve se pautar exatamente em tais normas e exigências com poder de lei (e mesmo superá-las), levando-se em consideração que nem todas as realidades específicas de cada empresa, e nem todas as estratégias de controle e redução de riscos atualmente existentes em um cenário dinâmico, conseguem ser cobertos integralmente por qualquer legislação, por mais completa que seja.

O Projec Management Institute - PMI (2004) em pesquisa recente demonstra que a conscientização mundial em elaborar e adotar políticas de desenvolvimento sustentável que unam o desenvolvimento econômico com a eliminação de desperdícios, respeito ao ser humano e ao meio ambiente, revela o quanto é fundamental a adoção de ferramentas deste tipo pelas organizações brasileiras. O Brasil, até final de 2004, despendeu quase 5% do seu Produto Intero Bruto - PIB com assuntos ligados diretamente a acidentes de trabalho, nas mais diversas atividades econômicas, sedo o setor da Indústria de Transformação o maior responsável por percentual. Fazem-se necessários investimentos em prevenção para que haja uma minimização taxativa de falhas e acidentes antes que estes ocorram, e antes que os mesmos possam causar algum tipo de dano ou prejuízo ao trabalhador, indústria e sociedade.