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A ESCOLA NORMAL DE JUIZ DE FORA : NOTAS SOBRE UM CONFRONTO ENTRE O

No documento renatacorreavargas (páginas 74-76)

3 OS ESPAÇOS ESCOLARES

3.2 A ARQUITETURA DO PRÉDIO ESCOLAR

3.2.5 A ESCOLA NORMAL DE JUIZ DE FORA : NOTAS SOBRE UM CONFRONTO ENTRE O

A Escola Normal de Juiz de Fora foi criada em 1894 e desativada em 1907. Até 1903, ela funcionou no prédio que servira ao antigo mercado da cidade, no Largo do Riachuelo, e, após essa data, ela foi fixada no Palacete de Santa Mafalda (COHN, 2007).

Com relação ao primeiro local de instalação da Escola Normal, podemos ler a seguinte informação no relatório escrito pelo presidente da Câmara Municipal de Juiz de Fora, Dr. João Nogueira Penido Filho:

Escola Normal

Pareceu razoável, sob o ponto de vista economico, quer quanto a tempo, quer quanto a despezas, modificar-se o nosso antigo mercado, e adaptal o á installação provisória desta Escola.

Falharam, porém, ambas aquellas razões justificativas. (...)

35 Convém destacar que a distância entre a normativa legal e a realidade foi mais evidente no prédio da

escola. A maior parte da educação primária em nosso país se dava em espaços improvisados que haviam servido ou serviam ao mesmo tempo ‘quadras, armazéns, prisões, remanescentes de conventos e depósitos’, como demonstrou Luis Bello em sua intensa e extensa cruzada pelas escolas da Espanha (tradução nossa).

a illustre Directoria procura outro predio de melhores accommodações por julgar o actual inteiramente baldo dos requisitos próprios á missão para que o destinaram. (O PHAROL, 13 de fevereiro de 1895, p. 2).

Dr. João Nogueira Penido Filho, além de presidente da Câmara Municipal de Juiz de Fora, foi um dos fundadores da SMCJF. Em seu relatório, ele deixa claro que a intenção de alocar a Escola Normal no antigo mercado da cidade tinha caráter provisório, visto que as acomodações não possuíam atributos próprios para uma escola, e que a ideia da instalação do colégio naquele local tinha mais relação com fatores econômicos de tempo e de dinheiro do que com outras preocupações.

No confronto entre discursos higienistas e necessidades econômicas, a segunda opção foi a considerada na decisão do local de instalação da Escola Normal, mas não sem críticas, como veremos.

Um articulista, que não se identifica, faz-nos perceber que a busca por um prédio em melhores condições para abrigar a Escola Normal perdurou por anos. Deixando claras as péssimas condições higiênicas do atual edifício, ele assim descreve:

é objecto fóra de mais controvérsia a imprestabilidade do edificil da Escola. O que há, portanto, a resolver é o logar onde deve o nosso instituto funccionar, uma vez que o prédio do collegio Sião é de aluguel elevado. (...)

elles, sem duvida, irão agir de maneira a se tornar realidade a actual aspiração, que muito de perto se relaciona com o interesse dos paes dos alumnos, na môr parte do sexo feminino, e, constituições débeis como são, facilmente prejudicarão a sua saúde em salas a que faltam todas as condições de hygiene escolar.

Conjurar semelhante perigo – é um dever. Se o prédio do antigo collegio Sião não puder ser obtido, cremos há ainda muitos e bons edifícios nesta cidade para ahi ser installada a Escola que, num momento dado, póde ser um foco de moléstias contagiosas: não estamos a alarmar, estamos tão somente procurando prevenir. (O PHAROL, 27 de março de 1902, p. 1).

Fica visível que a referida imprestabilidade do prédio estava intimamente ligada ao seu aspecto higiênico e a sua possível contribuição para o aparecimento de doenças.

As denúncias feitas, contudo, não foram suficientes para a resolução do problema. Em artigo de maio do mesmo ano, o articulista acusava o secretário do interior de ter solicitado ao diretor da escola informação sobre as condições higiênicas do prédio da Escola Normal mesmo depois de tantas reclamações sobre o referido prédio.

Não fosse o nosso paiz o paiz do papelório, e, certamente, o sr. secretario do interior não oficiaria ao sr. dr. director da Escola Normal desta cidade, pedindo informações a respeito das condições hygienicas do prédio em que ella funcciona.

Em todos os seus relatórios, quer o antigo director, sr. dr. Leonidas Detsi, quer do actual, sr. dr. Eloy de Araujo, fizeram elles sentir que o edifício não se presta ao fim para que foi destinado, (...) e a sua mudança para local melhor desde muito é pedida, como dissemos, pelos seus dignos directores. O sr. dr. Eloy de Araujo repetirá agora o que tem dito sempre que se lhe offerece ensejo de o dizer, isto é, que o edifício em que está a Escola Normal da primeira cidade de Minas não serve porque... não presta, o que, de resto, já tem sido escripto, falado, e explicado por quem sabe e quem deve.

O mais é papelório, como se prova de que, na secretaria do interior, são as baratas e as traças as leitoras dos relatórios. (O PHAROL, 14 de maio de 1902, p. 1).

Com uma pitada de humor crítico, ele denunciava a burocracia estatal como mais um entrave na resolução do problema da mudança do prédio da Escola Normal. Problema esse que permaneceria ainda no ano seguinte.

Um articulista – sem identificação – descreve assim a situação da escola em fevereiro de 1903:

Com bastante mágua vemos que as aulas de Escola Normal vão funccionar no mesmo edifício acanhado, imprestável, sem hygiene, com o seu aspecto de barca Ferry, muito velha e escangalhada.

(...)

O anno passado, tratámos do assumpto e houve promessa de que a escola seria transferida para melhor prédio.

Infelizmente, o tá bom deixe veio transtornar tudo, e a escola continua em uma casa condemnada.

É lamentável descaso! (O PHAROL, 17 de fevereiro de 1903, p. 1).

Ainda em 1903, outro articulista – ou o mesmo, já que também não se identifica – ao comentar sobre a entrega de diplomas aos alunos que concluíram o curso normal, aproveitou para denunciar o prédio: “O edifício, em que tem logar a solemnidade, infunde a máxima tristeza, porque não presta, porque é um attentado clamoroso contra todas as regras de hygiene pedagógica.” (O PHAROL, 5 de abril de 1903, p. 1).

As denúncias em O Pharol acerca do prédio desta escola eram incansáveis. Assim como Abad e Bencostta constataram em realidades particulares, o caso da Escola Normal de Juiz de Fora também retrata o ainda distanciamento entre o discurso e a prática, mas também mostra a pressão exercida para que o colégio se enquadrasse nas normas higiênicas ditadas pela ciência médica.

No documento renatacorreavargas (páginas 74-76)