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TUBERCULOSOS

No documento renatacorreavargas (páginas 156-159)

6 EDUCAÇÃO FÍSICA

6.1 EXAME DOS CORPOS ESCOLARES

6.1.3 TUBERCULOSOS

O grupo constituído pelos tuberculosos, por vezes, englobava também os débeis, franzinos, fracos e desanimados, por serem facilmente tuberculizáveis.

Como a tuberculose era uma doença com altos índices de mortalidade e morbidade na época, grande foi a preocupação em relação aos tuberculosos e àqueles que, por possuírem saúde frágil, pudessem contrair a doença.

Dentre os discursos publicados na época, havia um consenso: a retirada do aluno tuberculoso da escola. O não lugar do aluno no contexto escolar, onde ele podia ser foco de contaminação para outras crianças, gerou debates acerca de onde colocar o aluno doente.

Houve posições radicais, como as do Dr. Mendonça, membro da SMCJF, que alegava “não ser admissivel a promiscuidade de creanças debeis e tuberculosas” (MENDONÇA, 1912a, p. 142). Para ele, “uma creança tuberculosa não deve frequentar escola alguma.” (MENDONÇA, 1912a, p. 142).

Mas também tiveram aqueles que levantaram algumas alternativas para o ensino dos alunos doentes: escolas ao ar livre, escolas para débeis e tuberculosos, barraca escola, escolas florestais e sanatórios.

As escolas ao ar livre, conforme vimos no capítulo referente aos espaços escolares, eram recomendadas para todos os alunos, não só para aqueles com alguma doença. Elas tinham caráter preventivo, embora André Dalben levante a hipótese de que, em algum momento, elas tenham desempenhado majoritariamente um caráter curativo (DALBEN, 2009).

Esta hipótese nos parece justa. Nos escritos do Dr. Eduardo de Menezes também encontramos menção ao recurso terapêutico de tais escolas. Defendendo a criação de escolas para débeis e tuberculosos, o autor indicava:

para a tuberculose em especial é da maior conveniência a creação de uma escola para meninos débeis e tuberculosos, tendo por fim o isolamento dos sãos, o tratamento e a instrucção conciliáveis nos systemas das escolas do ar livre e sob regimens adrede combinados, como se fazem diversos paizes. (O PHAROL, 13 de janeiro de 1908, p. 2).

Cabe-nos aqui outro apontamento da já mencionada visão eugênica dos discursos médicos. Para além da regeneração dos tuberculosos a partir da combinação de tratamento e instrução, o isolamento dos sãos também é indicado como outra finalidade.

A separação das classes perigosas ao progresso refletia um projeto eugênico de aperfeiçoamento da raça. Janz Jr, ao estudar a relação entre eugenia e higienismo nos discursos médicos, observou que muitas vezes o discurso eugênico tentava ganhar ares mais brandos utilizando termos como “eugenia preventiva” ou “higiene eugênica”. Segundo ele,

Ao distanciar-se do conceito original, para muitos médicos, a eugenia que propugnavam tornava-se distinta da praticada nos EUA e na Europa, já bastante criticada nessa época (...) mas, devemos ressaltar que ‘independente do nome, era uma eugenia que ligava um ambiente sanitário à saúde racial’. (JANZ JR, 2011, p. 115).

A escola ao ar livre foi a opção de ensino para tuberculosos apontada por H.G. que, todavia, deixava claro: “Ar aos tuberculosos, sim! Mas devemos também fornecer ar ás crianças bem conformadas, para não serem contaminadas pela tuberculose!”. (O PHAROL, 17 de março de 1910, p. 1).

Dr. Eduardo de Menezes, ao defender a criação de escolas próprias para débeis e tuberculosos, havia proposto algumas opções. Em Juiz de fora, ele ansiava pela construção de uma barraca escola onde se daria a instrução para este público específico:

em expectativa á construcção e installação no extremo do nosso terreno [onde já estaria sendo construído um Dispensário] de uma Barraca Escola, situada no meio de arborização e jardim, onde as crianças tuberculosas e tuberculizáveis que não devam estar em commum com as outras nos Grupos Escolares e escolas publicas, recebam a mesma instrucção ao ar livre e sob regimen sanitário anti tuberculoso especial. (O PHAROL, 16 de março de 1907, p. 1).

Embora pretendesse instalar a barraca escola, admitia que esta medida ainda não fosse a ideal para alocar alunos tuberculosos. Melhor mesmo seriam as “escolas florestaes, de campo, de montanhas e beira mar” (O PHAROL, 16 de março de 1907, p. 1), ou ainda os “sanatórios infantis marítimos, montanheses e campestres.” (O PHAROL, 3 de janeiro de 1906, p. 2).

Sanatório também foi a opção sinalizada pelo Dr. Emílio Loureiro. Segundo ele, os sanatórios-escolas eram “apparelhos admiráveis de educação physica, moral e intelectual” (O PHAROL, 5 de dezembro de 1977, p. 1) indicados para tuberculosos e tuberculizáveis:

Uma selecção rigorosa, feita por médicos instruídos, indica os alumnos que, por sua debilidade physica, fraqueza congênita ou adquirida, herança tuberculizável ou anemia pre-tuberculosa, devem ser collocados nestas casas de instrucção. (O PHAROL, 5 de dezembro de 1911, p. 1).

Os sanatórios foram pensados inicialmente como locais de tratamento para pessoas enfermas. O afastamento do indivíduo doente daqueles saudáveis e sua colocação em ambientes naturais de montanhas ou mares ofereciam tanto um ambiente terapêutico para aquele enfermo quanto uma coibição de contágio para os sãos (DALBEN, 2009).

Muitos sanatórios, entretanto, foram ampliando suas funções oferecendo, além do tratamento, a instrução. Este foi o caso, por exemplo, relatado por Amaral e Felgueiras acerca do Sanatório Marítimo do Norte, em Portugal. De acordo com as autoras, “neste sanatório foram introduzidas concepções curativas e pedagógicas inovadoras destinadas às crianças e desenvolvidas no âmbito da cura da tuberculose.” (AMARAL; FELGUEIRAS, 2010, p. 76).

Elas acrescentam ainda que “a educação e a escolarização das crianças e adultos em tratamento foram, para o fundador da instituição, Joaquim Ferreira Alves, uma prioridade paralela à prática médica.” (AMARAL; FELGUEIRAS, 2010, p. 81).

Enfim, todas as indicações convergiam para a retirada do aluno tuberculoso do contexto escolar regular. A palavra de ordem era que:

o professor ou professora, alumno ou alumna, portadores da tuberculose pulmonar ou de outra espécie de tuberculose aberta ou fechada, devem ser excluídos temporariamente do meio escolar até que exames reiterados de valor positivo, indiscutível demonstrem que estão indemnes do mal tuberculoso. (O PHAROL, 1 de dezembro de 1911, p. 1).

O mesmo para os débeis tuberculizáveis: “os esforços colligados de todos devem ser por alvo retirar a creança, que é tuberculizável por herança, miséria e moléstias anteriores (varíola e sarampo) do meio contagionante.” (O PHAROL, 28 de novembro de 1911, p. 1).

No documento renatacorreavargas (páginas 156-159)