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ESCOLAS AO AR LIVRE

No documento renatacorreavargas (páginas 60-63)

3 OS ESPAÇOS ESCOLARES

3.2 A ARQUITETURA DO PRÉDIO ESCOLAR

3.2.1 ESCOLAS AO AR LIVRE

Com relação às escolas ao ar livre, encontramos nos escritos de H.G. menções que merecem nossa atenção. Ao escrever um artigo no qual denunciava situações que contribuiam para o problema escolar no Brasil, H.G. apontava o sistema de escolas ao ar livre como uma possível solução para esses problemas, particularmente, aos relacionados à saúde dos escolares. Segundo ele, “Existem na Allemanha ‘escolas em pleno ar’, nas quaes os alumnos tomam suas lições e fazem seus exercícios ao ar livre.” (O PHAROL, 17 de março de 1910, p. 1).

No mês seguinte a essa publicação, H. G. retorna às páginas do jornal para mais uma vez defender a pratica de escolas ao ar livre que, de acordo com ele, contribuiria para a higiene escolar.

O problema da educação da infância tem sido, nos últimos tempos, a preocupação constante dos paizes [ilegível], notadamente, a Alemanha, a Inglaterra e a América do Norte. A França, a Itália e outros países vão seguindo o exemplo daqueles paizes.

26 As condições higiênicas exigidas para a construção de escolas impuseram os locais, a orientação do

edifício, as dimensões das salas de aula, o número de janelas e suas dimensões, a direção da luz, os sistemas de aquecimento, os serviços sanitários, os espaços livres, os materiais de construção etc, influenciando a conformação do edifício escolar em geral. Esse conjunto de medidas higiênicas, impostas à escola pública durante o século XIX e início do XX, deu à arquitetura escolar um caráter internacional uniforme, configurando-a como uma disciplina orientada para a definição de espaços específicos e diferenciados de outros conjuntos arquitetônicos. (tradução nossa).

Os povos latinos, sempre á frente dos grandes emprehendimentos, neste particular, foram vencidos pelos anglo-saxões que enveredara, como sempre, pelo terreno pratico.

Não há muito ocupei-me, nesta columna, da hygiene nas escolas que está sendo objecto de cuidados por parte dos poderem públicos da França. Referi- me, então, ás escolas ao ar livre já existentes na Allemanha.

A hygiene escolar é, realmente, assumpto de alta magnitude; mas esta é só uma face do problema que está sendo resolvida sob novos moldes nos paizes acima citados.

(...)

Vimos a França seguindo o exemplo da Allemanha, com suas escolas ao ar livre visando a hygiene; vemol-a agora imitando a Inglaterra, com o ensino em pleno ar e cujo objectivo é puramente pedagógico. Nós, que vivemos das imitações – boas e ruins – bem podíamos seguir o exemplo da França, pelo menos na parte relativa á hygiene escolar, uma vez que já a adoptamos o processo da palavração, que não cança o cérebro das crianças. (O PHAROL, 12 de abril de 1910, p. 1).

Encontramos semelhante ideia vinda dos escritos do Dr. Eduardo de Menezes. Nas palavras do referido médico: “deverá ser adoptado o systema de Escola ao ar livre, ou jardins de infância, ficando apenas reservado o edifício para os dias de intempéries e excesso de calor” (MENEZES, 1911, p. 70).

A mudança de paradigma da escola circunscrita a um espaço fechado para escolas ao ar livre foi motivada pela doença, sobretudo a doença infectocontagiosa como a tuberculose. Médicos e Pedagogos, em final do século XIX, buscaram alternativas visando ao robustecimento físico dos alunos e apostaram no convívio com a natureza (AMARAL, 2016, p. 41).

Com a pretensão de afastar o aluno do fácil contágio que a escola primária do início do século XX lhe proporcionava, orientações higienistas inspiraram o surgimento das primeiras escolas ao ar livre.

Algumas características fizeram o modelo de escolas ao ar livre ser incentivado por médicos higienistas: "em primeiro lugar, o sol” que atuava na iluminação, na desinfecção e no metabolismo dos corpos infantis; “o ar livre” que supria a má influência de uma vida em ambiente fechado além de atuar afastando as infecções; o “repouso, realizado após o almoço”; a “alimentação” que devia ser balanceada; o “clima” mais propício (DALBEN, 2009, p. 137 e 138).

A natureza foi cultuada pelo potencial educativo e curativo. O sol, o ar, a água foram apreciados por parte do pensamento médico como forma de retorno ao ambiente natural e distanciamento das mazelas da vida urbana: “O urbano, visto como local da degenerescência, de imundices, corroborava a perspectiva de que um parque, repleto de elementos naturais

puros, seria um ambiente adequado para este retorno” (DALBEN, 2009, p. 142). O ar puro e o sol eram benéficos à saúde das crianças à medida que as afastavam das aglomerações e ambientes fechados, com pouca aeração e iluminação. Uma instituição escolar em meio à natureza proporcionaria uma regeneração tanto da saúde quanto da moral dos futuros cidadãos.

De acordo com Amaral, a primeira escola ao ar livre começou a funcionar em 1904 no meio de uma floresta na Alemanha. Tal modelo de escola “surge como principal medida de combate à doença que atingia a população infantil” (AMARAL, 2016, p. 44).

Já a primeira réplica deste modelo de escola surgiu em 1907 na França. Na Suíça, a École au soleil27 foi inaugurada em 1909:

A escola ao ar livre implementada, inicialmente, nos sanatórios com a designação de ‘escola ao sol’, aproveitava, na sua plenitude, as potencialidades do ar puro e do sol das montanhas e conciliava duas realidades – a médica e a escolar – sem pretender que houvesse qualquer tipo de hierarquização (AMARAL, 2016, p. 44).

Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha e Inglaterra também adotaram esse modelo de escola. Na América, México, Estados Unidos, Argentina e Uruguai também tiveram experiências com escolas ao ar livre (DALBEN, 2009, p. 136).

Segundo André Dalben, no Brasil ocorreram alguns ensaios de escolas ao ar livre desde 1908, entretanto, tais escolas se limitaram a realização de aulas no campo. Um exemplo desse tipo de instituição se deu na cidade do Rio de Janeiro na Escola para Débeis Prado Júnior, na Quinta da Boa Vista.

Para além de algumas instituições que levavam as crianças para algumas aulas nos parques, “a primeira escola criada com o termo ‘ao ar livre’ no Brasil foi a Escola de Aplicação ao Ar Livre Dom Pedro II, fundada pelo Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo” (DALBEN, 2009, p. 139) e inaugurada em 1939.

Poucas foram, de fato, as experiências de escolas ao ar livre nos moldes defendidos pelos higienistas. Antonio Viñao Frago observou, nas fontes por ele estudadas, que, quando a adoção de escolas ao ar livre não era possível, a incorporação dos elementos da natureza ao espaço escolar era incentivada:

La mejor escuela estaba al aire libre, en la naturaleza, no entre las paredes de un edifício. Pero, aceptada la necessidad de este último, el campo escolar signigicaba la presencia de la naturaleza en la institución docente. No sólo

había que salir a ella, al exterior, sino también incorporarla28 (VIÑAO

FRAGO, 93/94, p. 34).

Essa integração da natureza ao espaço escolar se fazia, por exemplo, com a adoção de jardins e pátios arborizados.

Em Juiz de Fora, ainda que não tenhamos encontrado indícios da adoção de escolas ao ar livre, o conceito de jardins e áreas arborizadas foi incorporado por algumas escolas. Daremos o exemplo de duas instituições que foram publicizadas em O Pharol.

Em junho de 1909, em publicação acerca da inauguração do Grupo Escolar de Mariano Procópio – que havia acontecido no dia anterior a esta publicação – observamos referências quanto ao prédio que abrigaria a escola:

O grupo de Mariano Procopio, que está optimamente installado num prédio que obedece a todos os preceitos da hygiene escolar, tem quatro salas divididas para as aulas de 1º, 2º e 3º annos, e dispõe de um bello jardim e de um regular pateo para recreio. (O PHAROL, 13 de junho de 1909, p.1).

Em setembro de 1911, na propaganda do Colégio Mineiro Americano lemos que a escola possuía “recreios espaçosos e arborizados.” (O PHAROL, 11 de setembro de 1911, p. 21).

Embora não saibamos se a pessoa por trás das iniciais H.G., autora dos artigos sobre o tema escola ao ar livre no jornal O Pharol, era médica, educadora ou leiga, seus textos nos auxiliam no entendimento da ideia de que as publicações sobre educação no jornal juiz-forano se aproximavam daquilo que era veiculado pela área da medicina sobre como devia ser efetivada a educação. Ou seja, as ideias debatidas pelos doutores dentro da SMCJF ganharam as páginas do jornal tornando-se discurso naturalizado quando o assunto era educação.

No documento renatacorreavargas (páginas 60-63)