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TAMANHO DAS SALAS DE AULA

No documento renatacorreavargas (páginas 67-70)

3 OS ESPAÇOS ESCOLARES

3.2 A ARQUITETURA DO PRÉDIO ESCOLAR

3.2.3 TAMANHO DAS SALAS DE AULA

Com relação ao tamanho das salas, muito se debateu nos discursos médicos acerca da altura e comprimento dessas salas para acomodar confortável e higienicamente os alunos. Conforme nos orientam Castro e Posse (2012), os parâmetros físicos da sala de aula juntamente com a quantidade máxima de alunos indicada por sala variam temporalmente e estão sujeitas a algumas imposições sociais, dentre elas estão as demandas higiênicas.

Um artigo publicado em O Pharol parece ilustrar essa ideia sugerida pelas autoras sobre as mudanças no entendimento acerca do espaço mais adequado às atividades escolares. Em agosto de 1908, L.G.31 assim a descreve:

Longe vae o tempo em que se suppunha que um grande salão preenchia todas as necessidades pedagógicas, e que um prédio escolar, sem enormes salões de aulas, devia ser implicitamente condemnado.

O ideal hoje é poder conseguir-se pequenas salas e grandes recreios! (O PHAROL, 20 de agosto de 1908, p. 1).

De acordo com Faria Filho e Vidal (2000), a mudança do método de ensino utilizado pode ter contribuído nessa mudança. O método mútuo de ensino, empregado largamente na Europa e incentivado nos períodos colonial e imperial no Brasil, possibilitava que um único professor ministrasse aula para até 1.000 alunos. Para tal, eram necessários grandes salões que comportassem tal número de crianças. O método mútuo passa a ser desincentivado devido a uma série de fatores e substituído pelo ensino individual. Para o desenvolvimento de tal método de ensino, não se fazia mais necessário que a sala de aula tivesse grande dimensão.

31 L.G. parece ser as iniciais de Lindolpho Gomes. Lindolpho era professor e inspetor técnico de

Possuir pequenas salas vinha acompanhado de outra obrigação: limitar o número de alunos por sala de aula. Nas palavras de L.G, temos o que seria, então, o ideal para a dimensão de uma sala escolar: “O ideal é que a sala escolar tenha capacidade para comportar apenas 40 a 50 alumnos.” (O PHAROL, 20 de agosto de 1908, p. 1).

Tal recomendação é percebida por outros autores que estudaram a influência do higienismo nas escolas brasileiras do período da primeira república.

Em Juiz de Fora, Vargas (2008), ao estudar os textos do Dr. Eduardo de Menezes, membro da SMCJF, assim expôs: “Cada sala teria de ser grande o bastante para suportar a quantidade de 50 alunos, não mais que isso” (VARGAS, 2008, p. 69). Convém destacar que essa quantidade de alunos coincidia com a indicada no Regimento Interno dos Grupos Escolares e das Escolas Isoladas do Estado de Minas Gerais em seu artigo 1 (prédio dos Grupos Escolares): “I. Pelo menos quatro salas de aula, com capacidade cada uma para 50 alumnos”. (MINAS GERAIS, 1908, p. 5).

No Rio Grande do Norte, Azevedo e Santos observaram que o Código de Ensino do referido Estado datado de 1916

regulamentava minuciosamente a construção dos prédios escolares, que, em relação a preceitos básicos de higiene e conforto, apontava regras específicas, tais como: todas as salas de aula deveriam ser retangulares e ter capacidade máxima para 40 alunos (AZEVEDO; SANTOS, 2018, p. 197).

Em Pernambuco, de acordo com Arantes, nos Grupos Escolares, as salas deviam abrigar confortavelmente um grupo de 40 alunos. Segundo os documentos consultados pela autora

havia um grande debate sobre o número ideal de alunos para cada sala de aula, os franceses admitiam 50, os americanos 40 para as classes inferiores e 50 para as demais classes. Já os alemães, belgas, suíços, italianos defendiam 40 por classe. Todavia, alguns higienistas no Brasil propunham a redução para apenas 30 alunos para cada sala de aula (ARANTES, 2016, p. 9).

A quantidade de 30 alunos é confirmada pelas pesquisas de Castro e Posse que assim indicam: “o Código Sanitário Paulista determina 40 alunos/sala de aula, ou ainda 30, dependendo das circunstâncias” (CASTRO; POSSE, 2012, p. 20).

Desta forma, os escritos de L.G. em O Pharol acompanham as indicações percebidas em outras partes do Brasil e do mundo e que eram baseadas em princípios higienistas.

Seu artigo no jornal ainda demonstra, além de seus conhecimentos acerca da relação espaço-saúde dos alunos, os motivos de tal orientação:

Si as dimensões acanhadas de uma sala escolar pódem prejudicar gravemente a saúde dos alumnos, que nellas se agglomerem, não menos prejudicial ao bom andamento do ensino são esses grandes salões com capacidade para exaggerado numero de creanças.

É por isso que escreve o sr. Medeiros e Albuquerque, o qual durante annos foi o director geral da instrucção publica do districto federal, tratando de edifícios escolares.

‘Há em todos elles salões colossaes em que não se tem remédio só não fazer funccionar seis e oito classes distinctas.

E nada há mais anti-pedagogico. É uma regra infallivel que quando duas classes funccionam, lado a lado, todos os alumnos de uma prestam os ouvidos ás licções da outra.

(...)

Estabelece a desordem, e as horas de aulas se passam infructiferamente, sem nenhum resultado. O próprio professor acaba por fatigar-se, dando de mão ao ensino’. (O PHAROL, 20 de agosto de 1908, p. 1).

A relação professor-aluno muda a depender da quantidade de crianças que o professor precisa ensinar. Nas palavras do Sr. Medeiros e Albuquerque, citado por L. G., com um grande número de alunos em uma sala se “estabelece a desordem”.

Essa ideia é analisada por Arriada, Medeiros e Vahl em estudo sobre a sala de aula no século XIX. Para esses autores, o tamanho reduzido das salas de aula “facilitava o controle do professor sobre os alunos” (ARRIADA; NOGUEIRA; VAHL, 2012, p. 48).

Salas pequenas também permitiam ao professor conhecer melhor cada criança individualmente, saber suas aptidões físicas e mentais, suas fragilidades corporais, seus hábitos higiênicos, suas propensões para alguma doença, suas condutas morais etc, como nos é apresentado por Arantes, quando a autora destaca as seguintes passagens da Instrução Pública de Pernambuco:

Ora, para conhecer a vocação dos alumnos, é necessário individualizar a educação até onde for compativel com o ensino collectivo. O melhor professor é o que conhece os seus alumnos. Para isso:

(...)

b) Fazer classes separadas para alumnos normaes, subnormais (mentalmente debeis, atrazados, repetentes, faltadores) e super-normaes (muito inteligentes).

c) dividir as classes elementares em secção A, B, C, D, de modo que, as aptidões dos alumnos apresentem poucas divergencias em cada secção. d) conhecer a physionomia interior de cada alumno, seu modo de ser caracteristico; estudar os typos mentaes: visuaes, auditivos, motores, imaginativos, repetidores, reflexivos, logicos, estheticos, egoistas, altruistas, euphoricos, bonachães, depressivos, voluntariosos, abulicos (...). (PERNAMBUCO, 1929, p. 5 apud ARANTES, 2016, p.9).

Conhecer tão bem cada aluno demandava observá-lo. Assunto que foi também contemplado por O Pharol em agosto de 1906, quando lemos sobre a forma de educação

esperada para a Escola Normal Superior32. Em um momento do artigo, o texto menciona que os educadores formados por estas escolas deviam ser bons observadores dos alunos e explica os motivos:

A observação dos alumnos é o estudo de seu caracter e de suas disposições, feita sobre si mesmos, afim de se chegar ao conhecimento dos meios de fazer penetrar na intelligência e memoria as noções a serem ensinadas, prevenindo ou combatendo a invasão ou o desenvolvimento de defeitos, secundando as boas inclinações, fazer contrahir os hábitos que devem ser o resultado da educação e que são a garantia de uma vida moral e virtuosa (M. Charbonneau, op. Cit). (O PHAROL, 28 de agosto de 1906, p. 1).

Educação, saúde e moralidade. A tríade que costurava o projeto de uma Juiz de Fora moderna. Defendida pelos doutores da SMCJF e por outros agentes sociais, fazia-se presente também nos debates sobre as dimensões ideais para uma sala de aula.

Desta maneira, são válidas as recomendações de L. G.:

Um bom director de taes estabelecimentos, deve cumprir a rigor essa disposição regulamentar, não consentindo se agglomerem em taes salas oitenta e mais alumnos, como se praticava de antanho na maioria das escolas de todo o paiz. (O PHAROL, 20 de agosto de 1908, p. 1).

No documento renatacorreavargas (páginas 67-70)