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CONCEPÇÕES DOCENTES SOBRE O ENSINO DA LÍNGUA-ENTREVISTAS

1. Escola Particular Brasil (EPaB).

Três professoras foram entrevistadas na escola particular brasileira. Elas tinham, na época, 40, 41 e 55 anos de idade. O tempo de serviço de cada uma varia entre 12 e 25 anos. Frise-se que essas professoras trabalham na referida escola desde o início das actividades da instituição. Todas haviam concluído ao menos um curso de licenciatura, sendo que uma delas tinha feito os cursos de Letras, História e Pedagogia; outra havia cursado Letras, Ciências e Estudos Sociais; e, finalmente, a terceira, fez o curso de Pedagogia, alem da habilitação em Magistério, no nível secundário. Duas das professoras haviam feito cursos de especialização. Tais informações mostram a experiência das professoras em questão, tanto no que diz respeito à idade como em relação à suposta preparação em termos académicos.

1.1. Concepções.

1.1.a. Língua Portuguesa.

Ao serem questionadas sobre os conteúdos de Língua Portuguesa que consideram mais importantes, duas das professoras responderam que todos são relevantes, embora uma (PPaB1) ressalte a leitura, justificando que esta é fundamental para que a criança entenda a escrita. A PPaB3/4 (docente ministra aulas tanto para a terceira quanto para as quartas séries), além da leitura,

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considera a compreensão do texto e a gramática relevantes, pois ajudariam no exercício de compreensão. A mesma professora ressaltou ainda o papel da literatura, afirmando que esta ajuda a criança a gostar de estudar Português. A leitura, a produção de textos e sua organização, a gramática e a ortografia foram consideradas pela PPaB2 como conteúdos importantes. Sobre a questão da leitura, destaque-se uma citação da professora PPaB1:

“(…) eu acho que todos são relevantes e importantes. Mas o mais importante eu acho a leitura, porque através da leitura a criança consegue entender, escrever, a criança que lê compreende melhor e eu acho que um dos conteúdos seria a leitura, a leiturização em todos os sentidos”.

Quanto aos conteúdos mais fáceis para serem trabalhados, duas delas concordam que isso depende da clientela, pois cada criança tem suas dificuldades e formação própria. O acesso a materiais de leitura em casa, por exemplo, pode tornar tudo mais fácil, segundo elas. No primeiro ano de escolarização, o trabalho com as palavras, frases e textos pequenos, segundo a professora PPaB1, é o que apresenta melhores resultados. Na segunda série, a professora PPaB2 assume gostar de trabalhar a produção de texto e o imaginário, questionando as crianças e ajudando-as a “organizar suas ideias”. PPaB 3/4 considera a Literatura o conteúdo mais fácil, pois permitiria à criança “vivenciar e viajar” através do texto e utiliza-a para trabalhar outras disciplinas:

“Acho que a Literatura porque a criança lê e vivencia, ela viaja através do texto. Então a criança adora fazer um teatro, a criança adora representar, então eu acho mais gostoso, e eu posso aproveitar daí pra puxar as outras matérias, outros assuntos”(entrevista PPaB3/4 ).

Todas as professoras, de certa forma, concordam ser complicado trabalhar com a gramática, nomenclatura, ortografia, entre outros conteúdos que são exigidos nas séries iniciais.

Para as aulas de Língua Portuguesa, fora a apostila da escola, as professoras servem-se de outros textos, de livros didácticos e paradidácticos, jornais, revistas, textos da internet e livros de histórias, para enriquecer as aulas.

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1.1.b. Literatura Infantil.

Todas as professoras afirmam trabalhar com a Literatura Infantil. A professora PPaB1 diz que a trabalha em todos os contextos, destacando seu uso para resolver problemas de comportamento dos alunos. Para essa professora, a Literatura integra as crianças, ajuda no desenvolvimento infantil e enquanto pessoa, e afirma que os alunos sentem prazer com este tipo de trabalho e confirma a sua ideia de que a Literatura pode ajudar na aprendizagem da criança já que faz com que ela aprenda a ler.

O trabalho realizado pela PPaB2 é guiado pela adopção de alguns livros em que, em determinados momentos, todas as crianças realizam a leitura do mesmo livro, em outros a criança tem a possibilidade de escolher o livro que mais lhe agrada e levar para casa, em alguns momentos só é mesmo trabalhado com o intuito de leitura. Outra forma de trabalhar com a Literatura é através dos textos que aparecem na apostila. A professora aposta no uso do texto literário para a aprendizagem da criança, afirmando que se for utilizado para entrar em todos os conteúdos, consegue despertar interesse.

A PPaB3/4 diz trabalhar com a leitura da seguinte forma: os alunos trabalham com a leitura diferenciada, onde escolhem o modo de ler (realizado em grupos), e depois apresenta aos demais o texto lido. Para esta professora, o trabalho com a Literatura está no ápice da aprendizagem, sendo que com ela a criança pode viajar, ter prazer e despertar para o ler. Assim, compreende melhor o texto e a gramática, sendo importante que leia e que essa leitura seja realizada com prazer.

“(...) Então a gente trabalha em todos os contextos, por exemplo a “Maria vai com as outras” quando uma criança começa muito a fazer o que a outra pede, então a gente procura trazer essa literatura resolver as coisas que acontecem dentro da sala de aula, trabalhamos também ambientes diversificados como na quadra, biblioteca, pátio, mesmo na sala de aula, formando grupos, em vários ambientes e em vários contextos” (entrevista PPaB1).

“(...) Porque eles amam as histórias, então tudo que você, todo conteúdo que você dá se você entrar pra eles com uma Literatura com uma parte de leitura mesmo, de Literatura Infantil, pra eles a

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coisa muda, muda a situação... ai você percebe que a criança interessa, ela quer ler, ela acha interessante o que ela lê, mesmo as vezes que seja num nível um pouquinho elevado pra ela chama atenção. Então quando você insere a Literatura Infantil em qualquer conteúdo toma um gosto diferente pra criança” (entrevista PPaB2).

“(…) Acontece em sala de aula, a leitura é feita em sala de aula, com leitura diferenciada, elas escolhem o modo de ler, cada grupo, divido em grupo, cada grupo, por exemplo, divido em capítulos, eles escolhem o jeito de apresentar aquele capitulo, então é trabalhado tudo em sala de aula” (entrevista PPaB3/4).

“(...) eu acho que a Literatura está no ápice da aprendizagem, depois vem os outros, então temos que despertar a criança pra ler, porque aquela criança que lê ela vai entender uma compreensão de texto, ela vai aplicar depois na gramática, então o importante é ela ler, entender e gostar de ler e ter o prazer” (entrevista PPaB3/4 ).

1.1.c. Livro didáctico.

Esta escola possui um sistema de apostilas como material didáctico, que é dividido por módulos, que contemplam os conteúdos programáticos para cada ano de escolaridade.

Cada aluno recebe a apostila, que contem todas as disciplinas, assim como um cd-rom onde pode rever os conteúdos trabalhados em sala de aula e fazer suas pesquisas.

Os professores recebem também as apostilas com algumas considerações sobre como abordar determinados assuntos e as respostas das actividades.

Embora tenham que seguir de forma rígida o material da escola, todas as professoras dizem utilizar outros livros em regime de pesquisa, como a colecção “Dia a dia do professor” (PPaB2), ou textos para trabalhar a compreensão, (retirados de livros de que nem sempre são lembrados os nomes) e que sejam da vivência dos alunos.

Fica, de maneira implícita, um descontentamento com a forma como os manuais trabalham com o texto literário.

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A PPaB1 diz que, a maior parte das vezes, o texto já vem fragmentado e que pela falta de tempo não consegue sempre trazer o texto integral, o que impede que a criança se interrogue e busque as informações nas entrelinhas. Procura amenizar esta falha com um trabalho amplo com o dicionário e o enriquecimento do texto através das questões orais.

“(...) o texto já vem fragmentado no livro, ele não vem integral e se você for pegar o texto integral muitas vezes você tem um tempo que tem que estar disponível a mais e você não tem esse tempo na escola particular... então você acaba mesmo trabalhando essa fragmentação do texto e tem umas perguntas óbvias então não tem como a criança pensar será o que este texto a mais está me falando? Ele não consegue ver nas entrelinhas, não consegue saber o significado daquilo. Então assim muito redondinho, então se a gente não fizer um trabalho amplo de dicionário, de enriquecimento deste texto, assim oralmente mesmo, fica uma coisa fechadinha”(entrevista PPaB1).

Para a PPaB2, a apostila, algumas vezes, consegue explorar de forma eficaz um trabalho com os personagens do texto (o que faz, suas características), assim como leva os alunos à compreensão da leitura (o que está dentro do texto, seu objectivo, onde o autor quer chegar), mas nem sempre.

“(...) na segunda série nós temos que trabalhar a parte da criança começar a entender quem é o personagem de um texto, o que aquele personagem faz, características daquele personagem, você vai ensinar, quer dizer, desenvolver na criança, não seria ensinar, desenvolver na criança o processo de compreensão da leitura, de interpretação da leitura, então, você trabalha muito com o que está ali dentro do texto, mas você tem que trabalhar também as entrelinhas do texto né, e qual o objectivo daquele texto, aonde o autor quer chegar, o que ele quer mostrar com aquilo. Às vezes no meu material da segunda série falta um pouco isso dai, as vezes vem, as vezes falta” (entrevista PPaB1).

Por não concordar com a forma de trabalho da apostila, a PPaB3/4 faz um trabalho diferenciado em que os alunos é que elaboram perguntas sobre o texto (enriquecidas pelo professor) e depois recorrem a histórias em quadrinhos (banda

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desenhada), ilustração da parte que mais gostou, entre outras actividades, para demonstrarem sua compreensão.

“Nós nunca seguimos, o manual, no caso a apostila, nós fazemos um trabalho, montamos um trabalho fora disso, não é aquele trabalho de perguntas e respostas que o manual fala , tem sim as perguntas que as crianças querem fazer, então a gente faz um levantamento das perguntas feitas pelas crianças, o professor enriquece também com outras perguntas, então nós fazemos por exemplo histórias em quadrinhos, nós fazemos a parte de ilustração da parte que ele mais gostou, montamos livrinhos com histórias diferentes seguindo a orientação ou o texto e várias outras actividades, a ser montado pelo professor e pela criança” (entrevista PPaB3/4 ).