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Eva Márcia Arantes Ostrosky Ribeiro 1 Tiago Mainieri 2

4. Esfera pública virtual como dispositivo facilitador da democracia

Seguindo o pensamento de Gomes (2008), a Internet promove van-tagens para a democracia, através da facilitação da participação política e suas características interativas, estimulando um debate e diálogo de via dupla, facilitando uma conversação e interação entre os sujeitos.

Assim, o autor apresenta sete blocos temáticos assinalando as vanta-gens da Internet para a democracia, e com isso, facilitando a participação do cidadão no processo político.

Segundo o autor, são esses os setes pontos temáticos: 1. Superação dos limites de tempo e espaço para a participação política. 2. Extensão e qualidade do estoque de informação on-line.3. Comodidade, conforto, con-veniência e custo. 4. Facilidade e extensão de acesso. 5. Sem filtros nem controle. 6. Interatividade e interação. 7. Oportunidade para vozes minori-tárias ou excluídas.

Esses pontos temáticos, apontados por Gomes (2008), que assinalam as vantagens que a Internet trouxe para a democracia, demonstram que uma das contribuições que essa mídia traz é a questão da visibilidade das informações públicas, assim, com a Internet, assuntos públicos tornam-se mais visíveis ao cidadão.

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Com isso, voltando aos elementos do quadro proposto sobre os mentos da esfera pública (página 8), Gomes coloca a visibilidade como ele-mento importante para a constituição de uma esfera pública. Assim, essa é uma importante contribuição dessa esfera pública virtual para a demo-cracia, pois possibilita maior visibilidade as ações de um Governo/ político, gerando assim, mais condições de participação.

Outro ponto levantado pelo autor, diz respeito a questão da comodi-dade, conforto, conveniência e custo. Assim, reafirma-se, que a co presença em uma esfera pública não se faz mais necessária. Em qualquer lugar, horá-rio e quando lhe for mais conveniente o cidadão pode acessar assuntos de relevância pública e buscar ampliar sua participação.

Desta maneira, ampliando sua participação, a Internet traz maiores pos-sibilidades de interatividade e interação, não antes propiciadas pelos meios de comunicação tradicionais. Esse ponto, aborda a questão mais fundamental da Internet, que com o seu advento, todos passam a ser emissores e receptores de conteúdo, não tendo mais um modelo de comunicação baseado em polos pré definidos de emissores e receptores. Agora, como aponta Lemos e Levy (2010) o modelo de comunicação é denominado de todos-todos.

Com esse novo modelo, a democracia pode ser mais aprofundada, tra-zendo mais condições de participação, sendo que a Internet “é um recurso valioso para a participação política.” (GOMES, 2005, p. 220).

Complementando a visão do aprofundamento da democracia, Maia afirma que

O aprofundamento da democracia exige, assim, uma pluralidade de relações entre forças políticas distintas dentro da própria sociedade civil, e tam-bém, nas instituições do centro do sistema políti-co. Em outras palavras, uma democracia robusta requer uma pluralidade de formas de participação política por parte dos cidadãos, de associações com diversos nichos de especialização e de formas distintas de articulação com os agentes do Estado.

(MAIA, 2008, p. 347).

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Nesse sentido, nota-se que o aprofundamento da democracia vem da noção da pluralidade, como apontado em Bobbio (2000) e aqui, entende-se o pluralismo como diversidade de meios que possibilitem a participação do cidadão e a conversação com o Governo.

Com isso, baseado no pensamento de Gomes e nas características da Internet, afirma-se que essa mídia pode contribuir muito com a participa-ção política e também com a conversaparticipa-ção entre Governo e cidadão,

Neste sentido, a Internet pode desempenhar um papel importante na realização da democracia deliberativa, porque pode assegurar aos interes-sados em participar do jogo democrático dois dos seus requisitos fundamentais: informação política atualizada e oportunidade de interação. Além dis-so, a interatividade promoveria o uso de plebisci-tos eletrônicos, permitindo sondagens e referen-dos instantâneos e o voto realizado desde a casa do eleitor. (GOMES, 2005, p. 220).

Por conseguinte, infere-se que a Internet contribui para o exercício da democracia trazendo como possibilidades essenciais a disponibilidade da in-formação pública e possibilitando a interação entre cidadão e Governo. Po-rém, como será disponibilizada essa informação e realizada o processo de interação depende do interesse e vontade do cidadão, em querer participar de assuntos políticos e também do Governo em utilizar dessa mídia para real-mente buscar aumentar a participação do cidadão em assuntos políticos, ou-vindo-o e tomando decisões com base nesse processo de participação.

Nesta perspectiva, Gomes entende o processo de participação política como troca ativa e recíproca entre a esfera civil e agentes da esfera política.

Segundo o autor,

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A interação política, é nesse sentido, uma forma de incrementar o poder simbólico e material do público, como eleitor, mas também como sujei-to constante de convicções, posições e vontade a respeito dos negócios públicos. Além disso, se a interação é capaz, pelo menos em princípio, de levar os agentes políticos a alterar as suas posi-ções política para melhor ajustá-las à disposição do público, é também, por consequência , capaz de produzir um efeito igualmente importante na cultura política, pois contribui, ao mesmo tempo, para recompor a sensação de efetividade política da esfera civil e para produzir o sentimento de que os agentes políticos devem responder à cidadania pelas suas decisões e pelas suas ações referentes aos negócios de interesse público. Leva, portanto, à formação de um cidadão mais cioso da sua for-ça política e a uma classe política mais ciente das suas obrigações democráticas de prestação públi-ca de contas. (GOMES, 2008, p. 311).

Seguindo esse pensamento, Lemos e Lévy afirmam que o novo espa-ço público, mediado pela Internet, apresenta novas possibilidades para a democracia. Para os autores, “o ciberespaço permite uma liberdade de ex-pressão e de comunicação em escala planetária absolutamente sem prece-dentes. (LEMOS, LÉVY, 2010, p. 52)

Ainda para os autores,

Com o aporte das tecnologias digitais, as cidades podem aperfeiçoar a democracia local. As ágoras virtuais podem renovar as formas de deliberação e do debate político. O governo eletrônico pode tor-nar as administrações públicas mais transparentes para o cidadão. (LEMOS, LÉVY, 2010, p. 165).

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Porém, deve-se reforçar que é importante também a vontade do cidadão em participar desses assuntos públicos e diálogo com o Governo. Segundo Maia “é preciso levar em consideração que para fortalecer a democracia, são necessárias não apenas estruturas comunicacionais eficientes, mas também, devem estar presentes a motivação correta, o interesse, e a disponibilidade dos próprios cidadãos para engajar-se em debate.” (MAIA, 2008, p. 278).

Concordando com esse pensamento de Maia, Gomes aborda que “não resta dúvida quanto ao fato de a internet proporcionar instrumentos e al-ternativas de participação política civil. Por outro lado, apenas o acesso à internet não é capaz de assegurar o incremento da atividade política, me-nos ainda da atividade política argumentativa.” (GOMES, 2005, p. 221).

Ainda na visão do autor (2005), a internet possibilita a participação dos cidadãos no processo político, porém não assegura que essa participação realmente influencie nas decisões políticas tomadas pelo Governo.

Torna-se importante ainda refletir, que “nem toda informação política na internet é democrática, liberal ou promove democracia.” (GOMES, 2005, p. 221). Nesse sentido, temos que perceber a Internet como um meio de co-municação que trouxe possiblidades de interação e participação inéditas, porém, não podemos pensar que tudo que está na Internet busca promover um diálogo público, com viés para a contribuição democrática.

Ainda para Gomes,

É, por conseguinte, tanto mais democrática uma sociedade quanto mais inclusiva a sua esfera pú-blica deliberativa, quanto mais as suas instâncias deliberativas ganharem a forma de discussão pú-blica, principalmente as suas instâncias delibe-rativas mais gerais em que o interesse comum se converte em coisa pública (GOMES, 2008, p. 129).

Portanto, não basta apenas ser um espaço de possibilidades, mas a es-fera pública virtual deve, tanto por parte do cidadão, quanto do Governo, ser um lócus efetivo de discussão pública, deliberação, e que se converta de fato em decisões políticas.

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Considerações finais

Por conseguinte, concebe-se que não basta a Internet trazer apenas possiblidades de interação e maiores disponibilidades de informação pú-blica e com isso, promovendo maior visibilidade, é preciso que para ser uma esfera pública, ocorra de fato, tanto por parte do Governo quanto do cidadão disposição em transformar essas possibilidades em efetiva partici-pação política.

Porém, não podemos deixar de perceber, que enquanto meio de comuni-cação, a Internet traz possibilidades nunca antes percebidas por outros meios, e talvez, essa seja sua grande contribuição para a formação de uma esfera pú-blica, já que elementos constitutivos de uma esfera pública são visibilidade, comunicação, diálogo, sendo esses elementos ampliados pela Internet.

Contudo, outros elementos são importantes, tais como deliberação pú-blica, argumentação e assuntos de interesse público. A internet traz gran-des oportunidagran-des para que esses elementos sejam praticados em um siste-ma democrático, no entanto, como assinalado, é necessário que aja vontade tanto do Governo quanto do cidadão em querer assegurarem de fato, uma participação política argumentativa.

Baseado em Gomes “por mais que a internet ofereça inéditas oportuni-dades de participação na esfera política, tais oportunioportuni-dades serão aprovei-tadas apenas se houver uma cultura e um sistema políticos dispostos (ou forçados) a acolhê-los (GOMES, 2005, p. 221).

Assim, considera-se as possibilidades trazidas pela Internet para a de-mocracia, mas só serão aproveitadas se efetivamente tiver interesse da par-te do cidadão em participar de assuntos políticos e da parpar-te do Governo em acolher essa participação de forma efetiva.

No entanto, essas possibilidades, por parte do cidadão, devem ser usa-das de forma ativa, para que sua voz seja ouvida e assuntos de interesso público sejam discutidos de forma racional, dialógica e visível, tornando-se realmente uma locus de esfera pública.

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Neste sentido, voltando à questão inicial e norteadora deste artigo, é assentido que a esfera pública virtual pode sim ser considerada um dispo-sitivo facilitador para a democracia.

Ainda assim, ressalta-se que para pensar a Internet com a formação de um novo espaço público virtual e um dispositivo facilitador para o exercício da democracia, deve haver efetiva participação política, debate racional-ar-gumentativo, conversação social entre os atores, entre Governo e cidadão, além de ser um espaço de circulação e criação de sentidos, conforme apon-tado em autores como Braga e Mainieri, seguindo também os pensamentos de Lemos e Lévy, Gomes e Maia, em relação a participação e decisão políti-ca, conversação social e deliberação pública.

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