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Gustavo Miranda Alves Silva 1 Ângela Teixeira de Moraes 2

2. O trabalho dos entregadores de aplicativo hoje

Uma parte da população que vem enfrentando desafios durante a pan-demia do novo Covid-19 é a de trabalhadores informais, como por exemplo os prestadores de serviços para aplicativos de entrega como Rappi, iFood e Globo, responsáveis por entregar centenas de milhares de pedidos por dia.

Estima-se,8 que 15% dos trabalhadores informais trabalham para aplicati-vos de entrega ou transporte de passageiros no Brasil, sendo eles parte de quase 5 milhões de prestadores. Para trabalhar como entregador nos apli-cativos de delivery, o interessado deve ser maior de 18 anos, possuir MEI, o cadastro de Microempreendedor Individual, realizar um cadastro na pla-taforma, além de possuir veículo próprio ou alugado: carro, moto ou até mesmo bicicleta.9

7 FORTE, Bárbara. Porque o Brasil é o sétimo país mais desigual do mundo. Ecoa: UOL, São Paulo, 2020.

Disponível em: <https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/02/20/por-que-brasil-e-o-setimo--pais-mais-desigual-do-mundo.htm>. Último acesso em: 26 Outubro, 2020.

8 BBC News. Com pandemia, entregadores de app têm mais trabalho, menos renda e maior risco à saúde.

Brasil, 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53258465>. Último acesso em: 26 Outubro, 2020.

9 CRUZ, Bruna Souza. Rappi e Globo: qual a lógica por trás de apps que entregam “qualquer coisa”. UOL: São Paulo, 2018. Disponível em: <https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2018/04/25/uber-das-entre-gas-entenda-qual-e-a-logica-por-tras-da-rappi-e-glovo.htm>. Último acesso em: 26 Outubro, 2020.

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Segundo Bruno Nardon, antigo CEO da Rappi no Brasil, alguns entre-gadores conseguem ganhar até R$ 5.000,00 por mês. Cruz (2018), do Portal UOL, faz os cálculos e, para que um prestador consiga ganhar esse valor de R$ 5.000,00 brutos, o mesmo precisa realizar 725 entregas por mês, sendo 24 em um único dia. Isso significa realizar três entregas por hora, num período de oito horas por dia, incluindo os fins de semana.10 Isso, con-siderando que cada entrega seja feita em no máximo 20 minutos, o que nem sempre acontece.

Esses entregadores, vistos pelas grandes cidades com suas bags colori-das nas costas, desabafam em reportagem para o UOL11 sobre as dificuldades encontradas por eles com o aumento da demanda por delivery durante o pe-ríodo de isolamento social e pandemia. Ao mesmo tempo em que os usuários estão realizando mais pedidos de restaurantes, farmácias e supermercados para entrega, os aplicativos vem se organizando para colocar mais entrega-dores trabalhando e, diminuindo as taxas de cada delivery realizado.

Segundo dados de uma pesquisa da Unicamp, Ministério Público do Trabalho e Universidade Federal do Paraná,12 58,9% dos entregadores en-trevistados admitiram aumento nas jornadas de trabalho durante o perío-do de pandemia e, em contrapartida, observaram quedas nos rendimentos.

E isso se dá pelo cadastro de mais entregadores nas plataformas. Com mais entregadores disponíveis, ocorre diminuição das chamadas para entregas e, consequentemente, menos renda ao final de cada semana.

Rappi, iFood, Uber Eats e Loggi lideram o mercado de aplicativos de entrega no Brasil. Mais de 70% dos entrevistados dessa pesquisa afirmam trabalhar para pelo menos duas dessas plataformas.13 O estudo revela, tam-bém, que antes da pandemia, 38,2% dos entregadores trabalhavam até oito horas por dia e 54,1% deles realizam entregas entre nove e 14 horas diárias.

Mas essa realidade mudou em 2020. Durante a quarentena e o isolamento social, 43,3% passaram a trabalhar mais de oito horas e 56,7% por mais de nove horas, um aumento geral na rotina de trabalho deles.

10 Idem 09.

11 BONIS, Gabriel da Deutsche Welle. Pandemia precariza ainda mais o trabalho de entregadores de aplica-tivos. Economia. UOL, 2020. Disponível em: <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/07/10/

pandemia-precariza-ainda-mais-o-trabalho-de-entregadores-de-aplicativos.htm>. Último acesso em: 19 Outubro, 2020.

12 Idem 11.

13 Idem 12.

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Esse aumento tem impacto direto na qualidade de vida desses entre-gadores, que por serem considerados prestadores de serviço e não contrata-dos dessas empresas, não gozam de direitos trabalhistas e outras garantias capazes de resguardar o bem-estar no trabalho, como intervalo para almo-ço, auxílio vale refeição ou vale transporte, descanso e férias remuneradas, seguro desemprego ou seguro de vida em risco de acidentes, entre outros direitos comuns aos cidadãos resguardados pelas leis trabalhistas. Muitos entregadores não conseguem sequer comprar um almoço de R$ 20,00 du-rante o período de trabalho, pois isso impactaria diretamente nos ganhos ao fim do dia, que dificilmente chegam em torno de R$ 100,00.14

Além dos riscos que já permeiam a profissão de um entregador em cima de uma moto ou bicicleta, como acidentes de trânsito15 e alterações climáticas, calor excessivo e chuvas fortes, por exemplo, soma-se outro pro-blema em 2020: o medo do contágio pelo Covid-19. Na reportagem mencio-nada da UOL, alguns entregadores afirmam negligência por parte dos apli-cativos para lidar com o trabalho durante a pandemia. Enquanto dezenas deles se aglomeram nas filas dos restaurantes aguardando o pedido ficar pronto, esses também sofrem com a pressão e o medo de serem bloqueados a qualquer momento pelas plataformas, o que também prejudica os ganhos ao fim de cada semana.

Em entrevista ao portal UOL,16 Sergio Saraiva, atual presidente da Ra-ppi no Brasil, defende que “nosso setor não pode ser a solução para uma cri-se da sociedade” e garante que, além de criar 14 centros de prevenção para que os entregadores recebam produto químico desinfetador de roupas e bolsas, os entregadores contaminados com Covid-19 podem pegar atestado médico para afastamento de 14 dias, que serão bancados pela plataforma a partir de uma média do período anterior.

14 Idem 13.

15 Segundo dados divulgados pelo governo de São Paulo, as mortes de entregadores em acidentes de trân-sito quase dobrou em relação aos últimos dois anos. VESPA, Talyta. Sem saída, entregadores ficam entre a covid-19 e o bloqueio dos aplicativos. UOL: São Paulo, 2020. Disponível em: <https://noticias.uol.com.

br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/06/09/entregadores-relatam-falta-de-epi-medo-da-covid-19-e-tra-balho-escravo.htm>. Último acesso em: 26 Outubro, 2020.

16 RIBEIRO, Gabriel Francisco. Entre o céu e a terra. Tilt. São Paulo: UOL, 2020. Disponível em: <https://www.

uol.com.br/tilt/reportagens-especiais/sergio-saraiva-presidente-da-rappi/#cover>. Último acesso em:

05 Novembro, 2020.

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3. O Movimento dos Entregadores Antifascistas