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4. O CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE: ANÁLISE DA LEI Nº 898/65

4.4. A RESPONSABILIDADE PENAL

4.4.2. Espécies de sanção

As espécies de sanção penal aplicáveis aos tipos previstos nos art. 3º e 4º da Lei de Abuso de Autoridade foram tratadas pelo art. 6º, §§3º a 5º. As penas ali descritas poderão ser aplicadas de forma autônoma ou cumulativa567. Nesse passo, poderá o julgador, seguindo o procedimento descrito pelos art. 59 a 76 do Código Penal, aplicar as sanções de detenção, multa e perda do cargo e inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública568. Caso se trate o agente de autoridade policial, civil ou militar, poder-se-á impor proibição do exercício de funções de natureza policial ou militar no município da culpa.

4.4.2.1. Da pena de multa

Segundo disposição literal da Lei de Abuso de Autoridade, a pena pecuniária consistirá em “multa de cem a cinco mil cruzeiros”. Naturalmente, antes mesmo da mudança do plano monetário, em virtude da corrosão que se operou no valor da moeda com a hiperinflação das décadas de 1970 e 1980, o valor em cruzeiros fixado pela Lei já não tinha qualquer expressão econômica. Desse modo, com a reforma do Código Penal, em 1984, e a reformulação da metodologia da aplicação e execução da pena de multa, passou tal sanção, ainda que imposta em virtude de leis especiais – e de modo semelhante, no caso da Lei nº 4.898/65 – a ser definida na forma de dias-multa, calculada nos termos do Código569.

Nesse contexto, Gilberto Passos de Freitas e Vladimir Passos de Freitas destacam, em atenção à possibilidade de aplicação isolada ou alternativa das sanções descritas pelo art. 6º, §3º, I da Lei de Abuso de Autoridade, que a pena de multa pode ser utilizada como substituto das penas de curta duração. Tratar-se-ia de medida adequada para a punição de agentes primários e não perigosos, evitando o encarceramento em casos de crimes de pouca gravidade570.

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FREITAS, Gilberto Passos de; FREITAS Vladimir Passos de. Op. Cit.. p. 87; BECHARA, Fábio Ramazzini.

Op. Cit.. p. 38/39.

567

ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Op. Cit.. p. 210.

568

FREITAS, Gilberto Passos de; FREITAS Vladimir Passos de. Op. Cit.. p. 98.

569

Id. Ibid.. p. 99.

570

4.4.2.2. Da pena privativa de liberdade

A Lei de Abuso de Autoridade cominou, em seu art. 6º, §3º, II, pena privativa de liberdade de “detenção por dez dias a seis meses”. Como já dito, a pena poderá ser aplicada autônoma ou cumuladamente com as demais. A sanção deverá ser aplicada na forma prescrita pelo Código Penal, conforme descrito no art. 59 e seguintes. Quanto às especificidades dessa sanção, remete-se o leitor para os tópicos seguintes, em que se fará uma digressão mais aprofundada da adequação da pena cominada.

4.4.2.3. Da pena acessória de perda do cargo e inabilitação para o exercício de outra função pública

Prevista no art. 6º, §3º, III da Lei nº 4.898/65, a última das espécies de sanção cominada pelo legislador foi a “perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três anos”. Nesse passo, cabe, inicialmente, distingui-la da hipótese de efeito acessório da pena prevista no art. 92, I do Código Penal571. Verifica-se, assim, que os pressupostos para a incidência do efeito acessório previsto na Lei Geral abrangem apenas hipóteses de condenação superior a um ano, nos casos de abuso de poder ou violação de dever com a Administração; e a quatro anos nos demais casos. Ademais, não há previsão de inabilitação para o exercício de função. É dizer, não se trata de sanção autônoma, mas de efeito de caráter preventivo. Permanece, portanto, vigente a previsão da Lei de Abuso de Autoridade, por ser norma especial, além de ter pressupostos e consequências distintas – aplicação para crimes em que aplicada pena privativa de liberdade inferior a seis meses e possibilidade de inabilitação temporária para exercício de cargo ou função pública. Destaque- se, pois, que a natureza da previsão em exame, na Lei de Abuso de Autoridade, é de sanção penal e não de efeito da condenação572.

Importa destacar, ainda, que a aplicação da mencionada sanção não se pode dar de forma automática. É dizer, impõe-se ao julgador a justificação de sua aplicação, inclusive com a devida comprovação da relação entre o abuso cometido e a violação a dever inerente à função exercida. Ademais, também deverá ser justificado o prazo fixado na sentença para a

571Art. 92 - São também efeitos da condenação:

I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:

a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;

b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.

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suspensão do exercício do direito ao acesso à função pública573 – que, obviamente, não poderia ser indeterminada, dada a proibição constitucional às penas de caráter perpétuo.

4.4.2.4. Da proibição do exercício de funções de natureza policial ou militar no município da culpa

Por fim, tratando-se o agente de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, a Lei de Abuso de Autoridade faculta ao julgador a imposição de sanção de pena autônoma ou acessória de proibição do exercício de função policial ou militar no município da culpa, pelo prazo de um a cinco anos574.

Destaca-se, aqui, a função preventiva especial, tendo em vista o afastamento do condenado do local em que praticou o abuso de autoridade. Trata-se de hipótese em que o indivíduo é afastado do distrito da culpa, não implicando, necessariamente, na perda do cargo. É dizer, pode ser aplicada esta sanção mesmo quando não se tenha imposto a perda do cargo ou a inabilitação para o seu exercício, de modo que poderá o agente ser apenas removido para local diverso, afastando-o do local em que foi cometido o delito575.

4.4.3. Natureza de crime de menor potencial ofensivo e aplicabilidade da Lei dos